Volume 4
Capítulo 5
Por ter chovido no dia anterior, o funeral de Koudai Kamiuchi aconteceu em condições úmidas e desconfortáveis. Está tão quente que até mesmo os convidados estão visivelmente afetados, e parecem estar sentindo mais desconforto do que luto. Eles quase parecem como se tivessem esquecido que estão ali para velar um falecido.
Mas ainda há muitos convidados derramando lágrimas no funeral. Pelas minhas conversas com eles, me torno ciente da popularidade de Kamiuchi-kun. Apenas conheci seu lado cruel, então fico surpreso de início. Mas ao levar em consideração sua atitude amigável de fachada, me sinto um pouco menos surpreso.
Uma mulher jovem, aparentemente sua mãe, chora tanto que parece ter derramado até a última lagrima estocada em seu corpo. Ver ela daquela forma é de partir o coração. Em algum lugar no fundo do meu coração, queria ignorar as pessoas de luto e aliviar meu próprio sofrimento. Queria justificar a morte dele dizendo a mim mesmo que ele era um caso perdido de qualquer forma.
Mas naturalmente, até mesmo um homem como Kamiuchi-kun continua sendo querido para algumas pessoas. O que Daiya e eu fizemos foi terrível, e carrego parte da responsabilidade por esse terrível resultado.
É claro. Daiya pode tê-lo estrangulado, mas eu também matei Koudai Kamiuchi. A mãe dele fica sussurrando que a culpa era dela, embora claramente não seja a culpada que o estrangulou. Ela parece estar tentando amaldiçoar a si mesma a uma vida de infelicidade com seus sussurros frenéticos.
Em seu retrato no funeral, Kamiuchi-kun estava com os olhos levemente fechados e os cantos dos lábios erguidos. Mesmo assim, o sorriso em sua foto simplesmente não parece um sorriso de verdade.
Em pé ao meu lado, Maria vê a expressão em meu rosto e pergunta, “…você o conhecia?”, sem hesitar chacoalho minha cabeça e respondo, “não realmente.” Maria está bastante silenciosa e o vela sinceramente, apesar de jamais ter conversado muito com ele.
Quando fomos a uma lanchonete mais tarde, ela sequer terminou sua torta de morango. Estou feliz por Maria não se lembrar da ‘Game of Idleness’. Se lembrasse, ela certamente se sentiria responsável pela morte dele e se culparia.
… A ‘Game of Idleness’, hein.
É possível se pensar que Kamiuchi-kun dominou sua ‘caixa’. Mas esse não é o caso. Assim como Mogi-san e Asami-san, que achavam que seus ‘desejos’ jamais poderiam se tornar realidade e, portanto, não conseguiram realmente realizá-los ele também falhou em dominar completamente sua ‘caixa’. Pode-se até dizer que a falha dele foi a maior.
Afinal de contas, o ‘desejo’ por trás da ‘Game of Idleness’ não consistia de nada além de resignação. Então, me pergunto, qual era o verdadeiro ‘desejo’ dele? Estive pensando e pensando… mas nada me vem à mente. Não tive a chance de entendê-lo verdadeiramente, então jamais saberei.
Mas após ver a foto em seu funeral, chego a uma conclusão. Provavelmente, Kamiuchi-kun era…
...Solitário.
✵
O dia anterior às férias de verão chegaram com Daiya ainda desaparecido. O novo incidente de assassinato causou outra comoção na escola, mas acho que isso irá se acalmar até o fim das férias.
Esse sentimento ruim remanescente irá provavelmente permanecer em minha mente para sempre. Mas aceito isso, dou minha aprovação implícita a esse resultado, afinal de contas. De qualquer forma, as férias de verão começam amanhã.
— …Certo!
Vamos nos livrar desse clima melancólico! Ignoro o sentimento ruim da minha pele suada grudando na minha camisa, sorrio e entro na sala.
— …Mh?
Por alguma razão Kokone está se encolhendo em um canto. Ela está sentada ali abraçando os joelhos e se contorcendo.
…O que ela está fazendo?
— Bom dia, Hoshii!
— Bom dia, Haruaki. …Ei, você sabe o que aconteceu com a Kokone?
— Aah, esse é a antiga doença “brinque comigo” da Kiri, então apenas ignore-a! Mas essas vibrações irritantes que você sente vendo ela agachada no canto da sala a faz lembrar perfeitamente certa criatura preta! Vamos chamá-la de Baratone Kirino de agora em diante!
— Quem é uma barata!?
Ah, ela ouviu tudo. Ela se vira e franze o rosto para nós. Seu penteado do dia envolve um prendedor de cabelo, expondo sua nuca. E também…
— Ah, óculos.
Ela está usando óculos com uma armação azul. Por alguma razão, Kokone pisca ao ouvir isso e se encolhe de novo.
