Volume 1
Capítulo 3: Beijado enquanto dormia!
Tyler ficou boquiaberto com aquilo, o pergaminho simplesmente teve uma combustão espontânea… “Como? Por quê?”
Ele não tinha uma resposta.
— Esse homem é um mago? — Tyler ouviu alguém falando claramente perto dele.
— Não sei, quando eu cheguei a fera já estava morta, meu filho viu tudo, ele contou que esse senhor possui uma arma muito poderosa com sons de trovão!
— Eu… posso entendê-los!!! — Tyler disse surpreso, o inglês dito por aqueles dois era perfeito sem nenhum sotaque aparente, totalmente claro e limpo.
Espantados os homens apenas assentiram a cabeça completamente boquiabertos.
— Alguém pode me dizer o que aconteceu?
— Não tenho certeza senhor, aquele pergaminho foi achado há muito tempo, ninguém sabe para o que ele servia — O senhor vestido com uma túnica violeta respondeu. — O senhor é um mago? — Ele perguntou incerto.
— Não — Tyler respondeu.
— Um alquimista talvez?
Uma coisa engraçada é que Tyler tinha certa dificuldade para se apresentar para as pessoas, pois ele tecnicamente não possuía nenhuma profissão, apesar de ter tantas formaturas. Nesse momento ele sentiu que um alquimista poderia ser considerado uma versão simplória do que seria um químico.
— Sim eu sou um alquimista…
— Haaa!!! — Os dois homens exclamavam animados como se essa resposta fizesse algum sentido.
— De qual reino o senhor veio? — O homem de túnica perguntou.
Tyler começou a sentir que tinha entrado em uma sinuca de bico, ele não queria ir dando informações demais, pois poderia acabar se complicando depois. Pela reação dos dois ao ouvir Tyler anunciar-se como alquimista, ele deduziu que deveria ser uma profissão muito rara… e por dedução tudo que é raro vem envolto em mistério.
— Vim verdadeiramente de longe, sou um alquimista errante que anda de cidade em cidade. — Tyler soltou essa mentira descarada na esperança de que colasse.
Os dois assentiram a cabeça. “Pelo visto essa mentira esfarrapada deu certo.”
— Como o grande mestre se chama? — Dessa vez quem perguntou foi o caçador.
— Eu me chamo Tyler, Tyler Newman!
— Eu sou Noeru. — O caçador se inclinou e fez uma reverência.
— Eu me chamo Shu Zoet. — O homem de túnica disse cruzando as mãos.
— Hum… bem me desculpe por aquele pergaminho eu não tenho ideia do que aconteceu. — Tyler desculpou-se, na situação em que ele se encontrava o melhor caminho era ficar longe de confusões.
— Não se preocupe tanto, ninguém sabia para o que servia, todos os dias eu olhava para aquilo e nada tinha acontecido, deve ter sido o destino! — o gerente Shu falou como se não fosse nada, contudo Tyler ainda sentiu uma sensação de perda no seu tom de voz.
— Obrigado, de qualquer forma, eu vou te recompensar mais tarde, agora eu não possuo nada de valor. — Ele tentou amansar a situação.
— O mestre tem aquele núcleo de besta. — Noeru disse.
“O que diabos é um núcleo de besta? Eu não tenho nada disso?” Ele pensou consigo mesmo, mas de repente Tyler lembrou-se daquela pequena pedrinha roxa a qual o caçador insistiu em dar-lhe. — Ah, já havia me esquecido, espero que isto possa compensar sua perda. — Tyler retirou aquela pedrinha do bolso e entregou de forma casual.
Os olhos do homem ficaram espantados quando viram aquilo, embora Tyler tratou aquilo como um objeto sem valor (o que de fato para Tyler era!) Na verdade, era algo muito precioso, um núcleo de besta. Apenas algumas espécies de bestas podiam produzir núcleos e somente depois de uma centena de anos. — Sim… sim, na verdade, acho que eu ainda tenho que te voltar algumas moedas!
