Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli


Volume 3

Capítulo 48: Pirata do céu.

“Então você é médico?” Ela perguntou.

“Sim.”

“E engenheiro?”

“Sim, civil, químico, mecânico e elétrico.”

“E botânico?” Ela tinha as sobrancelhas franzidas.

“Sim, e também biólogo, agrônomo, geólogo, economista e historiador. Só são esses onze mesmos.”

“Uau!!!” Ela exclamou incrédula. “Você ainda diz só onze? Eu nunca tinha ouvido falar de alguém que se formou em tanta coisa, como você fez?”

“Ah… foi mais fácil do que parece, eu sempre gostei de estudar e como não tinha mais nenhum outro objetivo de vida, me pareceu uma boa ficar estudando.”

“Não se arrepende?” Calie estava curiosa.

“Até bem pouco tempo atrás eu nunca tinha pensado nisso seriamente, acho que só agora isso tem uma importância maior na minha vida.” Tyler disse pensativo.

“Sinto muito…” Ela falou quando viu o olhar distante dele.

“Não sinta, parece que às vezes a vida pode sorrir para você em algum momento, hoje em dia eu tenho plena certeza de que posso recomeçar.” Tyler sorriu em resposta.

“Eu admiro essa força de vontade que você tem, eu não sei se conseguiria recomeçar minha vida tão tarde.”

“Claro que conseguiria, por que não? Aposto que sua vida deve ser muitíssimo interessante.”

“Minha história não é tão cativante quanto a sua.”

“Cada pessoa tem sua própria história, e todas elas são maravilhosas! Vai por mim, eu sei o que estou falando.”

“Eu não tive um lar estável como o seu, minha mãe me criou só e quando eu tinha 19 anos fiquei grávida do meu primeiro namorado, para variar quando ele soube que ia ser pai fugiu. Então eu fiquei só, não pude ir para a faculdade e tive que trabalhar, por sorte alguns anos atrás eu entrei num curso de comissária de bordo, trabalhei em uma grande companhia aérea por alguns anos e estou nessa há apenas 6 meses.”

“Lamento ouvir isso, mas não fique assim, eu me lembrei de um ditado antigo, ele é assim 'Não se preocupe no fim tudo dá certo, se nada está certo é porque ainda não é o fim.' ”

“Eu gostei dessa, não tinha ouvido antes.” A moça sorriu.

“Qual o nome da criança?” Tyler quis saber.

“Melanie, mas eu só a chamo de Mel.”

“Lindo nome.”

“Quer ver?” Ela perguntou.

“Posso?”

“Claro.” Calie foi até bolsa e pegou sua carteira. “Aqui está ela, tem 9 anos.”

Tyler pôde ver a menina, ela era realmente muito bonita, tinha as mesmas feições que a mãe, seus olhos eram um cinza muito belo e o cabelo também era mais escuro que um tom de loiro que beirava o castanho.

Pelas contas dele, Calie deveria ter 28 ou 29 anos. Embora fosse realmente linda parecia que tinha um pouco mais, Tyler daria talvez uns 33 ou 34 anos. É incrível como uma vida dura pode trazer os anos mais rapidamente.

“Gosta de ser aeromoça?”

“Sim, adoro! Cada dia estou em um lugar diferente, o salário é bom e aqui de cima tudo é tão mais calmo e pacífico, nem parece que estamos no mesmo mundo.”

“É realmente muito belo, todos os que alguma vez já tiveram o prazer de voar não se esquecem.”

“Tem razão.”

“E como você faz com a pequena Mel?” Tyler quis saber.

“Ela fica com minha mãe.”

“Os voos particulares são melhores?”

“Tem seus prós e contras.” Ela respondeu.

“Mesmo?”

“Sim, o dinheiro é melhor e as viagens são mais agradáveis, contudo algumas pessoas que veem nesses voos são realmente irritantes?” Calie falou com raiva.

“Irritantes?” Ele não entendeu.

“Sim, a maioria dos homens que vêm aqui são endinheirados e pensam que podem comprar tudo, pensam que tudo está à venda, inclusive as mulheres.”

“Lamento ouvir isso, alguns homens são irritantes mesmo, na verdade eu também não gosto desse tipo de gente, eles são uma vergonha ao resto do time, mas eu garanto a você que ainda há bons caras por aí.”

“Será? Os bons já são casados ou não existem.”

“Hahaha, não perca a fé, as vezes só basta procurar um pouco mais.”

“Com que tempo? Ou eu estou voando, ou tirando o atraso com a minha filha, é difícil achar homens no céu, eles não voam sabia?” Ela brincou.

Os dois conversaram por horas, ela queria saber mais e mais sobre suas aventuras, Tyler contou-lhe sobre seus dias no Vietnã e depois sobre suas viagens pelo mundo.

Calie ficou maravilhada em escutar cada história narrada por Tyler, ela tinha ido a muitos países devido a sua profissão, porém conhecia muito pouco deles, muitas vezes só passava uma noite num local e nem tinha a oportunidade de conhecer cada lugar corretamente.

“O que quer de almoço?” Ela perguntou quando se deu conta das horas.

“Qual o cardápio?”

“Faisão ao molho de laranja com purê de batatas e vegetais cozidos no vapor ou steak beef com vegetais frios.”

“Qual você quer?” Ele indagou.

“Como assim?” Ela não entendeu.

“Não quer me fazer companhia, que grosseria…” Tyler fingiu estar magoado.

“A empresa tem a comida dos funcionários separado, não precisa se preocupar.”

“Não estou preocupado, só queria sua companhia, vai me acompanhar?”

“Se é assim, eu vou.” Ela disse aceitando.

