Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Koto Tenske


Volume 1

Capítulo 1: O inútil.

Clack  Clack  

As pedras soltas rolavam umas sobre as outras enquanto um senhor de idade subia a colina à sua frente. 

Esse senhor de 70 anos tinha um aspecto magro, porém firme. Seu nome era Tyler, Tyler Newman! 

Nascido na cidade de Arlington no Texas, ele era dono de uma incrível história de vida, ou dependendo da perspectiva na qual você analisava, era um exemplo de vida jogada fora. Sem mulher, filhos, netos ou qualquer parente de sangue vivo. Tyler se encontrava em uma fase da vida onde começava a se desfazer das suas posses enquanto ainda tinha forças para aproveitar mais um pouco o final de sua vida. 

Nesse momento ele estava em um terreno que tinha pertencido a sua família por gerações. Acampar uma última noite aqui era a melhor forma que ele encontrou de se despedir, o interessante era que os planos que ele tinha para o uso do dinheiro era bem pouco prováveis para uma pessoa da sua idade. 

Acredite ou não, ele queria o dinheiro para fazer uma faculdade. Estudar era uma das maiores paixões de sua vida, ao longo de sua trajetória, ele fez um total de 11 cursos superiores. 

O seu primeiro curso foi medicina, depois veio engenharia mecânica, engenharia elétrica, engenharia química, engenharia civil, biologia, botânica, geologia, agronomia, história e economia. Isso sem contar nos 9 idiomas que falava fluentemente, inglês, espanhol, português, francês, alemão, italiano, japonês, mandarim e latim (Até hoje ele não sabe qual foi o motivo exato de gastar tanto tempo aprendendo uma língua morta, mas, mesmo assim, ele o fez.) 

Outra coisa que se deve notar, era que cada tempo livre que ele tinha no campus era preenchido com cursos extras, podia ser qualquer um em qualquer área, desde aulas de violão, piano, judô, marcenaria, confeitaria e até mesmo o karatê. Tyler não tinha uma preferência, sua paixão estava em aprender coisas novas. 

Os motivos deles gostar tanto de estudar são um pouco incertos, quando sua mãe se casou com seu pai ela era uma professora do primário, desde cedo ela incentivou Tyler a ler muitos livros e o incentivava bastante nos estudos.  

Quando ele recebeu uma bolsa em uma das maiores universidades do país, ela ficou tão alegre que mal podia se conter. Seu pai era dono de uma pequena metalúrgica, ela era bem pequena, mas durante a guerra da Coreia, ele firmou alguns contratos militares e a Newman Mecanics, começou a crescer.  

Philipe o pai de Tyler, viu que os negócios estavam indo bem e chamou seu melhor amigo para trabalhar junto, e assim a empresa foi crescendo e se firmando. 

Quando Tyler terminou o seu período de residência, a guerra do Vietnã estava em seu auge. Levado pelo seu senso de patriotismo, ele se alistou. 

Como um clínico geral recém-formado, todos acreditavam que ele estaria seguro em um hospital militar, mas contrariando todas as expectativas, ele se alistou para as linhas de frente. 

Mesmo os seus superiores não acreditavam o porque ele estava fazendo uma loucura dessas. Ele se lembra que certa vez o sargento responsável pelo seu treinamento básico veio conversar com ele em particular. 

— Olhe filho — disse ele. — Já estamos cheios até o talo com idiotas cabeças de prego, você parece ser um pouco menos burro que o resto, se quer servir melhor ao seu país vá para um hospital militar ou siga carreira como oficial.  

Tyler apenas sorriu e descartou o conselho do superior, depois disso o bullying que sofria aumentou, tanto por parte dos seus colegas que sentiam um pouco de inveja, quanto por seus superiores que tentavam tirar da sua cabeça essa ideia ridícula de servir no meio da mata. 

Todavia ele não desanimou e com trabalho duro, pouco a pouco ele conseguiu respeito e espaço entre os seus companheiros. 

Os outros soldados tinham o costume de chamá-lo de Doc. Doc era praticamente o talismã da sorte da sua equipe, você deve notar que ter um médico no meio da selva era algo que não poderia ser comprado nem com ouro, Tyler por sua vez trabalhava duro para responder às expectativas dos seus amigos, em sua mochila pesada, ele levava mais suprimentos médicos do que munição. 

E muitas vezes foi essa mochila pesada que salvou a vida dos seus amigos. 

Depois de terminar o seu período de três anos, Tyler retornou para a América. Infelizmente com apenas 10 dias em casa um revés veio para mudar a sua vida. 

Seu pai e sua mãe sofreram um terrível acidente de carro quando voltavam de um jantar. Seu pai morreu no local, mas sua mãe ainda conseguiu chegar ao hospital. 

Ao receber a notícia ele correu como um desesperado para vê-la, quando a encontrou em uma maca, os dois sabiam que era os últimos momentos dela. 

— Mãe… — Ele a chamou com a voz carregada de emoções. 

— Ty… — Ela o viu e começou a chorar. 

— Está tudo bem, vai dar tudo certo — Ele tentou consolá-la. 

— E… eu sei que não tenho muito tempo — As lágrimas corriam livremente agora que ela via seu filho. 

— Não mãe, você vai ficar bem… — Tyler mentiu. 

— Filho eu só quero que te pedir uma coisa… — Vivian pediu. 

— Qualquer coisa… — Tyler assentiu sabendo que essa era a sua última conversa entre mãe e filho. 

— Seja feliz, é só isso que eu te peço, seja feliz! — Vivian soou mais fraca a cada palavra que dizia. — Lem… bre-se… eu te a… — E assim o brilho dos seus olhos se apagou. 

