A Saga de Hyan Fayfher Brasileira

Autor(a): A. F. Willians


Volume 1

Capítulo 14: Eu estou do seu lado

 

 

 

— Hyan… — chamou Elise com gentileza, se aproximando; enquanto eu olhava distraidamente para o céu estrelado, de volta a pousada.

Nesse momento, depois de voltar da caçada na Floresta da Perdição Rubra, tornei-me a vender os despojos, voltando bem tarde, me ocupando assim em refinar “Água Espiritual”. Um recurso precioso que se tratava da conversão e concentração da própria energia presente na atmosfera em um estado líquido, concedendo assim diversos benefícios.

Essa Água Espiritual era o principal ingrediente na criação da Essência Arcana. Um recurso imprescindível na criação de padrões rúnicos; principalmente para quem não era detentor da Energia Mental ou da Energia Elemental.

Portanto, devido a todo esse procedimento, acabei ocupando a maior parte do meu dia, não tendo tempo para sentar e conversar adequadamente com Elise sobre o que ocorreu anteriormente na Ferraria Bahaduul.

Na verdade, estava inseguro de sua atitude depois de descobrir uma parte da verdade, não sabendo como agiria diante de toda essa situação perigosa.

Seja dito, o que acabei por falar na Ferraria Bahaduul era somente o começo dos meus problemas, mas era o suficiente para representar grande perigo a sua vida.

Afinal, se Elise acabasse por não querer participar desse conflito, entenderia perfeitamente sua posição, ajudando-a com o que fosse possível.

— Hmm… o que foi… — respondendo ao seu chamado, não consegui encontrar uma resposta decente, acabando por me sentir verdadeiramente envergonhado.

Entretanto, apesar de escutar a minha resposta inadequada, Elise não aparentava querer continuar essa conversa, quando acabamos não dizendo nada um ao outro, onde ficamos parados olhando ocasionalmente as estrelas.

E sentindo essa estranha atmosfera que se originou em nosso entorno, tomei coragem, dizendo:

— Elise… me desculpe. Eu não perguntei se você queria participar de toda essa situação… se não quiser participar desse conflito… bem, entenderei perfeitamente — Falei, interrompendo abruptamente o silêncio, vendo assim que sua expressão era estranha, olhando-me inesperadamente com desagrado.

— Você está me perguntando isso agora?! Pensei que você já tinha a minha resposta para essa pergunta… — Bufou Elise, fingindo estar com raiva.

— Sinceramente, não vou mentir, tenho medo, não sei no que realmente estou me metendo, mas também… não quero recuar, Hyan.

— Você me ajudou quando ninguém mais estava disposto a estender a mão. Me ensinou coisas que ninguém estaria disposto a não ser exigindo grandes quantidades de riqueza. Confiou em mim, quando tinha diversos motivos para ter sua desconfiança.

— Então, quero que saiba que também estou aqui para lhe ajudar. E apesar de ainda ser dependente de você em muitos aspectos, prometo me esforçar ao máximo e lhe ser útil. Afinal, somos companheiros, certo? — indagou gentilmente Elise.

— Haha! Você está certa. Somos companheiros — respondi com um sorriso, esfregando desajeitadamente a ponta do meu nariz, tirando um sorriso de seu lindo rosto.

 

 

— Garoto! Todos os itens que você pediu estão nessa sala. Agora, mostre-nos do que você é capaz — proclamou Qian, olhando-me seriamente.

Acenando em resposta, avancei, separando os itens em três montantes.

O primeiro seria para a construção de um pincel rúnico. Um instrumento mágico que não poderia ser negligenciado, feito a partir de itens raros e preciosos, que iria me acompanhar por um longo tempo nessa jornada.

O segundo grupo de itens seria para forjar duas “Joias Perceptivas”. Esse artefato mágico, se assim poderia dizer, foi uma criação unicamente minha.

A partir de um cristal da alma, algo que normalmente se formava em antigos campos de batalha, ou em cemitérios de bestas monstruosas. Era um recurso extremamente raro e complexo, tendo a capacidade de armazenar minha energia mental.

E em conjunto com uma avançada matriz arcana, que se tratava de uma formação superior e mais complexa que os próprios encantamentos. Eu iria sacrificar uma pequena vertente da minha própria energia interna para incutir nessa Joia Perceptiva.

Em outras palavras, era como um conversor de energia, tornaria Colak e Qian a ter a capacidade de utilizar uma parte de minhas habilidades, algo parecido com o meu Sentido Espiritual.

Quanto ao terceiro conjunto de materiais, se tratava da criação da Essência Arcana. Um recurso necessário se eu quisesse desenvolver a engenharia mágica de nosso território; como alguns recursos necessários para forjar a Liga de Aço Damash.

Enfim, terminando a separação, concentrando-me primeiramente na criação do pincel rúnico, deixei claro para os meus companheiros que não deveria ser interrompido.