— Normalmente eu uso lentes descartáveis… mas esqueci de comprar novas. Ahh… óculos não combinam comigo, por isso estou desanimada…
— …E você está sentada no canto da sala por causa disso?
— Sim, não quero mostrar meu rosto para ninguém. Uguu.
A meu ver, essa atitude apenas a faz se destacar ainda mais. Bom, julgando pela expressão, ela parece estar séria sobre não querer ser vista usando óculos. Pessoalmente, acho que de vez em quando um par de óculos é interessante, mas acho que essa não é a forma como funciona o coração das mulheres.
— Não se preocupe, eles ficam bem em você!
— Não ficam não! Seus olhos apodreceram?! Se sua visão está tão ruim, você deveria por um par de óculos agora mesmo, Kazu-kun! Ah, ou talvez você tenha ficado cego de amor por mim?! Ah que problema, seu pequeno tratante deredere¹!
— …Não, na verdade não…
— Como você ousa dizer “na verdade não”, seu travesti! É bom você se interessar por mim!
Isso não é um pouco cruel de mais?! Quero dizer, essa depressão é culpa dela mesma em primeiro lugar…
— Vamos Hoshii, diga a ela o que você realmente está pensando diretamente! Diga «Não sou apenas eu, ninguém no mundo todo tem interesse em você»!
Haruaki diz coisas tão desnecessárias…
— Hmm! O que você disse, Haru!
— Eu disse que nem o Hoshii, nem ninguém, têm qualquer interesse em você.
— Ah, então isso é apenas uma confissão indireta.
— …O que se passa em sua cabeça para você chegar a esse tipo de conclusão?
— Esse é o seu desejo, não é mesmo? A tradução da sua confissão-tsundere² é algo do tipo: «A oh-tão-popular Kokone-sama deve ser o foco de atenção do mundo todo… eu queria ser o único a me interessar por ela…». Bom, não posso fazer nada. Pelo seu amor, deixe-me presenteá-lo com um lenço higiênico usado mais tarde! Guarde com carinho.
— Vou queimá-lo com um isqueiro imediatamente! Aposto que vai até explodir. Caramba… seu amor próprio realmente não tem limites. Aposto que até mesmo o som de uma porta se abrindo soa como uma confissão para você, certo, Kiri?
— Bom, não posso dizer que você está errado. Já que sou amada pelo mundo todo, não seria mentira dizer que todo som nesse mundo é uma expressão de amor por mim! …Aah, mas não sou amada pelo mundo todo enquanto estou de óculos… no máximo, serei amada apenas no Japão…
Isso é mais do que o bastante!
— Uuh… por que tenho que usar esses óculos feios no dia da visita da Kasumi…?
— Eh?
Por acaso ela acabou de dizer algo que eu não deveria ouvir…?
— Kasumi…? Você quer dizer Mogi-san? Ela está vindo para a escola hoje?
Quando pergunto isso, Kokone faz uma expressão que obviamente quer dizer «Merda!» e imediatamente fica quieta. Desvia o olhar e dá um sorriso torto.
— …Ahaah, eu jamais deixaria escapar algo que a Kasumi me pediu para manter em segredo! Ela não disse algo do tipo «Será uma surpresa então, por favor, não conte a ninguém, Koko-chan»! Err… Kasumi é… Ah, certo! Kasumi no Tamoto… em outras palavras é sobre um eremita!
Nunca ouvi falar sobre isso…
— Seu vocabulário é bem amplo, não é mesmo, Kokone? …A propósito, que tipo de eremita é esse?
— E…err… um eremita que coloca ovos de codorna na mão e os quebra com um nunchaku³.
O assustador é que esse tipo de eremita pode realmente existir… De qualquer forma. Parece que vou ter que praticar parecer surpreso. Mesmo assim… estou realmente feliz por poder ver a Mogi-san na escola hoje.
✵
Mesmo após o fim da cerimônia de encerramento, ainda não há sinal da Mogi-san. Talvez ela venha logo depois das aulas para podermos sair juntos mais tarde? Enquanto estava pensando sobre a Mogi-san e tranquilamente assistindo meus colegas — conversando em voz alta sobre seus planos para o feriado e suas notas — meu nome é chamado.
— Kazuki-san.
O chamado vem da Yuuri-san, que está espiando a sala do corredor. Quando nossos olhos se encontram, ela abre um largo sorriso. Seu rosto está levemente corado, provavelmente porque ela veio correndo assim que as aulas terminaram.
…Me pergunto o que houve? Enquanto estou me levantando, com essa pergunta ainda flutuando em minha mente, alguém coloca a mão em meu ombro.
— …Hm? Qual o problema, Haruaki? Hmm, Yuuri-san está me chamando, então preciso ir…
Haruaki assente e sorri.
—Hm hum, entendo. Você a chama de «Yuuri-san».
— …Eh?
