Volume 1 – Arco 1
Capítulo 3: Aracnofobia
【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】
— Você tem certeza de que esse é o lugar certo? — pergunta Erisu, usando os trapos de sua camisa para estancar brevemente o sangue.
— Sem sombra de dúvidas.
— A cada dia que passa, Amon se esconde em lugares mais estranhos.
De frente para ambos, está uma estação abandonada de trem que a muito tempo não é usada. O ambiente estranhamente frio e úmido tornando todo o lugar propicio a invasões de aranhas e outros insetos, com toda certeza essa estação é um ótimo ambiente para crianças adentrarem realizando testes de coragem, ou apenas para assustarem seus colegas.
Sem muita dificuldade, Oinari passa a frente, rasgando as fitas de alertas espalhadas por toda estação, descendo até os velhos trilhos, onde continua caminhando.
— Espero que não saia correndo dessa vez se encontrar uma aranha.
— Quem você pensa que sou? — diz Erisu, engrossando sua voz enquanto estufa seu peito. — Apenas... acho insetos nojentos.
— Haha! Não se preocupe — Oinari olhando de canto dos olhos para seu amigo, continua — diferente de você, eu gosto das aranhas.
— Algum motivo específico para essa loucura?
— Bem... as aranhas protegem a todos dos mosquitos e outros insetos. — Oinari abre ainda mais seu sorriso, entrelaçando seus dedos de uma forma animada. — Além de que a viúva-negra macho, leva presentes para sua pretendente. Romântico, não?
— Claro! Para ter sua cabeça devorada logo em seguida! Muito romântico, sua maluca!
— Eu não posso julgar a forma que elas correspondem esse amor.
Após poucos minutos de caminhada, logo adentram em uma construção escura, que era usada antigamente como central de controle do sistema ferroviário. O teto está completamente quebrado, fazendo com que pequenos feixes de luz dos postes do lado de fora da rua, iluminassem pontos específicos do prédio.
Um desses pontos, em cima de uma pilha de livros de diversos autores diferentes, está sentado uma pessoa que abraça seus próprios joelhos, seus cabelos são escuros e arrepiados, sua pele é branca como se ele não pegasse muito sol, porém o que mais se destaca no homem, é sua imensa olheira profunda, de alguém que não aparenta dormir a semanas.
Ao se aproximarem, Erisu pode ouvir que o homem está falando sozinho, palavras desconexas, nomes e até mesmo ofensas dirigidas a ele mesmo foram ditas.
— O que houve? Ele endoidou de vez? — cochicha para Oinari.
— Nada disso, é apenas uma madrugada normal. — Ela fecha seus olhos, respirando fundo, para gritar em seguida. — Amon! Temos algo para você!
Os sussurros do homem cessam rapidamente, fazendo com que ele erguesse sua cabeça olhando com uma expressão cansada para os dois. — Não podia ter me trazido ao amanhecer?
— Nada disso! — diz Oinari acenando negativamente com a cabeça — Não quero ter que levar essa maleta para a casa da Himeno.
— Oh, sua amiga humana? — diz Amon, descendo de cima da pilha de livros — pois bem, o que tem para mim?
— Com prazer!
Oinari abre a maleta, frente a Amon que retira de dentro um pequeno frasco com um líquido preto. — Interessante...
— Pegamos esse com um velhote que pretendia vendê-lo.
— Vejo que gosta de se meter em confusões Oinari. — Com cuidado, Amon abre a tampo do frasco. — Talvez eu lhe deva aconselhar a utilizar esse tempo livre para leitura?
— Não gosto de livros, eles me dão sono — comenta Oinari, se afastando alguns passos para trás.
Amon vira o pequeno frasco na palma de sua mão, porém o líquido preto ao invés de escorrer, ele se junta ao toque, se formando um pequeno orbe preto que libera uma fuligem como se fosse fumaça. Poucos instantes depois o mesmo orbe começa a flutuar em sua mão, como se tivesse vida própria.
Em um piscar de olhos, o pequeno círculo toma um comportamento agressivo, partindo para cima de Amon, que em sua agilidade o segura entre seus dedos, a fuligem que saia agora aparenta tomar forma de pequenos tentáculos, que se entrelaçam nos dedos que o segura.
