Um Tiro de Amor Brasileira

Autor(a): Inokori


Volume 2 – Arco 1: O Teatro das Mil Faces

Capítulo 3: O Deus Que Leva Os Mortos


【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】

— Quando ela disse deuses ontem… o que ela exatamente estava se referindo? — questiona Yume, logo pela manhã do dia seguinte.

O sol acabara de amanhecer, após a longa conversa da noite passada, talvez fosse pela mudança de ambiente mas Yume não conseguiu nem ao menos tirar um leve cochilo durante toda a madrugada.

E agora, frente a Amon em seu quarto rodeado por incontáveis livros de todas as espécies e gêneros enquanto ele está sentado em cima de uma das grandes pilhas de folhas caídas sobre o chão, Yume questiona a conversa anterior.

— Ela estava se referindo exatamente ao que disse, deuses — Amon se levanta lentamente, fechando o livro do qual passou a noite lendo — vejo que acordou cedo, posso lhe fazer uma pergunta?

— Claro, fique à vontade.

— Quanto tempo faz que você não se alimenta? — diz Amon, se curvando até uma pequena chaleira em cima de uma mesa rodeada por xícaras das mais diversas cores.

— Eu comi junto aos outros ontem, então não faz  tanto tempo assim — Yume tomba a cabeça confusa — mas por que a pergunta? 

— Não, não, estou me referindo a quanto tempo você não alimentou sua parte divina? 

— Ahn? — A expressão de confusão dela aumenta ainda mais.

— Numens conseguem extrair forças de alimentos comuns e humanos, óbvio…, no entanto isso não o nutri de verdade, cada Numen deve se alimentar da oferenda dada comumente ao seu eu divino. 

— Nunca soube de nada disso, eu não sinto fome.

— Claro que não — Amon sorri, lhe estendo uma xícara com um líquido verde —  beba.

Yume olha para a bebida com uma leve estranheza, — O que é isso?

— Apenas chá verde.

Ela segura a xícara com cuidado, sentindo o leve calor em seus dedos da bebida na porcelana, — Muito obrigada —, Ela leva o conteúdo da bebida até seus lábios, fazendo sentir o gosto amargo percorrer sua garganta.

— Se sente melhor? — questiona Amon com um sorriso dócil.

Para a surpresa de Yume, realmente sente algo fluindo em seu corpo, todas as dores e fadiga antiga somem automaticamente, quase como se tivesse nascido novamente em outro corpo, agora ela se sente leve como uma pluma.

— Sendo sincera…, sim, o que tinha nesse chá? 

— Nada em especial, o que importa é onde ela foi plantada — Amon leva sua mão direita até seu queixo — os monges do templo da Deusa Kannon plantam raízes de chá por todos os lados, seja entre altares ou pilares Torii, com toda fé e cuidado.

— Fé? — Yume fecha os punhos com força — Isso me traz memórias ruins.

— Fé é o alimento do divino, ou seja, por mais que não seja a oferenda apropriada para você, funciona de certo modo — diz Amon, percebendo tal mudança brusca no comportamento de Yume — jovem Yume…, você não é muito religiosa, certo?

— Eu não diria isso, mas minha mãe depois que meu pai faleceu, se entregou de corpo e alma para uma seita — Yume respira fundo — talvez esse pequeno fato tenha levado meu irmão de mim, mas isso são mágoas passadas, não quero pensar muito sobre isso.

— Eu entendo perfeitamente jovem Yume…

Um breve momento de reflexão toma o quarto, ela enfim terminava de beber seu chá e o silêncio tomou conta do ambiente, até que…

— Servo! Servo! — exclama Koi, descendo as escadas correndo para o quarto do Amon, com um grande sorriso no rosto.

Tanto Amon quanto Yume abrem a sua guarda em preocupação ouvindo os gritos repentinos do andar de cima.

— O que houve senhorita Koi?! Está tudo bem? — exclama Amon, caminhando a passos largos até a escada.

Assim, ele vê sua mestre saltando do último degrau da escada, pousando no chão com delicadeza e um olhar astuto, — Servo! Eu senti uma aura promissora!

— Aura? — Yume pergunta, relaxando seu corpo.

— Jovem Yume, se prepare… — diz Amon alongando seus braços — parece que temos nossa primeira missão juntos!

【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】

Minutos se passam e Koi os guia pela manhã nas ruas do distrito independente, saltitando enquanto caminha como uma criança feliz.