— Sabe… sei que você conversa com ela de tempos em tempos, mas como devo colocar? Esse é um ponto critico.
— Aah… mas, ouça, Yuuri-san é…
— Como representante dos garotos da nossa sala, deixe-me revelar nosso consenso.
A mão no meu ombro coloca mais força em seu aperto.
— Seja castrado.
Ele esmaga minhas joias da família entre minhas pernas com sua mão esquerda.
— GYAAAAH!
Vai…vai esmagar! E eu não fiz nada de errado! Mas então percebo os olhares frios dos meus colegas relaxando um pouco…Honestamente, tenho sentimentos confusos sobre o que acabou de acontecer, mas estou um pouco aliviado. Desde aquela vez envolvendo a confissão para a Kokone, esse tipo de assunto é bem perigoso para mim. O resto da turma não se importa com a Maria porque reconhecem que ela vive em outra dimensão, mas Yuuri-san… não está tão fora de alcance.
Talvez Haruaki tenha feito isso de propósito para me proteger da inveja e ódio dos caras da turma? …Nahhh, provavelmente não. Quero dizer, é o Haruaki! E ele não se segurou nem um pouco. E está realmente doendo. E é seriamente cruel fazer uma coisa dessas! Cambaleio até o corredor segurando minha virilha.
— Vo…você está bem?
Yuuri-san, preocupada, está olhando alternadamente entre meu rosto e virilha.
— Ta…talvez… provavelmente… certamente… devo estar bem… Err… estou feliz por você se preocupar com a minha virilha, mas o que houve?
Yuuri-san fica vermelha como um tomate.
— Pre…preocupada com a sua virilha… não diga coisas estranhas!
Eu não disse!
— Hmmm… tem algo que quero conversar com você. Você pode vir comigo por um momento?
— Hm… não me importo, mas não podemos conversar aqui?
— Não.
Um assunto sério, imagino…
— Certo, eu te acompanho.
— Obrigado. Por favor, me siga.
Ela começa a andar, mas como minha dor ainda é intensa, só consigo cambalear atrás dela. Yuuri-san percebe que estou andando de forma estranha imediatamente e para.
— Vo… você realmente está bem?
Dizendo isso, ela se abaixa um pouco para olhar para minha virilha. Não… não acho que você possa fazer algo apenas olhando… Então, eu percebo.
— HII!
Maria está logo ali.
Maria provavelmente veio diretamente para a sala 2-3 logo após a aula de abertura também. E agora a Maria está, fixamente, observando Yuuri-san, que está examinando minha virilha. Então, ela virou seus olhos entreabertos em minha direção.
…Oh. Talvez isso seja uma situação ruim afinal de contas…
— Nã…não é o que você está pensando, Maria! Yuuri-san está simplesmente preocupada comigo, então…
— Por que você está tentando inventar uma desculpa estranha? Eu te conheço bem. Provavelmente você foi atacado pelo Usui depois que ele ficou com inveja quando ela foi até sua classe, certo?
Ela acerta na mosca perfeitamente, quase como se tivesse testemunhado, então concordo repetidamente.
— Mas com isso em mente, deixe-me dizer isso…
Maria disse:
— Fique estéril.
POR QUÊ!? Fugindo do olhar frio de Maria, fomos até as escadas que separam o terceiro andar da cobertura. Após confirmar que estamos sozinhos, Yuuri-san se curva.
— Muito obrigado.
— Err…?
Pelo que ela está me agradecendo? Yuuri-san parece ter percebido minha confusão e adiciona:
—Por me ajudar a me reconciliar com a Iroha.
Aah… isso. Bom, sim.
✵
[Kingdom Royale] termina abruptamente, como um balão de papel sendo pisoteado por um elefante. Logo em seguida, me encontro deitado em minha cama vestindo meu pijama. A primeira coisa que faço é conferir a data e a hora. Mesmo que nós tenhamos gasto tanto tempo no jogo, apenas algumas horas se passaram.
Sem me deixar levar pela minha mistura de sentimentos complexos, ligo para Maria. Quero confirmar o mais cedo o possível se ela realmente não tem memórias da ‘Game of Idleness’.
Imediatamente percebi que ela não se lembrava de nada quando respondeu o telefone com um “O que foi?” em uma voz profunda incomum. Fico tão aliviado que não consigo responder. Então Maria fica irritada por ligar tão subitamente no início da madrugada e não dizer nada. Preciso rir porque esse é um comportamento tão típico da Maria, e ela fica ainda mais irritada, dizendo: “Por que você está rindo, como se não bastasse ter me deixado irritada?”
E assim que confirmei que ela não tem memórias da ‘Game of Idleness’, imediatamente penso na Yuuri-san e na Iroha-san. Não consigo dormir nessa noite, e procuro por elas na escola na manhã seguinte. Mas não consigo encontrá-las. As duas faltaram às aulas.