Assim, começando com o tratamento da casca de um monstro planta bastante poderoso nas profundezas da Floresta da Perdição Rubra. Comecei o processo para dar a forma exterior do pincel rúnico.

Desta forma, usando ervas espirituais para criar uma mistura líquida; ao qual pinguei algumas gotas do meu próprio sangue, deixei a casca do monstro mergulhada na mistura.

A seguir, peguei a medula óssea de várias bestas monstruosas, moendo-as até que se tornassem em um pó esbranquiçado, ao qual retirei a casca da mistura, despejando completamente o pó sobre o líquido, formando um tipo de pasta pegajosa.

E colocando-o sobre o centro da casca, cuidadosamente o espalhando, a enrolei em um canudo, ao qual formei respectivamente o corpo do pincel rúnico.

Assim, respirando profundamente, tomando um breve fôlego, controlei minhas emoções; quando peguei a presa de uma poderosa besta monstruosa, e com um pequeno cinzel de prata, comecei a entalhar, dando minunciosamente sua forma.

Terminado, deixando permanecer a nitidez em sua ponta, onde fiz um pequeno orifício. A parte superior que era maior se tornou uma espécie de encaixe, adentrando perfeitamente o corpo do pincel rúnico.

E para a conclusão do meu trabalho. Obtendo sua forma completa. Peguei algumas folhas especiais, concedidas de uma antiga árvore espiritual, quando as enrolei no pincel, o levando respectivamente ao fogo.

Assim, segurando-o com cuidado, deixei que as folhas queimassem lentamente, aproveitando de sua resistência ao calor para temperar lentamente o pincel. E durante esse processo, conduzindo minha energia mental em sua estrutura, deixei que tudo se fundisse em um único corpo e alma.

Desta forma, observando as folhas secas se desmanchando, retirei o pincel rúnico do fogo, colocando-o sobre a mesa de forja, deixando assim que esfriasse.

Concluído, averiguando cuidadosamente sua estrutura, a casca anterior desapareceu, dando origem a um cabo preto, sólido e liso, como se fosse uma espécie de borracha, sendo agradável ao toque.

Quanto a ponta do pincel, antes uma presa branca e afiada, acabou possuindo padrões ondulados, mantendo assim sua nitidez. Exceto o pequeno orifício, que aparentava possuir uma substância negra em sua abertura.

— Isso! Foi um grande sucesso! — comentei animado, pegando o pincel rúnico em minhas mãos, estando bastante feliz com o meu trabalho, esquecendo assim por um momento que pessoas me observavam, quando olharam para mim com olhares peculiares.

— *Tosse*… Agora irei criar as Joias Perceptivas, espero que estejam preparados… — Enfatizei calmamente, vendo a aparência confusa de Colak e Qian.

— Oh! Meu mal. Enquanto elaboro a Joia Perceptiva, vocês deveriam meditar e estabilizar suas emoções, pois é um processo um pouquinho doloroso… — expliquei, vendo suas expressões se distorcerem.

— Bem, vocês devem se acostumar a concentrar sua energia vital em um único ponto entre a testa. Desta forma, irei fazer um pequeno corte ao qual incorporarei a Joia Perceptiva.

— Enfim, vai doer, mas acredito que não seja algo insuportável para ferreiros habilidosos como vocês. — Finalizei, vendo suas expressões se tornaram ainda mais terríveis.

— Ei, não me olhem assim… Como devem ter percebido, na arte da forja e do encantamento também existem técnicas e métodos secretos, aos quais são guardados com muito cuidado e sigilo.

— Se não estão dispostos a passar por esse pequeno desafio, acredito que ambos chegaram ao fim de suas carreiras, não podendo avançar mais nesse ofício — declarei indiferentemente, vendo suas expressões mudando novamente, tornando-se lentamente em determinação.

Assim, um pouco orgulhoso de suas atitudes. Não falei mais nada a respeito; voltando assim ao trabalho, onde peguei o cinzel e um pequeno martelo, quando comecei a trabalhar laboriosamente em duas peças de cristais da alma.

E conforme minhas mãos trabalhavam incansavelmente, os cristais da alma que não tinham uma forma especifica se tornaram pequenas joias ovais em minhas mãos.

Sinceramente, aquela cor azul-cristalina era algo realmente lindo. E terminando de entalha-lo, mantendo somente sua essência, comecei a me preparar para a produção da essência arcana.

Desta forma, preparando tudo de antemão. Peguei um grande recipiente, o colocando sobre a mesa de forja, preenchendo-o assim em sua maior parte com água espiritual.

Assim, começando a despejar os ingredientes; desfarelei os pedaços quebradiços do cristal da alma, assim como algumas ervas espirituais, que apesar da dificuldade, ainda poderiam ser encontradas no mercado.

Enfim, misturando tudo, mantive imbuindo minha energia mental no processo, atraindo assim diferentes vertentes de energia, convergindo tudo no interior do recipiente, requerendo muita concentração no processo, quando acrescentei por último o sangue bestial.

