A Saga de Hyan Fayfher Brasileira

Autor(a): A. F. Willians


Volume 1

Capítulo 15: Eu estou do seu lado (2)

 

 

 

Assim, terminando todas as partes importantes do processo, só restava o forjamento da Liga de Aço Damash.

No entanto, vendo o céu escuro, aconselhei deixar para outro dia.

Porém, os dois ferreiros estavam ansiosos demais para atestar suas Joias Perceptivas, assim como descobrir sobre a liga metálica, insistindo para que continuássemos.

Impotente, vendo a ansiedade presente em seus olhos, não os rejeitei, tornando-me a recomendar que Elise se retirasse para descansar.

Contudo, Elise também não estava disposta a se retirar, dizendo que desejava vislumbrar todo o processo, pedindo que pudesse me acompanhar até o final.

Assim, concordando com o seu pedido. Voltei a reaquecer a fornalha, onde preparei para começar a forjar uma espada longa de aço damash.

No entanto, antes de começar o processo, devia fazer uma pequena alteração na fornalha. E usando o pincel rúnico, criei uma runa arcana, gravando-a na parte inferior do cadinho, onde o metal seria derretido.

E diante os olhares surpresos, interliguei um tubo conectado ao segundo fole através da runa arcana, criando um mecanismo temporário para utilizar durante o processo, quando despertei a intensa curiosidade dos dois ferreiros.

Tudo pronto; seguindo basicamente os mesmos processos de quando refinei uma barra de ferro, acrescentei uma leve mudança, que era as diferentes proporções de carvão inseridas diretamente no ferro derretido, assim como utilizei o fole improvisado, introduzindo ar na mistura, começando a borbulhar.

E diante esse processo, alterando a quantidade de carvão que ia diretamente em conjunto com o minério de ferro, as impurezas surgiram acima da mistura.

Desta forma, retirando as impurezas com uma ferramenta, acabei criando diversas barras, ocasionando em pequenas diferenças, causando assim uma certa confusão aos dois ferreiros, quando pude sentir seus olhares estranhos.

Sorrindo, como se entendesse aquela curiosidade pesando sobre meus ombros, após refinar diversas barras, olhei para Colak e Qian, que não conseguiam esconder o seu espanto.

— Então? Perceberam a diferença? Agora conseguem entender verdadeiramente a essência do metal? — perguntei, observando suas expressões indefesas.

— Hmm… agora consigo entender de onde vem sua confiança. Anteriormente, concentrando minha energia vital entre as sobrancelhas, principalmente quando fecho os meus olhos…

— Bem, consigo sentir linhas avermelhadas por dentro do metal, assim como pequenas intercessões, o que se não estiver errado, deve ser as impurezas, certo? — indagou Colak com certa incerteza.

— Você está correto. As linhas são os canais onde a energia interna irá fluir sobre sua estrutura, elas se originam logo após a fundição. Entretanto, não deve ser a única coisa que você deve se atentar. Além disso, ficar reaquecendo, isso pode inconscientemente refazer seus canais.

— Portanto, se não tiver um controle perfeito em seu reaquecimento, irá acabar por simplesmente destruir essa harmonia, assim como sua essência.

— Afinal, é exatamente por esse motivo que uso a técnica que mostrei anteriormente de refinamento, não precisando reaquece-lo, mantendo assim sua estrutura original após a fundição.

— Ah! Também não podemos esquecer as características únicas dos metais. O aço em particular, após cada reaquecimento, terá uma perda de resistência em seus canais, isso pode ocasionar em seus rompimentos durante um combate.

— Por isso, todos esses pequenos detalhes influenciam em sua qualidade, tendo que ser cuidadosamente considerados durante o processo de refinamento se quiserem obter um metal de qualidade e completamente purificado — expliquei, vendo suas expressões bastante severas.

Desta forma, terminando a explicação sobre o processo de refinamento. Antes de dar início ao processo dos encantamentos arcanos. Peguei o restante do pó de medula óssea, assim como um agente fundível de baixa qualidade.

E misturando as duas substâncias, acabei adquirindo o que era necessário para fundir as diferentes barras em uma única liga metálica.

Na verdade, era essas pequenas diferenças que tornava a Liga de Aço Damash diferente do aço convencional, que era fruto da fusão do ferro com ossos, chifres e carapaças de bestas monstruosas.

Um metal usado muito na criação de armaduras, desde que o próprio ferro era muito quebradiço nesse aspecto, tendo sua qualidade diversificando conforme os recursos secundários.

Porém, apesar do aço convencional poder alcançar qualidades elevadas, levando em consideração as partes usadas de bestas monstruosas, o processo de criação era muito simplório.

