Um Tiro de Amor Brasileira

Autor(a): Inokori


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 4: Antinomia


【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】


Em um completo escuro, Erisu se encontra abraçando seus próprios joelhos em meio a aquele vazio, ele sente seu corpo pesado, sendo até mesmo difícil de se respirar, ele sente sua cabeça girar em uma náusea desconfortável.

“Por que estou aqui? Eu preciso de vocês! Onde vocês estão? Me ajudem!”, passou essas palavras em sua mente, enquanto tenta soltá-las de sua boca, sem sucesso.

O suor do seu corpo o incomoda, no entanto não consegue se mexer para fazer algo a respeito, ele está sozinho em seu próprio limbo.

“Por que a gente teve que se separar? Por que tivemos que aceitar?”, era difícil descrever sua angústia em uma frase.

Apertando ainda mais suas pernas, percebeu algo no canto de seus olhos. Um pequeno e único brilho de uma mão sendo estendida a ele, não sabendo como, Erisu reconhecia aquela mão que se aproxima ainda mais. Sem controlar seu corpo, ele estendeu sua própria mão para aquela luz, a segurando em um aperto de mãos, sendo puxado por ela iniciando uma breve corrida para lugar nenhum, seus pensamentos a essa altura eram uma bagunça, mas em seu rosto havia um sorriso alegre de uma criança.

“Arias! Que bom que voltou!”, foram suas últimas palavras de sua lembrança.

Enquanto seguia a luz daquela mão familiar, seus olhos se abrem, o fazendo acordar de seu sono profundo. Deitado por cima de vários livros, com uma coberta em farrapos o cobrindo, Erisu ainda está na abandonada estação de trem.

— Merda! Quanto tempo eu dormi? — diz ele, se sentando vendo que seu peito estava enfaixado por conta de seus ferimentos.

Sem resposta alguma, aos poucos se levanta com uma certa dificuldade, tentando se localizar.

Oh, já acordou? Achei que fosse ficar desacordado o dia todo. — diz a voz calma de Amon, que adentra no quarto caindo aos pedaços.

— Quem pensa que sou? Apenas usei demais meu Bakemono.

— Bem, isso é fácil de deduzir — Amon se aproxima de Erisu segurando o que parecia uma pequena xicara com um líquido verde — porém, consigo ver claramente que você também não tem se alimentado bem ultimamente, não seria surpresa que você apagasse sem nem ao menos usar seu Bakemono.

— Não enche! — Responde Erisu, encostando suas costas na parede, respirando com dificuldades.

— Estou falando sério, se não se alimentar direito você vai...

— Então o que eu deveria fazer? — reclama, levando a mão em seu peito, cortando a frase de Amon — Você quer que eu saia por aí chupando o sangue do primeiro que eu ver pela frente?

— O sangue... é a moeda de troca da vida — diz Amon, estendendo a xicara para ele — Mas não somos vampiros Erisu.

— Que merda é essa?

— É chá verde, vai fazer você recuperar suas forças.

Erisu encara o chá com uma expressão de dúvida em seu olhar, mesmo assim leva a bebida até seus lábios com cuidado, está quente e o sabor amargo percorre toda sua garganta o fazendo soltar uma pequena careta, porém após o gole, sente algo fluindo por seu corpo, como uma energia crescendo dentro de si.

— Se sente melhor não? — pergunta Amon, cruzando os braços.

— Pelo incrível que pareça... sim, o que havia nesse chá?

— Nada de especial, era apenas um chá normal — Amon se encosta na parede ao lado de Erisu — a única diferença é que foi colhida no tempo da deusa Kannon.

— E o que tem de especial nisso?

— Fé, nos alimentamos disso Erisu, da fé e crenças que pessoas comuns depositam.

— Como raios comemos fé?

— É simples, esse chá lhe fez tão bem pois é cuidado quase todo dia por fiéis a deusa, todo esse cuidado e energia flui por suas raízes e folhas, disso que nos alimentamos. — Amon suspira, virando seu olhar para Erisu. — O sangue é nutritivo para nós por ser quase que como uma oferenda, mas não devemos bebê-lo, nem mesmo em último caso, perder sua humanidade é pior do que a fome que pode sentir.

— Então... eu deveria comer oferendas?

— A comida comum que satisfazia quando ainda éramos humanos nos ajuda, mas ao menos uma vez por semana precisamos nos alimentar dessa energia que flui da crença e fé, a oferenda favorita de seu deus, é a mesma que sua... é o que dizem ao menos.

— Você vive em lugares como esse, como raios consegue se alimentar então?

— Por causa dos livros.

— Você come livros?! — grita Erisu, cuspindo um pouco de chá de sua boca

— Não, não, eu os leio, a expressão fome de conhecimento cai como uma luva no meu caso... — diz Amon que se agacha pegando do chão um livro de capa dura — nos alimentamos da energia que flui das crenças e oferendas, não dos objetos que as prendem.

— Então... nesse caso desde que seja uma oferenda, eu só preciso ter comigo?

— Funciona dessa maneira quase todas as vezes, mas no seu caso duvido que livros possuam o mesmo efeito.

— Saquei. — Erisu leva sua mão até seu peito, após terminar sua bebida amarga.

— A propósito, você pode retirar essas faixas agora, elas já devem estar curadas.

Erisu olha surpreso para Amon, puxando de uma maneira brusca as faixas ao redor de seu corpo, mostrando finalmente seu peito ileso, sem nem mesmo as marcas das feridas do qual recebeu.

— Incrível...

— Essa é a importância de ao menos uma vez por semana se alimentar direito.