“Talvez elas não venham mais para a escola”.
Por causa das minhas preocupações, imploro aos professores pelo endereço delas, ignorando os olhares de suspeita deles, e consigo visitá-las. As condições delas eram horríveis.
Yuuri-san subitamente começa a chorar em resposta ao menor dos problemas. Iroha-san abre buracos nas paredes do quarto e grita do nada de tempos em tempos. Mas de alguma forma eu consigo avaliar a situação delas.
Elas haviam esquecido sobre a existência da ‘caixa’, mas conseguiam lembrar claramente do que tinham feito. Elas não tiveram uma [experiência indireta] do último jogo em que fui o jogador, então elas não se lembram dele. Essa parece ser a situação atual delas.
Yuuri-san só tem memórias até o segundo jogo em que ela enganou todos. Iroha-san só se lembra até o terceiro round em que ela matou todos. Nenhuma delas se lembrava da reconciliação.
Minha aparição parecia fazê-las ainda mais instáveis. Bom, isso provavelmente é inevitável já que devo ter lembrado elas do jogo. Também acho que seria melhor manter minha distância delas totalmente e permitir que elas se recuperem naturalmente.
Mas no final, isso não me pareceu certo também. Sou o único com quem elas podem conversar sobre aquele incidente. Claro, a condição delas melhoraria com o tempo. Mas elas não se recuperariam realmente dessa forma. Preciso fazê-las entender que as ações delas foram inevitáveis. É verdade que elas colocaram para fora o lado feio de suas personalidades no jogo. Posso entender porque elas tinham problemas em perdoar a si mesmas.
Mas pelo menos as perdoei. Isso é certeza.
Continuo as visitando por uma semana. Uma vez, quando estava para ser expulso pela família da Iroha-san, ela mesma os impede. A mãe da Yuuri-san me recebeu bem, embora não entendesse o que estava acontecendo.
É quase completamente unilateral, mas continuo conversando com elas. Continuo contando a elas sobre o último jogo em que fui o jogador.
Vagamente consigo sentir, que assim que a relação das duas se recuperar, elas se libertariam completamente da ‘Game of Idleness’. Teriam derrotado a ‘caixa’. Portanto, queria que as duas reconstruíssem completamente a amizade que elas me mostraram no último round.
Não sei o quanto minhas visitas frequentes naquela semana as ajudou, se é que as ajudou. Mas elas começaram a vir para a escola de novo. Iroha-san apenas me cumprimenta mecanicamente quando nos encontramos, mas Yuuri-san começa a me visitar frequentemente durante intervalos para conversar.
Nenhuma delas acredita que se reconciliaram na última rodada. É justo. Diferente da situação naquele round, a relação delas foi completamente destruída. Não é fácil reconstruir algo daquele ponto.
Mas acredito nelas independente disso. Acredito que elas podem novamente confiar uma na outra. Afinal de contas, sei o quanto elas são queridas uma para a outra.
✵
— …você já falou com a Iroha-san?
Yuuri-san chacoalha a cabeça lentamente e responde claramente:
— Ainda não.
— …Bom, acho que não é tão fácil.
Ela apenas sorri ao ouvir isso.
— Eu realmente invejo a Otonashi-san.
— …certo, porque ela não se lembra do jogo.
— Mas não é só isso, — Yuuri-san diz com um sorriso. — Estou com um pouco de inveja porque ela é sua preferida, Kazuki-san.
Yuuri-san de repente começa a chorar. É realmente súbito, e ela não parece conseguir controlar suas lágrimas também, o que a confunde ainda mais. Desde o fim de [Kingdom Royale], Yuuri-san começa a derramar lágrimas randomicamente, como se um registro interno dela estivesse quebrado. Não há traços restantes da garota que costumava ser profissional em controlar as próprias lágrimas.
Como já me acostumei com esses constantes ataques de choros, não perco mais a compostura quando isso acontece. Mesmo enquanto sorri, Yuuri-san me diz:
— Haha, já estou chorando de novo…
Mas não há nada sombrio em sua expressão.
— Eu realmente a invejo. Porque a Otonashi-san é tão querida por você, esse também é o motivo dela não ter memórias do jogo, não é? Porque você fez o seu melhor para proteger a Otonashi-san, ela não precisou se tornar um jogador e se ferir no processo.
— …Talvez.
Acho que meus esforços não foram em vão no final das contas.
— Ela realmente é…
Ela sussurra e mostra um sorriso, enquanto enxuga as próprias lágrimas com um lenço. Eu também sorri, aliviado ao ver a expressão dela.
— Ah, você está sorrindo!
— Hm? …Bom, sim.
— Por que você viu minhas lágrimas? Hmm, você pode lambê-las se quiser, sabia?…Hum? Ela não acabou de dizer algo estranho?
— Você tem um fetiche por lágrimas, não é mesmo?
