Volume 3
Capítulo 49: Olhos que mentem.
Foi um pouso perfeito, mesmo Tyler ficou impressionado, parecia que seus sentidos estavam mais aguçados e refinados.
“Foi um pouso magnífico.” Trevor elogiou.
“Sim, verdade.” Andrew e Calie concordaram.
“Já que fui tão bem, eu podia decolar daqui e pousar em Toky.!” Tyler não perdeu a chance.
“Hahaha, só se me contar mais sobre essas aventuras.” O piloto falou.
“Ele tem muitas, eu estava ouvindo algumas lá atrás.” Calie disse.
“Eu sou velho, e um velho sempre tem muita coisa pra contar.” Tyler respondeu.
O comandante foi cuidar do abastecimento e das outras papeladas, e depois de algum tempo eles já estavam voando novamente.
Interiormente, Tyler estava analisando algumas coisas. Ele sempre foi uma pessoa que se deu bem com as outras, em todo lugar que ia tinha feito boas amizades, entretanto ultimamente isso tinha mudado.
Ele meio que desenvolveu um sexto sentido mais aguçado, agora ele conseguia fazer amizade com qualquer um muito rapidamente, parecia que seu carisma tinha sido elevado a um patamar totalmente novo.
Agora mesmo foi uma situação muito atípica, o piloto deixar Tyler pousar e decolar não era somente uma cordialidade entre aviadores. Se algo desse errado ou se a empresa descobrisse que Trevor tinha dado o comando da aeronave para outra pessoa. Seria demissão na hora.
Todavia ao contrário do esperado ele cedeu o avião e ainda ficou muito feliz em fazê-lo. Outra coisa que tinha chamado a atenção de Tyler era sua nova capacidade de perceber a índole das pessoas.
Desde que tinha atravessado o portal Tyler tinha uma percepção totalmente nova, assim que ele batia o olho em alguém, ele sabia se ela era boa ou ruim. Tinha sido desse jeito com o senhor da cidade de Atazar e com o lorde Hélio. Na primeira trocada de olhos Tyler os odiou, e em pouco tempo suas impressões se fundamentaram.
Durante as próximas 8 horas eles voaram sobre o céu azul, as condições estavam perfeitas, não havia nenhuma nuvem, esse era um fenômeno comumente chamado de “céu de brigadeiro”, apesar de muito lindo tem um certo perigo quando se sobrevoa sobre o mar. O azul-celeste reflete sobre o espelho d’água criando um infinito azul!
Se o piloto não se ater aos instrumentos, ele pode cair no oceano sem se dar conta.
O resto da viagem transcorreu sem nenhum problema, eles conversaram por horas.
“O que vocês vão fazer quando estiverem em terra?” Tyler perguntou.
“Minha esposa, pediu alguns presentes para ela e as crianças.” Trevor disse.
“Eu vou procurar alguns restaurantes, eu amo comer em outros países.” Andrew falou.
“E você Calie, vai fazer o que?” Tyler quis saber.
“Eu vou ficar no hotel mesmo, vão ser apenas dois dias aqui.” Ela respondeu.
“Não perca seu tempo num quarto de hotel, hotéis são iguais em todo o mundo. O Japão é um lugar incrível. Venha eu vou dar uma lista de locais para cada um de vocês.”
Tyler pegou um papel e escreveu os melhores locais para cada um visitar segundo os seus gostos, para Trevor que queria fazer compras ele indicou o distrito de Shibuya, um dos mais famosos locais de compra de todo o Japão, para Andrew que queria comer ele indicou o distrito de Ginza, um local muito atrativo para pessoas jovens, cheio de bares, restaurantes e lojas famosas e para Calie ele fez algo mais especial, colocou lugares lindíssimos como o palácio imperial, os jardins imperiais, o templo Meiji Jingu Shrine, a torre de Tokyo e muitos outros locais que são paradas obrigatórias para qualquer turista.
“Senhor Tyler, eu não…” Calie começou a falar com a voz fraca.
“Não era só Tyler? E você também não tinha me dito que é sua primeira vez aqui?” Ele perguntou.
“Desculpe, Tyler, é só que eu não tenho dinheiro para gastar.” Ela falou sem emoção.
“Como assim?” Tyler não entendeu, o emprego dela devia garantir um bom salário.
“Minha mãe está fazendo um tratamento de câncer, eu não posso gastar dinheiro com passeios…”
“Vamos fazer o seguinte, você pode trabalhar para mim.” Tyler disse.
“Como?” Ela perguntou.
“Eu estou querendo fazer um álbum novo dos lugares que eu já fui, tinha pensado em tirar as fotos eu mesmo, mas estarei muito ocupado.”
“E o que quer que eu faça?”
“É muito simples.” Tyler foi até a sua bolsa de roupas e pegou sua câmera fotográfica. “Eu quero que você visite cada ponto turístico de Tokyo e fotografe.” Tyler pegou em sua carteira um cartão de créditos pré-pago, ele tinha sido abastecido com 50.000 dólares. “Esse é o cartão da empresa, gaste com o que achar necessário, eu vou lhe dar 10.000 dólares por esse serviço.”
A mala de Tyler era muito estranha se você pensasse bem.
Junto com os garotos ele tinha feito uma mala para emergências. Só que diferente de uma pessoa comum que precisa de um par de cuecas extras ou meias a mais, a bagagem de Tyler se parecia mais como a de um espião, ou de um mafioso!