— Senhorita Koi parece muito feliz hoje e nem precisei comprar um doce — diz Amon com um suspiro de alívio.

— Como eu não estarias animada, caro servo, jaz que esse acabou de emergir — responde Koi, erguendo seu queixo em confiança.

— Falando em alguém animado, o pequeno Deru não parou de falar de você senhorita Koi — diz Yume, gargalhando.

— Quem és esse ser denominado Deru? — questiona Koi, tombando a cabeça para Yume enquanto caminha.

— Senhorita Koi, Deru é a criança que te abraçou e te chamou de irmãzona — diz Amon, se curvando levemente para falar.

— Oh, aquele filhote mortal, não imagino por qual motivo ele faria isso.

— Meio que parece que ele gostou muito de você, haha! — Yume tenta esconder seu sorriso.

— Não temos tempo para isso, já que enfim chegamos!

Koi para abruptamente, frente a um prédio de seis andares, aparentemente abandonado e pichado com o longo tempo.

— Se não me engano esse é o antigo Hotel Basike, ele faliu a quinze anos dado a falta de pessoas, cujo se assustaram com histórias de que uma mulher com a boca suja de sangue sequestrava quem ousava se hospedar aqui — diz Amon calmamente, encarando o prédio.

— Nossa! Como você sabe disso? — questiona Yume, se virando para Amon.

— Que pergunta é esse jovem Yume? É óbvio que foi no googuu — exclama Amon, mostrando o celular com uma aba de pesquisa aberta.

— Ah.

— Muito bem, vamos entrar! — Amon guarda seu celular, começando a caminhar, até ser puxado por Koi.

— Um momento querido servo, deixe apenas a candidata ir hoje.

— Candidata? — exclama Yume, com dúvida no olhar.

— Mas porque senhorita Koi? — questiona Amon, a encarando.

— Se ela realmente desejas ajudar e se tornar minha serva, precisa de um teste, para descobrirmos se irá nos ajudar, ou atrapalhar sua ajuda — Koi vira seu olhar para Yume, fixando atentamente sobre ela.

— Eu não irei decepcionar! — exclama Yume confiante, cerrando os punhos — o que eu preciso fazer?

— Tu entrarás lá dentro, eliminarás a ameaça, e trará informações de qualquer coisa que lhe chame atenção para nós.

— Eliminar? Você realmente está falando sério sobre atacar Numens ou humanos? — diz Yume com uma expressão frustrada, abaixando a cabeça.

— Seja humano ou Numen, não deixam de ser mortais, não me importo com ambos! — Koi se aproxima dela, encarando fixamente os olhos dela — como eu disse ontem, nossa missão é exterminar Deuses!

【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】

Pouco tempo se passa e Yume enfim adentra o antigo Hotel pela porta da frente, meio ao ranger de madeira podre e o cheiro de mofo constante do ambiente, ela fecha a porta atrás dela com os pensamentos em conflito.

Para Yume não fazia sentido o que Amon e Koi constantemente chamam de Deuses, em suas lembranças apenas passam as memórias do seu tempo na SEIDAI.

— Será possível que acabei entrando em uma seita de novo? — Yume suspira, tentando voltar a atenção para seu redor.

Ela vê quadros pintados a mão rasgados e pichados por todos os lados, não há quase nenhum móvel, muito provavelmente alguém roubou a muito tempo, mas logo sua mente conflitante se despesa, quando Yume sente uma pressão em seus ombros, se sentindo observada por todos os lados logo no primeiro andar deste hotel.

Com cuidado enquanto levanta sua guarda, Yume continua seu caminho explorando tudo a sua volta, partindo em seguida para o segundo andar, já que no primeiro aparentava estar vazio, além das infinitas pichações e escombros derivados do tempo.

“Caramba, está ficando cada vez mais frio”, Yume pensa sentindo a temperatura abaixar abruptamente a cada andar que sobe e logo no terceiro andar, ela ouve uma voz estridente e trêmula saindo das paredes.

— Você me parece bem viva! 

Yume rapidamente aponta seu dedo indicador como uma arma para trás, vendo nada à sua volta.

— Quem está aí?!

— Você me parece bem viva! 

— Olha, seja quem for não quero machucar, por favor saia daqui — exclama Yume, tentando encontrar a origem da voz.

— Você não me parece bem viva… mas quero levá-la — A voz vai ficando cada vez mais baixa, parecendo um sussurro.