A perda dos seus pais foi um choque devastador para Tyler, ele passou dias em um estado depressivo, até que Bob o melhor amigo do seu pai foi lhe fazer uma visita. 

— Como tem passado? — Bob quis saber. 

— Estou melhorando — Ele mentiu. 

— Você sabe que Phil era como um irmão para mim, e você é como um filho que eu nunca tive, eu acho que no momento você precisa se focar em outras coisas, venha para a empresa, seu pai gostaria de te ver lá — Bob sugeriu. 

— Eu não sei nada sobre motores ou metalurgia. 

— Eu te ensino, vamos lá. Eu fico te dando suporte até que você esteja pronto. 

— Tudo bem… — Tyler concordou a contragosto. 

No outro dia pela manhã ele estava trabalhando nos negócios da família. E assim passaram-se seis meses, Tyler aprendeu com relativa facilidade como tocar a empresa. Contudo, toda noite quando se deitava ele pensava nas palavras de sua mãe, “Seja feliz.” ela disse, e naquele momento Tyler percebeu que não estava sendo feliz. 

No outro dia cedo ele foi sala de Bob. — Tio, eu gostaria de falar um assunto com o senhor...  

— E qual é? — Ele quis saber. 

— Eu preciso de um tempo fora, acho que vou voltar a estudar. Pensei em fazer engenharia mecânica, quando eu voltar posso dar o melhor de mim aqui.  

— Oh, certo, certo. Você tem todo o meu apoio, vá e estude, eu vou cuidando de tudo até você voltar — Bob sorriu feliz. 

Com essas palavras de encorajamento Tyler partiu, quando concluiu o curso ele deu uma desculpa dizendo que o curso de engenharia elétrica seria de grande ajuda. E assim ele continuou estudando. 

Depois de um tempo ele não mais deu desculpas e continuou fazendo o que gostava. Bob sabia que Tyler não voltaria e treinou um gerente substituto. 

Muitos anos depois quando Bob morreu, Tyler deixou o substituto, mas depois de um tempo ele descobriu que esse dava desfalques na empresa. 

Cansado e sem ânimo para continuar ali Tyler decidiu fechar a empresa.  

Viajando de país em país ele viu o mundo todo, trabalhou com médico na África, como piloto nas selvas amazônicas ou simplesmente passeando. 

Nesse período seus diplomas começaram a se entulhar nas paredes, e depois de um tempo encheram suas gavetas vazias. 

Sem um rumo correto, Tyler apenas viveu uma vida boêmia, sem ter nenhum vínculo com ninguém. E agora, quando fez 70 anos, ele se encontrou numa posição onde estava vendendo suas heranças de família, para poder comprar uma casa em um retiro para idosos em algum lugar na Flórida. 

Quando Tyler terminou de subir a encosta, ele encontrou uma enorme caverna. Ela era uma grande câmara, tão grande que agora quando os últimos raios solares desapareciam no horizonte, ele não podia ver nem o teto ou o fim dela. 

Uma coisa estranha que ele notou era o piso, era perfeitamente plano. E as paredes eram também perfeitas, formando um arco único e sem colunas. 

Como geólogo, ele sabia o quão difícil, para não dizer impossível, era para uma formação dessas acontecer de maneira natural. 

Largando sua mochila no chão ele começou a fazer os seus preparativos, recolheu lenha para uma fogueira e armou uma barraca. 

Depois de comer algumas linguiças assadas ele deitou-se em um colchonete e ficou olhando as estrelas. 

O céu do deserto é especialmente bom para se contemplar o céu noturno. Em seu bolso havia um pequeno panfleto.  

“Retiro Sunshine: para a melhor idade.” 

Tyler sabia o quanto era frustrante viver em um lugar assim, aquilo não passava de um lugar onde os filhos jogavam seus velhos para morrer. Mas o que ele poderia fazer? 

Pensando na vida e olhando para as estrelas, ele teve um estalo. — Astronomia! — Tyler quase gritou quando se decidiu. 

— Sim, esse é um curso perfeito — disse ele para si mesmo. 

— Isso meu campeão, nosso jogo vai começar! — No céu, deitada numa nuvem uma mulher tinha um sorriso de deleite nos lábios, a alegria era evidente em seus olhos violetas.  

Observado aquele senhor ela parecia estar muito animada, era quase como se ela estivesse esperando por esse momento à eras. 

Quando o seu relógio de pulso apitou meia-noite, um forte tremor sacudiu a montanha. 

Rumble Rumble  

Assustado Tyler se levantou, e antes que pudesse se acalmar, ele sentiu uma grande lufada de ar fresco vindo do interior da caverna. O vento era tão intenso que apagou sua fogueira. 

Dividindo-o entre o medo e a curiosidade, ele se perguntou se deveria dar uma olhada ou não. 

Passando a mão na cintura e sentindo sua 44 Magnum, ele decidiu se averiguar. 

Tyler era um texano e veterano de guerra, em outras palavras, ele ia armado até para mijar. 

Usando uma pequena lanterna com suporte, ele andou. Caminhando pelo que pareceu ser 3 quilômetros, ele chegou em um arco divisório, pelo que Tyler 

percebeu, a grande caverna era dividida em duas câmaras separadas, basicamente iguais. 

Depois de atravessar o arco, Tyler caminhou por outros 3 quilômetros até que um forte facho de luz lhe chamasse a atenção. 

Intrigado com aquela luz ele andou em sua direção, e quando chegou lá a visão o fez cair de joelhos! 



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