Volume 4

Capítulo 4

 

Durante a segunda metade do ensino fundamental, eu saí com uma garota chata. Bom, claro, para uma garota da minha idade naquela época, ela tinha bastante estilo e suas pernas longas e finas aparecendo por baixo da saia encurtada de seu uniforme eram atrativas o bastante para me excitar.

Mas sua tremenda falta de inteligência e dignidade anulavam essa atratividade. Ela falava mal dos outros o tempo todo e não era sequer capaz de fazer soar engraçado. Ela era chata. Irritante. Portanto, aprendi a dar respostas vazias reflexivamente a ela enquanto resolvia algumas equações em minha cabeça ao mesmo tempo em vez de dar atenção.

Como eu jamais me aproximaria de alguém como ela, acho que foi ela quem se confessou, mas me pergunto o porquê aceitei sair com ela, de todas as pessoas que se confessaram para mim? Foi por desejo sexual?

Na verdade, tenho uma preferência por garotas obedientes. Pensando nisso, tinha uma garota que eu gostava que se encaixa perfeitamente nessa imagem. Ela era o arquétipo de uma garota sombria, o tempo todo com o olhar baixo, cabelos longos que pareciam pertencer a uma boneca japonesa e usando um óculos de lentes grossas.

Mas seu rosto escondido por aquele longo cabelo era, se você olhasse bem de perto, muito bonito e charmoso. Eu tinha a ilusão de ser o único a perceber aquilo e sentia um estranho senso de empolgação, como se fosse meu próprio segredo pessoal.

…Ohh, é verdade. Quando descobri que ela já tinha um namorado, fiquei tão chocado que acidentalmente aceitei a confissão da garota chata, «Rino». Mas, enquanto me entediava, ela parecia ser bem popular.

Pouco depois que comecei a sair com ela, fui chamado para os fundos do ginásio. Por um colega de cabelos loiros tão problemático que até os professores já desistiram dele.

— Ei, cuzão. Ta querendo arrumar encrenca?

Foi o que o pateta disse, apesar de não ter como eu estar procurando por isso já que nunca falei com ele. Então, após ouvi-lo por algum tempo, finalmente percebi que estar saindo com ela é o motivo dessa agressão súbita.

— Termine com a Rino, seu retardado intrometido!

Eventualmente, meu colega loiro abriu mão de seu orgulho estranho quando continuei a não entendê-lo, me agarrou pelo colarinho e me ameaçou dessa forma. Já que eu não era particularmente apegado a ela, poderia ter dito “Aah, tudo bem, não me importo”, mas bem, eu ainda era um pirralho naquele tempo e fiquei ofendido por aquela exigência sem sentido.

Consequentemente, respondi «Por que eu deveria te obedecer?». Acho que também adicionei uma provocação absolutamente verdadeira parecida com «Não guarde rancor contra mim só porque você não consegue arrumar uma namorada! Que perdedor.»

Bem, e foi assim que comecei a ser vítima de violência. Se ele não tivesse vindo arrumar briga comigo, eu teria terminado com aquela garota chata muito antes, mas, por estar irritado com a atitude dele, continuei saindo com ela. Quer saber loirinho? Você acabou de dar um tiro no próprio pé.

A propósito, para mudar de assunto, eu amo minha mãe. Ela é jovem, acho-a bonita e acima de tudo ela me criou por conta própria. Ouvi falar que meu pai era uma pessoa horrível que tentou forçar minha mãe, aos dezessete anos, a abortar usando violência quando descobriu a gravidez. Por causa disso, minha mãe sempre me disse “Nunca use violência”. “Violência não pode resolver nada!”.

Pode parecer mentira, mas acho que ela está certa. Suas palavras realmente criaram raízes em mim. Portanto, eu não retruquei quando aquele cara continuou me agredindo. Mas quando você é agredido, sobram traços. Por causa das minhas frequentes cicatrizes, minha mãe começou a suspeitar que eu estivesse me metendo em brigas o tempo todo, em outras palavras, que usei violência. “Como você arrumou essa cicatriz?”, “Você não ignorou o que eu te ensinei.”, “Você não está começando a ficar que nem aquele homem que odeio mais do que qualquer um?”.

Acabei desapontando minha amada mãe por obedecer a seus ensinamentos. Quão absurdo é isso? Eu precisava acabar com aquilo. Então, por essa razão achei que estaria tudo bem em usar violência apenas uma vez, já que não tinha como evitar.

Chamei o loirinho para trás do ginásio. Bem, não tinha como eu perder para um macaco inferior de cabeça pintada como ele. Bati nele. Chutei ele. Após alguns golpes e chutes, o macaco de cabelo pintado já não conseguia mais se levantar. Já que não podia permitir que ele espalhasse sobre eu ter usado violência, decidi fechar a boca dele o ameaçando. Aquele macaco era bastante teimoso. Usei força contra ele até ele perder a consciência. Àquela altura, tinha feito coisas como arrancar seus cabelos, quebrar suas unhas, mijar nele ou forçá-lo a comer uma centopeia. No final, deixei ele pelado atrás do ginásio onde algumas garotas estavam fazendo atividades de clube.

Agora que penso nisso, acho que posso ter ido longe demais, mas também devo ter acumulado mais raiva do que esperava. Antes de perder a consciência, ele disse “Seu cuzão, você nem mesmo ama a Rino. Você só está usando ela como substituta do que você usa para se masturbar. É por isso que não vou permitir que isso continue.” Talvez ele amasse honestamente aquela garota chata.

Eu não dava à mínima. Macacos não tem direitos humanos. Na verdade era o oposto, após aquele incidente entre humano e trapo, fiquei ainda mais irritado por causa dele. Ele não era apenas um inseto na verdade? E um inseto desses esteve me machucando todo esse tempo? Ele até mesmo me fez quebrar meu tabu sobre usar violência?! Um macaco inferior desses fez isso?

Não tire uma com a minha cara. Por sua causa, eu provei! O prazer do controle através da violência. Até então, tinha sido incapaz de me defender contra aqueles lixos, que só se achavam por ter coragem o bastante para comprar brigas com os outros… embora fossem na verdade imensamente inferiores a mim. Quero dizer, eles só se importam sobre quem é forte e quem não é. Para eles, outros atributos como inteligência, habilidades atléticas, e coisas do tipo sequer importam. Não suporto tais valores. Eles são apenas lixo por depender apenas de violência que é incapaz de resolver qualquer coisa. Eles são um bando de inferiores. Suas vidas são inúteis, assim como a do meu pai que tentou me matar antes do meu nascimento.