— Levar para onde?

Para o mundo onde os mortos moram!

Em seu choque, Yume sente um arrepio a alertando, fazendo com que ela por reflexo olhe para o chão, sendo surpreendida por uma pata felina com garras negras extremamente afiadas atravessando a madeira como se fosse um fantasma.

Por alguns centímetros, Yume desvia saltando para trás no último segundo antes de ser atingida pelas garras, — Merda! — exclama, olhando à sua frente para ver o que a atacou.

Percebendo algo que jamais imaginaria em ver pessoalmente, seu corpo é coberto de pelos brancos como a neve, seu rosto lembra um gato muito grande e suas garras longas e negras emanam uma fumaça roxa.

Além disso, por mais da sua aparência animalesca, a criatura veste roupas de monge extremamente limpas, mesmo que a criatura aparenta andar por suas quatro patas.

— O que… o que é você? — questiona Yume, perplexa com o que vê.

A criatura felina gargalha com sua voz seca e estridente, adentrando novamente como um espírito a parede ao seu lado.

Yume coça seus olhos tentando assimilar se o que viu é realmente real, assim não tendo tempo o suficiente para desviar o próximo ataque veloz da criatura que emerge da parede esquerda novamente atingindo o braço dela em cheio, abrindo um talho profundo desde o ombro ao cotovelo.

Yume sente como se uma navalha a cortasse de forma limpa, fechando os olhos momentaneamente enquanto pensa, “Droga! Isso é um deus? ele é rápido mal consigo ver seu rosto direito”.

De maneira rápida, Yume pisa com força no chão fazendo uma pequena onda de água criada por seus pés se tornar um vortex cobrindo-a por completo como se fosse uma barreira para protegê-la.

Ela pode ouvir o som das garras talhando a parede enquanto a criatura gargalha, até ver sua barreira de água sendo coberta por um intenso calor de chamas roxas vibrantes a queimando pouco a pouco.

Yume rapidamente desfaz a barreira, porém outra vez sem ter como reagir a criatura parte para cima dela girando no ar com uma velocidade abismal, fazendo diversos cortes por seu corpo enquanto ela tenta com todas suas forças defender sua cabeça e pescoço com os braços.

Devido aos ferimentos, ela cai de joelhos frente ao monstro, encarando nos olhos a criatura, que enfim para de se movimentar.

Podendo perceber finalmente que a fumaça que sai de suas garras na realidade são chamas vibrantes e seus olhos são vermelhos em pura ira, como um verdadeiro predador atacando sua presa.

“Não tive nem chance de me defender… ele é muito forte, meu coração quase para quando nossos olhos se encontram”, a respiração de Yume se torna ofegante e um suor frio desce por sua testa, por alguns instantes ela até mesmo pensou que era seu fim.

Até que alguns feixes de memórias passam por sua mente a meio a dor, “Espera… essa criatura realmente quer me matar, eu consigo sentir isso, mas…”

Yume lembra que sentiu algo parecido, a meses atrás, no último ataque dos numens contra os Abutres, ela enfrentou um humano, que diferente de todos a fez sentir um medo que jamais sentiu, se lembrando com detalhes dos olhos calmos de Kaguya enquanto quase a matou.

“Agora faz sentido”, Yume sorri em seus pensamentos, — Você seu olhar é assustador gatinho, mas comparados a daquele homem… você não me causa medo!

Yume com agilidade bate as palmas da mão sobre o chão, criando uma parede densa de bolhas cobrindo a visão da criatura sobre ela, a fazendo rapidamente se levantar e correr até as escadas para o próximo andar.

“Eu consigo vencer!”, com esse pensamento, Yume sobe os próximos dois andares com urgência, mas diferente de segundos atrás, um sorriso está em seu rosto.

E logo vindo atrás dela, a divina criatura felina estoura as bolhas com um pequeno corte, voando para o teto tentando alcançá-la.

Que rapidamente faz com que ambos estejam no sexto e último andar, ofegante Yume cria uma pequena poça de água de baixo de seus pés, atenta ao próximo movimento de seu oponente.

O monstro emana ainda mais chamas de sua garra e com velocidade de um felino, parte contra Yume que de maneira única bloqueia o primeiro ataque, com a pequena poça se lançando para as mãos dela como um chicote, direcionando o ataque para o lado.