— Muito bem! E agora? O que vai fazer com esse Filho Perdido? — pergunta Erisu com braços cruzados, ao fundo.
— O que eu sempre faço quando encontro algum.
— E isso seria?
— Devolver ele a sua mãe — Amon coloca sua outra mão em seu bolso, retirando algo — se isso é bom ou não... eu não sei, mas é o correto a se fazer.
— Não se preocupe Risu — diz Oinari, levando sua mão ao ombro de seu amigo — Amon pode parecer um homem suspeito e extremamente depressivo, mas lembre-se foi ele que te ajudou a controlar seu Bakemono.
— Eu estou ouvindo isso...
De seus bolsos, Amon mostra um pequeno isqueiro, o aproximando do orbe, porém em um pequeno segundo de descuido, o filho perdido começa a vibrar de uma maneira completamente diferente, fazendo com que os tentáculos se transformassem em garras, cortando o dedo de Amon, que o solta. A orbe voa rapidamente em direção a escuridão, sem dar tempo para nenhum dos três conseguir reagir.
— Por que você soltou?! O que deu em você? — Grita Erisu, caminhando rapidamente na direção que a orbe foi.
— Que interessante... — Amon limpa o sangue de seu dedo em sua jaqueta — Filhos perdidos não costumam a ter tanta força dessa maneira, a menos que...
— Esteja em um ambiente que o deixa mais forte! — completa Oinari — Erisu não vá!
No mesmo momento em que ele seguiu para escuridão, ele retorna, não caminhando, mas sim, sendo jogado em completa velocidade contra as barras de sustentação do prédio, as quebrando por completo.
— D-droga... o que foi isso? — Pergunta Erisu, estirado no chão, enquanto tosse.
— Isso não é bom. — Oinari se aproxima de costas para Amon, olhando ao redor.
Um sentimento de perigo, somado a um intenso silencio momentâneo toma o local por inteiro, até que sons de batidas na madeira extremamente fortes ecoam por todos os lados, seja lá o que fosse, é extremamente rápido e grande.
— O que você acha que pode ser Amon?
— Tenho uma hipótese — responde Amon, guardando seu isqueiro.
— Vocês bem que podiam me ajudar a levantar, ein! — grita Erisu.
— Se continuar aí deitado, vamos ter que ajudar a catar seus pedaços. — diz Amon, levando sua mão até o queixo.
Os sons de batidas aumentam ainda mais, até que por reflexo, Erisu se impulsiona para frente com seu corpo em direção a Amon e sua amiga. No local em que ele está caído, um estrondo junto a um buraco no piso de madeira foi feito.
— Caralho! Foi por pouco!
— Risu, tem uma aranha no seu ombro.
— Ah! Merda, sai, sai! — grita Erisu, empurrando uma pequena aranha que está em seu ombro.
Quando aquela única aranha toca o chão, centenas de outras aranhas vindo de todos os lados começaram a cercar ambos no centro do prédio.
— Amon! Seria uma ótima hora de a gente fazer alguma coisa!
— Como eu falei, eu tenho uma hipótese, mas não sei se você vai gostar muito, jovem Erisu!
— Só manda brasa porra!
Amon se aproxima do ouvido de Erisu, sussurrando algo, que fez com que ele mostrasse uma expressão de medo, caindo gotas de suor de seu rosto.
— V-você tem certeza?
— É o único jeito, novamente, é só uma hipótese.
— Desgraçado! Juro que se eu fizer isso atoa eu mato você!
Amon acena para ele confirmando, que cerra os punhos buscando coragem, assim em um único movimento, Erisu corre para fora do círculo sozinho em direção ao completo breu enquanto grita. Quase como uma intuição certeira de Amon, os sons fortes de batida o acompanharam, junto a todas as aranhas que sem nenhum sinal, ignora os dois ali parados.
— Fascinante! — comenta Amon, com um olhar empolgado — Então aquele Filho perdido veio de um Jorōgumo, muito provavelmente dos poderosos!
— Jorōgumo? Uma noiva entrelaçada? Agora faz sentido ele estar atrás do Risu. — Afirmou Oinari. — Como podemos pará-lo?
— Não tenho ideia — Amon leva sua mão até seu ombro — isso vai dar uma dor de cabeça..., mas tenho um plano.