Assim, tendo sua essência não tendo quaisquer transformações, não suportava nenhum tipo de encantamento. Enfim, a Liga de Aço Damash era superior em muitos aspectos. E voltando ao processo de forjamento, nessa etapa, comecei adentrar a parte dos encantamentos.

Desta forma, pegando novamente o pincel rúnico, assim como a essência arcana, comecei a gravar vagarosamente as runas por cada barra forjada.

E atentos ao processo, impressionados com minhas ações, Colak e Qian não conseguiam tirar os olhos, observando atentamente cada etapa, onde acabei ficando bastante satisfeito com suas expressões.

— Colak. Qian. Atenção. Observem atentamente o processo, pois a observação é um requisito essencial durante a aprendizagem.

— Além disso, esses encantamentos são os mais simples; e seus efeitos nesse processo é reforçar a resistência, a durabilidade e a nitidez da espada, tornando-se um encantamento mais avançado após a fundição perfeita das várias barras de aço juntas.

— Por isso, tratem de decorar seus traços, os encantamentos são uma espécie de linguagem que interage com a energia ambiente, por isso não existe atalhos em sua criação — declarei, usando de minha energia interna para ativar os padrões, finalizando assim as runas.

E voltando eventualmente para a forja. Terminando de encantar cada uma das barras refinadas, as aqueci completamente juntas, tendo bastante cuidado para não as derrubar.

Assim, usando uma ferramenta para torce-los cuidadosamente, despejei o pó elaborado anteriormente para unificar suas estruturas.

Desta forma, repetindo constantemente o processo, utilizando-o sempre que os levava de volta ao fogo, facilitando assim a distorção das barras de aço.

Durante esse processo, não deixei que sua essência fosse danificada, onde tive que manter a intensidade do calor através do fole, acompanhando tudo com meu sentido espiritual, principalmente para não deixar que as barras se liquidificassem.

Concluído; apesar do trabalho cansativo, ainda tinha a parte do refinamento, onde comecei a martelar violentamente sua estrutura, repetindo todo o processo de purificação, tendo a certeza que suas estruturas fossem fundidas, dando vagamente à forma de uma espada.

Assim, prestes a percorrer a última etapa do forjamento, acabei aquecendo-a uma última vez, levando-a apressadamente para um recipiente preenchido com água, executando assim seu tratamento térmico, dando sua dureza e resistência.

Finalizado a estrutura base da lâmina, conduzindo-a em um esmeril, comecei a dar fio a espada, formando cuidadosamente seu sulco, como os pequenos detalhes com uma pedra de amolar.

Terminado, usei de alguns pedaços restantes de metal para formar a sua guarda, ao qual conduzi duas arriaz levemente curvadas, usando o mesmo metal para combinar com um pomo arredondado, utilizando de madeira para fazer o cabo, revestindo-o de couro animal.

Enfim, depois de todo o trabalho árduo, terminando de forjar a minha primeira espada nessa vida, a levantei animadamente no ar, apreciando sua lâmina com padrões mesclados, onde um sorriso simples e honesto surgiu em meu rosto.

— Aqui, pegue-a, Qian. Agora, basta levar para o grande Conde Lytian Fayfher — declarei, tendo a atenção de Qian.

— Tenho certeza que irá recuperar todos os seus dunares, como ainda irá lucrar razoavelmente bem com o meu trabalho… — comentei sarcasticamente, vendo o velho homem sorrir forçadamente, sem dizer nada a respeito.

— Garoto. Você cumpriu perfeitamente com sua parte do acordo. Não irei me envergonhar dizendo palavras fúteis por causa de uma pequena quantidade de dunares.

— Se precisar, basta pedir, irei apoiá-lo completamente — respondeu Qian, tendo um acordo mútuo com seu discípulo, Colak.

— Bem… se você diz. Na verdade, preciso de uma casa, não tenho muitos dunares em meus bolsos, desde que fui expulso do castelo.

— Além disso, preciso comprar diversos recursos para o meu desenvolvimento, portanto… — declarei, exibindo um sorriso depreciativo, enquanto o observava atentamente.

— Hmm… entendo. Não sei se satisfaz sua demanda, mas utilizo uma das propriedades do Mestre Qian no distrito superior, este lugar tem bastantes quartos em sua residência, e se não for um incômodo, seriam mais que bem-vindos a morar comigo… — comentou de repente Colak, se prontificando a resolver o problema.

— Oh! Isso seria ótimo. Agradeço — expressei, percebendo o sol brilhando intensamente a partir de uma janela no corredor, ficando assim ciente que um dia provavelmente tinha se passado desde o início do forjamento.

— Tudo bem. Colak irá conduzi-los a sua residência. Mas antes, tome aqui, um pequeno presente por corresponder as minhas expectativas… — Falou Qian, chamando assim a minha atenção.

