Volume 1
Capítulo 4: Bons negócios.
Quando Tyler acordou pela manhã, ele se sentiu um tanto diferente, pensou por alguns momentos, mas não descobriu o que era.
Ele estava cansado e um pouco dolorido, mas pensou que devia ser resultado do vinho barato com o colchão de palha.
Tyler olhou pela janela e ficou vendo aquelas pessoas indo e vindo, cuidando de suas próprias vidas.
“Quanto tempo será que levaria para essa sociedade evoluir até ficar em igualdade com a terra?”
“Será que eles cometeriam os mesmos erros que nós cometemos?”
As guerras, a fome, a desigualdade, o preconceito, intolerância, etc.
Enquanto tinha uma reflexão filosófica, Tyler pensou em sua própria vida, ele era em sua opinião, um inútil sem família. Também era verdade que ele possuía mais de uma dezena de faculdades, e mais de uma centena de outros cursos, contudo, quando ele morresse quem iria se lembrar dele? Quem iria se importar ou chorar por ele? Ou simplesmente quem poderia receber o mínimo do conhecimento que ele podia oferecer?
Outra pergunta surgiu pequena, mas logo se tornou inquietante na sua mente. O que aconteceria se ele tomasse as rédeas desse mundo?
A pergunta era bem simples, entretanto a resposta era impossível de ser dita. Com um longo suspiro Tyler aceitou essa ideia, o antigo homem inútil e sem ambições, agora vai governar esse mundo!
Tyler se sentou e começou a formular um plano, ele precisava saber se estava preso nesse mundo, ou se ele poderia voltar, ou mesmo ir e vir quando quisesse. Ele estava certo do que poderia fazer com todo o seu conhecimento acumulado, a história e seus anos de vida tinham mostrado que conhecimento é de fato a arma mais poderosa do mundo.
Ele queria ir imediatamente de volta para a montanha, mas tinha feito um acordo com aquele vendedor então só podia partir amanhã, ele saiu do seu quarto e foi ao mural da guilda.
Haviam alguns pedidos interessantes, catar ervas medicinais, fazer trabalhos manuais, caçar algumas bestas específicas, ou livrar certas cidades de monstros. As mais baratas tinham o valor de poucos cobres, já outras valem milhares de ouro.
Tyler viu uma missão em potencial, o anúncio dizia que uma cidade a uns 60 km (ele não sabia como, mas quando leu aquela distância sentiu que seria equivalente a 60 km) uma família de trolls estava atacando tudo, e até os soldados reais não foram capazes de matá-los. A recompensa seria de cinco mil moedas de ouro mais um título de nobreza.
Tyler tinha muita experiência em manipular substâncias químicas em partes muito pequenas e ao longo dos anos ganhou uma certa habilidade em adivinhar o peso de pequenos objetos, ele estimou que uma moeda de ouro pesava em torno de cinco gramas, um grama de ouro 24k vale em média quarenta dólares, uma moeda valeria duzentos dólares e as cinco mil valeriam um milhão de dólares.
Um milhão… Isso era tentador demais.
Tyler nunca caçou nada maior que um veado, aquela fera que tinha matado por acaso era sua maior façanha. Quando voltou da guerra ele começou a praticar tiros de longa distância e outros cursos táticos, em casa ele tinha um rifle de precisão Barrett M82A1 que é um monstro calibre 50, sua bala atinge um alvo com a força de duzentos e trinta e três quilogramas, porém, existiam munições especiais vendidas que chegariam a causar mil e duzentas quilogramas de força na hora do impacto, se isso não fosse capaz de matar um troll, Tyler não tinha ideia do que seria capaz.
Para conhecer melhor seu adversário ele comprou um livro próprio para aventureiros, era como se fosse uma enciclopédia onde falava sobre vários tipos de criatura, seus hábitos e como derrotá-los.
Ele se espantou um pouco percebendo que as descrições condizem em muito com parte das lendas, os trolls, por exemplo, seguiam o clássico descrito no folclore norueguês. Bem, existem três tipos de trolls, os das florestas, os das montanhas e os dos pântanos.
Os trolls das florestas são os mais altos, medindo de dois a seis metros de altura, podendo ter mais de uma cabeça à medida que envelhecem, sua pele tem um tom esverdeado podendo ter musgos presos sobre ela.