Mas mesmo assim, eles se submeteram a violência. Não tem sentido nisso. É inútil forçar um bando de macacos inferiores a se submeterem. No máximo você pode sentir prazer. Mas isso é razão o bastante para usar violência.

Violência é aceitável, se for por prazer. Minha ética é incrivelmente correta, se posso dizer. Chamei aquele cabelo pintado de novo. Ele esteve fugindo de mim freneticamente desde aquele incidente, mas veio imediatamente quando eu disse a ele que iria estuprar a Rino em grupo se não aparecesse. Levei comigo alguns dos meus colegas de classe, aparentemente ex-companheiros do loirinho, e Rino com algumas de suas amigas e levei o idiota até uma fossa. Era um rio que batia na altura do joelho e completamente anti-higiênico em que se podia ver coisas como corpos de cães com bastante frequência.

— Ei macaco! Você está no clube de natação, certo? — perguntei — Isso pode te surpreender, mas não nado nada bem, sabia?

Eu disse olhando para a Rino, que ria.

— Você pode me fazer uma demonstração aqui?

É claro, não o deixei rejeitar. Quando falei “Whoa, não me diga que você quer nadar com suas roupas! Você não tem senso comum?” ele voluntariamente se despiu com exceção de seu calção. Naturalmente, não permiti isso e o fiz tirar suas roupas de baixo também. “Iih!” Rino e suas amigas exclamaram com voz de retardadas.

O loirinho começou a nadar. Dava para ver que ele estava se esforçando para manter sua expressão rígida. Quando o mandei fazer uma borboleta, ele nos mostrou um nado borboleta dinâmico dentro da vala. Aquela cena foi tão engraçada que o chutei enquanto gargalhava. Metade dos alunos presentes estava com desgosto pela aparência dele, bebendo água de esgoto, mas Rino estava rindo e batendo palmas. Comecei a conversar com ela de forma que o cabelo pintado pudesse ouvir.

— Rino, vamos para um hotel depois.

— Eh? Nã…não fale sobre isso na frente de todo mundo, Kou-chan! É constrangedor!

— Você não quer?

— Claro... que não é isso.

— Então vamos.

— …Certo.

— Por favor, faça aquilo que você fez no outro dia, aquilo foi tão sexy!

— Bem, eu não me importo… ei, não fale sobre isso na frente de todo mundo, sério! Aah, seu bobo~.

O loirinho vomitou na vala.

 

Como prometido, levei Rino a um hotel depois. Um grupo de homens já esperava lá. Recebi algum dinheiro do homem desconhecido e fui para casa, deixando Rino para trás no hotel. É claro, contei ao cabelo tingido sobre isso. Não vi mais ele depois daquilo.

Caramba, violência realmente não resolve nada. Apenas gera mais ódio. Você teve que passar por todos esses problemas porque usou violência sem pensar, sabia? Mas também, eu tive que compensar por usar violência.

Aquele incidente da vala se tornou um assunto bem sério, então no final, minha mãe acabou descobrindo. Tendo descoberto os detalhes, ela começou a me temer e me tratar como um estranho. A essa altura, quase não conversamos mais. Embora… eu ainda a ame de verdade.

Contudo, continuei traindo ela. Continuei usando violência. Não conseguia suportar não sentir o prazer de usar violência regularmente. Ainda acho que não se pode resolver nada usando violência. Ao contrário, você acaba destruindo absolutamente tudo e qualquer coisa. Todos podem ser arruinados pela violência de outra pessoa, não importa quão alta sua classe social seja, não importa o quão renomado seja, não importa quanto dinheiro tenha. Quando uso violência enquanto sei que isso está destruindo a vida da vítima, uma luz branca percorre da minha cabeça para o meu corpo e excita meu coração como se estivesse derretendo ele. E isso é tão bom que não consigo parar.

Aposto que até mesmo eu serei destruído por alguém algum dia. Quando imagino meus órgãos internos derretendo em ácido sulfúrico, me sinto realmente tranquilo por algum motivo. Consigo alcançar um incrível senso de alívio apenas ao me imaginar derretendo. Não me importo com o motivo disso. Apenas imagino se aquela aparência líquida seria minha forma correta… se teria sido melhor eu não ter saído em forma humana após ter sido totalmente danificado pela violência do meu pai.

 

— Você tem um desejo?

 

Então, como devo responder a essa questão? Que desejo eu poderia ter já que vou ser destruído algum dia? Eu… não, não apenas eu. Todos vão perder tudo no fim de qualquer forma. Então realmente existe algo que tenha significado? Se houver, por favor, me conte.

Quando entendi que nada tinha sentido, tudo se tornou tão entediante. «Tédio» é, como Daiya Oomine disse, uma besta que tenta me devorar. Então estou satisfeito desde que possa aliviar esse tédio.

Portanto, criei a ‘Game of Idleness’ e iniciei o [Kingdom Royale].

 

 

Primeiro Round de [Kingdom Royale]

Tudo era tão novo, foi realmente divertido. A matança e enganação foram exatamente como planejei, então fiquei tocado pela forma como esse jogo era exatamente o que pedi.

Hmm, mas agora que penso nisso, talvez tenha faltado um pouco de tensão porque Daiya Oomine como [Revolucionário] era forte demais. Aquele cara como [Revolucionário]? Pense em excesso de poder.

 

Segundo Round de [Kingdom Royale]

Incrível. Também teve bastante fanservice então foi ótimo de assistir. Quando Yuuri-chan me implorou para matar Kazuki Hoshino logo após me seduzir, eu realmente não pude conter minha gargalhada. Mas sério, Yuuri-chan é assustadora demais. Bem no final, quando ela matou meu NPC, ela baixou minha guarda bancando a personagem inexpressiva com distúrbios psicológicos e com lágrimas por todo o rosto e me esfaqueou quando me aproximei para reconfortá-la! Ela realmente é uma bruxa. Um demônio, na verdade. Como posso confiar novamente em mulheres?

 

Terceiro Round de [Kingdom Royale]

Tudo aconteceu tão rápido que precisei rir. O rosto da kaichou foi assustador demais quando ela matou a Yuuri-chan primeiro. Bom, esse tipo de desenvolvimento também é agradável de vez em quando, eu acho.

E finalmente...