Ele possuía um portfólio de seis empresas falsas, cartões de crédito de limites altíssimos em contas fantasmas, maços de dinheiro vivo de vários países diferentes (a maioria dos países que ele visitaria) e para completar vários celulares. Esses últimos ele não fazia ideia de como os garotos tinham conseguido, pois eles ligavam para qualquer número do mundo em qualquer lugar.
Para ser sincero ele não queria saber exatamente como os garotos tinham conseguido arrumar todas essas coisas, até porque Tyler não era mais um exemplo de cidadão honesto.
“10.000? Como um serviço tão simples como tirar fotos pode ser tão caro?” Ela falou sem acreditar.
“Isso é muitíssimo importante para mim.” Tyler retrucou.
“Se é tão importante para você, eu vou tirar as fotos sem cobrar nada!” Calie retrucou.
“Bom, faça como quiser.” Tyler não insistiu. “Mas já que vai fazer esse favor para mim, deixe-me pagar ao menos suas despesas.”
Calie não tinha mais como retrucar, então aceitou o cartão.
Tyler deu a senha e indicou todos os seus locais preferidos, desde pontos turísticos até os locais em que ela deveria comer e a comida que ela devia pedir neles.
Questionado sobre os restaurantes, Tyler simplesmente disse que eles faziam parte do álbum, e antes de comer ela devia também fotografar o prato.
“Qual o hotel que a empresa reservou para vocês?” Ele perguntou.
“O Hilton.” Ela respondeu.
“É um bom hotel, mas não vai te dar o sentimento de estar no Japão, eu vou ficar em um ótimo, ele é bem tradicional e vai te dar a verdadeira experiência de estar aqui!”
“Eu não posso aceitar você me pagando o hotel!” Ela rejeitou veementemente.
“Você não vai tirar as fotos para mim?”
“Sim, eu vou, mas o que isso tem a ver?”
“Como vou ver se as fotos ficaram boas se você não estiver perto?”
“Isso… bem…. Podemos fazer de outro jeito.” Ela falou com relutância.
“Vamos lá, você não está me fazendo um favor? O que custa eu fazer um também?”
“Certo…” Ela aceitou a contragosto.
“Então estamos combinados?” Tyler perguntou.
“Sim.”
“Tome este dinheiro, não será em todo lugar que você vai poder usar o cartão.”
“…” Calie não sabia o que dizer, ela olhava com desconfiança para Tyler.
“Algum problema?” Tyler perguntou enquanto olhava nos olhos dela.
“Você é muito estranho...” Calie disse.
“Como assim, eu me visto de forma estranha, ou é meu cabelo?” Tyler fingiu inocência.
“Não se faça de desentendido. Eu tenho certeza de que isso é algo que você nunca foi, apenas não consigo entender o motivo de fazer tudo isso por mim.” Ela disse bem séria.
“Ok, você está certa, mas só em partes. Eu realmente quero umas fotos desses locais, porém eu vou ter muitas reuniões e não terei tempo livre, você vai ter muito tempo livre! Qual o problema de deixá-la ir no meu lugar?”
“Mas você está pagando todo o passeio e ainda quer me pagar por isso, estou me esforçando, contudo não encontro lógica alguma nisso!”
“Tem razão, isso não tem lógica, eu só quis fazer…” Agora era Tyler que desviava o olhar.
“Por quê?” Ela quis saber.
“Sabe quando eu entrei e você sorriu?” Ele falou mucho.
“Sim, e daí?”
“Eu disse que você tinha um sorriso lindo e uma risada agradável de se escutar, porém eu não falei o que eu achei dos seus olhos.”
“E o que tem meus olhos?” Ela franziu as sobrancelhas.
“Eles são tristes… é como se não entrassem em harmonia com o resto do seu rosto. Quando eu era jovem minha mãe sempre dizia que os olhos são a janela da alma, são eles que dizem os verdadeiros sentimentos de uma pessoa, no instante em que te vi, eu soube que era uma pessoa triste.”
Calie não respondeu, mas Tyler podia ver ela lutando com todas as suas forças para conseguir reter as lágrimas teimosas que queriam sair, e depois de um tempo ela perdeu a luta deixando-as rolar livremente.
“Nem sempre a vida das pessoas é feliz Tyler.” Ela disse, enquanto enxugava o rosto.
“Deixe-me te contar uma coisa, a vida nunca vai ser sempre feliz ou boa, no geral ela tem mais pontos ruins do que bons, mas cabe a nós fazermos com que os bons sejam mais relevantes que os ruins. Os nossos poucos momentos bons têm que valer muito mais que os maus.”
“Mas… e…” Calie não estava conseguindo formular nenhuma frase corretamente.
“Eu perdi meus pais cedo e vivi sozinho minha vida quase toda, apesar de eu não me preocupar com dinheiro na maior parte dela, eu ainda sim tinha vários vazios dentro de mim.”
“Eu sinto isso também.”
“Isso é a falta de um propósito maior Calie, passeie bastante aqui, esse é um dos lugares mais lindos e interessantes do mundo, tire esse tempo para você.”
“O que você ganha com tudo isso?” Ela perguntou.
“Bem, ultimamente eu percebi que ganhei muito da vida e não faz mal dividir com quem não teve muito dela.”
Calie ficou sem responder por um bom tempo, apenas olhando o azul-celeste pela janela. “Obrigada.” Ela disse por fim.
“De nada, quer outro concelho?”
“Sim.” Ela assentiu.
“Quando alguém for lhe dar algo, aceite logo. É um saco ficar discutindo com você!” Tyler disse sorrindo.
“Eu vou tentar.”
“Por favor, apertem os cintos, iremos pousar.” A voz de Trevor veio pelos alto-falantes anunciando o fim da viagem.