Os das montanhas tem um temperamento bem mais agressivo, vivem em cavernas e tem sua pele em um tom acinzentado, são relativamente mais baixos que os das florestas.
Os dos pântanos vivem nas regiões alagadas, são consideravelmente mais raros, tem a pele em um tom arroxeado e recoberto por algas, sua altura é mais baixa de todos, contudo sua força bruta é mais explosiva além de serem bons nadadores.
Pela descrição da missão e das informações do livro, Tyler imaginou que se tratava de trolls montanheses, ele estava certo que poderia acabar com aquele grupo facilmente se estivesse protegido em uma área elevada a uns quinhentos metros de distância.
Na manhã seguinte Tyler foi se encontrar com Noeru o caçador cuja a vida do filho tinha sido salva por ele, quando se separaram ele tinha lhe dito que morava fora dos muros da cidade perto do portão leste. Não foi difícil encontrá-lo, Noeru ficou bastante feliz em recebê-lo.
A gratidão era óbvia nos olhos daquele homem. — Estou querendo fazer uma missão e preciso de um guia, quer me acompanhar?
— Sim claro, qual missão? — Ele estava animado com a oportunidade de retribuir o favor.
— A missão dos trolls!
A atmosfera da sala ficou silenciosa ao ponto de se ouvir um alfinete caindo no chão, o caçador sentiu suas costas molharem de suor…
— Grande mestre… — O caçador engoliu seco. — Eu sei que o senhor é um grande alquimista, mas essa missão não é de maneira nenhuma fácil.
— Estou ciente dos fatos, contudo, gostaria de ouvir um pouco sobre o que já aconteceu. — Tyler falou calmamente, talvez fosse ignorância sua, contudo ele não mostrava nenhum sinal de medo.
— Faz cerca de cinco anos que essa missão está de pé, dizem que esses trolls vieram das terras dos anões, no começo até o exército real tentou derrotá-los, mil homens foram mandados e apenas um punhado voltou, nosso rei já é velho e não tem mais nenhum filho, ele achou melhor abandonar aquela área, dizem que se alguém derrotar aquele bando pode até ser o futuro herdeiro, nesses anos alguns dos mais corajosos aventureiros tentaram, no entanto ninguém voltou!
— Eu tenho um modo de vencê-los, pode confiar em mim, eu apenas preciso de alguém que conheça bem a região, se você não puder ir, por favor me indique alguém. — Tyler ofereceu uma solução.
— Senhor, para ser sincero eu conheço bem aquele lugar, minha mulher nasceu naquela região e eu morei lá por alguns anos. — Noeru falou com sinceridade, apesar dele estar relutante em se aventurar com esse velho, ele ainda tinha que ser correto com o homem que salvou a vida do seu filho.
Mas por mais educado que ele fosse, essa missão não era nada mais que morte certa! Quantos homens de coragem tinha morrido em vão?
— Não se preocupe, meu plano é basicamente criar uma armadilha, se tudo correr bem, estaremos a uma distância bem segura.
— Senhor eu não quero ser desrespeitoso, porém muito mais pessoas do que eu possa contar já tiveram ideias semelhantes.
— Eu meio que entendo seu receio… — Tyler disse com um suspiro, só com palavras ele não convenceria. — Olhando para um velho como eu, você diria que eu sou capaz de matar uma fera como aquela que atacou seu filho? — Tyler perguntou tocando no ponto fraco daquele homem.
— Não… — O coitado do caçador não tinha como negar, ele mesmo não acreditou que aquele velho homem tinha matado uma fera tão grande como aquela.
Tyler não queria insistir muito neste ponto, ele sabia que mostrar era melhor que falar.
— Que tal fazermos o seguinte, eu vou conversar com o senhor Shu e depois de dois dias te encontro aqui, pode ser?
O pobre homem balançou a cabeça concordando, o que ele podia fazer? Ele tinha uma dívida de gratidão com aquele velho, e definitivamente ele encontraria um jeito de retribuir o favor.
Pouco tempo depois Tyler retornou a guilda de comércio, quando entrou na loja o senhor Shu estava eufórico andando de um lado para o outro.
— Grande mestre, estava lhe esperando, venha sente-se e tome um chá!