 

Quarto Round de [Kingdom Royale]

Por eu estar começando a ficar cansado do jogo, e, além disso, com Kazuki Hoshino tentando prevenir todos de se matarem, não tiveram tantas cenas interessantes. Ele realmente não sabe o que é bom. Deixe-os matarem mais, sério! Deixe-os enganarem uns aos outros! Acabe logo com essa coisa toda de amizade e reconciliação. Não preciso desse tipo de drama.

 

Bem, portanto não estive tão concentrado enquanto assistia o quarto round de [Kingdom Royale]. Não assisti as cenas que não tinham eventos interessantes tipo alguém morrendo. Por isso não estive tão concentrado ao assistir o [Encontro Secreto] entre Daiya Oomine e Kazuki Hoshino.

«Você não me derrotou no final das contas.»

Até ouvir essa frase conceituada de Kazuki Hoshino. O que esse idiota que confundiu o ‘portador’ está dizendo? — Sorrio levemente com esses pensamentos no início, mas após assistir a conversa deles e suas expressões, subitamente penso isso: Talvez ele tenha percebido que sou o ‘portador’?

Já que não estava realmente concentrado até então, não posso dizer. Mas é isso que me parece, pelo menos. Bom, não acho que Kazuki Hoshino seria capaz de fazer qualquer coisa mesmo que descubra.

Mas após assistir os dois depois daquilo, tenho aquela mesma sensação de novo. Esses dois estão secretamente planejando algo? É possível que Daiya Oomine esteja planejando algo. Na verdade, é melhor assumir que ele tem algum plano.

Mas duvido que Kazuki Hoshino saiba os detalhes desse plano. Não vi Daiya Oomine falando nada a ele diretamente, também. Para começo de conversa, é possível eles cooperarem nessa situação? Ou ao invés de cooperar, talvez Kazuki Hoshino tenha compreendido o plano dele e aprovado silenciosamente?

Olho brevemente para a máquina. Kazuki Hoshino, que está para se tornar uma múmia, está murmurando algo para o Daiya Oomine no jogo. Ele está dizendo isso:

«Eu teria feito melhor.»

Do que diabos ele está falando? De repente, percebo que Daiya Oomine, que esteve assistindo a tela com tanta seriedade quanto se estivesse rezando, ergue o rosto e está olhando para mim.

Realmente, acho que vi seu rosto alguma vez no passado… A menos que eu esteja enganado, Oomine-senpai esteve na mesma escola que eu no passado? Mas não me lembro de ter visto o rosto bonito desse cara entre os outros estudantes mais velhos que usavam piercings, ignorando as regras da escola.

— Ei, você. Você teve uma namorada durante o ensino fundamental, certo?

Daiya Oomine repentinamente me faz uma pergunta estranha.

— Tive várias, então não sei de qual você está falando… mas acho que isso deve ser sobre a Rino?

— …Certo, ela.

— Você é conhecido dela?

Pensando nisso, qual era o nome completo da Rino mesmo? «Rino» era apenas um apelido derivado do sobrenome dela se minha memória estiver certa.

— A conheço desde a infância, se quiser saber. Portanto, sei o que você fez para ela.

Oomine-senpai diz claramente. Ele tem um rosto inexpressivo ao dizer isso. Mas essa falta de expressão é um pouco perturbadora também, então uma ideia me ocorre.

— Talvez, você esteja atrás de vingança?

Mas ele não move um músculo.

— Você está planejando se vingar de mim porque não consegue me perdoar por ter deixado sua adorada Rino para trás naquele hotel? E é por isso que você fez esse papel de introdutor de [Kingdom Royale], para… Hmm, não, não faço ideia do porque você se importaria em fazer isso?

Falo enquanto coço minha cabeça.

— Vingança? Não, nem um pouco. Só estou fazendo isso pelo meu objetivo. Fiz aquelas introduções simplesmente porque percebi que observar o jogo serviria como um degrau para alcançar meu objetivo.

— Seu objetivo, hein… Ah? Você não era um ‘portador’, senpai? Você não poderia alcançar seu objetivo facilmente utilizando sua ‘caixa’?

— Sim, realmente.

Ergo uma sobrancelha quando ele concorda.

— Então por que simplesmente não a usa? Quer bancar o pretensioso ou algo assim?

— Hmpf, não ache que todos são como você. Nem todos podem facilmente acreditar que seus ‘desejos’ possam ser garantidos! Sou um realista!

Agora que ele falou, a ‘caixa’ também garante sentimentos de resignação do tipo «isso não pode se realizar» junto com o ‘desejo’, pelo que eu sei.

— Compreendi logo de cara que não poderia dominar a ‘caixa’ quando ouvi os detalhes de ‘O’. Bem, é por isso que não a usei assim que a obtive, ao invés disso comecei a pesquisar.

Daiya Oomine exibe um sorriso um pouco sombrio.

— Por uma maneira de dominar a “caixa”.

Ao dizer isso, ele me parece um pouco perturbador de novo. Embora esteja falando como sempre, suas palavras são de alguma forma pesadas, e afiadas.

— …Como você procura por uma maneira de dominar algo assim?

— Claro, não é algo que você possa procurar. Mas dei sorte em um sentido. Durante minha conversa com ‘O’, descobri que Kazuki Hoshino possuía a pista que eu precisava. Além disso, fui acidentalmente envolvido nessa ‘caixa’, e capaz de encontrar outra pessoa além do Kazu capaz de dominar a ‘caixa’.

— …Eu?

— Exato.

Finalmente entendo o que ele quis dizer com «degrau» para alcançar seu objetivo. Daiya Oomine precisava se tornar capaz de dominar sua ‘caixa’ pelo seu objetivo. Portanto, ele não tentou escapar dessa ‘caixa’. Certo…

Descobrir uma maneira de dominar a ‘caixa’, observando vocês dois.

Esse é o degrau. Daiya Oomine usou a ‘Game of Idleness’ para nos observar. Para descobrir os meios que ele precisa para dominar sua ‘caixa’.

— …Mas como observar pode te ajudar com isso? Quero dizer, nós podemos dominar a ‘caixa’ porque, bem, simplesmente somos pessoas que podem. E acho que é impossível imitar a natureza de outra pessoa.

— Acho que sim. Ninguém pode mudar sua natureza. Por exemplo, não posso imitar sua natureza pessoal de odiar o tédio. Mas mais do que sua natureza, você conseguiu dominar a ‘caixa’ porque seu ‘desejo’ estava dentro do seu alcance. Consegui descobrir a resposta para dominar a ‘caixa’ nesse fato.

— …? O que você quer dizer com meu ‘desejo’ estava dentro do meu alcance?

