Volume 1 – Arco 1
Capítulo 13.2: Adeus Maninha
【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】
Afundando cada vez mais no imenso oceano escuro, Yume nem mesmo consegue ver Yudi a sua frente, sua respiração está pesada e densa, a pressão de todo aquele vazio a faz lembrar do dia que quase morreu afogada.
Em sua mente somente se passa lamentos a todos aqueles que ela perdeu, ela tem medo do que pode vir em seguida, ela consegue juntar forças, mesmo assim não é o suficiente, tudo o que ela fez nunca foi.
Ela leva sua mão até seu pescoço, aceitando seu destino, nesse exato triste momento, algo acontece, Yume ouve uma outra voz profunda vinda do abismo negro.
Diferente das duas outras anteriores, ela não reconhece essa voz imponente, assim ela olha para os lados e percebe em sua frente, um gigantesco olho em meio a escuridão se abrindo para ela.
Ela em comparação com o tamanho daquele olho, não passaria de uma pequena formiga frente a uma pessoa.
Por alguma razão ela não sente medo, muito menos desespero, sua atenção se focou somente no fato que na íris daquele imenso olho, há uma flor de lótus exatamente igual a que existe em seus olhos.
— Pequena criatura, tu renasceste do mar da morte e dela consegue escapar! — a profunda voz é sublime, causando um alívio em todo seu corpo.
— Quem é você?
— Sou aquele que está preso dentro de ti, somente tu podes libertar.
— O que você é?
— Eu sou a sobrevivência.
— O que eu deveria ter feito? — diz Yume, caindo ainda mais.
— Essa pergunta pequena, somente tu podes responder, por isso viva!
— Viva...
Essa pequena palavra ecoa em sua mente, fazendo com que toda aquela escuridão tomasse cor mais uma vez, gradualmente, o brilho azul cristalino emana por todos os lados, revelando assim um mar repleto de peixes e criaturas marítimas jamais nunca vistas.
— Eu preciso viver!
Seu corpo guiado pela voz da criatura, volta a emergir para a superfície, para finalmente abrir seus olhos, enquanto caído no chão.
Seu corpo está frio e dormente, com sua visão embaçada, vê Yudi já distante, respirando fundo.
Por instinto, cada parte de seu corpo se move sozinho e quando menos percebe, ela já está de pé outra vez. Em seu campo de visão, está novamente seu pai, e sua mãe, bloqueando sua passagem até Yudi.
Ela nem ao menos percebe que de seus lábios escorre saliva, enquanto seu corpo sozinho se move.
Yudi a encara impressionada, com uma mistura de medo e confusão, os golpes que ela tomou foram mais do que suficiente para matar até mesmo um Numen, mas ela ainda está de pé.
— Parece que não era somente seu irmão que rejeitava a morte, você ainda está em pé! Estou surpreso, talvez eu deveria ter feito experimentos com você também!
Yume o ignora, ficando de frente com a figura de seu pai, limpando seu rosto sujo de sangue.
— Pai, você sempre foi meu herói, me perdoe por não ter cuidado da família da forma que você cuidava — diz ela, de forma serena.
— Está tudo bem filha, nunca foi sua culpa! — a figura de seu pai se desfaz em sua frente.
Ela caminha até sua mãe, com dificuldades, a encarando nos olhos.
— Mãe, está tudo bem okay? Você fez o que pode, saiba que eu sempre vou sentir sua falta.
A expressão de ódio de sua mãe se desfez a essas simples palavras, a fazendo lacrimejar frente a sua filha.
— Querida... como pode dizer isso? É impossível perdoar o que eu fiz!
— Mas eu já perdoei mãe! — Yume abraça ela, com força — Eu sou grata por tudo que fez por mim, eu sempre vou te amar!
Sua mãe se desaba em lagrimas, a retribuindo em seu abraço, enquanto se desfaz com um sorriso sincero.
— Como fez isso? — pergunta Yudi, a encarando com sua voz falha.
— Quando me trouxeram para cá, eu pedi para você retirar minhas memórias ruins — Yume leva seu dedo indicador até sua cabeça, sorrindo — mas agora, eu acho que quero ficar com elas!
— Droga! Por que você não morre?!
Yudi corre em direção de Yume, de forma desgovernada, enquanto mais e mais bolhas se formam atrás dela, que respira fundo o vendo se aproximar.
Em um estalar de dedos novamente as bolhas vão em direção de Yudi, com uma pequena diferença, aquele não era mais um simples ataque dela, com um olhar de vitória, Yume sorri.
— Guusuu Kyoudai !
Ao concluir o nome de seu Bakemono, o que antes eram simples bolhas resistentes, agora se estouram, formando com a água delas de pouco a pouco uma imensa onda, que pelo seu tamanho surpreendente, fez com que Yudi não conseguisse desviar, sendo atingido pelo impacto, sendo levado com a onda até a parede, fazendo a pressão da água quase o afogar por completo.
