Vida em Folhas Brasileira

Autor(a): Lucas Porto


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 5

 

Cidade Hinahina.

As pétalas cinzas caiam dia após dia sem falta. O pequeno Kishi não conhecia sua origem, apenas sabia que as mesmas vinham do grande vulcão que dava nome a sua cidade. Ainda assim, achava aquelas pétalas lindas, principalmente à noite, era como se a neve estivesse caindo sem parar. 

Sua mãe, entretanto, não gostava dessa imitação de neve. Sempre que olhava a janela seus olhos perdiam a pouca cor que possuíam e assim ficavam por várias horas, mas era com a chegada de seu marido, que sempre contava histórias para seu filho, que ela voltava a sorrir.

— Qual história você quer ouvir hoje Kishi?... Kishi? — indagou o pai, mas sua voz nunca chegou até Kishi, que se encontrava com a cabeça nas nuvens.

— Kishi! Seu pai está falando com você! — exclamou a mãe fazendo o pequeno Kishi pular de susto. Quando a criança olhou para o pai ele ria sem parar, se divertindo com toda a situação. 

— Desculpa... 

— Não se desculpe — disse o pai acariciando a cabeça do filho —, sonhar é a melhor coisa que nós podemos fazer. 

— Pai! Me conta aquela história de Jólder! Que tem os grandes soldados! — A criança tinha um grande brilho em seus olhos, a mãe que estava em outro cômodo, deixou um sorriso fugir de seus lábios ao lembrar de sua terra natal.

— Você sempre escolhe essa, Kishi. Não prefere...

— Não! Eu quero essa! — berrou.

— Tudo bem, tudo bem... Deixe-me a procurar. — O pai abriu o velho livro e folheou rapidamente, já sabia em qual página a tão famigerada história se encontrava. Kishi ficou alegre ao ver o desenho de uma grande árvore com inúmeras raízes que se entrelaçam e faziam um círculo. Essa era a prova que seu pai estava na página certa. 

O pai coçou a garganta. E com um Aham, seus olhos caíram e deslizaram por cada palavra daquele livro. 

— Artéria é o fruto do mundo, e possui em seu interior todas as culturas existentes, mas esse fruto cresceu nos ramos de uma antiga árvore, que assim como Artéria é um amálgama de diferentes histórias; esta é Jólder.

"Composto por inúmeros reinos, Jólder é um ramo que se estendeu pelo horizonte até o limiar onde os olhos das pessoas se cansam. em seus distritos, líderes os governam com sabedoria, ensinando a todos que o sangue compartilhado entre pai e filho, irmão e irmã não é sua maior conexão, a ligação máxima dentre todos os indivíduos, a verdadeira fonte do calor e da vida é a alma, nossa maior ligação..." 

As palavras do seu pai foram ficando cada vez mais e mais distantes. O sono cantou em tom baixo do lado do ouvido esquerdo. Acompanhando a dança do sono, seus olhos foram se deixando levar até nenhuma luz ser mais vista.  

E Kishi adormeceu. 


 

Cidade de Revin
Três dias após o embate contra a Lótus Negra.

A luz bateu à porta e perfurou o olhar o acordando. Desnorteado e com dores por todo o corpo, Kishi se sentou e olhou ao redor. Paredes de madeiras, dois quadros com pinturas magníficas e um vaso com flor decoravam aquele quarto. O cansaço ainda permanecia forte, mas não era isso que o incomodava. Quando se lembrou do ataque dos ninjas da Lótus, da morte do pai de Alissa e de seu confronto contra Olú, ele entrou em desespero, Kishi ficou de pé e-

Caiu de volta na cama no mesmo instante.

Olhando melhor seu corpo viu que o mesmo estava todo enfaixado. Seus músculos afrouxaram e reclamaram de dor toda vez que ele tentava ficar de pé. Respirando fundo pela boca ele tentou inútilmente controlar os batimentos acelerados do seu coração. Sua mente ainda queria entender o que estava acontecendo. 