— Em primeiro lugar, o ‘desejo’ que você colocou na caixa não era nada grandioso, certo?

— Bem… sim. Eu só queria me livrar do tédio.

— Certo. Qualquer um pensaria que uma simples diversão pode se tornar verdade. Mas se for algo como [Kingdom Royale], tenho certeza que nem você acharia que isso é possível na realidade, certo? Mas você não se importa com os detalhes do jogo. Você estaria satisfeito desde que [Kingdom Royale] fosse divertido para você. Portanto, não importava se você poderia acreditar no sistema do jogo ou não.

— …Acho que me perdi no seu raciocínio… mas bem, sim, se fosse um ‘desejo’ como «repetir não importa quantas vezes alguém morra», até eu seria incapaz de acreditar.

— É exatamente isso que quero dizer. Não parecia que você tinha dominado a ‘caixa’ por causa da sua natureza, mas também porque você tentou garantir seu ‘desejo’ indiretamente.

Ele dá uma breve risada contida e continua.

— Graças a você, descobri minha maneira de dominar a ‘caixa’. Por exemplo, vamos dizer que eu queira destruir o mundo.

— Um ‘desejo’ bem agressivo, hein.

— Contudo, se eu colocar o ‘desejo’ para destruir o mundo, eu ainda não poderia evitar ter dúvidas em meu subconsciente. Mas na verdade, é possível destruir o mundo com objetos que já existem nele. Armas nucleares e afins. É claro que posso acreditar na existência de armas nucleares. E a essa altura, sou capaz de me imaginar obtendo elas.

— Por quê?

— Porque ao entrar na ‘Game of Idleness’, vivenciei os milagres da ‘caixa’ em primeira mão. Experimentei todo esse poder, então posso acreditar que a ‘caixa’ pode fazer qualquer coisa virar realidade.

— …Aah, então observar o poder da ‘caixa’ também era uma de suas razões para observar?

— Certo.

Caramba, em quantas dimensões esse cara pensa…

— Se for um ‘desejo’ do nível de obter uma «ferramenta» para destruir o mundo, eu já poderia torná-lo real, apesar de ser um realista.

Ainda estou um pouco incerto sobre ter entendido seu raciocínio ou não, mas resumindo é assim:

Daiya Oomine já pode usar a ‘caixa’.

— …

No momento em que percebo isso, sinto calafrios. Tenho um pressentimento muito ruim. Provavelmente por causa desse pressentimento, pergunto a ele por impulso. Pergunto no fluxo da conversa, embora eu supostamente não deveria ter interesse mesmo que ele realmente quisesse destruir o mundo.

— Então, qual é o seu ‘desejo’?

 

Então, de uma vez. A atmosfera de Daiya Oomine muda completamente. Embora eu tenha percebido algo levemente assustador sobre ele, acabo de dá-lo o último empurrão.

— Sabe, tem um tipo de pessoa que não consigo suportar.

Inexpressivo, ele toca seu piercing direito.

— Estou falando sobre aquelas pessoas que pararam de pensar por conta própria. Eles agem como se estivessem pensando, mas na verdade só aceitam as opiniões dos outros e são manipulados. Eles não têm identidade, digamos assim. Não há sentido em suas vidas. Não consigo suportar esses lixos depravados que mal tem cérebro o bastante para seguir a opinião dos outros, não tem objetivo e avançam em cima do alimento que lhes é oferecido como um bando de porcos. Fico enjoado só de respirar o mesmo ar que eles.

— …Você não está se deixando levar um pouco?

Daiya Oomine me encara com olhos frios.

— Porque eles devoram.

— O que…

— Às vezes eles até mesmo devoram pessoas virtuosas.

Preso por seu olhar gelado, não consigo me mover.

— Você já deve ser capaz de adivinhar qual o meu ‘desejo’, e o meu objetivo, certo?

Ele dá um sorriso estranho, com apenas o lado direito do rosto, e diz:

— Meu ‘desejo’ é… exterminar todos esses lixos.

Daiya Oomine já não está mais escondendo sua hostilidade. Ele direciona seu olhar para mim. Mesmo seus olhos parecendo calmos à primeira vista, eles parecem ter se tornado cada vez mais escuros após uma longa sucessão de anos, até que eventualmente uma luz de insanidade começou a brilhar levemente neles.

— Ei, você está me ouvindo, Koudai Kamiuchi? Ou eu deveria te chamar dessa forma?

Então, ele deixa claro.

Seu porco afogado em tédio que parou de pensar.

Que ele é meu inimigo e irá me exterminar.

— …Haha.

Uma risada seca escapa da minha garganta. Me exterminar? Essa é uma piada ruim. Ou deveria ser. Nesse momento ele não tem nenhuma arma, então ele não pode possivelmente me derrotar, já que sou acostumado com violência de mãos vazias. Isso é certeza.

E mesmo assim, por que diabos me sinto dessa maneira? O que são esses calafrios percorrendo minha espinha? O que é esse medo que brota das profundezas do meu peito?

— Kamiuchi, o que você acha que vai acontecer com Kazuki Hoshino agora?

Ele subitamente muda o assunto.

— …Ele irá morrer e se tornar uma múmia, certo?

Daiya Oomine ri.

— O caramba! Você está subestimando ele? Você seriamente acha que ele não fez nada mesmo sabendo que sua morte se aproximava?

— …Sim, bem, quero dizer, o que ele poderia ter feito?

— Como esperado de um porco acéfalo. Não ache que ele é como você! Aquele cara atrevido meramente entendeu qual é o meu plano.

Daiya Oomine diz com um leve sorriso.

— Kazuki Hoshino não irá morrer. Porque irei destruir essa ‘caixa’ podre chamada ‘Game of Idleness’ antes que isso aconteça. Ele entendeu isso.

Ele me encara com um olhar desinteressado, como se estivesse observando a ponta quebrada de um lápis.

— É evidente a forma como irei fazer isso, certo?

Ele diz.

— Esmagarei a ‘Game of Idleness’ ao matá-lo.

Como um ceifador anunciando minha morte.

— …Uh…

Não, não consigo ficar calmo. Estou encharcado em suor frio como se meu corpo sentisse a verdade por trás dessas palavras. Que droga é essa sensação? Eu não deveria ter que temê-lo tanto, em [Kingdom Royale], eu e kaichou matamos o NPC dele afinal de contas. Mas de onde vem essa confiança dele? E por que me sinto tão acuado?

— …Você acha que pode me vencer usando força bruta?

