Volume 1 – Arco 1
Capítulo 14: Alegação da Razão
【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】
Um carro de luxo estaciona frente a um imenso prédio abandonado com um guindaste vermelho ao topo, em uma zona a muito tempo inabitada do Distrito Independente. É início da tarde e gotas de chuva pingam sobre a terra.
— Quem aquele merda pensa que é? — diz Jun em voz alta, rangendo seus dedos sentado no banco de trás confortavelmente — Eu vou mostrar para esse merda que eu não preciso mais dele! Garota do capuz, tem certeza de que é esse o lugar certo?!
— Sim, caro poderoso Cão Divino da Razão... — responde a tal garota, que fecha os olhos em oração.
— Pois bem, vou esfregar na cara do Yudi para todos verem! — Jun pega seu celular, começando a digitar — Garota, como você se chama? Sei que você é amiguinha do Mineto, mas nunca te vi nas instalações.
— Eu me chamo Baiko Kudo caro senhor... minha relação com o Mineto é apenas uma amizade, que se tornou uma fé imensa ao nosso profeta...
Jun sorri, abrindo a porta do carro, enquanto ajeita sua gravata preta em seu terno branco, — Quando terminamos aqui, vou te dar uma promoção de seu cargo, seu Bakemono é bem útil para o Avô!
— Seria uma tremenda honra senhor..., no entanto devo alertá-lo de algo — diz ela, mostrando a palma de sua mão, com seus dedos lentamente criando pequenos fios coloridos — existe mais alguém nesse prédio além do filho perdido...
— Isso já não era de se esperar? Mas afinal... por que não localizou antes? — pergunta Jun, virando seu olhar para ela, fora do carro.
— Eu não podia, a força do filho perdido era pequena demais para localizar, no entanto, agora ela está até mesmo palpável para mim.
— Tendo crescido sua força ou não, continua sendo um simples filho perdido, me pergunto quem o consumiu.
— Ninguém senhor jun...
— Como?
— O filho perdido que está nesse prédio, não foi consumido por ninguém.
— Oras, menos trabalho para mim então.
— Entenda como quiser senhor — diz Baiko, que fecha a porta.
O caro de luxo enfim, faz a volta seguindo a alta estrada novamente, no entanto enquanto somente o carro em que está Baiko volta para seu destino, dezenas de carros pretos de luxo vem de direção contraria, todos seguindo em ordem enquanto estacionam atrás de Jun, que ajeita seus óculos com um intenso sorriso no rosto.
De dentro daquela caravana, saem um esquadrão de membros armados da SEIDAI, com armas de calibre alto, com ternos e coletes a prova de balas, em um número significativamente alto, suficiente até mesmo para um pequeno exército de fanáticos religiosos e mercenários comprados com dinheiro e influência de tal grupo.
Todos param em continência, atrás de Jun atentos para seu comando. Enquanto lentamente estende um dos dedos apontando para os fundos do prédio, assim de maneira coordenada um grupo daqueles soldados correm em direção a sua ordem.
— Escute! Eu me chamo Jun! membro dos Cães Divinos de elite da SEIDAI! Viemos recuperar o que os seus amigos roubaram! — Ele sorri, estendendo os braços para o alto — agora, eles já devem estar mortos! Se não quer ter o mesmo destino! Devolva!
Jun aguarda em silêncio, confiante mesmo que já esperasse que quer quem esteja com o filho perdido, não irá devolver de bom grado. Com um sorriso lúdico, ele acena com a mão, caminhando até a entrada do prédio.
— Não quero que nosso amiguinho fuja chorando, então um esquadrão fique aqui, o resto comigo.
Os passos molhados sujam a entrada do prédio com lama, enquanto de maneira tática seguem Jun em direção as escadas, o som de vários homens correndo ecoa por todos os andares, sendo quase impossível não perceber a presença de tantos dentro do prédio.
Foram alguns minutos de procura sem sucesso, a cada andar os soldados armados entram em sala, banheiros e corredores por todos os lados sem nem mesmo um sinal de vida apenas.
Jun fica cada segundo mais impaciente com todo seu esforço ainda levando a nada, irritado ele joga uma das cadeiras de escritórios contra a parede, — Mas que merda! —, ele respira fundo, ajeitando novamente seus óculos.
— Fique calmo jun..., use a razão, será que aquela garota estava enganada?
Pensativo, quase chegando aos últimos andares, ele percebe algo no chão ao lado da cadeira que havia atirado contra a parede. Tem livros, não apenas um, mas vários livros atirados no chão parecendo fazer um caminho até um corredor inacabado do prédio.