Ele murmurou tudo do que se lembrava, tentando organizar sua mente. E enquanto fazia isso, um cheiro de rosa, uma fragrância única passou suavemente por ele. Era a flor no vaso perto da janela. Ele a reconheceu; Plumeria Rubra. 

A flor o seduziu de uma maneira que as palavras não podiam acompanhar. Ele se sentiu à vontade de uma forma que até então não tinha sentido e relaxou os ombros sem nem perceber. Aquela flor lhe recordava a infância. 

A primeira vez que viu uma plumeria rubra foi... 

Kishi se levantou. Seu corpo ainda doía, mas ele precisava confirmar algo. Empurrou a porta para o lado e caminhou um pouco. Assim como quando visitou a casa de Alissa, seus pés conheciam aqueles trilhos mesmo que ele estivesse visitando o local pela primeira vez, e ao adentrar um daqueles cômodos familiares, ele o viu...

Um pouco mais alto do que se lembrava. De cabelos grisalhos, uma postura que se assemelhava a um oceano sem ondas. Sua roupa azul-marinho que ele tanto adorava sempre lhe caiu bem mesmo após tantos anos. Ele se virou para trás e seus olhos se cruzaram com os de Kishi.

Ambos deixaram as palavras de lado, e um andando até o outro, eles se abraçaram, felizes pelo reencontro que a tanto tempo esperaram. 

— Pai... Como é bom te ver de novo...  

— Eu estive a sua procura por tanto tempo… — disse se soltando do abraço, para que pudesse olhar melhor para seu filho. Uma lágrima tímida desceu pelos seus olhos.

— … — Ele não soube o que dizer para seu pai, não soube se expressar, nada do que dissesse parecia fazer jus ao sentimento que ele estava sentindo.

— Meu filho, você está... Bem, você está todo machucado, mas fico feliz em ver que está vivo — disse colocando as mãos nos ombros dele, Edo o olhou e se lembrou da última vez que havia o visto. Outra lágrima fugiu, desta vez dos olhos de Kishi.

O silêncio se instalou por um momento. 

— Pai... Como eu cheguei até aqui? Onde está Alissa?  Ela está bem?  

— Sim. Ela está dormindo agora, ela passou por muita coisa. Sente-se por favor, vamos conversar. 
Ele respirou aliviado sabendo que ela estava viva. Obedecendo ao seu pai, ele se sentou perante a mesa. Edo caminhou um pouco e se sentou ao lado contrário ficando de frente para seu filho. Ambos se encararam sem saber como iniciar a conversa. 

— Eu... 

— Eu...

Os dois pararam, surpresos.

 E deram uma risada. 

— Me desculpe, pode começar — sussurrou Kishi de maneira tímida. 

— Eu pensei que estivesse morto. A última notícia que eu soube sobre você foi que estava atuando na Alopeke¹. Ouvi que o grupo foi encontrado por guardas da Lótus Vermelha e todos foram mortos. — Kishi ficou sem palavras, ele possuía algumas memórias de sua época no grupo.

— Eu não sabia disso... — disse abaixando a cabeça por um minuto, entristecido. — O grupo não estava mais sob minha liderança, eu me separei deles — mentiu. 

— Como eu pensei, você liderava aqueles bárbaros. — O rosto gentil de seu pai foi trocado para um rosto de feições duras. Seus olhos perfuraram a alma de Kishi que sem resistir virou a cabeça envergonhado. — Por onde você esteve todo esse tempo? 

— Eu não quis manchar sua honra pai. 

— Não fuja da minha pergunta. 

— Não estou fugindo! — gritou. — Estou te pedindo desculpas!

— Você poderia ter tomado outro caminho e sabe disso, não me venha com falsas desculpas. 

— Não são falsas! 

— Não aumente seu tom comigo! 

Uma porta bateu. 