Consigo espremer essas palavras de alguma forma. Daiya Oomine torce o formato de seus lábios e diz com uma atitude absolutamente calma.

— Claro que não.

— Hein?

Do que esse cara está falando? Então o que é essa atitude?

— Por que a surpresa? Não tem como eu vencê-lo em uma luta direta. Deixando de lado minha condição física, eu era um aluno honrado e quase nunca me envolvi em brigas, você sabe. Também não tenho experiência em artes marciais. Bem, acho que daria certo de alguma forma se eu estivesse preparado para uma derrota simultânea.

— …Por que essa confiança toda então?

— Isso é óbvio — ele começa a dizer. — Porque já está tudo acabado.

— Hein?

Bem quando deixo escapar esse som idiota novamente, meu corpo é restringido.

— Hã?!

Não por Daiya Oomine. Ele ainda está em pé diante dos meus olhos, até mesmo com os braços cruzados. Um aliado…? Não, não pode ser. Esse espaço foi criado pela ‘Game of Idleness’. Mas estou sendo restringido por alguma coisa.

A cabeça da pessoa que está me segurando me toca. Viro minha cabeça. Só consigo ver o topo da cabeça de meu agressor. Cabelos compridos… uma mulher? Ela é muito menor do que eu, e não me parece ser muito robusta.

— …gh!

Mas por alguma razão não consigo livrar meu braço da restrição dela, por qualquer artimanha que ela esteja usando. A garota de cabelos compridos em um pijama ergue a cabeça que pressiona contra as minhas costas. Quando vejo o rosto dela…

«Você não me derrotou no final das contas.»

Essa frase cruza minha mente por alguma razão.

A atitude confiante de Daiya Oomine se baseava no fato de que ele sabia que ela iria aparecer e salvá-lo, me imobilizando. E tenho certeza que Kazuki Hoshino também percebeu isso, naquele [Encontro Secreto].

Não tenho a mínima ideia de como ele conseguiu perceber isso, mas ele conseguiu. E ele tentou garantir que eu não perceberia, de fora da máquina do jogo, que Daiya Oomine estava planejando me matar. Porque ele sabia que, no pior das hipóteses, eu mataria Daiya Oomine se desconfiasse disso.

Espere? Por que ela não o salvou imediatamente? Talvez ela só o ajude quando certas condições forem atendidas? Então, qual são essas condições? Por que essa mulher precisa ajudar Daiya Oomine? A morte dele seria um problema para ela?

Assumindo que Daiya Oomine morra aqui — o que aconteceria? Daiya Oomine falharia em alcançar seus objetivos. A ‘Game of Idleness’ não seria destruída. [Kingdom Royale] continuaria. Então…

…Kazuki Hoshino se tornaria uma múmia e morreria.

— …

«Você pode sobreviver se ninguém matar ninguém, durante os oito dias.»

Daiya Oomine contou essa mentira a ele. Mas, algo parecia estranho. Por que ele contaria uma mentira tão idiota, embora não tenha dito nenhuma mentira quando seria útil?

…Tento montar uma hipótese. Uma hipótese em que essa mentira é, na verdade, um fato. Se todos estivessem vivos, todos se tornariam múmias no oitavo dia quando suas porções de alimento acabassem, e morreriam. É claro, Kazuki Hoshino morreria também. Exatamente como está para acontecer nesse momento.

«Você perguntou a ele sobre aquela semana, não foi?»

Não sei o que ele quer dizer com “aquela semana”. Não tenho como saber. Mas, provavelmente, eles conseguiram essa informação daquela semana. Certo, esses dois…

Sabiam que essa mulher iria aparecer quando Kazuki Hoshino estivesse para morrer e evitaria isso. Portanto eles também sabiam, consequentemente, que ele pode sobreviver se ninguém morrer por… não, desde que Kazuki Hoshino esteja prestes a se tornar uma múmia.

 

— …Hehe…

A garota cujo rosto me é completamente desconhecido ergue os cantos dos lábios.

— …Quem é você?

Ela responde.

— Yanagi Nana.

— …Yanagi Nana?

— Aah, talvez esse nome faça mais sentido para você.

A garota diz com um sorriso misterioso.

 

— Sou ‘O’!

 

Um sorriso zombador aparece no rosto de Daiya Oomine.

— Hmpf, então você escolheu se tornar o primeiro amor do Kazu. Qual seu objetivo em usar a aparência de Yanagi Nana?

— Nada demais, sério. Apenas acho que seria mais interessante encontrá-lo com essa aparência! Bom, mas parece que não terei uma chance de mostrar isso a ele, graças a você.

— Mas falando objetivamente, Kazu te viu assim que chegou aqui, não foi?

— Bom, sim. Mas ele foi tão cruel e pisou em mim. Além disso, ele sequer me reconheceu. Garoto, você deveria pelo menos ser capaz de reconhecer seu primeiro amor à primeira vista!

— De qualquer forma, me surpreende o fato de Yanagi Nana ter essa aparência. Achei que seria outra beldade, já que nosso exigente Kazu estava apaixonado por ela, mas essa aparência realmente não é nada especial, hein.

— Isso é rude com ela!

Enquanto ouço essa conversa estranha deles, pensei:

‘O’?

‘O’, ele disse?

Aah, certamente. Apenas ‘O’ é capaz de exibir um sorriso tão misterioso. ‘O’ é provavelmente o único que poderia ignorar as regras e intervir. Portanto, posso entender.

Mas por que um ser inumano como ‘O’, que poderia até mesmo ser chamado de um deus, ajudaria Daiya Oomine? Por que ele precisaria salvar a vida de Kazuki Hoshino? Como eles foram capazes de prever o comportamento do ‘O’?

Daiya Oomine ri de mim enquanto estou confuso sobre todas essas questões.

— Parece que você está se perguntando por que ‘O’ nos salvou. Eu te conto, sem problemas!

Então ele diz.

— ‘O’ ama Kazuki Hoshino. Sabia disso?

— …Isso não explica nada.

— Você realmente é lento para compreender. É natural salvar o cara que você ama quando ele está prestes a morrer!

— Então você previu isso?

— Não previ. Eu sabia. Bem, isso porque eu perguntei em detalhes sobre o que aconteceu durante a ‘Sevennight in Mud’?

Não tem como eu entender com uma explicação tão básica. Em primeiro lugar, o que é essa ‘Sevennight in Mud’? …Mas bem, acho que ‘O’ salvou Kazuki Hoshino durante aquela semana… ou tentou salvá-lo. Portanto, ele sabia que ‘O’ viria.

