Volume 1
Capítulo 2: Novo Mundo.
Perplexo com a cena diante dos seus olhos, Newman caiu de joelhos enquanto usava todo seu intelecto e lógica para tentar explicar o que era aquilo.
Newman havia saído da caverna, entretanto para sua surpresa tinha se deparado não com aquele deserto ocre que tanto estava acostumado, as ravinas de arenito deram espaço a uma verde e exuberante floresta, que se estendia adiante por onde sua vista alcançava. O vento úmido trazia aquela fragrância típica, só encontrada nas matas tropicais. “Será que a caverna tinha algum gás alucinógeno?” Ele pensou incrédulo.
“Não, havia uma corrente de ar razoável, não posso estar envenenado. Eu morri? Meu remédio de pressão me deu algum efeito colateral?” Ele se fazia muitas perguntas, algumas delas eram tolas, outras não, contudo, as respostas tentavam ser lógicas a fim de esclarecer nem que seja um pouco do que ele tinha diante de seus olhos.
— Bem, uma curiosidade científica nunca matou ninguém, ficar ajoelhado aqui não vai me dar resposta alguma — Tyler disse com a voz vacilante, enquanto começou a descer a encosta da montanha, ela era suave e larga como a do outro lado, na Terra. Ele desceu e entrou na floresta, a temperatura era quente, devia estar na casa dos 30°, ele supôs, uma floresta nessas características deveria estar em uma região equatorial, a mente de Tyler corria a mil tentando desvendar sua provável localização, ele olhou para o céu procurando alguma pista, mas nada!
Roar!!!
Um rugido feroz ecoou por entre as árvores, rugido não era bem a palavra certa, era um som tão brutal e animalesco que ele não pôde distinguir de qual animal esse som pertenceria. Seu primeiro instinto foi ir na direção oposta, contudo a seguir gritos ecoaram até ele, eram gritos desesperados e agudos.
“Uma criança?” Tyler sentiu um arrepio na coluna.
Um rugido e outro grito, qualquer tolo já poderia ter imaginado qual ocasião estava se desenrolando perto dali.
Tyler correu a toda velocidade que seu corpo velho pôde lhe dar, ele sempre se exercitou e praticava esportes, principalmente artes marciais, mas nada poderia tirar todos os seus anos nas costas, que já eram setenta, seus cabelos negros agora eram brancos, seu corpo uma vez forte agora era magro e curvado, apenas uma coisa não mudou, seus olhos ainda tinham o mesmo e vivo azul intenso, uma cor que jorrava da própria alma, em sua mente Tyler nunca envelhecera um só dia!
Os rugidos e gritos estavam cada vez mais altos, e sua frequência estava cada vez maior, mostrando que a fera estava quase alcançando sua vítima.
Avançando com intrepidez pela mata, Tyler chegou numa clareira, poucos instantes depois uma criança surgiu da linha das árvores, ela corria como um raio como se sua vida dependesse disso, e de fato, dependia!
A criança avistou Tyler e correu para ele por puro instinto, buscando uma tábua de salvação, seja ela qual fosse. Quando o alcançou foi direto para suas costas procurando proteção. Tyler que a muito já tinha sacado seu revólver, apontou para a direção de onde a criança veio, ele usava seu fiel Magnum 44 cromado, o Magnum é um revólver diferente dos outros, além de seu cano ser mais longo, seu projétil é bem mais pesado, apesar de quando disparada a bala viaja numa velocidade bem inferior ao de um revólver 9 mm por exemplo, mas seu poder de destruição nem se compara, uma melancia literalmente explode com apenas um tiro e consegue perfurar o motor de um carro! Era por isso que ele a usava, fosse um urso, um lobo, um lince, rápido ele resolvia a questão. As árvores na mata começaram a balançar, o chão sob seus pés tremia, Tyler não aguentou todo aquele suspense e atirou na direção da fera.
Pow!! Pow!! Pow!!
Três disparos foram dados, o segundo e o terceiro pareciam ter acertado, pois um som horrível foi emitido logo em resposta! Animado ele descarregou todo o tambor!
Tyler abaixou a arma e esperou alguns instantes, como nada saiu da linha da floresta ele girou a arma forçando o tambor para fora, e o recarregou, esperou mais um pouco e entrou na floresta.