A conversa foi interrompida de maneira súbita pelo susto que aquele barulho causou. Ambos olharam para a direção do som e viram uma Alissa surpresa. 

Alissa que havia acabado de acordar não soube ao certo o que fazer. Ela ouviu vozes vindo do corredor e puxada por uma alta curiosidade foi ver do que se tratava. Entretanto sua falta de perspicácia acabou fazendo-a interromper uma conversa importante. Todos os três se entreolharam. 

— É... Desculpa, eu interrompi algo importante não foi? 

— Não. Está tudo bem — respondeu Edo. —, Aproxime-se, Kishi ia nos contar o que andou fazendo nesses últimos tempos. 

— Kishi! — A timidez foi trocada por uma felicidade sem igual. — Você está... Você está... 

— Ferido? 

— Vivo! — A garota correu até ele e o abraçou. — Me desculpa, me desculpa! Por minha culpa você se machucou desse jeito e quase morreu. Eu não queria que tudo isso ocorresse. 

— Não Alissa, eu que lhe devo desculpas. — Ele a afastou. — Eu não protegi seu pai, por falta de competência e habilidade você se machucou e poderia ter morrido. Eu fico feliz em saber que você está viva. 

Alissa não o contestou. De fato, graças às habilidades surreais de recuperação de Kishi dentro todos ali ele era o mais resistente. E quando o mesmo tocou no assunto da morte de seu pai, ela não soube como responder. Mesmo assim, afastou os pensamentos tenebrosos da mente e forçou um sorriso falso. 

— Eu estou ótima. Mas você... Mesmo apunhalado no coração você está novinho em folha. Qual é o seu segredo? — Ela forçou uma risada falsa.  

— Na verdade eu também não sei como estou vivo. 

— É um Noredan não é? — disse Edo. 

— Como… Como você sabe? Eu nem lhe contei. 

— Lendas dizem que Noredans possuem duas vidas, é a única explicação plausível... E Alissa me contou. — Ela deu um sorriso tímido. — Como o conseguiu? 

— Na verdade eu também me pergunto isso. — Os dois estranharam a resposta. — Eu vou contar tudo que sei.

 

 

— E foi isso, é tudo que me lembro. 

— Isso explica porque você é tão leigo com os assuntos de Artéria, você tem sérios problemas de memória — zombou Alissa.

— Pode ser um trauma, unir-se a uma criatura dessas não é algo agradável, imagino. — Edo colocou a mão sobre o queixo por um instante e pensou em algo. — Sobre esse deserto, ele se movia como se fosse o oceano, o único lugar que se encaixa com essa descrição é o Deserto que Caminha. 

— Deserto que Caminha!? — berrou a menina. — Aquele lugar é o mais perigoso de Artéria, dizem que criaturas horrendas vivem por lá e nem as famílias conseguem lidar, como raios você foi parar lá? 

— Eu... Eu não sei! Só me lembro de acordar lá. Se é tão perigoso assim, faz mais sentido que uma criatura como o Noredan tenha saído de lá não acha? 

— Na verdade não.

— Como assim, pai? 

— É dito nas histórias mais antigas que, os Noredan foram aprisionados a muito tempo no Portão Gyodan pelos deuses, desde então, nenhum outro noredan foi avistado e foram todos considerados derrotados. Você viu algo que se lembra de um portão Kishi? 

— Não, só encontrei a vila e nada mais. 

— Senhor Edo — Alissa chamou a atenção deles. — O que exatamente é um Noredan?

— Segundo alguns livros antigos e lendas urbanas, os Noredan são criaturas criadas a partir dos desejos e emoções humanas. São muito diferentes entre si e podem controlar e se hospedar dentro do corpo de outros seres vivos. Eu nunca tinha visto um realmente antes, então não sei muita coisa. 

— Então eu sou uma lenda urbana, talvez seja bom jogar sal em mim. 

