A Saga de Hyan Fayfher Brasileira

Autor(a): A. F. Willians


Volume 1

Capítulo 13: Habilidades Imprescindíveis (2)

 

 

 

Assim, tirando uma adaga dentre as minhas roupas, fazendo um pequeno corte na ponta do dedo, me prontifiquei a escrever algumas runas sob a mesa, que ganharam vida, flutuando em pleno ar, deslumbrando a todos.

— Um Mestre Ferreiro, desde os tempos antigos, deve ser proficiente em duas áreas para ser considerado um verdadeiro mestre. Primeiro, é seu conhecimento em metalurgia, estudando afinco os diversos tipos de metais existentes, assim como métodos de processamento.

— Segundo, é o uso das runas, uma linguagem simbólica, contendo a energia ambiente em sua estrutura, ocasionando assim em diferentes efeitos, ao quais pode ser usado para desenvolver a humanidade de maneiras inimagináveis… — expliquei, não muito interessado em me aprofundar em seus conceitos.

— Enfim, durante a maior parte da história, uma pessoa seria considerada um Mestre Ferreiro quando dominasse tanto a arte da forja, como a arte dos encantamentos…

— Porém, infelizmente, essa realidade se torna cada vez mais difícil, principalmente devido a restarem somente três artes de encantamentos… — Enfatizei, olhando-os atentamente.

— O primeiro, e o mais conhecido, se trata dos encantamentos mágicos, uma especialidade dos magos, incutindo forçadamente a energia elemental em um armamento.

— Honestamente, quase não considero isso como uma real arte de encantamentos. Mas devido a seus armamentos mágicos, acabou ganhando um grande reconhecimento pelo continente… — Bufei, olhando para todos os presentes.

— O Segundo, se trata dos encantamentos dragônicos, uma arte bastante formidável, mas que se encontra atualmente incompleta, estando nas mãos dos anões…

— Essa arte necessita principalmente da voz única presente nessa raça mística, contudo, os dragões a muito desapareceram, e apesar de alguns anões receberem sua benção no passado, esse poder se torna cada vez mais fraco com o passar dos anos.

— Portanto, essa arte de encantamentos dragônicos está quase à beira da completa extinção, sendo um dos motivos da raça dos anões estar disposta a interagir com a raça humana, tentando buscar recursos para que possam desenvolver sua própria arte de encantamento — expliquei, olhando de lado para Qian, que se manteve em completo silêncio.

— O terceiro, e não menos importante; se trata dos encantamentos espirituais, algo que tem realmente a minha apreciação. Infelizmente, são os Elfos que possuem essa arte, sendo considerados os maiores inimigos da humanidade — esclareci, tendo os três presentes bastante atentos as minhas palavras.

— Enfim. Agora que expliquei do que se trata um verdadeiro Mestre Ferreiro, como disse anteriormente, sou proficiente em uma arte de encantamento; contudo, não domino nenhuma dessas três…

— O que sou proficiente é uma arte a muito tempo perdida, algo que não fica aquém a nenhuma dessas artes de encantamento.

— Não! Sinceramente, a minha arte é muito superior, o que tenho a ensinar se chama de Arte Arcana — declarei, agitando minha mão, tornando a desaparecer por completo as runas suspensas.

— Por isso, posso ser novo; contudo, não julgue erroneamente alguém por sua idade. Aprender sob minha tutela é uma honra indescritível, está longe de ser algo humilhante!! — Expus com aborrecimento, soltando minha aura sobre Colak, que ficou pálido, principalmente ao presenciar minhas capacidades.

— O suficiente! O seu objetivo não é envergonhar o meu aprendiz! Se você realmente quer o meu apoio, então seja verdadeiro!

— Por mais que seja realmente alguém com grandes capacidades, não servirei alguém que esconde suas verdadeiras cores… — argumentou Qian, intervindo por seu aprendiz.

— Além disso, não vamos falar da sua idade ou conquistas. Mas somente o fato de você ser alguém despertado antes de completar quinze anos, escondendo tantos segredos de seus próprios pais… como espera que me sinta a vontade de servir alguém assim? — perguntou Qian, olhando-me desdenhosamente.

— Hmm… se eu lhe contar a verdade, estará disposto a me apoiar? — perguntei calmamente, atento a sua atitude, enquanto pensava como proceder nessa situação, tornando-a ao meu favor.

— Não posso afirmar nada, mas estarei mentindo se não estiver interessado em seus conhecimentos… — declarou Qian.

“Hmm…. uma questão difícil. Porém não tenho alternativas, preciso arriscar, somente assim obterei os recursos que necessito. Além disso, Qian, como um meio-anão sempre foi alguém bastante requisitado por todos os nobres presente na Cidade de Eydilian”.

“E não posso esquecer; como mencionado por ele mesmo, seu talento foi reprimido devido a seus próprios ideais e circunstâncias, podendo se tornar um suporte bastante valioso no futuro”.

“Lembrando também que apesar dos diversos benefícios oferecidos pelos nobres, sempre se manteve neutro, fiel aos seus ideais, nunca cedendo as tentações oferecidas pela sua lealdade”. Pensei, escolhendo sabiamente as minhas próximas palavras.