— Eu estava guardando para uma situação de emergência, mas lhe será mais útil — explicou de repente Qian, jogando algo em minha direção.

Curioso, pegando-o inconscientemente, percebi que se tratava de uma pequena pílula curativa, acabando por olhar para o ferimento bastante óbvio no ombro de Elise, agradecendo-o sinceramente.

Uma pílula medicinal era extremamente rara na região, o que diferenciava de outros medicamentos como pomadas, elixires e outros derivados.

Na verdade, as pílulas medicinais tinham um efeito mais imediato, como eram somente criadas por Alquimistas, aos quais eram praticamente inexistentes em nosso reino, sendo muito mais eficazes e potentes que medicamentos elaborados por herbalistas e curandeiros.

Agradecido, sentindo-me movido pelo seu gesto, não consegui evitar de expressão minha gratidão, quando presenciei silenciosamente o velho meio-anão virar o rosto desajeitadamente, enquanto saia da sala de forjamento.

E apesar de sua atitude, estava verdadeiramente agradecido, quando indiquei a Colak, onde acabamos saindo finalmente da Grande Ferraria Bahaduul, tendo-o demonstrando o caminho até a sua residência.

E sob seus cuidados, utilizando o resto da tarde para cumprir algumas pequenas tarefas e mudar nossas coisas para a sua residência; acabei por não ir caçar na Floresta da Perdição Rubra, onde aproveitei desse tempo para ajudar Elise a ingerir a pílula curativa, como descansei brevemente para reabastecer minhas forças.

Quanto a Colak, nosso anfitrião, ele inesperadamente nos ofereceu uma agradável surpresa, mostrando um lado bastante gentil, preparando um suntuoso jantar, ao qual, honestamente, nunca esperava que um homem tão grande seria tão afável, tendo a certeza que teríamos no futuro uma ótima relação.

 

 

Enquanto isso, no castelo da Família Fayfher.

— Tenente Xim, você encontrou meu filho e sua companheira na Cidade de Eydilian? — indagou aborrecidamente Conde Lytian Fayfher.

— Vossa Graça… não consegui encontra-los — respondeu humildemente Xim, sentindo grande vergonha em suas capacidades.

Baque!! Estrondo!!!

— O que diabos você e seus homens estão fazendo?! Não deixei claro que desejava alguém o acompanhando secretamente?

— Se não fosse suas visitas a poucos dias, nem saberia se meu próprio filho continua realmente vivo! Como pode ser tão difícil segui-lo, um jovem totalmente tolo e inconsequente?! — Bufou Lytian Fayfher com indignação, batendo fortemente sobre a mesa, extravasando assim a sua raiva.

— Vossa Graça… não tenho quaisquer desculpas para justificar minha incompetência, aceitarei completamente a minha punição — respondeu Tenente Xim, curvando-se humildemente.

— Punição? Bobagem! Sua punição não irá confirmar a segurança do meu único filho, tão pouco irá esclarecer o que ele tem feito todo esse tempo!

— Não importa o que seja necessário, quero alguém o vigiando constantemente, fui suficientemente claro?! — Rosnou Lytian, emanando parte de sua energia interna.

— Certamente, Vossa Graça. Irei cooperar imediatamente com os outros pelotões para encontra-lo — respondeu Tenente Xim, amaldiçoando internamente sua negligencia, jurando que não deixaria seu Jovem Mestre escapar uma segunda vez, suando profusamente perante a poderosa aura de seu lorde.

Porta! Batida!!

— O quê!! — Rugiu Lytian Fayfher, tendo sua reunião interrompida, quando ouviu alguém batendo suavemente na porta.

— Vossa Graça. O Ferreiro Qian, da Grande Ferraria Bahaduul pede uma audiência. Ele deixou claro que obteve uma ótima espada, e deseja pessoalmente oferece-la ao senhor — esclareceu Albert, o mordomo chefe do castelo.

Desta forma, ouvindo suas palavras, Lytian suspirou resignadamente, quando acalmou a raiva em seu coração, indicando que Tenente Xim ficasse ao lado, tendo seu convidado se apresentando.

— Vossa Graça. Obrigado por reservar seu precioso tempo para me ver, acredito que não irei decepciona-lo — comentou cordialmente Qian, ao adentrar o escritório, se curvando.

— Velho Qian, faz um tempo que não nos encontramos pessoalmente, acredito que a última vez foi quando discutimos seriamente sobre o fato de aceitar o apoio da minha família, certo?

— Se não for pedir muito, acredito que pensou honestamente em minha proposta? — indagou Lytian, observando com indiferença o sorriso rígido do velho meio-anão.

— Vossa Graça. Não sou alguém que gosta de ser limitado por regras. No entanto, quero que compreenda que nunca esqueci sua gentileza… — expressou Qian, vendo um leve desagrado surgindo no rosto de seu lorde.

