A Saga de Hyan Fayfher Brasileira

Autor(a): A. F. Willians


Volume 1

Capítulo 16: Ensinando os Novos Discípulos

 

 

 

— Garoto! Isso não está dando certo! Cada vez que erro parece que meus braços estão a um passo de serem arrancados. — Reclamou Qian aborrecidamente.

— Velhote! Logicamente não irá dar certo! Você está sendo apressado, diminuía o impulso em cada golpe, mesmo que o metal acabe por se perder, ainda é um processo necessário em seu aprendizado, ou deseja verdadeiramente perder seus braços? — Bufei impacientemente, não compreendendo o seu temperamento teimoso.

— Garoto! Por que diabos você está me chamando de Velhote? Não te ensinaram a ter respeito pelos mais velhos?! — Rugiu Qian com indignação, se relembrando que somente uma única pessoa ousava chama-lo dessa forma, ficando com raiva ao perceber que seu filho começou o tratar da mesma forma.

— E por que eu não deveria? Você quer que eu o chame de Chefe Qian? Ou talvez de “Mestre Qian”?! — Bufei descontentemente.

— Talvez tenha se esquecido quem eu sou; além de não mencionar que estou te ensinando tanto a arte da forja, como os encantamentos arcanos…

— Em outras palavras, sou seu professor, mas você continua me chamando de garoto!! — Expus diretamente, vendo seu rosto avermelhar-se de raiva e vergonha, sem conseguir refutar minhas palavras.

— Esses dois estão inesperadamente se dando bem… — comentou Colak, ao lado, assistindo tudo calmamente, vendo o aceno sutil de Elise, que aproveitava o show.

Desde que nos mudamos para a residência de Colak, uma semana tinha se passado. Neste período, enquanto Elise acabou por se recuperar por completo com o auxílio da pílula curativa, passei a supervisionar e aconselhar tanto Qian, quanto Colak, em sua forjaria e encantamentos.

No entanto, o velho Qian queria absorver tudo apressadamente, insistindo para que o ensinasse minha técnica de refinamento, como se assim quisesse urgentemente chegar ao meu nível.

Honestamente, não sabia se isso era um sintoma de inferioridade que sentia toda vez que vislumbrava meu rosto, ou algo relacionado a minha inesperada idade, mas entravamos em conflito constantemente, tendo o Velho Qian claros problemas para se adaptar a tudo isso.

— Velhote. Eu não irei mais aconselha-lo, já que você não me escuta. Fico pensando como seria um meio-anão sem seus braços, deve ser uma visão bastante estranha… — comentei, segurando a risada, enquanto observava seu rosto distorcer-se de raiva.

Ignorando-o, me dirigindo para Colak, que decidiu focar na arte dos encantamentos, presenciei seu rosto levemente chateado.

— Então, Colak. Como você está se saindo? — perguntei, vendo sua expressão indefesa.

— Não muito bem… realmente é difícil de conduzir minha energia vital até a Joia Perceptiva e transforma-la nessa tal energia mental, imbuindo-a consecutivamente nas runas desenhadas com o pincel rúnico.

— Honestamente, se eu não me perco em seus traços, acabo errando na conversão de energia. — Desabafou Colak, tendo um temperamento muito mais tranquilo, algo que contribuiria com o seu progresso.

— Não tenha pressa, Colak. Pratique diariamente, então acabara por se tornar uma ação instintiva. A paciência é fundamental nessa etapa, basta não seguir o exemplo de uma certa pessoa — declarei, vendo seu sorriso rígido, sabendo que mencionava seu mentor.

— Não se preocupe. Eu tenho confiança em avançar — respondeu amigavelmente Colak, demonstrando um sutil sentimento de admiração.

Assim, impressionado com sua confiança e determinação. O aconselhei em mais alguns pontos, quando presenciei Elise um pouco inquieta ao lado.