Servidos de um bom vinho, a conversa fluiu por uma quantidade de tempo desconhecida para ambos, Calie que amava uma boa história sempre fazia Tyler ser o centro da conversa

“O comandante Trevor está perguntando se o senhor vai querer pilotar um pouco antes que cheguemos no espaço aéreo de Honolulu?” Andrew perguntou.

“É claro que eu vou, como eu perderia uma chance como essa?” Ele respondeu se levantando.

Tyler entrou na cabine e cumprimentou Trevor, ele sentou-se na poltrona do copiloto. “Esse é o avião mais legal que eu já pilotei.”

“Quais os aparelhos que tem o costume de pegar?” Trevor quis saber.

“Atualmente tenho um cessna caravan, mas já pilotei muito o cessna 206, quando passei um tempo com os garimpeiros na floresta amazônica!”

“Você pilotou lá?” Andrew estava chocado.

“O que tem de tão especial lá?” Calie perguntou sem entender nada.

“Os caras lá tem a fama de serem loucos, é quase como o velho oeste da aviação!” Andrew respondeu.

“Ou piratas do céus!” o copiloto completou.

“Hum??? que loucuras vocês faziam lá?” Ela estava curiosa.

“Lá é muito difícil abrir clareiras grandes o suficiente para fazer pistas de pouso, quando muito dá elas são curtas e só são o suficiente para pousar.” Tyler disse.

“Só para pousar e como faziam para decolar?” Ela perguntou.

“Hahaha, a gente põe o avião no começo da pista com a calda dele amarrada em uma árvore bem grossa, depois liga os motores ao máximo. Quando o avião está pulando como um touro louco, um cara sem juízo corta a corda com um facão!!”

“Céus!!” Calie estava desnorteada, quase chegou a dizer que era mentira quando viu os dois pilotos rindo.

“É uma sensação muito ruim, depois que a corda é cortada, você cola no banco devido ao tranco, a linha das árvores fica vindo na sua direção e você luta para que os flaps te façam subir o mais rápido possível!” Tyler balançou a cabeça enquanto lembrava dessas loucuras.

“Mas isso não é perigoso?” Ela perguntou.

“Sim, de vez em quando tem um que se esborracha na copa das árvores, eu fiz isso umas 15 vezes, nas duas últimas voei tão baixo que o escutei os galhos arranhando a fuselagem!”

“Nossa!!!” Dessa vez foram os dois homens que falaram surpresos.

“Aquilo era agoniante, não fiz mais isso depois dessas.”

“Já caiu alguma vez?” Trevor perguntou.

“Sim.”

“Qual foi o problema?”

“Pane seca, acredita?” Tyler respondeu.

“Pane seca não é falta de combustível?” Calie falou.

“Sim, isso mesmo.”

“Você se esqueceu de abastecer?” Ela quis saber.

“A situação foi a seguinte, eu ia jogar a carga em um garimpo e voltar, lá às vezes eles estão tão dentro da mata que não dá para chegar lá de nenhum outro jeito, então você só abre a porta do avião e despeja tudo lá quando passa por cima. Eu e um colega meu nesse dia, o local ficava quase no limite do alcance da aeronave, fomos para lá, fizemos a entrega e voltamos, na volta houve uma tempestade tropical muito forte e por causa dela eu gastei muito mais combustível do que podia, faltando dois quilômetros para a pista eu cai num rio… graças a Deus eu vinha seguindo o rio.”

“Se machucou?” Calie perguntou aflita.

“Tive um supercílio cortado, mas meu amigo quebrou o braço, se me lembro bem foi o esquerdo.”

“O senhor teve muita sorte, pouso na água quase nunca acaba bem.” Trevor falou.

“Sim, tive muita sorte mesmo, como era mais perto de uma aldeia os pescadores chegaram muito rápido.”

“Tem muito jacaré, no rio?” Calie perguntou.

“Tem, mas raramente eles atacam, eu estava preocupado com a largura do rio, no trecho em que cai eram mais de 4 quilômetros, era quase impossível eu atravessar, e ainda tinha a correnteza.”

“Como é largo, os rios são tão largos assim?”

“A bacia amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo, os grandes rios dela são gigantescos, quando o rio amazonas deságua no mar, por mais de 70 quilômetros a água ainda é doce, dentro do mar!”

“Eu quem peguei esse avião na fábrica, na volta eu voei baixinho, é realmente impressionante.” Travor falou.

“Nunca voei sobre floresta, já visitei o Brasil, mas só foi São Paulo e Rio de Janeiro.” Calie disse.

“Eu amo aquele local, é um dos meus cantos preferidos.” Tyler disse.

“Se eu soubesse que o senhor era tão experiente assim, teria deixado decolar.” O piloto falou.

“Sério? Então me deixa pousar!” Tyler não perdeu a deixa.

“…” o piloto estava com uma cara estranha, se arrependendo porque tinha deixado escapar essa.

“Vamos lá, você me dá todos os parâmetros do avião e fica com as mãos no manche, se ficar com medo é só pegar de volta.”

O homem pensou uma e outra vez até que deixou.

Embora Tyler nunca tivesse operado essa aeronave, ela era super macia, os controles eram tão bem regulados que você sentia como se tivesse os dedos nas pontas das asas.

Tyler testou a manobrabilidade um pouco, inclinado a aeronave para ambos os lados e também subiu e desceu de altitude. “Esse brinquedo é maravilhoso.”

“Vamos pousar agora, eu te passo o vetor de aproximação e os parâmetros, certo?” Trevor falou uma última vez.

“Positivo.” Tyler respondeu.

Seguindo todas as ordens do comandante, Tyler pousou com maestria.

“Eu quero um desses!” Tyler falou e os homens riram, quem não queria?

 



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