— …Eu já te falei sobre isso?
— Falou. Você disse que fica sexualmente excitado quando lambe as lágrimas dos outros ou algo assim.
Eu definitivamente não falei algo assim! E de onde veio esse assunto sobre “sexualmente excitado”?! E o que aconteceu com a personalidade inocente dela?!
— Fetiche por lágrimas, hein. Você é bem pervertido, não é? ♥
— Po… por que você está me provocando até mesmo numa hora dessas!?
— Eh? Você não gosta mais de garotas que fazem o que querem com você? Tipo a Otonashi-san.
— Esse é um terrível mal-entendido! Essa reputação está me incomodando!
— Então você tem que fingir que não gosta para ficar excitado… isso está ficando sério…
— Do… do que você está falando?! Sua personalidade não era assim antes!
— Mh! Eu… eu sei! Mas o que deveria fazer?! Preciso praticar te provocar!
Agora ela está até respondendo de volta!
— Mas até que é divertido te provocar…
Essa conversa está definitivamente indo por um mau caminho.
— Hihihi. Bom, vamos para o assunto pelo qual te chamei aqui.
— Eh? Você não queria apenas dizer obrigado?
Yuuri-san chacoalha a cabeça adoravelmente.
— Tenho um pedido.
— Um pedido?
— Sim. Ainda estou instável e não me recuperei completamente, então terei problemas se você parar de me visitar de tempos em tempos. Seria problemático se você não viesse me visitar mais após o começo das férias de verão, então eu queria pedir isso adiantado.
— …Aah… certo, vou te visitar!
— Por favor venha sozinho já que vamos falar sobre o jogo. Você não pode trazer a Otonashi-san com você, tá bom?
— …Hm?
Essa conversa está indo em uma direção estranha de alguma forma.
— Ah, mais uma coisa. Ontem minha mãe me perguntou sobre você, «Aquele garoto que te visita o tempo todo é seu namorado?»!
— …Como você respondeu?
— Eu apenas dei uma risadinha tímida «Hihihi».
— Então ela com toda certeza entendeu errado!
— Não é mesmo?
— Eeeeeh! O que há com essa resposta como quem diz «Por favor não diga o óbvio»?!
A personalidade dela mudou demais… ou, talvez ela apenas tenha se tornado mais franca comigo já que vi sua verdadeira identidade no jogo…
— …Você é bem audaciosa, não é mesmo, Yuuri-san?
— Hihi, só agora você percebeu? Eu não vou desistir tão fácil, sabia? Não importa o quão forte seus sentimentos estejam inclinados em direção a Otonashi-san.
— …Hmm, fui enganado por você várias vezes a essa altura, sabia? Não vai mais ser tão fácil me confundir de novo.
— Ahaha, você colhe o que planta, suponho. Mas ainda existem maneiras de conseguir o que quero, mesmo que você saiba sobre minha natureza calculista. Agora mesmo parece que todas as minhas ações têm a intenção de chamar a sua atenção, certo?
Yuuri-san toca minha mão de leve. Meu coração imediatamente perde o ritmo pelo toque de uma garota.
— Seu coração bate mais rápido mesmo que você saiba dos meus planos, não é mesmo?
Odeio admitir, mas ela está certa.
— Vou tentar o meu melhor para te conquistar dessa forma!
Ela então traz seus lábios para perto de minha orelha e sussurra:
— Vou fazer você pensar que meus esforços são adoráveis.
Como planejado pela Yuuri-san, meu rosto fica vermelho. Uah… por que sou tão fácil de manipular… Mas meus lábios formam um sorriso torto. Parece que ela vai ficar bem. Yuuri-san se afasta de mim e começa a descer as escadas lentamente.
— Falando nisso, parece que a Iroha e aquele garoto começaram a se dar bem recentemente! O garoto que ela sempre gostou, — Yuuri-san diz ao descer as escadas.
— …Eh? Mesmo que Iroha-san tenha um monte de outros problemas para se preocupar agora?
— Na verdade é por causa deles. Desde que ela ficou mais frágil, ela não parece mais ser tão perfeita! E isso a deixa mais atraente.
Pensando nisso, Kamiuchi-kun também disse que garotas autossuficientes não são adoráveis. Chegando ao pé da escada, Yuuri-san se vira.
— Hm, pode ter parecido uma piada, mas realmente venha me visitar, por favor. Estarei esperando.
— Tá. Honestamente falando, você me assustou um pouco, mas eu vou. Afinal de contas, estou realmente preocupado com você.
— Hihi… Ah, eu posso limpar minha agenda a qualquer momento se você me ligar, mas hoje tenho um compromisso importante. Sinto muito.
— Hmm, que tipo de compromisso?
Ainda sorrindo, Yuuri-san vira as costas para mim.
— Eu te disse mais cedo que ainda não falei com a Iroha, certo?