— Elise…? — Vendo sua inquietação, a chamando gentilmente; a vislumbrei abrindo a boca, mas indecisa se realmente deveria dizer as palavras em sua mente.

— Se tem algo a dizer, por favor, diga-me. Sou seu companheiro, certo? — Brinquei, acabando por ver seu sorriso.

— Hmm… você está certo. Na verdade, estou um pouco inquieta, desde que me recuperei dos meus ferimentos não voltamos a treinar… — Apontou Elise, observando-me atentamente.

— Oh! Tem razão, fiquei tão centrado em ensinar o básico para Colak e Qian, para que pudessem avançar sozinhos, que esqueci completamente o nosso treinamento.

— Me desculpe. Acredito que esteja na hora de voltar a aquele lugar… — declarei, procurando alguns equipamentos ao meu redor.

— Voltar? Onde?! — indagou Elise confusamente.

— Na Associação de Aventureiros é claro, está na hora de concentrarmos em aumentar nossos Ranks; como também te levarei para um determinado lugar na Floresta da Perdição Rubra, dando continuidade ao seu treinamento — expliquei, vendo sua surpresa, lhe passando uma espada longa de aço damash.

— Eu… eu realmente posso levar? — indagou Elise, apreciando verdadeiramente a espada longa que lhe entreguei.

— Bah! Essa espada está longe de ser adequada, mas não tenho tempo para me dedicar completamente em forjar equipamentos, farei isso em um futuro próximo…

— Portanto, teremos que aceitar a situação por enquanto — esclareci, ignorando sua expressão estranha, pegando outra espada de aço damash, ajeitando-a em meu cinto, quando presenciei um enfurecido meio-anão.

— Você…! O que está fazendo…?! — Vociferou Qian, olhando-me raivosamente.

— Hmm…?! Estou pegando alguns equipamentos, você não me disse que iria me apoiar completamente? — expliquei, sorrindo sarcasticamente.

— Não estou falando disso! Estou falando de suas críticas constantes!! Se você vai utilizar meus itens, pelo menos, seja grato!! — Vociferou Qian, pulando de raiva.

— Não me leve a mal, Velhote. Mas essas duas espadas de aço damash estão abaixo de trinta porcento de purificação. Ainda me lembro de alguém dizendo no passado que iria somente me aceitar se conseguisse superar essa mesma margem — comentei, vendo agradavelmente as veias pulsarem por sua testa, em raiva.

— Você…! Você…. Maldito, pirralho!! Você pode esperar! Eu vou até o final do próximo mês forjar uma espada completamente purificada!!! — Rugiu Qian, como se chamas brilhassem em seus olhos, demonstrando sua raiva e determinação.

— Oh!! Quanta determinação, hein…! Bem, se você realmente conseguir cumprir o seu objetivo, como uma recompensa por sua ousadia, irei lhe ensinar uma nova liga metálica — proclamei, tentando incentivá-lo, enquanto não esquecia de cutucar ainda mais fervorosamente o meio-anão, provocando-o.

Entretanto, tive uma reação completamente inesperada.

— Hmm… que liga metálica estamos falando…? — indagou suavemente Qian, deixando por completo sua raiva de lado, virando levemente o rosto, como se estivesse fazendo beicinho.

— Bom… ainda temos as ligas de Ouro Púrpura e Ferro Negro. Infelizmente, essas são as únicas ligas que estamos hábitos a produzir em nossas atuais condições — respondi, sorrindo ironicamente, não conseguindo acreditar nas mudanças abruptas desse velho meio-anão.

— Hã! Porquê?! — indagou Qian confusamente.

— Simples. Primeiramente não temos muitas variações de minérios em nossa posse, o mesmo se aplica as ervas e outros tipos de tesouros em nossa disposição, o que impede a criação de novas ligas. Portanto, os que comentei anteriormente são baseados em recursos aos quais podemos obter em nossas fronteiras.