Porque ele sabia disso, tirou vantagem da situação. Para se livrar de mim e da minha ‘Game of Idleness’ depois que ele descobriu como usar a ‘caixa’, ele usou ‘O’. Ele usou um ser comparável a um deus.

— …

Mas que merda! Como ele teve a ideia de usar um ser desses em primeiro lugar? Isso é algo que eu jamais seria capaz de pensar. Alguém que chega a uma conclusão dessas…

 

...Não pode ser humano.

 

Aah, agora entendo… o porquê de estar tão assustado. Jamais encontrei uma pessoa mais habilidosa que eu, digamos assim. Ou pelo menos jamais percebi alguém dessa forma. Sempre achei que fosse o mais forte, não importa para quem olhasse. Mas agora eu entendo. Comparado a esse cara, eu sou…

…Incomparavelmente inferior.

 

— …Ah.

Meu corpo começa a balançar. Sinto como se estivesse meio tonto, mas a sensação não para. Minhas pernas afundam profundamente no chão dessa sala escura que cheira a solvente. …Não, isso não está acontecendo realmente. Provavelmente, apenas parece dessa forma para mim. O que... o que está acontecendo comigo?

Alguém está rindo de mim. “Ahahahaha,” ele está me ridicularizando. Não é nem Daiya nem ‘O’ que está fazendo isso. Essa sombra negra está tentando me chutar, me dominar… Quem é você?

Tenho a sensação de que era meu pai, alguém quem jamais vi sequer uma foto. Com o desejo de amaldiçoá-lo, franzo meu rosto ao observar a sombra. Mas assim que foco nele, meu pai se dissolve e se torna outra pessoa. Aah, sei quem é esse.

…Sou… eu.

 

— Caramba… é ridículo como tudo ocorreu exatamente como eu esperava.

 

Daiya Oomine reclama. É, aposto que sim. Vou ser destruído agora, exatamente como esperado. Exatamente como fiz com outras pessoas o tempo todo até agora. Então, talvez finalmente possa ir para o lugar que sempre procurei. Talvez possa finalmente me tornar o que eu queria.

‘O’ me solta. Caio de quatro no chão. Minhas mãos tocam o chão desse espaço. Tem a textura de carne apodrecendo. É estranhamente quente, mesmo assim é áspero e se esfarela nas minhas mãos. Isso me faz finalmente perceber. Esse lugar é… nojento.

 

— Sim, como esperado, suponho.

‘O’ repete as palavras de Daiya Oomine.

— Bom, mas acho que também é como Kazuki Hoshino-kun esperava.

— …O que você quer dizer com isso?

— Não tem nenhum significado oculto! Falando nisso, Daiya Oomine-kun. Eu também gostaria de te perguntar algo.

‘O’ olha para Daiya Oomine como se eu já tivesse desaparecido de seu campo de visão.

— É uma pergunta sobre suas ações contraditórias. Veja bem, tenho problemas em entender porque alguém como você faria algo que não lhe traria nenhum benefício.

— …O que você quer dizer?

— Hehe, você não precisa esconder! Seu plano tira vantagem da minha atração por Kazuki Hoshino-kun. O que significa que nada daria certo se eu não tivesse vindo ao resgate. Então, por que…?

— Não é como se não fosse funcionar sem você.

Daiya Oomine interrompe ‘O’ e começa a explicar.

— Para começo de conversa, não preciso destruir a ‘caixa’ porque já venci [Kingdom Royale] e sobrevivi. E mesmo estando confiante de que você viria, eu não tinha provas. Esse plano de resgate foi apenas por pena, já que Kazuki Hoshino tentou o melhor que pôde, embora tenha perdido no final. Se ele tivesse vencido nossa pequena disputa, eu faria algo sobre isso mesmo sem você… afinal de contas, eu prometi! Com a determinação para uma derrota simultânea, nesse caso.

— Pena, hein… Mas acho que você devia saber qual de vocês realmente é digno de pena. De qualquer forma, não pedi essa explicação.

‘O’ calmamente despedaça as palavras de Daiya Oomine.

— Por favor, não fuja da minha pergunta. Me deixe reformular minha dúvida mais uma vez. Mesmo que você precisasse que eu aparecesse…

‘O’ perguntou.

Você tentou mudar Kazuki Hoshino-kun para me fazer perder interesse.

— …

— Kazuki Hoshino-kun deveria ter sido capaz de fazer com que todos sobrevivessem por oito dias. Mas para mudá-lo, você enganou o NPC de Koudai Kamiuchi para ele matar Iroha Shindou e tornar impossível a vitória dele. Por que você fez isso quando apenas precisava que eu aparecesse?

Daiya Oomine fecha sua expressão e encarou ‘O’.

— Você realmente é gentil. Você queria salvar seu amigo, Kazuki-kun, certo? Você queria livrá-lo de mim, não é mesmo? Bem, naturalmente não perdi meu interesse por causa de uma mudança tão simples ainda.

‘O’ continua com um sorriso.

— Mas certamente isso diminui a probabilidade de eu aparecer! Não é do seu feitio reduzir suas próprias chances de vencer.

— …Realmente, algumas de minhas ações podem ser interpretadas dessa maneira. Mas foi meu NPC quem fez isso. Meu NPC apenas se enganou sobre minhas intenções e agiu por conta própria… isso é tudo. Na verdade, meu NPC não sabia que Kazuki Hoshino morreria se você não aparecesse. Até eu cometo pequenos erros.

— Mas mesmo que tenha sido uma má interpretação do seu NPC, ele realmente teria feito aquilo se não quisesse mudar Kazuki-kun, sendo uma cópia exata sua? Além do que, isso é definitivamente uma mentira. Você não acabou de dizer que tudo foi de acordo com o esperado?

— Isso foi uma figura de linguagem.

— Não acho que seja isso. Foi exatamente como você esperava. Além disso, acho que você não teria deixado Kazuki Hoshino simplesmente morrer se eu não aparecesse. Tenho certeza que você teria tentado matar Koudai Kamiuchi… Com a determinação para uma derrota simultânea, nesse caso.

— Não fale besteira. Por que eu deveria me sacrificar pelo Kazu?

— Porque é ele quem sente pena de você.

Daiya Oomine fica sem palavras.

— Deixar a pessoa que sente pena de você, e que aprova seu plano em silêncio, morrer porque seu plano falhou? Isso definitivamente não é algo que seu orgulho permitiria.