Okay, já entendi — Erisu estica seus braços para o alto, se alongando — Vem cá, o que vai fazer com aquela aranha?

Ah, está falando do Filho Perdido de Jorōgumo? Pretendo cuidar e estudar ela por enquanto — Amon leva sua mão até seu queixo de forma pensativa — estou pensando até mesmo em dar um nome para ela.

— Dar um nome? Você realmente continua tão maluco quanto me lembrava.

— Seria incomodo eu chamá-la constantemente de aranha ou de Jorōgumo, por isso seria interessante um nome.

Tá, tá, deixo essas esquisitices para você, mas me diga — conclui Erisu — cadê a Oinari?

Oh, sobre isso, ela tentou levá-lo consigo, mas você é pesado sabia? Então ela disse que iria tentar visitar uma amiga.

— Uma amiga?

— Foi o que eu disse, ela comentou também que tentou te levar junto, pois não sabia se teria coragem de ir sozinha.

 — Uma amiga... ir sozinha... faz sentido — Erisu olha ao redor estendendo a mão para Amon — pode me emprestar seu casaco? Não quero andar sem camisa pela rua.

Ah, sim, claro, mas para onde vai? — responde Amon, retirando seu casaco.

— Acho que ela precisa de mim, sei exatamente para onde ela foi.

— Que amigo atencioso que você é.

— Estou fazendo isso apenas porque eu sei o que vai acontecer se eu não estiver lá. — Diz Erisu, cobrindo seu corpo.

— Devo dizer, boa sorte?

— Você vai precisar mais dessa sorte do que eu, esse lugar está desmoronando.

【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】

Erisu corre para fora do prédio, fazendo o mesmo caminho de volta que havia entrado, passando pelos trilhos de trem mais uma vez, se deparando com a luz do sol que acabará de nascer batendo em seus olhos. Mesmo desconfortável e ainda um pouco abatido por acabar de acordar, segue um ritmo rápido, passando pela imensa floresta de concreto que é o centro do distrito independente. Após cerca de trinta minutos com a mesma intensidade, chega a uma zona habitacional dado pelo estado para vítimas de ataques de Numens ou calamidades naturais, sendo extremamente amplo com todas as residências sendo iguais uns a outras em um tom monocromático constante, fazendo com que qualquer pessoa que entrasse nesse local pela primeira vez, se perder nos primeiros metros caminhados.

“Ela sempre me faz ir atrás dela”, pensa Erisu, parando sua corrida frente a um apartamento conjunto, esse é o apartamento onde Oinari queria vir. Empurrando a grade de ferro que separa a entrada para as escadarias da rua, Erisu sobe as escadas passo por passo em rumo ao segundo andar, no caminho, um senhor de idade junto a uma bengala descia em direção contraria a ele, por algum motivo, naquele momento Erisu sente um cheiro diferente vindo do idoso, porém não se importou no momento e continuou seu caminho até chegar ao segundo andar, onde mesmo de longe, frente a uma porta de cabeça baixa, está Oinari, aparentando estar a um bom tempo parada.

— Brigaram outra vez, não é? — pergunta Erisu, se aproximando de sua amiga.

Hum!? Risu? — responde Oinari, com uma expressão de surpresa, se afastando levemente da porta — E-eu não vi você chegando... não! Estamos de boa, por que acha que brigamos?

— É, realmente vocês duas não estão se falando. É a vida.

— Você poderia ao menos ter um pouco de empatia sabia?! Veio só tirar uma com minha cara? — diz Oinari, levando as mãos no ombro de Erisu, de maneira irritada.

— Não, mas justamente por conta disso que estou aqui — ele tomba sua cabeça para o lado — você disse ao Amon que precisava de mim.

A breve raiva de Oinari, logo se esvaia, fazendo ela novamente mostrar seu longo sorriso para Erisu, passando sua mão do ombro para o pescoço, seguindo até chegar em seu rosto em uma leve caricia, fazendo com que os dois trocassem olhares profundamente.

— Se esse foi o caso, devo agradecer por estar me ajudando novamente. — Ela aproxima seu rosto calmamente em direção a Erisu.

Erisu entrou em seu olhar penetrante mais uma vez, o fazendo quase ceder a seus encantos, no entanto, ele lembrou de como viu a expressão de Oinari frente a aquela porta, o trazendo um sentimento que a muito já sentiu.

— Não acha que deveria pensar em como fazer as pazes com ela primeiro?

— Talvez tenha razão, mas não sei como fazer. — responde Oinari, abaixando sua cabeça até encostar no peito de seu amigo.

— Foi tão ruim assim a briga da vez?

— Sendo sincera, não, mas odeio todo o processo até tudo se resolver.

— Ela não é o tipo de pessoa que a culparia, jogando todos os problemas na sua cara.

— Eu sei que não e é isso que me incomoda.

— Acho que você está complicando as coisas, senhorita raposa.

— Sei que estou... — Ela se afasta brevemente de Erisu, ainda com o sorriso em seu rosto, fechando seus olhos — Mas graças a isso, acho que tenho coragem de falar com ela agora, obrigada mais uma vez Risu.

Ela se virou para a porta do apartamento em que estava anteriormente, Erisu consegue ver o número que está marcado, quarto número quatro, um lugar que ambos já entraram, em algum tempo até mesmo Oinari já morou.

— Estou pronta! — diz ela animada.

Erisu, acena com sua cabeça, confirmando, fazendo com que ela batesse três vezes na porta, sendo um silencio completo a resposta, novamente ela repete o processo, até a porta lentamente se abrir, mostrando assim o que havia ali dentro.

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