— Sim.
— Isso é verdade, mas sendo sincera, trocamos e-mails. Pouco antes de eu ir chamá-lo.
Estou surpreso. Isso significa… Yuuri-san se vira novamente e diz:
— Hoje tenho um compromisso com minha querida amiga.
Com um sorriso brilhante, ela diz as palavras que estive esperando. Aah… realmente, ela disse a verdade quando falou que elas ainda não conversaram.
✵
Quando finalmente volto para a sala, cobrindo meu sorriso com a mão, uma multidão havia se formado. Alguns deles estão com os olhos brilhando, outros com os olhos molhados, mas todos eles estão sorrindo.
O que ouve? ...Só me questionei sobre isso por um segundo…Ah, entendo.
Imediatamente reconheço a pessoa no centro…caramba, se a Kokone não tivesse dito coisas desnecessárias, essa hora eu estaria profundamente comovido… Culpando ela em minha mente, abro meu caminho pelo tumulto. Uma estrutura metálica desconhecida e pneus entram em meu campo de visão. E…
— …
Retiro o que disse. Estou feliz de ter descoberto antes. Se tivesse visto ela sem saber de nada, poderia ter me desfeito em lágrimas.
— Mogi-san…
Mogi-san, em seu uniforme, está na sala. Minha voz fica trêmula só por isso, mesmo eu tendo visitado ela ocasionalmente no hospital.
— Hoshino-kun.
Mogi-san me percebeu e sorri para mim.
— Você já recebeu alta?
— Não, não. Apenas recebi permissão para sair. Ainda não consigo viver por conta própria. Recebi permissão para vir depois da aula e fui trazida pela minha mãe. Bom, não consigo fazer nada por conta própria, eu acho.
Ela diz isso com um sorriso para não parecer tão deprimente.
— Mas queria encontrar você mesmo que tivesse que passar por tudo isso.
Kokone abre um sorriso provocativo e pergunta:
— A quem esse «você» se refere~?
Envergonhada, Mogi-san ergue a voz:
— A…a vocês todos!
Todos ao redor começam a rir só com isso.
— O que é iss~o, pessoal, faz tanto tempo e vocês já estão me provocando. …Ah, Hoshino-kun, chegue mais perto para conversarmos.
— Está dizendo para nós não te provocarmos, mesmo assim você sequer tenta esconder sua afeição, hein.
— Ca…calada, Koko-chan!
Me aproximo da Mogi-san como ela pede. Abro minha boca, pensando que deveria dizer algo.
— …Parece legal.
— Eh?
— Sua cadeira de rodas.
— Por que diabos você está me dizendo sua opinião sobre a cadeira numa hora dessas? Se for sobre aparência, existem outras coisas que você deveria elogiar!
Levo uma crítica da Mogi-san… Aparência, hein… Olhei mais de perto para a Mogi-san. Aparentemente ela fica um pouco envergonhada ao ser observada dessa maneira, já que ela cora um pouco. Pensando nisso, o físico dela praticamente voltou a ser como era antes.
— Você ganhou peso, não foi?
— …Entendo o que você está querendo dizer, mas nenhuma garota ficaria feliz ao ouvir essas palavras, Hoshino-kun!
Todos voltam a rir.
— Eh, err, o que eu deveria dizer, então…?
— Você pergunta para mim… não que eu me importe… hmm, olhe, que tal falar algo sobre as minhas roupas?
— Ah, sim. Não se preocupe… eu percebi.
— Não, não é isso que quero dizer. Estava me perguntando se você gostou, depois de tanto tempo…
O uniforme dela parece ser novo em folha. Também parece que o comprimento da saia dela é bem maior. Provavelmente porque… hmm… daria para ver aquilo de outra forma quando ela estivesse na cadeira de rodas.
Mas o que eu deveria dizer? Afinal de contas eu não posso elogiá-la por estar cuidando para ninguém ver a calcinha dela. Hm, bem, vou fugir da questão.
— Ficou adorável!
— …Eh?
Mogi-san arregala os olhos. …Huh? Essa é uma reação diferente da que eu esperava. Vou tentar de novo, só por garantia.
— Você ficou adorável de uniforme!
Mogi-san cora até a raiz dos cabelos. Ela até mesmo desvia olhar e me dá um soco de leve. Uuh…? Acho que a Maria apenas diria “E daí?”, Kokone estufaria o peito (tamanho DD) orgulhosamente, “É claro!”, e minha irmã mais velha, Ruu-chan agiria como se não quisesse saber embora tenha perguntado ela mesma! Então que reação é essa? Esse é um novo padrão.
Repentinamente, Haruaki coloca a mão no meu ombro.
— Entendo. Então é assim que você faz.
— Hein?
— Ouviram madames? O truque desse homem é dizer esse tipo de coisas sem ficar envergonhado! Muitas donzelas, começando pela Srta Maria, já foram enganadas por esse galanteador com esse truque!