Brilho! Fervor!!

Reagindo, a mistura se estabeleceu em uma cor azul-violeta, indicando a conclusão e o sucesso da mistura. Satisfeito, seguindo institivamente para a próxima etapa do trabalho. Peguei o pincel rúnico, mergulhando-o no recipiente, quando pretendia começar a gravar os encantamentos arcanos.

Sucção!!

E assim que coloquei a ponta do pincel rúnico dentro do recipiente, o mesmo sugou por completo a essência arcana, tendo seu corpo negro mudando inesperadamente para uma cor azul-violeta, impressionando o trio que me observava aturdidamente por trás.

— Colak. Qian. Como pode ver a essência arcana é um recurso essencial para a criação dos padrões rúnicos, e por mais que as primeiras runas criadas na história foram provenientes do sangue bestial, essa energia é instável, podendo ocasionar acidentes… — expliquei de repente, quando Colak e Qian se atentaram em minhas palavras.

— Além disso, a essência arcana não tem um atributo especifico, não tendo uma afinidade padrão como, por exemplo, os encantamentos mágicos. Enfim, essa explicação é o suficiente por enquanto. O restante vocês devem compreender com suas próprias observações — declarei, ignorando seus olhares peculiares.

Voltando ao trabalho. Me concentrando novamente no cristal da alma entalhado; com muito cuidado usei a ponta nítida do pincel rúnico para gravar em seu corpo cristalino, deixando pequenos rastros de um azul maçante, formando minunciosamente a matriz arcana sobre seu pequeno corpo.

Honestamente, era um trabalho bastante desgastante, ao qual tinha que prestar muito cuidado a cada traço feito com o pincel rúnico, como ao mesmo tempo tinha que infundir minha energia mental durante todo o processo.

Quando terminei finalmente a primeira Joia Perceptiva, estava encharcado de suor, como uma expressão pálida devido à exaustão da minha energia mental.

Entretanto, tudo isso ainda não me fez perder o sorriso satisfeito em meu rosto, sabendo que meu segundo trabalho também ocorrera com grande sucesso.

— Então, quem vai ser o primeiro a se fundir com a Joia Perceptiva? — perguntei de repente, vendo as expressões hesitantes da dupla, ao qual Colak se adiantou inesperadamente, tendo a iniciativa.

— Não sei se o processo é perigoso, mas pretendo atestar primeiro no lugar do meu mentor — falou determinadamente Colak, dando um aceno sutil em direção a Qian.

— Tudo bem. Aproxime-se e ajoelhe-se, pois sou muito baixo para alcançar sua testa. Além disso, concentre toda a sua energia vital entre as sobrancelhas, e não importa a dor que sentir, não tente resistir… — Adverti seriamente.

Assim, pegando uma faca e fazendo um pequeno corte sobre sua testa, envolvendo a Joia Perceptiva em minha energia mental, empurrei para dentro do corte, usando assim minha energia para a fusão.

— Aaarrrgghh!!! — Assim que a Joia Perceptiva adentrou o ferimento, a matriz arcana se ativou, tensionando as veias em sua testa; como se fossem raízes, tentando assim se estabelecer em seu corpo.

E apesar de estarem cientes que era um processo doloroso, a partir da sua reação, os outros presentes não conseguiram manter a calma.

Afinal, mesmo alguém tão grande e forte como Colak, acabou rugindo tão desesperadamente, pode se imaginar que não era um processo fácil, tornando Qian a me olhar várias vezes.

Claro, não era como se eu não estivesse preparado para o caso do processo der errado. Se por algum motivo Colak tivesse uma grande reação, estava pronto para arrancar a Joia Perceptiva a força de sua testa.

Porém, após alguns minutos de sofrimento, esparramado no chão, Colak conseguiu com dificuldades superar o processo, tendo seu ferimento se fechando naturalmente.

Assim, não deixando um único vestígio em sua testa, todo o processo parecia simplesmente um terrível sonho. Exceto seu olhar, que me fitava com muito medo.

— *Tosse*… Parabéns, Colak! Agora você pode utilizar de uma forma mais avançada a sua energia, assim como os seus sentidos. Acredito que seu desenvolvimento na forja irá progredir esplendidamente — expressei, vendo as expressões distorcida dos presentes.

Enfim, a situação era algo esperado; portanto, não fiquei chateado com suas reações. E com um sorriso indefeso, comecei a me dedicar na elaboração da segunda Joia Perceptiva, onde todos me olhavam intensamente com diversas emoções.

Concluído, chegando quase ao final do entardecer, terminando a minha segunda Joia Perceptiva, dei início ao processo de fundição, tendo Qian se adiantando corajosamente.

E seja dito a verdade, o velho homem era durão; não sei se era a vergonha que o conduzia, mas o velho Qian além de alguns resmungos dolorosos não soltou um único grito, tornando-me a olhar estranhamente para Colak, que teve sua expressão levemente avermelhada em vergonha.

 



Comentários