Seguindo a trilha, ele chega ao que parece ser um antigo depósito com vários quadros brancos espalhados junto a uma imensa pilha de livros que chegam até mesmo a tocar o teto com o tamanho.
— Como isso é possível? — diz em voz alta Jun, vendo o grupo de soldados escoltando pelos lados a procura de algo.
A chuva do lado de fora aumenta cada vez mais, até se tornar uma tempestade com grandes trovões e relâmpagos iluminando o prédio já escuro pelas nuvens.
Uma tensão pressiona todos na sala, até que um dos livros cai, assustando a todos que apontam suas armas em direção do barulho.
— O que estão esperando? Alguém vá lá conferir! — grita Jun, impaciente cruzando os braços.
Um dos soldados junto a seu rifle, liga uma lanterna se aproximando do local, iluminando o que há ali, o fazendo tomar um susto.
— O que foi? Encontrou o filho perdido? — pergunta Jun, se aproximando enquanto o empurra para o lado, vendo o que assustou o homem.
Uma pequena aranha se alimentado de uma mosca. Com o choque Jun muda sua expressão para uma de completo desprezo, cerrando seus punhos.
— Senhor Cão Divino da Razão! Encontramos algo! — diz outro soldado, ofegante finalmente encontrando seu líder.
— Não fiquem ai esperando! Vamos logo!
Jun empurra o homem em sua frente, mudando sua direção rapidamente enquanto segue o soldado.
No penúltimo andar, um frio terrível é sentido por todos a ponto de suas respirações liberarem vapor de condensação, com a sala sendo somente iluminada de pouco a pouco pelos raios refletidos pelas grandes janelas do local.
Sobre o teto há um imenso buraco de destruição que faz a chuva pingar para dentro, foi então que Jun percebe uma silhueta estranha em cima de uma mesa, de frente para uma vidraça quebrada.
Ele estende seu braço para o alto, fazendo com que todos os seus soldados mirassem contra a figura misteriosa, enquanto sem se preocupar se aproxima a passos calmos até ela.
— Agora você está encurralado! Devolva o que vocês roubaram do avô! Agora! — grita Jun, erguendo um sorriso confiante — ou se preferir, pode tentar fugir enquanto é fuzilado.
Outra vez, Jun é ignorado pela figura, o fazendo se aproximar ainda mais, fechando seu sorriso, enquanto ajeita seus óculos, — Está me ouvindo seu idiota?!
— Idiota? — Uma profunda e bela voz feminina surge, ecoando pela mente de todos, fazendo até mesmo Jun paralisar ao ouvir.
A silhueta misteriosa é iluminada por uma constante onda de raios atrás dela, revelando ser uma jovem adolescente, que abraça seus próprios joelhos com seus cabelos amarelos esverdeados.
Ela ergue lentamente sua cabeça, o encarando com seus olhos vermelhos brilhantes até mesmo em completa escuridão, apenas com um pequeno olhar, Jun sente ser perfurado por diversas lâminas em seu corpo, que por instinto se lança para trás de seus soldados extremamente ofegante.
— Quem tu pensas que é? Escória putrefaz da humidade? — diz a adolescente, com o vermelho sangue de seus olhos aumentando.
Jun ouve suas lentas palavras, não apenas com receio, mas sim se tremendo de forma descontrolada, quase até mesmo se afogando com sua própria saliva.
— Por deus... que merda é você? — ele pergunta, enquanto gagueja
— Quem sou eu? — ela tomba a cabeça, descendo da mesa do qual está sentada, colocando seus pés descalços sobre o chão — Eu sou o tal Deus cuja acabas de clamar, ser insignificante.
Jun arrega-la seus olhos, ao ver ela descer de sua mesa, gritando o mais alto que consegue, machucando até mesmo sua garganta, — Atirem!!! —, em um comando rápido.
Por reflexo ao grito, todos os soldados atiram ao mesmo tempo contra a garota, subindo uma intensa fumaça com o calor das balas, fazendo ferro de suas armas quase fundir enquanto consomem por completo todos os pentes de munição que tinham.
As capsulas de bala estalam no chão até sua última cair, surgindo um silêncio incômodo, somente sendo ouvido a chuva do lado de fora e a respiração pesada de todos ali.
— Fique calmo Jun, fique calmo. — Ele leva a mão até seu peito, com seus batimentos a milhão.
— Como ousam perturbar meu sono! Como ousam tentar me atacar! — A voz da garota outra vez é ouvida, enquanto a fumaça de dissipa.