Quando a onda finalmente se esvazia, ele cai de joelhos, tossindo água que engoliu sem querer, — Maldita! — em poucos segundos novamente outra onda o atinge vinda pelo lado, que o joga com tudo, o fazendo se arrastar no chão.
Várias ondas seguidas começam a atingir Yudi, que pelo tamanho e velocidade, não consegue esquivar ou se defender de maneira efetiva.
Até que quase afogado, Yudi gira junto com seu corpo a sua foice, fazendo criar um redemoinho na onda criada por ela, para finalmente ser impulsionado com a força em direção a ela.
Naquela velocidade, o acerto era garantido, mas Yume não parecia assustada, nem mesmo se moveu para defender, foi aí que Yudi percebe que ela já esperava por isso.
Do mesmo redemoinho do qual criou, não foi somente ele que foi lançado para fora, mas junto consigo, vários peixes estranhos criados por aquelas ondas estranhas surgem, mordendo Yudi em vários pontos de seu corpo, enquanto se alimentam dele ainda vivo.
— Ah! Que merda é essa?! — grita ele, girando no chão, tentando retirar esses peixes de seu corpo.
— Isso, é toda a vida que existe em meu oceano, eles são as provas de que eu quero viver.
A expressão convencida de Yudi, muda para uma de medo e receio, ele não sabe mais o que poderia surgir da garota em sua frente.
Olhando a sua volta, ele começa a procurar uma saída, algo que ele jamais havia pensado, fugir de alguém do qual ele considera mais fraca.
Yudi corre em direção ao caminho que Erisu havia seguido, mas junto a uma força da natureza, uma imensa jaula de mar surge cobrindo todas as saídas que Yudi poderia seguir. Uma onda constante imutável.
— Okay! Eu desisto! Por favor! Pare! — diz ele, com sua voz cada vez mais falhada.
Yume caminha até o meio de todo aquele lugar, encarando seu algoz acovardado.
— Yudi, o cão divino da bondade... me diga o que fez de tão bom para ter esse título?
Ele tenta evitar ficar de frente para ela, largando finalmente sua foice que se desfaz em pedaços como vidro.
— Me responda Yudi, o que fez você achar ter direito de fazer o que fez?
Ele foi retomando sua coragem lentamente, vendo que ela parou de o atacar, respirando fundo seu último ataque, do qual ele sabe que ela jamais iria conseguir se defender.
— Fique sabendo... eu não me arrependo de nada! — ele sorri, arregalando seus olhos — e talvez, o que me deu direito de fazer... Foi isso! Koware ta Kioku!
Outra vez, em uma tentativa desesperada, ele ativa seu Bakemono, que quando Yume pisca, vê em sua frente um pequeno garoto de cabelos azuis, seu irmão ainda criança, Shibo.
Yudi sorri, vendo-a abaixar a cabeça lentamente vendo seu irmão antes de se tornar o monstro que se tornou.
— Oi maninha!!! — acena Shibo animado.
— Irmão... eu sei que você não é real — ela cerra seus punhos — mas eu preciso te dizer, você foi o melhor irmão do mundo!
Shibo olha para sua irmã, chorando com a felicidade de ouvir tais palavras, enquanto concorda com a cabeça para ela. Enquanto Yudi junta suas forças criando outra vez sua foice de luz, mas nesse exato momento ele percebe que Shibo não está mais olhando para Yume, mas sim para si mesmo.
— O que?! como você está olhando para mim? — pergunta Yude, sem entender, desfazendo novamente sua foice.
— Oi Yudi! Sabe eu não gosto de brigas! Por isso odeio ter que dizer isso! Mas você fez uma péssima escolha quando me trouxe! — Ele se aproxima dele, fechando seus olhos em um sorriso doce de uma pequena criança — Então vamos dizer adeus juntos!
— C...c...como?
Shibo segura a mão esquerda de Yudi, se virando para sua irmã enquanto acena.
— Agora! Pode acabar com isso! Adeus maninha!
Yudi olha para frente tremulo, vendo Yume apontar o dedo indicador para ele, com um sorriso.
— Adeus, meu querido maninho! Bang!!!
Ao fim de sua frase, de dentro da imensa jaula de água, surge de trás de Yudi, um imenso monstro marinho, com uma grandiosa boca cheia de dentes afiados, que em somente uma única mordida, engole a parte superior do corpo de Yudi, deixando somente a cintura e as pernas, que caiem por completo segundos após o ataque.
Uma morte rápida, que em seguida logo toda aquela jaula se desfaz por completo, desativando por fim o Bakemono de Yume após um longo e brutal combate.
Mancando, ela se encosta em uma das vigas de sustentação do local, respirando fundo com dificuldades pelos seus ferimentos, enquanto olha para o alto.
— Eu vou sentir tanto sua falta irmão... nós um dia veremos o mar juntos!
Yume sorri, enquanto se escora ainda mais, fechando seus olhos lentamente, para o fim daquela história.
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