Volume 1
Capítulo 5: Batalha Selvagem e Portal.
Tyler também era botânico e andando dentro desta floresta ele percebeu uma coisa bem estranha. Quanto mais ele adentrava na mata, mais verde e vivas as plantas ficavam, era como se houvesse alguma coisa nutrindo as árvores, para olhares mais desatentos era imperceptível, mas para ele, era fácil.
Era como diferenciar uma floresta de um jardim, aqui as plantas pareciam ser cultivadas na perfeição. Era quase como se alguém estivesse dando a elas adubo e água na perfeição.
Durante toda caminhada Tyler mantinha seu revólver em mãos. Agora ele estava bem mais preocupado, parece que o conhecimento nem sempre é uma benção…
Aqui nessa floresta haviam monstros muito perigosos, lobos maiores que cavalos, macacos gigantes, cobras da espessura de um homem e também pequenas criaturas venenosas.
Em uma parte do livro que ele comprou falava sobre plantas medicinais, algumas descrições falam sobre efeitos milagrosos como restaurar a visão, a saúde, voltar a crescer membros amputados, aumentar a vida e o vigor de um homem. Certas plantas tinham que ter mais de cem anos para estarem maduras, outras quinhentos ou mesmo mil.
Mesmo com tantos efeitos absurdos descritos, Tyler não os desacreditou em tudo… Bom, ele achava que não estava mais em posição de negar os fatos diante de seus olhos. Ele tinha sido transportado para um mundo totalmente diferente do seu, se isso não fizesse um cético acreditar, é melhor bater com a cabeça dele em uma parede.
Quando Tyler estava se aproximando da montanha, ouviu um rugido alto e grave próximo dele. Era o mesmo barulho que havia escutado no dia em que chegou.
— Um demônio de costas azuis. — Ele sussurrou para si, reconhecendo a fera.
Tyler já tinha aprendido o nome dessa besta, parece que ela era muito temida por aqui, ficando atrás apenas dos lobos gigantes que atacavam em matilha.
Munido apenas com o revólver ele não negou que tenha ficado um tanto apreensivo. Embora seu revólver fosse muito bom e tivesse um calibre potente, era só um revólver com um tambor de cinco munições. Em uma situação de risco, cinco tiros não representam nada.
Tyler estava muito familiarizado com florestas densas e altas, quando jovem ele tinha servido no Vietnã e depois quando mais velho viajou o mundo todo, tinha aprendido muito com índios brasileiros na floresta amazônica. Sua postura relaxada se tornou mais séria, era como se tivesse entrado em modo caçador, agora ele pensava em cada passo, evitando cada galho e folhas secas. Agora ele era um fantasma!
Movendo-se de árvore em árvore sempre protegendo sua retaguarda ele ouviu novamente o rugido.
— Está mais próximo agora! — Enquanto Tyler estava lamentando sua sorte, ele ouviu um grunhido forte e alto, seguido de um quebrar intenso de galhos.
Outro animal? Esse barulho era claramente diferente, se escondendo e andando devagar ele viu as feras. Um macaco gigante estava brigando contra um demônio de costas azuis.
Pelo visto a luta tinha acabado de começar. Tyler sentiu que chamar aquilo de macaco era eufemismo, aquela fera era um gorila gigantesco, pelo menos o dobro maior que um gorila africano. Tirando sua pelagem branca e o tamanho, não viu diferença alguma para um gorila da Terra.
O demônio de costas azuis era maior do que aquele que tinha matado. A briga estava bem feia, o macaco pulava das árvores e tentava acertar nas costas do outro, Tyler não sabia quem estava perdendo ou ganhado, um mordia e arranhava com suas longas garras, já o outro socava forte as costas do outro.
Embora os socos desferidos pelo macaco tivessem um poder maior e mais se pareciam com marretadas, eles acertavam justamente o pelo azul espesso e resistente.
Enquanto a briga corria, Tyler viu pelo canto dos olhos um pequeno borrão vermelho longe, embora ele estivesse muito curioso não podia ser descuidado e esquecer desses dois titãs na sua frente.