— Tudo bem, aprecio o seu talento, não acho que ser um pouco sincero tornara as coisas difíceis, irei lhe contar tudo… — declarei, sabendo que deveria tentar, olhando ambiguamente para Colak.

— Colak é o meu discípulo; portanto, confio por completo minha vida a ele, assim como também é alguém que vai herdar o meu legado, como minhas ambições…

— Se tem algo que não pode ser dito em sua frente, então é algo que não se deve mencionar a mim… a decisão é sua… — explicou Qian, observando-me atentamente.

— Tsk! Você realmente é um velho difícil de agradar, hein… — reclamei com insatisfação, vendo um leve sorriso aparecer em seu rosto.

— Urgh! Enfim… você venceu. Vamos começar pelo fato ao qual você está mais curioso. A questão do meu despertar, a explicação é simples. Eu, desde o nascimento, sou alguém já desperto — declarei com indiferença, vendo seus olhares chocados.

— Entretanto, minha afinidade é algo completamente desconhecida pela maioria das pessoas… eu detenho aptidão com a Energia Mental, é algo relacionada aos conceitos da espiritualidade, não é algo que necessite despertar, tão pouco pode ser avaliado por um “mero” artefato.

— Claro, essa afinidade também não é algo fácil de se dominar, se não fosse por um especialista oculto, vindo dos Reinos Superiores, estando disposto a me ensinar secretamente. Bem, talvez no futuro seria para sempre considerado um não-praticante — expliquei, sem qualquer reação diante suas expressões.

— Isso… — murmurou Colak, não conseguindo acreditar em seus ouvidos, compartilhando uma grande parte de sua surpresa com os outros presentes. Incluindo Elise, que ouvia atentamente tudo desde o início, tendo suposições desde que nos conhecemos.

— Entendo, se for alguém dos Reinos Superiores tudo pode ser possível… — comentou Qian, mantendo sua compostura.

— Hmpf! O que você sabe dos reinos superiores… — Bufei, percebendo rapidamente o meu deslize, quando engoli as minhas próximas palavras, tendo que permanecer seguindo com essa mentira.

— Enfim. Por causa do meu “mestre”, devido a uma promessa, não pude contar aos meus pais, pelo menos, não até conseguir dominar o suficiente de meus poderes para não o envergonhar.

— Porém, quando achei que tinha dominado o suficiente para finalmente ter o seu reconhecimento e ser considerado o seu discípulo. Uma grande trama foi revelada por meu mestre — declarei, tentando reprimir minha raiva, quando lembrava dos dias desagradáveis que presenciei.

— Nascendo nas sombras da Família Fayfher, um subordinado do meu primeiro tio encontrou acidentalmente uma mina com “metais gélidos”. Acredito que como ferreiro talvez tenha escutado sobre esse precioso metal, algo normalmente citado somente em lendas. — Bufei, cheio de ódio e desdém.

— Esse metal gélido só pode ser formado em grandes profundidades no oceano, um ambiente que claramente é impossível para os seres humanos existirem…

— Entretanto, com o passar de milhões de anos, ocorrendo mudanças naturais na superfície terrestre, ocasionalmente uma mina de metais gélidos acaba por surgir na superfície.

— Tais metais tem uma energia indescritivelmente pura do atributo gélido. E nas mãos de um Mestre Ferreiro, pode se tornar armas indescritíveis, não é algo que palavras podem descrever o seu valor.

— No entanto, esse maldito do meu primeiro tio escondeu esse fato de toda a família, correndo imediatamente para a Família Shaen, pertencente a uma das três grandes famílias do nosso Reino Ershter, e planejou algo realmente tenebroso — expliquei, cerrando os dentes.

— Em troca desse precioso tesouro, a Família Shaen prometeu ajudar o ramo do meu primeiro tio a tomar o completo controle da Família Fayfher. Apoiando-o das sombras, eles tramam para substituir a minha família como líder e governante da Cidade de Eydilian — Falei, cerrando os punhos.

— Desta forma, devido a este incidente, mantive minha habilidade escondida. Não contei a ninguém, pois estou ciente que mesmo meu pai não acreditaria em minhas palavras…

— Nesse momento, preciso de alguém com alguma reputação para conseguir recursos para a minha cultivação, preciso aumentar apressadamente minhas forças, não importando assim os meios, ou não poderei impedir esse conflito de irromper.

— Portanto, em troca de ensinar os meus conhecimentos, peço que me apoie. Não irei restringir de forma alguma sua liberdade…

— Pelo contrário, você irá manter sua condição de vida, e ganhara ainda mais notoriedade e reconhecimento das pessoas, me tendo totalmente mantido nas sombras. Essa não é uma proposta interessante? — perguntei, o fitando atentamente.

— Não… isso não é tão simples… — expressou Qian, tornando a minha expressão mudar ligeiramente.

— Mesmo se você conseguir deter seu primeiro tio, conhecendo os nobres, principalmente a Família Shaen, acredito que facilmente eles poderiam inventar uma desculpa para interferir na disputa interna da Família Fayfher.