Enquanto Oinari e Amon conversam, Erisu continua correndo desesperadamente, o medo do qual ele tem pelas aranhas fez com que ele não pensasse direito sobre a situação, tendo sua única alternativa; correr, atravessando algumas escadas subindo para o segundo andar, enquanto algo que ele não consegue enxergar está atrás dele.
Já no segundo andar, ele se depara com um corredor sem saída, “Droga, droga, o que eu faço?”, pensou com sua respiração irregular. Atrás dele finalmente surge algo, a mesma batida forte, junto a um som ofegante se aproxima, ele se vira rapidamente para confrontar o que o seguia, mas toda sua coragem sumia, ao ver não apenas uma aranha normal, mas sim uma aranha com tamanho de um humano e diversas garras pontudas ao invés de suas patas bem a sua frente. Sem reação, se deu conta que enquanto olha aquele monstro, seus braços e pernas estão já cobertos por uma grande cama de teias a sua volta o prendendo, fazendo-o cair.
— De todas as maneiras que eu podia morrer, essa é a pior delas!
A aranha abre suas duas pinças onde seria sua boca em direção a ele, para devorá-lo de uma vez, mas no último segundo, quando ele já está quase por completo na boca do monstro, a criatura paralisa, mudando de direção para ver o que havia atrás de si.
— Ah! Agora sim, vejo que percebeu finalmente. — diz Oinari erguendo sua perna levemente para cima, ameaçando pisar nas aranhas espalhadas pelo chão.
— Impressionante! O filho perdido se adaptou a uma aranha real! Nunca ouvi falar de algo do tipo acontecer antes. — Comenta Amon, do lado das escadas.
A aranha monstruosa grunhe de uma maneira assustadora, flexionando suas patas preparando um bote em direção a Oinari.
— Nem pense em fazer isso! Caso contrário, não vai ser apenas algumas que vão ser pisadas.
O ambiente era pesado, mas toda a tensão logo é substituída por um grito vindo de trás da aranha gigante.
— Eu... realmente! Odeio aranhas!!! — Erisu arranca as teias que o prendiam com os próprios dentes, pulando em direção ao monstro em seguida; — DIABURU!!!
Com raiva, a asa de Erisu se expande muito mais do que normalmente, cobrindo toda a aranha, batendo de cima pra baixo quebrando o chão do segundo andar fazendo com que os dois caíssem de um andar para o outro. Ele permaneceu em pé frente a aranha que está tonta pelo golpe, aproveitando Erisu mais uma vez acerta a aranha com um golpe vindo de lado com sua asa, jogando contra a parede, fazendo com que sangue azul escorresse pelas patas do monstro.
— Diga adeus!
A asa cobre o braço de Erisu, formando uma ponta perfurante no lugar de sua mão, enquanto ele pega espaço para finalizar a aranha. Foi aí nesse momento em que ele corre em direção a ela, que algo aconteceu.
— P-or F-av-or, aj-ude
Uma voz estranha soou do monstro, fazendo Erisu hesitar parando de correr. Ele não sabe como, mas aquilo realmente falou com ele. Enfim a meio a isso, Amon ergue suas mãos formando um sinal de câmera entre seus dedos, enquanto aponta na direção da aranha.
— TAIKUTSU!
Uma luz azul extremamente forte sai de sua mão, que contorna aquela criatura, a prendendo em uma espécie de caixa. Em poucos segundos a aranha começa a perder os aspectos monstruosos, diminuindo pouco a pouco seu tamanho, enquanto a caixa acompanha lentamente, até caber na palma da mão de Erisu que o segura, desfazendo sua asa.
— Foi mais fácil do que eu pensei! — diz Oinari, no segundo andar, enquanto olha pelo buraco que Erisu fez no chão.
— Eu juro, que ouvi essa aranha falar...
— Eu diria que é impossível, no entanto — Amon se aproxima de Erisu — Só de um filho perdido se adaptar em uma aranha já torna tudo o que ocorreu sendo algo impossível.
— Ei! Risu! Perdeu seu medo por aranhas agora?
— Eu, acho que...
No meio de sua frase, a visão de Erisu se escurece, ele precisou ativar seu Bakemono três vezes em um único dia, seu corpo obviamente não aguentou todo esse trabalho, assim o fazendo desmaiar.
【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】
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