O senhor da loja e o caçador ainda estavam discutindo algumas questões enquanto Tyler decidiu ver os produtos. Um fato que só agora lhe chamou atenção era que ele podia ler tudo, quando ele chegou ali ele havia passado os olhos meio de relance e não tinha reconhecido nenhuma letra ou palavra das línguas que ele conhecia, contudo, nesse momento, por mais assustador que fosse, tudo estava escrito com um inglês perfeito, Tyler olhou e ficou lendo com muito cuidado, aos poucos um sentimento brotou na sua mente, ele sabia que aquilo não estava escrito em inglês, mas não conseguia enxergar diferente de sua língua natal, até sua conversa agora a pouco com esses homens tinha sido perfeita sem qualquer sotaque perceptível, em contra parte parecia que ele também tinha falado na língua deles, e eles o tinham entendido perfeitamente.
Tyler viu alguns frascos coloridos, folhas de papéis, penas e tintas, tecidos e outras coisas bem simples, todas de baixa qualidade.
— Está interessado em alguma coisa senhor? — O senhor Shu perguntou na esperança de fazer alguma venda.
— Não necessariamente, eu estou mais interessado em lhe vender! — Tyler não estava querendo lucrar aqui, mas sim construir uma relação com esse homem e achou que essa era a melhor opção.
— O que o mestre alquimista tem para oferecer? — Agora o gerente ficou mais animado em comprar desse homem distinto do que vender seus produtos, afinal, qualquer coisa por mais simples que fosse, se fossem feitas por um alquimista dariam uma enorme soma de dinheiro.
— Aquilo ali é perfume não? — Tyler apontou para alguns frascos coloridos.
— Sim, meu senhor, e são os da melhor qualidade! — O gerente respondeu com orgulho, parecia que ele se esforçava para sempre ter o melhor.
— Posso sentir?
— Sim, por favor. — O homem entregou um dos frascos para Tyler.
Tyler levou com cuidado o frasco até as narinas, um fraco aroma de lavanda podia ser sentido. — Quanto custa?
— Apenas duas moedas de ouro! — O lojista disse animado.
O homem disse apenas duas moedas, contudo Tyler não achou que isso fosse barato e a expressão feita pelo caçador comprovou sua teoria. O perfume não devia ter mais que 50 ml e a qualidade era bem baixa, se Tyler fosse em uma loja de cosméticos e comprasse um perfume vagabundo daqueles vendidos a dez dólares o galão seria muito melhor.
— Se eu tivesse um perfume superior a esse seu em uma grande quantidade, quanto o senhor me pagaria? — O homem pensou um pouco… — O fato do mestre ter muita quantidade faz o preço abaixar, entretanto, o senhor diz que a qualidade é melhor, então eu pago as mesmas duas moedas!
— Certo, acho o preço razoável.
— O mestre tem mais algum item que poderia me oferecer? — O gerente perguntou esperançoso.
Tyler pensou um pouco e então bateu as mãos nos bolsos achando uma pequena caneta. — Eu tenho isso, te interessa?
— Desculpe a minha ignorância grande mestre, mas o que seria isso? — Ele perguntou humildemente.
Tyler decidiu florear um pouco. — Isto! — Ele ergueu a caneta fazendo drama. — É chamada caneta esferográfica, ela pode escrever mais do que cem penas e nunca é necessário colocar tinta, posso trazer nas cores azul, preto e vermelho… demais cores só por encomenda.
Tyler deu a caneta na mão dele, ele tremia enquanto olhava maravilhado aquele objeto verdadeiramente mágico.
— Vá em frente teste! — Tyler o encorajou.
Suas mãos ainda tremiam quando ele escreveu em uma folha de papel, o papel era grosso e amarelado, bem rústico para ser sincero.
— Hooo… como seca rápido, e escreve bem, é digno de ser um produto vindo de um alquimista! Nunca vi nada igual! Ouso até dizer que nem os elfos têm algo assim! — Tyler acreditou em cada palavra daquele homem pois era evidente em seus olhos a admiração e empolgação.
— Estaria interessado em tecido?
— Sim muito, na verdade desde que o senhor chegou fiquei interessado em suas vestes, posso ver?
— Claro, sinta! — Tyler esticou a blusa para que ele pudesse sentir.
— Incrível! É tão leve e macia, e a cor é tão viva. — Tyler não vestia nada demais, apenas um casaco de couro surrado, uma blusa azul de algodão, calças jeans e botas Caterpillar.
— Tenho todas as cores, e de novo o quanto quiser.