— Hoje, tive a oportunidade de ter uma grande espada em minha posse. E como tal, uma grande espada, se deve ter um grande cavaleiro empunhando-a. Portanto, esse é o objetivo da minha visita — explicou Qian, não presenciando qualquer alegria na expressão de seu lorde após sua alegação.

— Entendo… por favor, demonstre o seu trabalho. — Ordenou Lytian Fayfher, sinalizando sutilmente com a mão.

Sinceramente, do seu ponto de vista, sua família já detinha muito de seus trabalhos, um a mais realmente não era um grande incidente, sendo muito mais útil recruta-lo do que formar um relacionamento mútuo.

No entanto, quando o velho Qian começou a desembrulhar a espada que estava envolvida em um tecido, sua expressão estoica começou a desaparecer, tornando suas sobrancelhas se levantarem completamente, quando seus olhos brilharam em empolgação.

— Oh! Esses padrões… uma Espada de Aço Damash! Nunca esperei que tal tesouro seria oferecido em minha presença… — resmungou Lytian Fayfher, com grande apreciação, se esquecendo momentaneamente de sua compostura.

— Vossa Graça…. você está meio certo… — Falou Qian; oferecendo a espada para Lytian Fayfher com ambas as mãos, vendo sua confusão.

E recebendo-a, apreciando vagarosamente a espada longa em suas mãos, após dar um olhar sutil ao velho Qian. Lytian Fayfher convergiu sua energia carnal através da espada, não conseguindo conter a grande surpresa em sua feição.

Quando sua energia interna fluiu para a espada longa, a mesma tremeu ligeiramente, quando uma luz bem sutil envolveu seu corpo em um tom escarlate, tendo runas em um azul-violeta surgindo por toda a sua lâmina.

— Isso… uma espada completamente purificada… e ainda por cima contendo encantamentos… — murmurou roucamente Lytian Fayfher com total descrença, não conseguindo acreditar em seus olhos.

Mesmo Tenente Xim, ao lado, não conseguiu conter a inveja e o desejo por tal lâmina em sua expressão.

Essa era uma reação normal para qualquer cavaleiro, desde que sua espada representava uma parte de sua força, assim como sua vida.

E mesmo usufruindo de seus status, Lytian nunca teve uma espada completamente purificada, sem mencionar uma contendo encantamentos, algo extremamente raro no Reino Ershter, podendo ser contadas no dedo, sendo considerado um grande legado para qualquer família.

— Velho Qian. Diga-me o seu preço, não importa o valor, o comprarei definitivamente — declarou Lytian decididamente, com um raro sorriso em seu rosto.

— Hmm… sobre isso, não defini um valor específico. Sendo sincero, a espada não foi forjada por mim, mas por um Mestre Ferreiro, tendo a honra em acompanhar pessoalmente o seu trabalho…

— Nesse momento, aprendendo sob sua tutela, gostaria de ter a ajuda da Família Fayfher na obtenção de certos recursos, acredito que entenda que nem tudo pode ser encontrado em nossas fronteiras, e com sua influência, esse ponto seria de grande ajuda — explicou Qian, tentando pavimentar lentamente essa conversa em sua vantagem.

Contudo, o homem em sua frente escutou apenas algumas de suas palavras.

— Um Mestre Ferreiro?! Em minha cidade?! Albert! Escolha os melhores tesouros em nosso armazém, não economize um único dunar de ouro, vamos encontra-lo imediatamente!! — Ordenou apressadamente Conde Lytian Fayfher, querendo sair imediatamente.

— ESPERA! Por favor, Vossa Graça! Acredito que não seja possível… — Interrompeu Qian com urgência, sorrindo impotente ao ver a expressão nitidamente descontente de Lytian Fayfher.

— Esclareça. — Bufou Lytian Fayfher com grande aborrecimento.

— Vossa Graça, por favor, não leve isso para o coração — expressou Qian sorrindo rigidamente.

— O Mestre Ferreiro me tendo sob sua tutela foi meramente uma coincidência fortuita. Na verdade, esse Mestre Ferreiro não quer ser encontrado por ninguém, e foi por esse motivo que estou aqui para negociar por seu trabalho, peço que compreenda… — explicou Qian gentilmente, sentindo-se bastante nervoso em seu coração.

— Tsk! Não estou nada satisfeito, mas também não sou estúpido o suficiente para desejar estar do lado ruim de um Mestre Ferreiro.

— Desde que você se dispõe a negociar em seu nome, minha Família Fayfher irá fazer o possível para cumprir suas exigências. Sente-se, vamos chegar a um acordo… — falou Lytian Fayfher decididamente.

 



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