Que maneira de falar é essa. Mas por alguma razão, os garotos da minha sala concordam com força à atuação do Haruaki e lançam olhares frios em minha direção. O que há com vocês rapazes, vocês estão me assustando!
— O criminoso Kazuki Hoshino precisa ser punido com a penalidade máxima! Nós devemos enfiar meias usadas pela Kiri em sua boca por três dias como punição! Essa realmente é a penalidade máxima!
— Como isso é uma penalidade! — Kokone intervém. — Isso é mais uma recompensa!
— Ouvi falar que elas são mortais, sério. Também ouvi uma teoria de que uma substância venenosa chamada «trikokonethylene» emerge durante o processo.
— I…Isso não é possível. A NPO requisitou minha assistência porque eles podem produzir actina com as minhas meias que ajuda a salvar crianças na África!
Uau, até onde vai isso? Mas meu rosto relaxa reflexivamente. Embora Mogi-san esteja sentada em uma cadeira de rodas agora, nada mudou desde o tempo em que ela costumava estar aqui. Ela ainda é popular enquanto Kokone e Haruaki ainda ficam falando bobagens. É como se eu tivesse retornado ao passado.
— …
…Como se eu tivesse retornado ao passado? Sem perceber, olho ao redor da classe. Retornado ao passado? Por que isso é possível? Algo assim não deveria ser possível. Em uma sala sem Daiya Oomine, isso não deveria ser possível. Olho para Kokone. Ela está rindo alegremente. Percebo algo.
Certo. Maria também não está aqui.
— …Hm? Qual o problema, Hoshino-kun?
…Me pergunto o que é esse sentimento estranho. Diferente do Daiya, Maria simplesmente não está aqui no momento. Ela deve ter considerado que seria difícil se juntar a nossa conversa nostálgica e, ou voltou para a própria sala, ou simplesmente foi para casa antes de nós.
Isso é tudo. Deveria ser. E mesmo assim, não consigo me livrar desse sentimento incomodo. É até pior. Sinto algo no meu peito, quase como se alguma coisa estivesse apertando meu coração.
— …Mogi-san.
— Hmm?
— Desculpe, mas preciso sair um pouco.
— Eh?
Mogi-san arregala os olhos.
— O que foi Hoshii, precisa atender a natureza?
— Não! É só que a Maria…
…Tenho um sentimento de que preciso ir encontrar a Maria. Mas não termino o que estou para dizer. Por causa da Mogi-san. Porque a expressão de felicidade da Mogi-san se transformou em outra.
— …Sinto muito, Mogi-san.
— …Eh? Por que você está se desculpando? Hmm… não é como se você fosse embora… certo?
— Sinto muito.
— …Você sabe… tenho que voltar para o hospital logo, então não tenho muito tempo, sabia? Vamos ficar juntos até lá? Por favor?
— …Tentarei voltar se for possível.
Ao ouvir essas palavras diferentes das quais ela desejava, seus olhos ficam úmidos.
— Por quê?
Ela pergunta em uma voz trêmula.
— Você não pode ficar aqui? Você pode ver a Otonashi-san a qualquer momento, não pode? Você não pode sequer ficar até eu ir embora, mesmo eu tendo tido todo esse trabalho para vir te encontrar?
Não é como se não me sentisse mal, sendo acusado por sua triste voz e expressão. Maria simplesmente não está aqui agora. Só preciso aguentar meu impulso de ir até ela. Não há necessidade de ferir os sentimentos da Mogi-san por nada. Então não posso simplesmente ficar aqui por ela?
— …
Mas decidi. Proteger Maria acima de tudo. Portanto…
— Sinto muito!
Saio correndo da sala de aula. Ignorando a voz tentando me impedir.
✵
Não consigo falar com a Maria pelo celular. Ela ignora as regras da escola e normalmente vem para o campus em uma moto que deixa estacionada em algum lugar nos arredores. Mas sua moto não está mais no lugar. Mesmo que ela geralmente espere por mim.
Após confirmar que a moto não está mais no lugar, vou imediatamente para a estação.
Enquanto tento lidar com a irritação pela demora do trem, percebo a origem do meu incômodo. Estou enganando a Maria. Não contei a ela sobre a ‘Game of Idleness’ e estou agindo como se não conhecesse Koudai Kamiuchi. E também não contei a ela que ‘O’ pode ter perdido seu interesse em mim. Por isso estou sempre, inconscientemente, pensando o seguinte:
Maria pode repentinamente desaparecer um dia.
Provavelmente não consegui mais suprimir esse sentimento de desconforto quando vi a Mogi-san em seu uniforme.