— Se eu quiser uma carruagem de cada o mestre teria como me vender? — O homem falou meio inseguro, aqueles objetos que esse senhor tinha eram todas coisas raras e esse tecido era digno de vestir até um rei! Seria fácil assim conseguir grandes quantidades delas?
— Se fosse dez ou mesmo cem não seria problema para mim. — Tyler o tranquilizou.
O coitado do gerente quase teve um infarto quando ouviu.
— Grande mestre eu faço parte da associação dos comerciantes do reino leste, para pedidos tão grandes eu teria que me reunir com eles, o senhor me esperaria, em no máximo três dias eu voltaria com uma resposta definitiva.
— Sim claro. — Tyler respondeu.
Após esse acordo o gerente levou sua camisa e a caneta, Tyler ficou com 50 moedas de ouro e um quarto numa hospedaria ali mesmo naquele complexo de lojas.
Nesse tempo ele resolveu ficar inteirado desse novo mundo em que estava. Na taverna da cidade ele pediu um jarro de vinho e ficou sentado numa mesa escutando as conversas das pessoas por lá.
Sua primeira descoberta era em relação aos valores das moedas, tinha as de cobre, prata e ouro, cem cobres era o mesmo que uma prata e cem pratas era igual a uma de ouro.
A segunda descoberta era que um trabalhador médio da cidade ganhava em torno de trinta pratas por mês.
A terceira girava em torno da sociedade em si, como esse mundo aparentemente possuía magia e criaturas mágicas, algumas eram ruins, bem ruins mesmo, então, em algumas cidades chaves existiam as chamadas guildas. As guildas tinham um papel bem simples, se uma cidade estivesse com problemas por causa de alguma criatura, ou se alguém quisesse algum item em especial era só colocar seu pedido na guilda, se a recompensa fosse boa alguns aventureiros poderiam tentar a sorte.
E a quarta coisa era que exceto as criaturas mágicas, esse mundo era bem parecido com a terra em sua era medieval, pelo que descobriu haviam 4 reinos humanos, o Oeste, o Leste (onde estava), o Central e o do Sul (ou reino do deserto).
Havia o reino dos anões nas montanhas ao norte, contudo dizia-se que os anões eram bem arrogantes e orgulhosos, pouco se envolvendo com os homens e para o leste no além-mar dizia-se existir elfos, eram raras as pessoas que já tinham visto algum
e aqueles que tinham sorte de ganhar a confiança deles para fazer trocas comerciais eram mais raros ainda.
Tyler ainda estava descrente com essa magia toda, tudo o que tinha visto era uma fera esquisita, seu nome pelo que soube era demônio de costas azuis. Segundo o mural de pedidos, um grande bando surgiu nas florestas das redondezas e estavam atacando caravanas e fazendas na região, sua recompensa era paga pelo próprio reino que dava cerca de dez moedas de ouro por cada criatura morta.
Naquela noite Tyler foi dormir cedo, o vinho era muito ruim (ele achou que estava batizado com água) e estava lhe dando dores de cabeça.
O colchão de palha era desconfortável e pinicava, quando finalmente dormiu nem percebeu a mulher que flutuava ao seu lado.
— Muito bom meu pequeno Ty, aqui começa o nosso jogo, não me decepcione, tenho muita fé em você! — dDizendo isso a mulher de cabelos negros e olhos violetas se inclinou e deu um beijo nos seus lábios.
Uma brilhante luz dourada surgiu no peito da mulher como se viesse a partir de sua própria alma, caminhou para a garganta e se fundiu nos lábios de Tyler e desceu até seu peito.
O corpo de Tyler reagiu violentamente a aquela luz, como se ela fosse acompanhada de um milhão de volts, ele tremia e arqueava incontrolavelmente, todo processo levou quase uma hora o deixando inconsciente e coberto de suor.
Quase nenhuma mudança física ocorreu com seu corpo, porém, sua personalidade tinha sofrido um batismo, quase como se fosse um novo nascimento.
Tyler era um senhor calmo e pacato, nunca teve grandes aspirações, seus colegas que quase sempre eram bem mais jovens o chamavam de vovô. Agora Tyler tinha uma presença imponente e controladora, a partir de agora, as pessoas ao seu redor agora tendiam a segui-lo em tudo o que ordenasse. Enquanto dormia um sentimento incontrolável surgiu…