A garota ainda está de pé, sem nenhum machucado, nem mesmo um arranhão. Ela vira a palma de suas mãos, deixando cair centenas de balas amassadas no chão, enquanto ela ergue seu queixo para os encarar de cima para baixo.
— Como ousam ainda não estarem ajoelhados?
Em questão de segundos após sua fala, todos os soldados largam suas armas se ajoelhando ao mesmo instante, com a testa sobre o chão, enquanto pedem perdão.
Jun se vê o único em pé, tremendo por completo enquanto sua visão começa a ficar embaçada, com sua mão tenta afrouxar sua gravata para respirar, vendo a garota se aproximar de maneira bela e cuidadosa até ele.
— Tu me chamaste de idiota, me pergunto se foi o único fio de coragem em sua vida, ou apenas uma burrice de uma mente vazia.
Jun salta outra vez para trás, suado pelo nervosismo, tirando os óculos de seu rosto revelando uma pequena mancha azulada em sua sobrancelha, preparado para entrar em uma luta.
— Tu vais ativar seu Bakemono? Vais tentar lutar comigo? Criatura prepotente, não enxerga seu lugar?
O suor escorre até os olhos de Jun, que pisca por reflexo, porém para seu terror, a garota não está mais tão distante, mas sim bem a sua frente, o fazendo sentir os olhos daquela garota entrando em sua alma.
Sua pele fica pálida como a neve, seus cabelos que antes eram loiros agora se tornam grisalhos como a de um velho, suas pernas cedem o fazendo cair sentado enquanto espuma pela boca apenas pela presença de tal ser poderoso.
— A realidade criatura asquerosa, é que tu sempre foste um covarde — ela leva seu dedo indicador na testa de Jun, fazendo um brilho esverdeado surgir em torno — você pode pedir para enganar sua mente, mas jamais irá enganar sua alma.
— É m...mentira! e...eu sou a razão! E...eu pedi para ele me fazer corajoso!!! — diz Jun, rangendo seus dentes.
— A coragem é a razão dos tolos, foi esse seu tal desejo que lhe tornou uma mosca mequetrefe em minha teia — ela aproxima do rosto dele — agora não há mais como fugir.
As palavras passam pelo seu ouvido, o fazendo tremer em grandes espasmos convulsionando, enquanto gira seus olhos para trás, até cair por completo contra o chão, sem vida.
Ela o encara com desprezo, surpresa com a situação, em seguida olhando ao redor, vendo que todos os soldados continuam de joelhos de maneira obediente sem reclamar.
— Koi?! O que está acontecendo aqui? — diz a voz calma e sonolenta de Amon, que segura um saco de compras em seus braços.
— Ora, finalmente você voltou meu servo — responde Koi, saltando por cima do corpo de Jun, enquanto se aproxima.
— Tinha um monte de gente lá armada lá fora? Você fez alguma coisa?
— Creio que não iria me envolver com tal laia meu querido servo — diz Koi, saltitando frente a Amon, enquanto tenta enxergar o que ele havia comprado — no entanto, eles falaram que roubei algo do avô deles.
— Avô? — Ele abaixa a sacola, vendo Koi colocar a cabeça por completo dentro, como um gato.
Ela continua vasculhando as compras, enquanto Amon confere os batimentos do corpo de Jun, já começando a ficar frio.
— Você o matou Koi?
Ela tira sua cabeça de dentro da sacola, segurando com sua boca um palito de crepe doce, enquanto fala com a boca cheia — Não, ele ficou tão assustado que acabou morrendo sozinho.
Amon suspira, retirando um lenço de seu bolso, limpando o rosto dela sujo de açúcar e creme.
— Olha, provavelmente eles estavam procurando por você, não sei se lembra, mas a Oinari e Erisu roubaram você de um velho, presumo que seja desse tal de Avô.
— Isso quer dizer que eles são os responsáveis pelo que aconteceu comigo? — pergunta Koi, apreciando seu crepe.
— Não diria que foram eles, mas com toda certeza eles sabem de alguma coisa, talvez tenham até mesmo suas outras partes.
Koi termina seu crepe rapidamente, alongando seus braços para o alto, enquanto pisa com força sobre o chão, virando sua atenção para os soldados ainda de joelhos.
— Muito bem! Escutem aqui humanos sem valor! Me leve ao líder de vocês!
— Eu trouxe torta de maça também — diz Amon, retirando um pote de plástico bem embalado.
— Muito bem! Iremos até o líder de vocês depois de comer! — grita Koi, pulando em cima de Amon que segura a torta.
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