— Se fosse tão fácil assim não teriam criado o portão Gyodan — respondeu Alissa. 

— Eu ainda não acabei. — Os dois ficaram quietos. — Também segundo as lendas, após a união de um Noredan com um outro ser, essa criatura passa por uma metamorfose até que inevitavelmente o Noredan assuma o controle e o alvo morra. 

— Espera, então o Kishi ele... 

— Vai morrer. 

Kishi ficou em silêncio.

— Temos que fazer algo, não tem como tirar o Noredan dele? 

— Isso nunca ocorreu antes, e se ocorreu, nunca foi registrado, ao menos não nos livros comuns. 

— E as famílias? Talvez alguém das Dez Grandes Famílias possa curar ele ou quem sabe...

— É mais provável que as famílias o matem — explicou. — As famílias Nyune e Iona são religiosas e verão ele como um demônio a ser expurgado. Os Macbeth irão vê-lo como uma peça rara, ele será dissecado e depois jogado fora. Não importa onde olhe, a opção é a mesma. 

— Tem que ter outra opção, não é mesmo Kishi? Kishi? 

Enquanto os dois conversavam, a mente de Kishi foi lançada ao longe. Além do oceano, atravessando tempo e espaço ele se viu em uma situação familiar onde ele também achava que ia morrer. 

Aquela memória assustadora não podia surgir em pior hora.


 

O pequeno Kishi estava correndo de volta para sua casa. Em sua mão esquerda ele carregava uma pequena flor conhecida como bougainville, essa flor pode nascer em qualquer lugar independente das condições, entretanto, ela era achada somente em alguns lugares específicos do mundo.

O garoto queria dar o bougainville para sua mãe, ele sabia que ela ficaria muito feliz com aquele presente pois lembrava de sua terra natal, a qual ela não comentava muito. Já estava bem tarde, o Sol a cada instante parecia querer se deitar para que a Lua surgisse, esse é o momento favorito de Kishi. 

Sem demora, ele chegou em casa. Assim que abriu a porta viu sua mãe olhando pela janela da sala para o horizonte, ela constantemente fazia isso. Kishi escondeu a flor atrás de si. 

— Mamãe! 

— Oh querido, que susto! Eu não te vi entrando, o que é isso que está escondendo aí atrás? 

— É presente. 

— E esse presente, é para mim? — Kishi fez que sim com a cabeça. — O que será que é...

— Surpresa. Fecha o olho. — O pequeno deu um sorriso animado, ele mal podia imaginar o rosto que sua mãe faria assim que recebesse a flor. 

A mãe de Kishi se agachou e fechou os olhos. Estendendo ambas as mãos para seu filho, ela esperava até receber seu presente. Aquela simples atitude encheu seu coração de felicidade, sempre que seu filho vinha animá-la ela se esquecia dos problemas do mundo lá fora. 

Kishi colocou a flor nas mãos de sua mãe. A mesma abriu os olhos devagar e ficou surpresa ao ver que se tratava de uma flor tão rara. Ela abriu um sorriso gigantesco...

A porta se abriu com força, seu pai adentrou a casa, ele estava suando, ofegava e seus olhos abertos transmitiam o medo que ele sentia naquele momento. Tanto Kishi quanto sua mãe não souberam o que fazer. 

— Precisamos correr, Jólder está atacando! 

— O que? Mas-

Uma grande explosão. 

Um clarão surgiu e cegou o pequeno Kishi que ainda estava confuso sobre tudo aquilo. Barulhos irreconhecíveis perturbaram seus ouvidos. Uma dor de cabeça sem precedentes também o incomodou.

Quando se deu por fé, ele estava embaixo dos escombros de sua antiga casa que agora está completamente destruída. Kishi se arrastou pelo chão sujo tentando sair dali. Em sua testa algo viscoso escorria, ele não sabia ao certo o que era e nem se importou no momento. 