Antes quando Mogi-san estava normalmente em nossa sala, Maria ainda não estava aqui. Ela ainda não era parte do meu dia-a-dia. E não é só isso. Assim como eu mudei por causa da ‘caixa’ de Koudai Kamiuchi, Maria também mudou por causa da ‘caixa’ de Mogi Kasumi. Mogi-san e Maria formam um conjunto, como os dois lados de uma moeda. É por isso que, sem qualquer fundamento, eu penso dessa forma:
Quando Mogi-san retornar, Maria pode já ter desaparecido.
— …
Mudo o foco dos meus pensamentos para Daiya e Kokone. Daiya desapareceu. E mesmo assim, Kokone não está se preocupando sobre isso. Daiya deveria ser uma pessoa importante para a Kokone, mas ela apenas ficou um pouco irritada com o súbito desaparecimento dele. Apenas isso.
Por que isso? Tento construir uma hipótese… Talvez, Kokone tivesse um pressentimento de que Daiya fosse desaparecer um dia? É claro, não acho que ela esperava que ele fosse desaparecer dessa forma. Ela não deve saber sobre as ‘caixas’. Mas talvez ela soubesse que ele se afastaria dela? Talvez ela saiba qual é o objetivo do Daiya?
Portanto, ela desistiu da ideia de que ele poderia retornar logo. Porque ela já estava preparada para o desaparecimento do Daiya. Não sei o que aconteceu entre eles. Portanto, é errado pensar que Kokone é fria por estar aparentemente aceitando o desaparecimento do Daiya.
Mas não sou como a Kokone. Não vou desistir, mesmo sabendo qual é o objetivo da Maria, mesmo sabendo que ela irá desaparecer. Definitivamente não deixarei Maria se afastar por suas próprias razões egoístas.
Chego ao edifício em que Maria vive. Ao tentar entrar, me lembro que é impossível sequer passar da entrada se o ocupante do apartamento não estiver. Não posso sequer chegar ao elevador dessa forma.
O que devo fazer?
Começo a andar em círculos, nervoso. Gasto toda a razão que ainda existe em mim e tiro meu celular do bolso. Disco o número de memória e inicio a ligação. O som de chamada soa. Cada vez que ouço o som, eu rezo, «Por favor, responda!»
Então…
«O que foi?»
A voz da Maria.
— …
Aah…
Mesmo que tenha ouvido a voz dela há pouco tempo, mesmo que ela esteja usando seu tom de voz habitual, não tenho sequer a compostura para respondê-la.
«Ei? Qual o problema? Você está tentando fazer uma ligação silenciosa sem sequer ter escondido seu número?»
— Nã…não é isso!
Finalmente consigo falar.
— Estou na frente do seu prédio nesse instante. Você pode abrir a porta?
«O quê? Bem, não me importo… mas por que você não me ligou ant… aah, você ligou. Desculpe. Eu não percebi porque estava dirigindo minha moto.»
— Sem problemas. De qualquer forma, estou entrando, então por favor, abra o portão.
«Aah.»
A chamada é terminada e o portão se abre. Vou em direção ao elevador, andando tão rápido que quase comecei a correr. Não consigo me acalmar mesmo enquanto estou esperando pelo elevador e sendo transportado por ele.
Ao chegar no quarto andar, me apresso para o quarto com o número «403» mesmo não sendo tão longe. Toco a campainha e logo em seguida a porta abre. O rosto da Maria apareceu por trás da porta se abrindo. Apenas isso é o bastante. Acelero em direção a ela, para dentro do quarto, mesmo antes da porta ter aberto completamente.
— …Qual o problema, Kazuki?
Maria está surpresa pelo meu comportamento estranho.
— Maria… por que você voltou para casa antes de mim sem me avisar?
— …Voltei para casa cedo porque não me sinto bem perto da Mogi, é claro. Por que você está tão preocupado com isso? E por que você está aqui tão cedo? Está tudo bem em não conversar um pouco mais com a Mogi?
— Sim, estou bem com isso!
Eu disse.
— Você é a mais importante para mim, Maria.
Maria arregala os olhos ainda mais… Mas logo eles se tornam calmos novamente.
— Entendo.
E em seguida ela gentilmente acaricia meu cabelo.
— Caramba… você tem agido de forma estranha recentemente!
Maria percebeu minha mudança apenas um pouco.
— É só impressão sua.
Portanto, eu minto. Acaricio o longo cabelo dela em resposta. Mas o sorriso constrangido que ela mostra me parece solitário de alguma forma, o que é mortificante afinal de contas.
Notas:
1 – Termo usado para descrever uma personalidade amável, é o oposto de tsuntsun, usado para descrever uma personalidade agressiva e pouco amigável.
2 – Mistura de tsuntsun e deredere, usada para descrever alguém com uma personalidade agressiva que aos poucos vai se tornando mais amável.
3 – É uma arma de artes marciais, consiste de dois bastões pequenos conectados em seus fins por uma corda ou corrente.