— Segundo, não temos estrutura. Eu não quero o ofender, mas sinceramente… sua oficina está muito defasada, precisando com urgência de uma reforma completa, principalmente a fornalha, ao qual seria impossível atingir determinadas temperaturas. — Expus, presenciando sua expressão estranha.

— Por isso, se conseguirmos resolver esses dois problemas, poderia te ensinar muito mais coisas, já que meus conhecimentos não estão necessariamente focados somente na criação de armamentos — expliquei, não entrando mais em detalhes.

— Tsk! Você realmente é alguém odioso… deixando-me com essa curiosidade atrás da orelha — resmungou Qian.

— Enfim, quando chegar o momento certo, irei importuna-lo definitivamente. Agora, pegue. Isso é seu… — declarou Qian, arremessando algo pequeno em minha direção, surpreendendo-me.

— Você…! Onde o conseguiu? — perguntei agradavelmente, olhando inesperadamente para um Anel Interespacial em minhas mãos.

O Anel Interespacial era um instrumento mágico bastante útil, na verdade, essencial a qualquer cultivador.

O seu uso satisfazia principalmente minhas necessidades atuais, podendo armazenar uma grande quantidade de itens em seu interior, facilitando assim o transporte.

Entretanto, devido a certa escassez de recursos no Reino Ershter, principalmente por não deter pessoas qualificadas para a sua criação, eram bastante caros, dependendo principalmente da importação de outros reinos a um valor exorbitante.

— Não fique surpreso, acabei pegando com o seu pai, foi realmente difícil, já que mesmo sua família só tem dois desses anéis interespaciais em sua posse.

— No entanto, imaginei que era algo necessário para você. Além disso, ele deixou claro seu desejo por uma armadura completa… estando tanto purificada, quanto encantada… — comentou Qian com hesitação.

— Hã!? O que foi que você disse?! Eu não escutei direito… — declarei de repente, quando comecei a recuar.

— Espere. Parece que alguém está me chamando… Bom; independente dos problemas que “você” mesmo se meteu… tenho certeza que encontrara uma forma de resolver… Obrigado. Estamos saindo — proclamei apressadamente, agarrando Elise pela mão, enquanto fugia.

Afinal, criar uma armadura completamente purificada, e acima disso, totalmente encantada, era no mínimo algo extremamente trabalhoso.

Não seria brincadeira dizer que precisaria de um mês de intenso trabalho, ou até mais, algo que não estava em hipótese alguma disposto a fazer. Portanto, o melhor método era se fingir de surdo, mudo e de desentendido, fugindo imediatamente do local.

 

 

— Aventureiro. Por favor, rever devidamente seus pedidos, apesar da nossa Associação de Aventureiros não proibir esse tipo de abordagem, acredito que não seja aconselhado seguirem com esse planejamento.

— Além disso, cada missão tem um tempo próprio de conclusão, se aceitarem e acabarem por não concluírem no tempo devido, terão que pagar uma taxa correspondente ao rank da missão. — Aconselhou a atendente, olhando impotente para a pilha de pedidos.

— Não se preocupe, atendente. Eu estou ciente, como arcaremos com a responsabilidade se não as concluirmos dentro do prazo — respondi, sorrindo rigidamente ao ver sua insistência.

— Urgh. Tudo bem, só para confirmar, desejam realmente solicitar quinze missões de abate?

— A maioria delas estão acima de seu Rank, e apesar de sua pontuação ser diferente das missões de Coleta e Busca, nunca se esqueçam dos perigos que rodeiam a Floresta da Perdição Rubra. — Aconselhou novamente a atendente, olhando arrependidamente para os dois jovens a sua frente.

— Não se preocupe. Essas missões não irão nos dar tanto trabalho — expliquei novamente, impotente com a preocupação óbvia em seu rosto.

— Suspiro. Você está certo, irei parar de incomodar… — declarou a atendente, se desculpando, mas logo suas preocupações novamente tomaram conta de suas emoções.