Por mais quinze minutos a briga continuou, até que o macaco gigante usou um galho caído como uma clave.
Pááá… Pááá… Pááá…
Os três golpes dados pelo macaco foram tão fortes que Tyler literalmente sentiu o som com suas entranhas.
As pancadas foram para onde um dia foi a cabeça da outra fera. Mesmo tendo ganho, o macaco não estava em bom estado, seu corpo tinha ferimentos severos, sangue escorria de todo o seu corpo, lhe dando um tom vermelho assustador.
Tyler tinha pensado que essa briga tinha sido alguma questão territorial, algo muito comum com grandes predadores.
Mas o que ele viu a seguir foi muito estranho. O macaco gigante mordeu a nuca do demônio arrancando um grande pedaço de carne, depois cuspiu e remexeu com os dedos até encontrar uma pedra violeta na base do pescoço.
Segundo o que tinha aprendido, ele sabia que aquilo era um núcleo de besta, no livro dos aventureiros dizia que apenas quando uma fera atingia certa idade ela gerava esse núcleo onde estava guardada toda sua força vital! Os alquimistas tinham grande apreço por elas, pois dizia-se ser um dos ingredientes principais para elixires milagrosos.
O macaco andou cambaleando até o borrão vermelho que Tyler tinha notado mais cedo.
Bem devagar Tyler caminhou até achar uma posição melhor, agora ele podia enxergar, o macaco estava cavando a terra e enterrando o núcleo perto do borrão vermelho, aquele borrão era uma planta, Tyler nunca tinha visto uma planta tão esquisita.
Seu vermelho era intenso e mesmo sob o sol tinha uma luz própria muito forte, mesmo não tendo mais que quinze centímetros de altura, emitia uma aura poderosa. Tyler não pôde mais se conter, ele queria muito ver de perto essa plantinha.
Ele se escorou de pé em uma árvore e mirou. Da primeira vez que matou algo nesse mundo foi por pura sorte, dessa vez não! Mesmo depois que saiu do exército ele nunca deixou de atirar, sua mira era com certeza melhor do que antes, enquanto estudava ele também praticava e fazia alguns cursos de tiro esportivo, mesmo que seu ponto forte fosse tiros a longa distância com rifles de precisão, esse alvo não tinha como escapar.
Tyler controlou as batidas do seu coração, mirou na cabeça do bicho e relaxou sua respiração até se estabilizar, então.
Poww… poww… Com apenas dois tiros a cabeça do macaco virou geleia!
Tyler ficou quieto por mais alguns segundos temendo que mais alguma fera tivesse a mesma ideia que ele.
Quando se aproximou, ele viu que o macaco tinha feito um pequeno canteiro para aquela planta, um muito bom para ser sincero.
Havia um círculo de mais ou menos 1,5 metros de diâmetro feito com pedras e, dentro do círculo a terra era bem diferente, era negra, só batendo o olho Tyler sabia que essa terra era muito rica em material orgânico, ou seja, o macaco adubava muito bem.
Tyler puxou seu pequeno canivete e cortou a carne daquele macaco procurando também por seu núcleo. O núcleo do macaco não tinha diferença na cor, era violeta como a do demônio, mas em vez de ter o tamanho de uma unha ele era quase metade do dedão de um homem.
Curioso ele cavoucou a terra daquele pequeno canteiro, dezenas de núcleos estavam ali, uns eram novos e brilhantes, outros eram velhos e opacos, estavam quase se esfarelando.
— Isso pode ser usado como adubo? — Ele pensou em voz alta.
Tyler tirou um pequeno saco do bolso de seu casaco, era um saco tipo zip lock, Tyler sempre guardava um no seu bolso para alguma eventualidade.
O saco tinha uma capacidade de 2 litros, pensando em transplantar a pequena muda ele foi bem devagar remexendo e cavando sem danificar as raízes, no fundo do saco ele pôs alguns núcleos, depois terra e mais núcleos. Fazendo pequenas camadas, como já tinha deduzido essa planta era especial, e parecia ser nutrida por esses pequenos cristais.
