Um Tiro de Amor Brasileira

Autor(a): Inokori


Volume 2 – Arco 1: O Teatro das Mil Faces

Capítulo 8: Sumô


【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】

“Segundo as lendas, o Ao Bõzu são divindades menores com aparência de monges, sua pele azul passa exatamente a imagem do que mais desejam, enforcar suas presas até a morte.”

Amon corre pelo campo o mais rápido que seu corpo consegue, suas feições estão calmas mesmo para a estranha situação, mas diferente de seu rosto seus pensamentos borbulham em respostas.

“Suas presas geralmente são crianças desavisadas que andam sozinhas por campos e colinas, no entanto também a uma vertente do norte dessa lenda do qual eles perguntam para garotas como a jovem Yume se querem ser enforcadas, parece que ambas estão certas nesse caso, isso explicaria como essas divindades sabem o nome dela.”

Ele atravessa a escola passando despercebido por todos, voltando a estrada principal, agora não falta muito para chegar ao seu destino, mesmo que enquanto corresse, Amon retira do bolso seu telefone.

“Mas isso não responde do porque esse deus não se alimentou do garoto, só piora se for pensar que por vontade própria aquele Aobozu está longe de seu habitat comum, porém não tenho tempo de pensar nisso agora, esse tipo de ser divino fica mais forte a cada segundo que se aproxima do anoitecer”

Amon abre seu telefone, conferindo o horário que se aproxima do entardecer, ele sabe que tem pouco tempo mesmo assim não consegue parar de pensar em Yume.

“Devo ter mais três horas no máximo, esses deuses são mestres nas artes da magia, mesmo sendo infinitamente mais fracos que a senhorita Koi, a quantidade deles podem causar uma dor de cabeça para nós”

Agora Amon está de frente para a casa da mulher, sem querer desperdiçar nem mais um segundo, ele retira a chave de seu bolso e ao destrancar empurra com seu ombro a porta para entrar.

“Seja o que for, tenho que confiar nas duas, já que eu tenho um grande problema à minha frente…”

— Como vou enfrentar algo que não consigo ver?!

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— Você consegue vê-los, senhorita Koi?! — exclama Yume surpresa com o contra-ataque da deusa diante de si.

— Eu já lhe disse pequena serva, não consigo e muito menos desejo vê-los com meus olhos… essas criaturas não são dignas de serem notadas por mim — Koi limpa sua mão em seu vestido — além disso, somente presas e animais conseguem enxergá-los.

Yume se recompõe se aproximando de Koi ficando de costas para Koi, — Deixa que eu cuido de suas costas, mas se não for incomodo responder, como conseguiu contra-atacar se não os vê?

Haha! Ora minha serva, como tu és curiosa, eu sou uma Jorōgumo, mãe de todas as aranhas!

Em todo momento, Koi permaneceu com um de seus olhos fechados, pois sua visão está localizada em cima de uma pequena árvore a alguns metros de onde estão, com uma pequena aranha observando tudo.

Sua visão é completamente vermelha, no entanto cobre trezentos e sessenta graus, tornando impossível Koi ter pontos cegos enquanto houver aranhas ao seu redor.

Ao mesmo tempo, no instante que elas se aproximam uma da outra, as folhas secas caídas no chão junto com gravetos e pedras começam a tremer com uma energia escura, até serem levitadas formando uma cortina de fumaça impedindo que Yume pudesse ver os arredores.

— Ahn? O que é isso? 

— Os Ao Bõzus são grandes feiticeiros, isso é apenas uma parcela da magia deles — diz Koi calmamente de maneira clara.

Yume suspira concentrando-se, para em seguida sem abrir alguma brecha faz um sinal com ambas mãos.

— Não vão me pegar de guarda baixa novamente… Guusuu Kyoudai!

Os olhos de Yume brilham como o mar cristalino que se choca contra a luz do sol, assim de seus pés surgem pequenos jatos da água que se intensificam após alguns segundos formando pequenas ondas com grande pressão que empurra tudo a sua volta para trás, fazendo com que a visão se tornasse limpa novamente.

— Oh, muito esperta serva novata, nota dez para você agora — diz Koi, cruzando os braços confiante.

— Por que está me dando nota, senhorita? 

— Estou te avaliando para ter certeza se tu és uma boa serva.

 — Achei que eu já tinha passado quando enfrentei o Kasha — exclama Yume, abrindo um pequeno sorriso.

— Tu passaste sozinha por aquela missão, no entanto não te vi em ação ainda garota.

— Então observe — Yume com destreza move suas mãos para baixo, esfregando ambas entre si.

No mesmo segundo, as ondas adquirem ainda mais pressão fazendo com que elas se tornassem lâminas que giram em volta das duas como um redemoinho, que ao se chocarem contra as árvores talham todas com um corte limpo em uma área de quinze metros.

Koi leva a mão até sua cabeça, como se sentisse uma dor intensa, — Nota zero agora para você serva.

— Zero?

— Tu acabaste de me impedir de conseguir enxergar eles.

— Oh! Desculpe, acho que me empolguei demais e acabei esquecendo! — diz Yume, gaguejando um pouco.

— Não importa mais, agora provavelmente tu consegues vê-los por completo

Yume acena positivamente com a cabeça, afinal agora todas as criaturas estão paralisadas a sua frente, mesmo não tendo feições, elas aparentam estarem sentindo medo, porém não fogem e ao mesmo tempo levantam suas cordas para um possível ataque.