— …O que te faz ter tanta certeza disso?

— Isso é o que Kazuki Hoshino pensa, não eu.

— O quê?

— Kazuki-kun não confia em mim, infelizmente. Portanto, ele não acreditava que seu plano fosse a prova de falhas. E mesmo assim, ele confiou sua vida a você. Você deveria saber o motivo a essa altura, com sua inteligência, certo?

Daiya Oomine arregala os olhos e morde os lábios.

Ele estava convencido de que você o salvaria mesmo que seu plano falhasse.

Daiya Oomine parece mortificado por alguma razão, mas ‘O’ continua.

— Realmente, como Kazuki Hoshino-kun esperava.

— …O quanto ele acha que pode me rebaixar!

— Hehe, ele não está te rebaixando. Ele apenas o compreende, não é mesmo?

— Calado… Já entendi. Tudo bem, admito! Eu tentei separar você e o Kazu. Você está me culpando porque isso te incomoda, certo?

— Isso também é verdade, certo.

— Não se preocupe, não vou mais fazer isso. Se ele ficar no meu caminho de agora em diante, vou tirar vantagem dele e enfrentá-lo, isso é tudo.

— Entendo.

— Mas é verdade. Acho que um sorriso despreocupado combina mais com ele. Não quero que ele tenha nada a ver com essas ‘caixas’. Isso seria o melhor para o cotidiano dele.

— Oh? Então por que você tentou mudar o objetivo dele para proteger Maria Otonashi, então? Me pergunto se associar-se com ela não é algo que o mantém afastado de um cotidiano normal?

Daiya Oomine morde os lábios.

— …Essa foi a única coisa que meu NPC pode pensar para livrá-lo de você.

— Realmente, isso pode ser possível. Mas julgando pela sua expressão, essa não é a história toda.

‘O’ diz isso e então bate palmas artificialmente como se ele subitamente tivesse entendido algo.

— Certo. Deixe-me lhe dizer algo interessante, que pode até mesmo colocar você no caminho certo. Talvez eu também deva contar ao Kazuki Hoshino-kun e a Maria Otonashi.

‘O’ diz alegremente enquanto Daiya Oomine ergue uma sobrancelha.

— Essa garota… Yanagi Nana… está viva! Ah, falando nisso, seu namorado Kijima Touji também está.

Forçando ainda mais sua sobrancelha erguida, Daiya Oomine pergunta.

— …Se eles estão vivos, então aonde eles estão?

‘O’ assente satisfeito pela reação dele e responde.

Na ‘caixa’ de Maria Otonashi.

Daiya Oomine fica petrificado com os olhos arregalados.

— Você entende agora que Maria Otonashi é alguém que desconecta ele de sua vida normal? Então se você realmente quer alcançar seu objetivo, você deveria ignorar seus próprios sentimentos e juntá-los!

— …Do que você está falando.

— Você quer juntar o Kazuki Hoshino-kun, não quer?

Então ‘O’ diz.

— Com Kokone Kirino.

Ele diz — esse querido e nostálgico nome.

— Você sempre achou que Kokone Kirino e Kazuki-kun seriam um bom casal. Assumiu que seria ideal se eles se apaixonassem, para trazer felicidade a ela. Porque Kazuki-kun não a rejeitaria não importa o que descobrisse sobre ela. E mesmo assim, você usou violência contra o Kazuki-kun quando estava para acontecer graças a Asami Riko. E mesmo dessa vez, você tentou fazer com que o objetivo dele se tornasse proteger Maria Otonashi. Para mim, parece que suas ações não são consistentes com seu objetivo.

— …Cale a boca.

— Você quer dedicar sua vida ao seu objetivo, certo? Mas no presente momento, você não pode se comparar nem de perto a Maria Otonashi ou Iroha Shindou. Isto é, enquanto você não se desapegar de Kokone Kirino.

— Cale a merda dessa boca!

Assisto Daiya Oomine rugir, cerrando os punhos. Por que esse nome saiu da boca de ‘O’…? Por que Daiya Oomine reage dessa maneira a esse nome? Por que o nome da minha idolatrada e dócil senpai faz ele sofrer?

— …Aah.

Entendo. Me lembrei. Me lembrei quem Daiya Oomine era no passado.

— Você realmente acha que pode alcançar seu objetivo? «Não importa o que você faça, não importa aonde você vá, você não pode fugir da sua natureza.»… suas próprias palavras. Mesmo que você coloque piercings que simbolizem sua determinação, mesmo que você pudesse dar um fim aos seus sentimentos por ela… sua gentileza, covardia e tolice humanas não vão mudar.

Daiya Oomine encarou ‘O’ com um olhar que carrega tanta inimizade que é quase capaz de matar. É apenas natural que eu não conseguisse me lembrar. Sua aparência naquela época era totalmente diferente. Durante o fundamental, ele não tinha nenhum piercing e ainda não usava cabelos prateados. Ele era um senpai tranquilo e alegre, admirado como o «príncipe» pelas garotas por sua atitude calma e refinada.

Ele era o namorado perfeito… da garota dócil que eu admirava. Foi por isso que desisti dela imediatamente. Eu não conhecia Daiya Oomine muito bem. Mas eu apenas estava convencido de que a Kirino-senpai definitivamente seria mais feliz junto com ele. Fiquei desiludido ao descobrir que não era o único a descobrir o charme dela. E também percebi que não seria eu aquele que afloraria esse charme. Minha ilusão de que ela era algo especial apenas para mim foi despedaçada, simples assim.

Entendo. Então foi Daiya Oomine que criou a ocasião que me fez sair com a «Rino»… «Karino Miyuki».

— …Heh.

Daiya Oomine para de encarar, relaxa os punhos e contorce o formato de seus lábios. O sorriso que aparece agora que ele recupera sua compostura não tem nada de sua antiga tranquilidade e só o faz parecer mais destemido.

— Você pode estar certo. Mas isso não importa.

— Não importa, hein? Mesmo que você vá sofrer?

— Sim, vou alcançar meu objetivo não importa o quanto eu precise sofrer. Sou capaz de tolerar sentimentos desse nível.

‘O’ pergunta, parecendo profundamente interessado.

— Por que você acha isso?

— Porque estou sendo impulsionado por um sentimento ainda maior do que a dor. Minha natureza, como você chama, está tingida por esse sentimento. Essa é a força… do meu ódio.

Ele diz determinado.

Desde aquele tempo, «eu»¹ odeio o cotidiano.