Dois disparos podiam ser vistos nos troncos próximos, um foi parado no tronco e a outra raspou de leve, já o terceiro era uma incógnita. As marcas de sangue e de mato pisado deram uma trilha fresca e nítida para ele. Com cuidado ele seguiu, passo após passo, a criança salva se segurava na ponta de sua jaqueta e tremia espantada, contudo não ousava sair de perto dele, nem pronunciar qualquer som. O sangue se tornava mais abundante e a trilha cada vez mais aberta, logo ele encontrou a fera que estava caída e respirava rançosamente. Tyler não reconheceu o animal, ele era enorme e podia pesar mais de uma tonelada, seu corpo era algo entre um urso e um tigre, seu pelo era branco, mas havia uma grande mancha azulada no topo das costas. Presas de mais de 15 cm se projetavam da boca. “Que diabos é isso?” Ele se perguntava, quanto mais olhava, menos reconhecia a fera.
A fera olhou para Tyler e tentou se levantar para atacá-lo, contudo tal chance não lhe foi dada, dois tiros entre os olhos foram dados, matando completamente aquilo. Tyler circulou a fera, ele logo identificou dois buracos de entrada, um na pata da frente perto onde seria o ombro do animal, e o outro seguiu na lateral pegando as costelas. “Deve ter perfurado algum órgão interno, foi muita sorte!” Ele pensou consigo mesmo e riu animado.
Os gritos de um homem tiraram Tyler do seu estado de contemplação, a criança gritou em resposta, mais uma coisa que ele se deu conta foi que não entendia nada do que os dois falavam, poucos segundos depois um homem saiu da mata, ele e a criança se abraçaram, a criança chorava e soluçava enquanto ele procurava por ferimentos nela, aquele simples gesto de preocupação dizia que aquele menino era seu parente, provavelmente seu filho.
Tyler pôs-se a analisar aquela cena, o homem tinha um arco na mão e vestia-se com vestes de couro cru mal costuradas, assim como as da criança. Ele deve ser um caçador…
O homem agora se dando conta de Tyler, falou com a criança e ela por sua vez apontava para Tyler e para besta e depois para a arma, gestos extravagantes e onomatopeias foram usadas pelo jovem que tentava explicar, o homem começou a falar coisas e se ajoelhava em agradecimento. Depois começou a apontar para a fera e para ele em oferecimento.
“Ele quer me dar? Deve ser bem importante ou valioso matar um bicho desses por aqui.” Ele pensou.
Tyler deu um sorriso e apontou para a besta e para o homem tentando mostrar que não queria, e que a estava lhe dando. O homem ficou muito grato, porém não ousou ser lento, ele avaliou o corpo da besta e começou a tirar o couro, enfiou um punhal no ânus e correu até a base do pescoço, o som emitido pelo couro foi extremamente alto parecido como um jeans sendo rasgado.
“Quão grossa é essa pele?” Tyler foi próximo ao corpo e começou a mexer nele também, pegou numa das patas e a espremeu, garras se projetaram para fora, “Garras retráteis? Um felino?” Depois foi para a cara, tinha um focinho bem pronunciado e grandes presas proeminentes. “Focinho longo? E sem bigodes? De que gênero é isso?” Não possuía rabo e a pelagem azulada era bem mais grossa e robusta que a restante. O biólogo dentro de Tyler estava vivendo um misto de euforia, alegria e incredulidade. Ele simplesmente não conseguia colocar esse bicho em nenhuma espécie ou raça conhecida, nem naquelas que haviam sido extintas ou em um possível cruzamento.
Um fato do qual Tyler estava bem ciente era que azul é a cor menos predominante no reino animal, e mesmo quando encontrada na natureza é mais popular entre insetos, aves e peixes. Quase nenhum mamífero tem o pelo azulado.
O caçador foi bem rápido e hábil separando sem grandes problemas a carne da pele, e depois quando chegou na cabeça a desmembrou do corpo, depois ficou mais um tempo olhando na base do pescoço e, por fim, achou o que procurava, era uma pequena pedrinha roxa do tamanho de uma unha do mindinho.
Ele a pegou limpou em suas vestes e entregou com grande cerimônia, Tyler tentou recusar, no entanto nessa questão o homem estava resoluto e para não criar mais nenhuma situação ele recebeu fingindo grande comoção.