Sem perder tempo, Yume se impulsiona para frente, deslizando no chão com os joelhos apontando o dedo indicador para o ser bem à sua frente.

Bang!!!

O jato de água potente é disparado, atravessando a cabeça do deus por completo a explodindo em segundos, Yume flexiona os joelhos girando em seu próprio eixo dando um pequeno salto para em seguida chutar o outro Aobozu do lado do que acabara de eliminar.

Mesmo em maior número, individualmente aqueles deuses menores são extremamente frágeis e fracos, porém Yume é a única que consegue ver que a cada minuto que passa a aura desses deuses cresce de pouquinho a pouquinho.

— Pequena serva, alguns seres divinos não são exorcizados com apenas uso da força — diz Koi, parada com uma pose semelhante a de um professor.

— Me impressiono com você dizendo isso, senhorita! — exclama Yume, apontando o dedo indicador para o lado — Bang!!!

Dessa vez o disparo perfurou quatro dos seres em um golpe apenas, em contra partida a expressão de serenidade de Koi logo se some para uma de raiva.

— Como ousas dizer tal coisa?! 

— Mil perdões, só realmente fiquei surpresa… às vezes você me lembra o Erisu, bate primeiro e pergunta depois.

— Oras… parece que aquele mortal não és tão inútil então… — Koi faz um pequeno biquinho com a boca, claramente emburrada — mas este não é o ponto, esse tipo de divindade só vai ser derrotada se atingir em seu ponto fraco, assim como fez com aquele Kasha.

Após alguns golpes e de ter exorcizado alguns dos seres, Yume percebe que aos poucos o número das criaturas aumentava cada vez mais, junto a sua força crescente.

— Então qual é o ponto fraco deles, senhorita?

— Todo Ao Bõzu ama uma única coisa específica além de se alimentar… Sumo! — exclama Koi, levando as mãos até a cintura, orgulhosa com o que disse.

— Sumô? Que aleatório, tem certeza disso?! 

— Eu sempre tenho certeza, serva.

— Que criatura estranha… e no que isso ajuda?

— Deuses são estranhos no geral pequena serva — Koi sorri — a única maneira de uma presa sobreviver a Ao Bozõ é o desafiando em uma luta de sumô, mas isso sempre não resulta em nada, afinal eles são ótimos nesse esporte, individualmente seria impossível. 

— Então eu tenho que desafiar cada um deles para uma luta de sumô?! — exclama Yume, que continua atacando as criaturas.

Koi encara Yume diminuindo o sorriso, tombando a cabeça e dando uma leve piscadinha para ela, — Se é isto que interpretaste minha serva…

Ao final da frase de Koi, Yume sente um estalo em sua mente, algo parece ter feito sentido em seus pensamentos, — Individualmente impossível?...

Ela novamente faz o mesmo sinal de mãos, mas dessa vez em seguida coloca a palma das duas mãos no chão.

Guusuu Kyoudai!!!

Uma pequena poça se forma no chão, crescendo cada vez mais, passando pelos pés de todos os Ao Bõzus, cobrindo totalmente aquela área como uma lagoa.

Sem entender, as criaturas partem para cima de Yume de uma só vez, mas antes mesmo de conseguirem a tocar, ela ergue sua cabeça para cima, gritando.

— Nada melhor para derrubar algo do que um maremoto!!! 

Assim, da lagoa formada uma imensa onda surge fazendo todas as criaturas presentes serem lançadas para o alto ou perfuradas pelos jatos de água em uma tacada só, ao mesmo tempo que limpa e devasta tudo o que há em volta.

Após tudo voar pelos ares, as criaturas se transformam em cinzas de pouco a pouco ao se chocarem contra o solo, Koi diferente de todos foi a única que não foi atingida por nada, caminhando calmamente até Yume.

— Muito bem… nota nove dessa vez.

— Eu entendi o que você quis dizer com “individualmente impossível” — Yume suspira um pouco ofegante, se recompondo — não tinha como derrotá-los um por um, mas podíamos acabar com todos de uma vez só, certo?

Hoho! Nota dez pequena serva!

Yume gargalha, ajeitando sua postura, — Bem que você podia me chamar pelo meu nome né, senhorita.

— N-nome?! T-tu combina mais como serva — exclama Koi, ficando levemente corada de uma hora para a outra.

— Está tudo bem senhorita Koi? 

— Errr, claro, tudo ótimo!

— Senhorita… por um acaso você se esqueceu do meu nome? 

— Q-que!!! O-obviamente que não, quem tu achas que sou?! — Koi desvia o olhar,  começando a assobiar tentando disfarçar a situação constrangedora.

“Nota mental: Koi é péssima em lembrar nomes”

Yume gargalha um pouco, abaixando a cabeça, vendo que o chão do qual pisa não é de terra ou lama, mas sim de concreto com várias pilhas de ossos espalhadas por todos os lados.

— Koi… quantas pessoas que partiram para formar esse tanto de ossos?

O olhar dela volta a um tom melancólico, afinal os principais alvos daqueles deuses eram crianças e mulheres.

— Eu não sei, mas — Koi volta ao seu normal, virando seu olhar para o centro de tudo aquilo — quem causou isso, é a mesma pessoa do qual estamos procurando.

No centro dessa pilha de ossos onde os Ao Bõzu se alimentavam de suas presas, há um símbolo na língua dos deuses, o mesmo símbolo que os persegue, o mesmo símbolo que traz o divino ao mundo mortal.

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