 

Não faço a mínima ideia de quando ele está se referindo ao dizer “aquele tempo”.

— Você me fascina!

Mas ‘O’ sorri contente ao ouvir as palavras de Daiya Oomine.

— Ao me deixar ouvir o som do seu coração se partindo dessa forma. Ao me deixar ouvi-lo tão facilmente como se tocasse um instrumento de apenas uma corda.

— Bom, acho que é por isso que você me entregou a ‘caixa’. Então não serei relutante quanto a isso. Vou deixá-lo ouvir o quanto você quiser! Não importa o quanto meu coração se despedace, vou alcançar meu objetivo! Portanto, sou muito grato a você.

— Fico feliz em ouvir isso! Embora eu distribua ‘caixas’ que garantem qualquer desejo de graça e dou uma explicação adequada àqueles que recebem, existem muitos entre eles que parecem guardar certo rancor contra mim.

Dizendo isso, ‘O’ me ergue e me restringe novamente.

— Muito bem, Kazuki-kun está para se tornar uma múmia. Precisamos nos apressar.

— Você nem precisa dizer.

Dizendo isso, Daiya Oomine se apressou em minha direção.

— Koudai Kamiuchi.

Um sorriso frio se forma em seu rosto.

— Entre todas as pessoas que conheço, você é um lixo de alto nível. Você é o lixo dos lixos, tendo vivido uma vida insignificante, guiado pelo tédio e ferindo os outros. Não espero que você mude sua mente, nem acho que você entregará a ‘caixa’.

Ele estende as mãos para o meu pescoço.

— Também vou mudar, como Kazuki Hoshino mudou. Para isso, preciso me livrar de minha fraqueza. Então me deixe usá-lo para isso.

Colocando força em suas mãos ele começa a me estrangular.

Vou eliminar minha rota de fuga ao matar você.

Então, a pessoa que uma vez foi o «príncipe», diz.

E então me tornarei o «rei».

Cara, não se incomode em dizer isso para mim! Fazendo isso, até parece que você está falando consigo mesmo…Ah, ou talvez ele realmente esteja falando isso para si mesmo? Por que Daiya Oomine não interferiu com a ‘Game of Idleness’ por tanto tempo? Por que ele não me matou imediatamente? — Tiveram vários motivos. Para entender o funcionamento da ‘caixa’. Para esperar por ‘O’. Para mudar Kazuki Hoshino.

Mas se você pensar por outro lado, isso não quer dizer que ele apenas procurou várias razões para adiar a determinação de se tornar um assassino? É claro, isso pode ser um mal-entendido meu. Mas acho que ele certamente queria convencer a si mesmo de que é justo me matar. Afinal de contas, ele ainda é o «príncipe», não o «rei».

Minha visão escurece. Eu vou morrer. Entendo, então sou derrotado por ele. …Não, acho que já estive sendo derrotado o tempo todo, antes desse incidente. Não perdi apenas para Daiya Oomine, mas para tudo e todos. Continuei perdendo porque não estava sequer no ringue, desde que comecei a fugir.

Meus pés afundam nessa câmara que parece ser a solidificação da luxúria. Provavelmente, vou derreter e desaparecer se continuar afundando. Inconscientemente penso que tal coisa seria como o Éden para mim.

Sou um idiota? Que falta de imaginação. Tenho essa impressão só porque nunca encarei a morte antes! Mesmo sem saber no final qual era realmente meu desejo, não quero acabar assim! Embora já não tenha mais nenhuma escolha senão aceitar. Então, no final, vou fazer pelo menos um contra-ataque.

— Oh…rro…

Tento dizer uma última frase, mas minhas cordas vocais estranguladas não conseguem mais formar palavras corretamente. Mas não importa. Desde que o alcancem, elas não precisam ser exatas. Mesmo que tudo tenha sido como esperado, pelo menos atormentarei ele.

Olho nos olhos dele. Posso ver uma ponta de indecisão. Aah, parece que elas o alcançaram um pouco.

«Socorro.»

As intenções dessas palavras. É claro, isso não mudará o final. Mas tem algo que eu sei. Tendo o visto sorrir ao lado da Kirino-senpai quando ainda era um «príncipe», sei de uma coisa. Será você que irá perder de agora em diante — Daiya Oomine! Ou — você realmente acha que tem o que é necessário para se tornar o «rei»!

Sinto como se meu corpo tivesse sido completamente consumido pelas trevas. Minha visão também fica escura, então não consigo ver nada. Posso ouvir o eco da voz dele em minha mente.

— …Kazu, você realmente acha que poderia ter feito melhor?

Ele diz com uma voz trêmula, aparentemente pensando que já perdi a consciência.

— Mesmo que eu não quisesse usar a morte de Kamiuchi dessa forma, eu provavelmente não teria encontrado outra forma de encerrar a ‘Game of Idleness’. Mas você teria?

É claro, não posso mais ver o rosto dele. Sinto algo na minha cabeça. O que é isso? Posso sentir um cheiro amargo. Aah, entendo… é vômito. Ei, Daiya Oomine, você está exagerando!

Bom, acho que sou o sujo falando do mal lavado. Afinal de contas, também vomitei na rua ao voltar para casa, após deixar Rino naquele hotel. Realmente não consigo explicar porque fiz aquilo. Mas não há dúvidas de que eu ainda estava sofrendo naquele momento.

E mesmo assim, quando foi que a violência começou a se tornar um prazer? Eu não sei. Eu não sei, isso quer dizer que provavelmente jamais saberei.

Caio na escuridão. Mas é quase o mesmo que o lugar em que estive até agora. Então, desde quando estive afundado na escuridão? Bom, então é compreensível que estivesse tão incrivelmente entediado em um lugar como esse. Estive correndo por aí, erguendo minha voz, estendendo minhas mãos, mas ainda não consegui encontrar ninguém e fui exposto ao medo.

Mas, se eu tivesse continuado a procurar mais um pouco, talvez eu teria conseguido entrar em contato com alguém?

…Hehe.

Não. Afinal de contas, até minha mãe me deixou.

 

 

Por alguma razão, Kazuki Hoshino é a última coisa em que penso. Faço uma última pergunta.

 

Ei, se fosse você que estivesse aqui…

…você teria me contado qual é o meu verdadeiro ‘desejo’?

 

 


Nota:

1 – Daiya normalmente se refere a si mesmo como “Ore” que é uma forma mais formal de se referir a si mesmo. Mas dessa vez ele usou “Boku” que é a forma informal.



Comentários