Tyler se sentou e bebeu um pouco, aquele chá ele tinha de admitir que era muito bom mesmo, além da qualidade superior, ele podia sentir um certo refrigério e uma sensação de energia se acumulando na base do seu estômago.
— Esse chá é realmente muito bom! — Tyler louvou.
— AHH… que bom que gostou, ele é feito de lírios com mais de duzentos anos, foi comprado por mercantes no além-mar, nos elfos! — O senhor Shu disse com orgulho.
— Creio que isso não é barato! — Tyler suspirou.
— Ora não leve essas coisas bobas em consideração! — O gerente balançou as mãos indicando que isso não era nada.
— E então vamos fazer negócio? — Tyler foi logo ao assunto, pois não aguentava mais ver a agonia do homem que balançava sem parar a perna.
— Se o grande mestre insiste! — O homem agradeceu interiormente. — Devo avisá-lo que os meus superiores nas guildas de comércio ficaram verdadeiramente deslumbrados por todos os seus produtos e propostas, estão dispostos a fazer a compra com o senhor, devemos apenas fechar os preços.
— Ótimo, fico contente com a notícia.
— Nosso primeiro item pode ser aquela pena especial que o senhor tem!
— O nome correto é caneta, quantas moedas vocês estão dispostos a pagar por ela?
— Estamos dispostos a pagar dez moedas de ouro e queremos cem unidades.
Tyler se surpreendeu com o alto valor! Em suas contas rápidas só essa caneta aqui valeria algo por volta de quatrocentos dólares!!! Tyler já estava lucrando, mas ele como bom economista sabia o preço de equilíbrio das coisas, ele achava melhor vender muito mais produtos a um menor preço do que poucos a um valor maior.
— Tenho outra proposta, posso dizer?
O homem instantaneamente gelou, ele sabia que mesmo aquele valor sendo alto, devido à raridade do item esse senhor podia subir o preço.
— Sim claro… — Ele gaguejou.
— Eu faço pelo valor de apenas duas moedas, contanto que me comprem no mínimo mil unidades de cada vez!
O gerente ficou espantado por uns segundos e então relaxou, sua mente de vendedor tinha feito rapidamente as contas e embora ele fosse pagar mais com esse valor, ele poderia lucrar muito!
— Não vai ser tão simples, entretanto eu aceito. — Ele tentou soar como se estivesse perdendo.
— E quanto ao tecido?
— O senhor vai trazer a veste pronta ou a peça de tecido?
— Qual prefere?
— Achamos o corte e o formato muito belos e sem igual, queríamos muitas delas! Pagamos cinco moedas de ouro por cada.
— Concordo com o preço, mas o pedido mínimo deve ser de mil peças! — Dessa vez Tyler não regateou com o valor pois achava que a blusa devia valer esse valor mesmo, pois como andou vendo no mural de pedidos, algumas peles de animais mágicos podiam ser usadas para fazer roupas e armaduras e transferiam seus atributos a roupa, os tecidos de Tyler apesar de serem finos e bonitos não tinham nenhum poder mágico.
— Por mim não há problemas. — O vendedor concordou.
— O perfume continua o mesmo valor que combinamos anteriormente, não é?
— Sim — Ele assentiu.
— Só tenho mais um pedido.
— E qual é, meu senhor?
— Quero receber tudo em prata.
Tyler não era louco e nem um viciado em prata, ele estava usando apenas as leis desse mundo. Por alguma razão a taxa de câmbio aqui afirmava que uma moeda de ouro valia cem moedas de prata, todavia na terra não era assim.
Veja bem, uma moeda pesa cerca de 3,5 gramas, 3,5 gramas de ouro valem cerca de cento e quarenta dólares dependendo da cotação do dia e 3,5 gramas de prata vale 5,70 dólares. Viu a diferença entre ser rico e mais rico ainda?
Só para ser igual, a prata tinha que valer 1,40 dólares, cem vezes menos. Assim Tyler ia ganhar muito mais.
— Claro sem problemas. — O homem achou estranho, mas não ousou fazer nenhum questionamento, afinal toda pessoa poderosa é assim, cheio de excentricidades.
Depois de ter acertado tudo, Tyler se despediu e foi na direção da montanha.