Mesmo valendo um bom dinheiro Tyler não ligou o mínimo por perder esses cristais, o valor que conseguira fazendo comércio era muito alto e essa plantinha tinha aguçado muito sua curiosidade. Ele a regou com um pouco de água do seu cantil, colocou os núcleos que sobraram em seu casaco e continuou para a montanha.
Sua subida foi muito suave e tranquila, ele definitivamente suspeitava agora, como uma montanha selvagem tinha um caminho tão fácil? Mesmo um carro de passeio podia subir ali.
Tyler ficou na entrada da caverna de onde tinha saído, talvez pela surpresa daquele dia ele não notou os detalhes. A entrada tinha um formato de arco perfeito, era como se tivesse sido feito por homens.
O interior da caverna era amplo e espaçoso, como geólogo Tyler havia visitado centenas de cavernas em sua vida, mas nenhuma se comparava àquela. Parecia que alguém tinha construído com muito trabalho. Por quase dois quilômetros ele caminhou até a reentrância, era exatamente no meio do caminho, era um grande arco demarcando os dois lados. Quando ele passou por aqui era noite e ele só tinha a luz de sua lanterna, agora mesmo não sendo tão claro ele viu uma inscrição feita na pedra, era uma grande espiral feita de pequenos riscos, e algumas palavras em baixo.
“Por aqui o campeão deve passar, após a luz apagar o caminho se fechará!” Tyler pensou naquelas palavras e achou muito curioso.
“Após a luz se apagar? Que luz era essa?” Tyler desligou sua lanterna para que “essa” luz pudesse aparecer. Quando ele desligou sua lanterna os riscos da espiral brilhavam fracamente.
Tyler passou os dedos em cima e um pouco de pó saiu, deixando a luz mais intensa.
Ele deixou sua preciosa muda no chão e começou a limpar toda espiral. Ela era composta por exatos duzentos riscos. Dois deles não emitiam mais nenhuma luz.
Tyler se sentou e ficou olhando, “O que era isso?”
Dois estavam apagados, e fazia dois dias que ele tinha passado por aqui… “Será que???”
Então algo se iluminou em sua mente. — Eu tenho 200 dias para que esse portal se feche? — Tyler não pode deixar de exclamar animado, isso era bastante tempo. — São mais de seis meses!
Desde que havia acordado nesta manhã, ele tinha um desejo diferente dentro de si. Ele queria se mudar de vez para esse planeta, queria mudá-lo e conquistá-lo!
Tyler ria de seus próprios pensamentos, antes ele estava pensando em vender tudo e morar num retiro para aposentados na Flórida.
— Retiro Sunshine que se foda!!! — Tyler gargalhava, quem queria terminar esquecido em um asilo?
Ele caminhou alegre fazendo seus grandes planos, tudo estava como na noite em que saiu, só a fogueira apagada que indicava que ele tinha partido.
Ele nem se deu o trabalho de desmontar a barraca, apenas pegou o essencial e partiu para casa com seu Ford branco.
Tyler nasceu em Arlington, mas hoje ele vivia em uma pequena cidade relativamente perto de Houston. Ele tinha se mudado para lá a uns cinco anos atrás quando terminou sua última faculdade.
Sua casa era na parte mais afastada da cidade, um terreno grande, cerca de cinco hectares.
Tyler tinha tudo o que precisava ali, uma pequena horta, energia solar, uma oficina bem grande e uma pequena pista de pouso para o seu avião, um Cessna antigo.
Tyler entrou em casa e sentou-se no sofá por alguns instantes. Sua casa não era muito organizada, ele tinha de admitir, contudo, não havia sujeira alguma. Apenas livros e mais livros espalhados por todo o canto, ele tinha feito várias prateleiras, na verdade três quartos do segundo andar eram apenas bibliotecas, mas os livros continuavam tomando a casa.
Ele bateu a mão no bolso da jaqueta e sentiu os pequenos núcleos.
Com um sorriso estranho nos lábios ele foi até a horta…