“O que diabos é isso?” Essa pergunta ele tinha se feito quase uma centena de vezes desde que saíra da caverna, ao ponto de desistir de tentar entender alguma coisa e prestar atenção na situação. O caçador tinha terminado seu trabalho e enrolava a pele sobre si mesma para transportá-la.
— Noeru! Noeru! — O homem batia no peito e falava, depois apontou para o filho e falou. — Noern! Noern!
— Noeru! — Tyler apontou para o caçador e repetiu o nome que havia escutado, depois bateu no peito e disse. — Tyler… Meu nome é Tyler… Ty… ler… — Noeru sorriu e repetiu mostrando que tinha entendido.
O homem colocou aquele rolo de pele por sobre os ombros e foi indo embora, fazia sinais para que Tyler o seguisse, e assim ele o fez.
Andando por algumas centenas de metros, eles chegaram numa carroça puxada por um cavalo velho. Noeru jogou a pele em cima e subiu, a parte da frente tinha acento para somente duas pessoas, mas o homem novamente apontou para Tyler mostrando sempre grande reverência.
Em pouco tempo o homem saiu da floresta e adentrou numa estrada, seguindo nela por algumas horas, devagar no horizonte uma pequena cidade ia aparecendo, quando ele a viu claramente se espantou com o que via, uma muralha alta e homens com escudos e espadas no topo vigiando.
“Uma cidade fortificada? Espadas? Escudos? Onde eu estou?” As perguntas giravam a todo momento na cabeça dele. Uma pergunta inquieta surgiu, “Em que ano eu estou? Eu estou na terra?” As hipóteses vinham como uma enxurrada na sua mente.
Tyler fechou os olhos e pôs-se a pensar. “Bom eu não estou na Ásia, pois esse povo não tem nenhum traço asiático, a África não tinha esses tipos de fortaleza e outra vez a características raciais não batem, nem das Américas ou Oceania, talvez da Europa?
Como esse clima e a vegetação daquela floresta não batem com nenhum lugar que eu conheça.”
Prestando mais atenção nas pessoas ele viu alguns aspectos que ele achou interessante, as roupas deles eram de um pano muito grosseiro e as cores eram apagadas, pouco variadas, um azul, um verde ou amarelo, no geral eram quase todas com aquele creme característico do algodão cru.
Muitas pessoas olhavam para Tyler com uma expressão curiosa, o que não o deixou nem um pouco incomodado, na verdade ele nem tinha percebido uma vez que estava abobalhado vendo cada detalhe de cada canto por onde passava.
Noeru guiou a carroça até um grande prédio, que mais se parecia um aglomerado de pequenos prédios, a primeira impressão que Tyler teve era que se tratava de alguma espécie de galeria de comércio ou algo do tipo.
O homem amarrou o cavalo e então retirou a pele de cima da carroça, quando entrou no prédio propriamente dito, era como ele pensou, uma galeria de comércio! Tyler viu várias lojas de armas, roupas, algumas com vários frascos e plantas secas. Se dirigindo para uma de maior porte o caçador encontrou-se com um senhor de idade, Tyler sabia que aquele senhor era mais jovem que ele, porém não aparentava.
Aquele senhor olhou Tyler de cima a baixo e voltou-se ao caçador, os dois começaram a conversar e Noeru hora apontava para Tyler, hora para o animal e hora também metia os dedos no buraco feito pelas balas. O senhor de túnica ficou com aparência perplexa, metia os dedos no buraco da bala e olhava para Tyler. Incomodado um pouco com toda aquela atenção ele se virou e foi explorar o lugar, ele estava no que imaginou ser uma loja, tinha várias armas, espadas, arcos, lanças, escudos, roupas (tanto mais luxuosas como mais simples) em outro canto viu umas prateleiras com papéis, penas, tintas e outras coisas dedicadas à escrita, no centro de tudo isso havia um lugar de destaque com um pergaminho de couro contendo uma complexa grafia escrita em tinta prateada.
Sem saber da razão ele ficou hipnotizado por aquele pergaminho, ele olhava e aquilo mexia com seu cérebro lhe dando uma espécie de coceira na mente, quanto mais ele olhava, mais forte a sensação ficava, e depois quase como um insight ele o compreendeu, e o pergaminho instantaneamente se incendiou sozinho!