— Ah! Não se esqueça, falhar em missões deduzira pontos. Se falhar consecutivamente em três missões iremos abaixar seu Rank…

— Assim, aconselhamos que tenha cuidado, pois também retiraremos os benefícios oferecidos com o aumento do Rank — explicou a atendente, balançando de forma indefesa sua cabeça, estando perfeitamente ciente da sede de benefícios que detinham os novos aventureiros.

Desta forma, acabando finalmente todos os seus lembretes, recebemos uma cópia de cada pedido em mãos.

Satisfeito, agradeci gentilmente atendente que se responsabilizava pelo atendimento na parte da tarde da Associação de Aventureiros.

E com os papéis em mãos, seguindo o nosso caminho, tanto eu, como Elise, estávamos usando uma máscara diferente, como também trajávamos um conjunto de armadura de melhor qualidade.

Afinal, todos esses itens, como coletes de couro, braceletes e um par de botas altas, todas reforçadas com partes de metal, parcialmente escondidas pelo manto.

Esse novo conjunto foi tudo conquistado do Velho Qian, que ofereceu alguns de seus equipamentos, ganhando sinceramente meus agradecimentos, enquanto mantínhamos com satisfação nossas espadas de aço damash na cintura.

E devo dizer, a princípio, nossas aparências mesmo com meus esforços era um pouco desleixadas, passando no máximo uma aparência de um aventureiro no início de sua carreira.

Mas agora, não demonstrava muita diferença com um aventureiro de médio porte. Enfim, consegui até mesmo sentir os olhares cobiçosos de alguns indivíduos escondidos. Mas não me preocupei, confiante que não teriam coragem de nos abordar.

Assim, saindo da Cidade de Eydilian, percorrendo a estrada de terra entre os campos de plantio. Percebi que Elise estava um pouco nervosa, quando a chamei gentilmente, encorajando-a.

— Elise. Não precisa ficar tão tensa, apesar de ter sua dificuldade ao lutar com bestas monstruosas, estarei ao seu lado para lhe fornece auxílio — Falei, dando-a um sorriso.

— Hmm… Obrigada. Mas Hyan, porque não pegamos também missões de busca e coleta? — indagou inesperadamente Elise.

— Bem… apesar de missões de coleta terem aparentemente uma boa recompensa, a realidade é completamente oposta.

— Os preços que a associação paga são baixos, desde que encontre um curandeiro disposto a negociar, ganharíamos no mínimo três vezes o valor dessas missões.

— Além disso, o maior motivo é que terei provavelmente algum uso para essas ervas medicinais. Portanto, não pretendo vender nenhuma, ainda mais agora que detenho um anel interespacial…

— Quanto as missões de busca, simplesmente demoram de mais, e não detemos as habilidades necessárias para exerce-la, onde normalmente se trata de situações perigosas, muitas vezes excedendo o Rank imposto pela própria associação. — Aconselhei, vendo sua compreensão.

Desta forma, continuando nossa conversa, consegui amenizar quase por completo seu nervosismo, quando finalmente chegamos na Floresta da Perdição Rubra.

E andando pelas árvores, tomando cuidado para não fazer muito barulho entre os arbustos, indiquei que Elise tomasse a liderança, assim como a lembrei de sempre manter a guarda.

— Elise, em nossa frente temos uma besta monstruosa, tente encontrar por conta própria sua presença; e quanto a aborda-la, deixarei totalmente aos seus critérios. — Avisei, ocultando minha presença, deixando que Elise ganhasse experiência por conta própria.

Desta forma, sem dizer mais nada, desaparecendo em meio a flora, deixei que Elise dependesse de seus próprios sentidos para encontrar seu caminho na floresta.

Afinal, aparentava ser uma tarefa fácil. Contudo, encontrei muitos aventureiros que ficavam tensos somente por colocar os pés dentro de uma floresta, tudo devido a serem emboscados abruptamente por bestas monstruosas no começo de suas carreiras.

 



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