Frustrado, a criatura começa a girar tentando diversos ataques em diferentes ângulos enquanto Yume com astúcia faz com seus chicotes rebatam as garras de maneira quase que perfeita.

A raiva do deus aumenta ainda mais, querendo aumentar ainda mais sua velocidade atravessa a parede ao seu lado e em poucos segundos se dispara contra Yume como um míssel, sendo bloqueado novamente, mas dessa vez o desvio do chicote faz com que ele rebata e atravesse a parede do lado oposto.

Dentro de quatro paredes, é impossível aquela criatura ser atingida, já que toda vez que ela se lançava de uma parede para outra sua velocidade aumenta cada vez mais.

“Ainda não”, diz Yume em seus pensamentos, aumentando a pequena poça de seus pés para cobrir uma área maior.

O confronto das garras em chamas e o chicote de água causa uma intensa neblina de vapor a cada ataque, fazendo com que a visão de ambos fique cada vez pior.

Foi então nesse momento que a criatura confusa lança um ataque frontal, buscando atingir diretamente o pescoço dela, assim no momento exato em que Yume vê algo emergindo da névoa bem a sua frente, ela abre um grandioso sorriso de vitória.

Guusuu Kyoudai! 

Em um piscar de olhos, da pequena poça surge uma imensa onda sem fim de água que bate com tudo na criatura a empurrando para trás, mas não somente isso, como todo o corredor e os outros cômodos se enchem de água com poucos segundos, tendo apenas o único ponto de fuga da água as escadas do qual subiram.

A criatura não tendo como chegar até alguma parede para atravessar, é puxada pelo redemoinho com tremenda força que se forma pela escada, fazendo com que sua última alternativa seja fincar suas garras no chão para não ser levado.

Vendo isso, se impulsiona na mesma direção das escadas em alta velocidade, abrindo os dois braços fazendo com que a água se cesse no mesmo instante.

A criatura cospe água, ainda confusa por tudo e no momento em que ele ergue a cabeça para ver sua adversária, percebe o dedo indicador dela apontado diretamente no seu peito.

Bang!!! — exclama Yume, disparando um jato de água a queima roupa em seu alvo.

O disparo foi tão poderoso que todo seu corpo da cintura para cima some em meio ao jato, que perfurou o teto e atinge as nuvens com uma incrível potência.

Quando Yume abaixa sua mão, vê apenas as pernas da criatura caindo sobre o chão, se desfazendo em particular escuras como gosma que flutuam pelo ar.

— Eu consegui! Boa Yume! — exclama para ela mesma, olhando o arredor.

Em sua comemoração de vitória, percebe no fundo da parede do corredor do último andar, uma estranha pichação diferente das outras que tinha visto, pareciam mais como marcas de uma língua desconhecida e antiga juntos a um círculo.

Ela retira seu celular do bolso, verificando se ainda funciona, mas para seu azar por conta da água acabará queimando.

Sem muitas opções, Yume tenta marcar o que está escrito ao menos para mostrar a ambos lá embaixo, em seguida desce as escadas novamente, saindo pela porta com alguns ferimentos, mas com um sorriso estampado em seu rosto.

— Parece que tu conseguiste jovem serva — diz Koi, cruzando os braços.

— Sim…, agora eu entendi o que vocês estavam falando do que são deuses…

— E como era a criatura que você enfrentou? — questiona Amon, vendo ela se aproximar.

— Era um gato, ou tigre grande, ele ficou toda hora falando que eu estava viva e queria me levar para o mundo onde os mortos vão — diz Yume sentando-se no chão, após grande esforço.

— Então era um Kasha…

— Kasha?

— Kasha são deuses que gostam de levar os mortos para um outro mundo, ao menos é o que dizem as lendas — responde Amon, sentindo pingos de chuva baterem em seus ombros.

— Parece que seu golpe foi tão poderoso que fez chover pequena mortal… parabéns! 

— Obrigada! — Yume gargalha, mas acaba se lembrando de algo — oh, quase me esqueci, eu vi algumas pichações que me deixaram com um sentimento estranho no ultimo andar.

— Pichações estranhas? como elas eram?

Yume estende um pedaço de papel molhado como uma cópia do que viu para Amon, que suspira mostrando para Koi.

— Isso não são pichações, pequena mortal… mas sim um portal para Takamagahara — Koi morde a ponta do seu dedo maior — estamos perto de descobrir quem está por trás disso!

【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】


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