— Além disso, estamos falando de um tesouro de valor inestimável. Em outras palavras, independente do seu sucesso, isso significa uma coisa… Guerra… — Expôs severamente Qian, tornando todos na sala ficarem em silêncio, sentindo a gravidade da situação.

— Sim! Não vou negar, de um certo ponto, você está certo… A guerra irá irromper de qualquer forma em alguns anos; contudo, ainda não irei desistir — declarei, deixando claro minha determinação.

— Irei me tornar forte o suficiente para influenciar pessoalmente essa guerra, não fiquei anos aprendendo em silêncio para ter minha família morta por causa da ganância de alguns nobres desprezíveis!! — Rosnei, quando um leve sorriso tomou conta do meu rosto, quando uma aura sinistra emanou do meu corpo, tendo todos atordoados com a minha intenção.

— Então, já lhe disse o suficiente. Você irá me apoiar ou não!? — perguntei, olhando determinadamente para Qian, querendo saber assim de sua escolha.

— Urgh! Uma última pergunta, seu mestre irá interferir nessa questão? — perguntou Qian, fitando-me intensamente.

— Não. Ele disse que devo enfrentar minhas próprias dificuldades, ou jamais me tornarei um grande cultivador — respondi, agitando meus ombros, quando senti que era difícil segurar o próprio sorriso diante tanta baboseira.

— Entretanto, quero que saiba que meus conhecimentos não podem ser negligenciados, sou mais que proficiente para ganhar seu reconhecimento, não é algo que pessoas desse Reino Inferior poderiam imaginar com suas visões escassas… — declarei firmemente, observando-o.

— Suspiro. Por muitos anos me mantive neutro, nunca desejando me intrometer nos problemas causados pela disputa de poderes. E por mais que alguns podem dizer que sou alguém não influenciável por tesouros ou riquezas, tudo é uma grande bobagem, mesmo eu tenho sonhos, desejos e pesares…

— Garoto! Não sou alguém que se importa com essa cidade a ponto de me sacrificar prontamente em sua defesa. Entretanto, entendo perfeitamente o que você está sentindo, tive pessoas que amo traídas devido a ganância presente no coração dos seres vivos…

— Por isso, durante um ano, irei me esforçar para auxilia-lo. Nesse período, mostre-me que você tem o que é preciso para ganhar a minha confiança e lealdade.

— E apesar das suas palavras, sei que seu objetivo é muito maior do que suas intenções declaram… — Apontou Qian, me olhando intensamente.

— Dito isso, ninguém pode alcançar o topo sozinho, se você tiver o necessário, irei apoia-lo completamente, e meus homens seguiram a minha liderança — Concluiu Qian, olhando calmamente para Colak, que acenou em concordância, afirmando suas palavras.

— Obrigado. Um homem de verdade jamais volta com suas palavras. Irei lhes mostrar que detenho o necessário — proclamei, pegando um pedaço de papel em branco em sua mesa, escrevendo vários itens por sua extensão, entregando-o para o perplexo Qian.

— Nesse papel está presente alguns itens para forjar uma Espada de Aço Damash. Essa liga metálica é bastante comum nos Reinos Médios e Superiores. E apesar de não ser muito em meus olhos, seu valor deve ser considerável em nosso reino, tirando o fato que é uma liga metálica que pode suportar encantamentos em sua constituição — expliquei, vendo o desejo surgir em seus olhos.

— Enfim, traga-me esses itens em alguns dias, então irei lhes ensinar tanto a criação da Liga de Aço Damash, como também irei apresentar o processo de criação de encantamentos.

— Ah! Quase me esquecendo, ensinarei também uma técnica de percepção que irá auxiliá-los a “enxergar” verdadeiramente as impurezas contidas no metal — expressei confiantemente, vendo as sobrancelhas de Qian se levantar, enquanto Colak olhava intensamente para a folha de papel.

— Isso… tais itens são absurdamente caros… — comentou Qian sombriamente, olhando-me com desconfiança.

— Hmpf! Obviamente que são caros! Nesse primeiro encontro preciso tanto forjar um pincel apto a escrever padrões arcanos, como também preciso de certos itens para cultivar com sucesso duas Joias Perceptivas, ou espera receber a capacidade de sentir a essência do metal sem nenhum custo?! — Reclamei, tornando-o a ficar em silêncio.

— Além disso, quando terminar de forjar a Espada de Aço Damash, você pode oferecer para o meu pai na Família Fayfher, acredito que irá conseguir muito mais do que gastaria com esses itens…

— Sem falar o fato que poderá aproveitar a situação para formar um relacionamento mútuo com minha família, utilizando de sua influência para adquirir recursos ainda mais preciosos no futuro. — Bufei, demonstrando claramente o meu desdém, esperando sua decisão final.

— Tudo bem, iremos fazer como você disse, conseguirei em três dias todos esses itens — respondeu Qian decidido, concordando com o meu planejamento.

Assim, indicando a Colak, Qian pediu sua licença, tendo o seu discípulo nos acompanhando educadamente até a entrada da Grande Ferraria Bahaduul, ao qual se despediu cordialmente, combinando de nós encontrarmos em três dias.

 



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