Assim que conseguiu sair dos destroços, olhou para todos os lados procurando por seus pais. Mas não os encontrou. A única coisa que sua visão fraca viu foram mais casas destruídas pegando fogo, pessoas caídas no chão com sangue em suas roupas. 

Fraco, porém com esperança, Kishi caminhou para qualquer lugar, ele não se importava para onde realmente estava indo, apenas queria sua mãe e seu pai. Sua garganta coçava e doía sempre que ele tentava gritar. Seu nariz foi impregnado por um forte odor de ferro sempre que passava por algum daqueles corpos caídos no chão. 

Ao virar uma esquina, uma série de homens usando armaduras prateadas caminhavam carregando espadas, escudos e uma bandeira familiar. Na bandeira a imagem de uma árvore com várias raízes que se entrelaçavam e formavam um círculo. Naquele instante Kishi se alegrou ao saber que aqueles homens de armaduras eram soldados de Jólder. 

A esperança encharcou os olhos sujos do menino. Os soldados de Jólder pararam ao encontrar o corpo de um homem idoso, com as costas encostadas na parede de sua antiga casa, ele estendeu a mão e com uma voz fraca suplicou por ajuda.  

Um dos soldados se abaixou e confirmou que aquele era um sobrevivente. Ao se levantar, o soldado sacou sua espada e em um movimento rápido cortou a cabeça do velho que nem teve tempo de reagir.

Depois disso os soldados continuaram a marchar. 

Kishi ficou perplexo com aquilo. Os soldados de Jólder não são bons e justos? O que o velho senhor fez de errado? As lágrimas abriram espaços e escorreram pelos olhos da criança. Ele implorou em meio a soluços e choros: 

— Eu quero minha mãe...Papai, mamãe, cadê vocês...? 

Passos pesados foram sentidos por Kishi vindo de trás deles. 

Os soluços pararam de repente. O menino quis sair correndo, mas suas pernas trêmulas não se mexiam. Os passos foram ficando cada vez mais pesados e fortes. Um dos soldados de Jólder estava ali para buscar sua cabeça, assim como outrora fizera com o velho senhor. 

As histórias mentirosas que seu pai lia naquele livro, sobre os anjos de Jólder, soldados que com suas armaduras reluzentes lutavam contra todo o mal agora pareciam contos de terror. 

A mão do soldado tocou seu ombro e o puxou fazendo-o olhar para trás. 

Dessa vez a armadura era vermelha como uma rosa. O soldado em questão tinha um sorriso gentil, uma barba a ser feita e não carregava armas consigo. Kishi não soube o que dizer por conta do medo.

— Onde estão seus pais, garoto? — exclamou aquele homem, ele estava feliz por ver um sobrevivente, ao menos um. — Você viu mais alguém? Me responda!

Nenhuma resposta. 

— Não… — Ele se abaixou e colocou as mãos no ombro do menino que chorava em silêncio. — Não precisa ficar com medo. Me chamo Edo Sanju, sou um soldado de Artéria, eu prometo que vamos salvar...

A visão começou a ficar turva, os olhos cansados queriam se fechar. A última coisa que ouviu foi aquele soldado o chamando.

 

 

— Kishi! Kishi! — exclamou seu pai, Edo.

— Pai... O que...

— Você ficou em choque do nada e começou a chorar, o que houve? — questionava Alissa.

— Eu não...

— Me desculpe — disse seu pai. — São muitas informações para processar e você ainda está se recuperando, eu devia ter tomado mais cuidado.

— Tudo bem. Eu quero apenas um tempo para digerir tudo isso… Podem me deixar sozinho por um instante?

Receosos, ambos concordaram e se retiraram do cômodo deixando Kishi à mercê de seus pensamentos. Assim que notou que estava realmente sozinho, ele apoiou seus ombros na mesa e começou a passar as mãos nos olhos enquanto chorava. 

Além daquela terrível memória, ele se lembrou de outra coisa.



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