Um Tiro de Amor Brasileira

Autor(a): Inokori


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 13: Amor e Culpa


【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】

“Um pequeno garoto de cabelos azuis corre em uma calçada com um sorriso em seu rosto. Ele estende sua mão para alcançar alguém, até segurar  sua mão.

— Te peguei mana!!! — diz o garoto, soltando uma grande gargalhada por alcançá-la.

— Você está ficando cada vez mais rápido Ein? Logo não vou conseguir te acompanhar no pega-pega! — responde uma doce voz de uma jovem garota.

A garota se ajoelha ficando da altura de seu pequeno irmão, afagando seus cabelos com intensidade, limpando o pequeno rosto dele em seguida com as mangas de sua camiseta.

— Mana! Estou com fome! — diz ele, pulando de animação.

— Oh, tudo bem, vamos voltar para casa ok? ­— ela responde, mudando levemente sua expressão, mesmo quisesse continuar firme, frente a seu irmão.

Ela o guia, apertando um pouco mais uma mão, ficando em completo silêncio no caminho.

— Mana... porque toda vez que volta para a casa, fica chateada?

— Eu fico? — pergunta ela, mostrando um tímido sorriso.

— Consigo ver pelo seus olhinhos mana, eles perdem o seu brilho lindo, não gosto disso.

Ela para sua caminhada, encarando seu irmão com um olhar de orgulho, apertando as pequenas bochechas dele.

— Quando foi que você ficou tão esperto assim Shibo? — ela sorri — não se preocupe, está tudo bem, okay?

Ela volta guiá-lo, olhando sempre para frente, enquanto o pequeno Shibo apenas a admira enquanto observa suas costas, sua coragem e maturidade, tudo em sua irmã era sinônimo de inspiração para ele.

Poucos instantes depois, os irmãos estão de frente para uma porta em um apartamento de luxo, com toda certeza aquela é a casa deles. Vendo o pulso tremulo de sua irmã, Shibo toma a iniciativa abrindo a porta de entrada.

A volta deles, há objetos e móveis nobres, do qual uma pessoa com renda média jamais conseguiria comprar. No entanto, junto a todo aquele luxo, um cheiro impregnou todo o ambiente, um aroma de incenso junto a um murmuro feminino vindo da sala-de-estar que está pouco iluminada, tendo o único indício de luz é uma chama vermelha de uma vela.

A irmã do pequeno garoto solta mão dele, criando assim uma expressão diferente do que de costume, um olhar de raiva.

Ela caminha até a sala, batendo contra o interruptor com força, ligando a luz clara da lâmpada, relevando o que há em sua frente. Shibo olha de canto da porta vendo sua mãe, de joelhos para uma espécie de altar, cercado por símbolos religiosos estranhos, com fotos em quadros de um homem de meia-idade.

— Mãe... por que está fazendo isso de novo?...

A aquela figura, vira seu rosto para sua filha, sorrindo com lagrimas em seus olhos, revelando uma cena assustadora. A volta dela há uma poça com um líquido vermelho, mas ao perceber as mãos de sua mãe, a jovem garota grita;

— Mãe! Você está ferida?! — ela parte para cima da sua mãe, a segurando pelos pulsos para olhar de mais perto as mãos dela.

Com choque, ela vê um imenso corte profundo na palma da mãe dela, que ainda escorre sangue. A garota rasga seu próprio vestido desesperadamente, tentando estacar o sangue de sua querida mãe.

— Shibo! Vá até o banheiro! Ache curativos por favor!

Nem mesmo tendo acabado de concluir sua frase, a jovem é empurrada por sua mãe, a fazendo cair de costas contra a quina do sofá, enquanto ela permanece com um sorriso maníaco em seu rosto.

Shibo arrega-la seus olhos, correndo até sua irmã, estendendo os braços de frente para ela como se quisesse a defender.

— Yume querida, como não consegue ver?! Estou dando meu melhor.

— Seu melhor?! — Yume se levanta, vendo seu irmão em sua frente o segurando nos ombros — O que você acha que vai acontecer se continuar se ferindo assim?!

— Não é obvio? Vou trazer o seu pai de volta!

— O papai... — ela abaixa a cabeça, apertando com força os ombros de seu irmão — Ele está morto! Ele morreu a dois anos! Não tem como trazê-lo de volta!

A mãe deles se levanta em silencio, se aproximando de seus filhos com os cabelos cobrindo seus olhos, Yume realmente acreditou que sua mãe poderia ter entendido de uma vez e que agora eles iriam se abraçar como faziam no passado, mas a única coisa do qual sentiu, foi um tapa forte em seu rosto, dado por sua mãe.

— Cale a boca sua praga mentirosa! Você não amava seu pai né?! Você é uma desgraça possuidora! Se não fosse por você, ele ainda estaria aqui!

Aquelas palavras pesadas cortam o coração de Yume como uma navalha, a fazendo lacrimejar seus olhos não pela dor do tapa, mas pelas frases de sua mãe.

O pai deles sempre foi uma pessoa boa, abdicava do próprio trabalho para passar o tempo com sua família do qual era o seu bem mais importante.

Porém a dois anos atrás, Yume foi a praia com seu pai, ela não sabia nadar, no entanto determinada e apoiada pelo seu pai, decidiu mergulhar pela primeira vez. Tudo ocorria normalmente, no entanto as ondas do mar são imprevisíveis e cruéis, fazendo com que em um piscar de olhos, um simples mergulho se tornou uma tragédia.

Yume foi puxada pelas ondas, aquele seria o seu fim, mas seu pai deu sua vida para a salvá-la, ele conseguiu tirar da correnteza, porém infelizmente não conseguiu sair sozinho, levando-o para sua morte.

Devastada pela morte de seu marido, a mãe dos dois se afundou em uma profunda depressão, onde ninguém a conseguia tirar. Até que em certo dia, um homem com um capuz branco bateu na porta da casa deles, ele se dizia um santo que busca retirar o peso do coração dos feridos.

Naquele momento, a mãe deles entrou em um mar ainda mais profundo, dependendo somente de sua fé para seguir em frente, um culto religioso, uma seita organizada, que daquele dia em diante, se tornou o foco principal dela.

Yume leva mão até seu próprio rosto ardido, respirando fundo encarando sua mãe com raiva.

— Eu também sinto falta dele... eu sei que também tenho culpa nisso, mas eu também sinto falta da minha mãe que sempre disse palavras doces e gentis.

— Você o tirou de mim..., mas o Avô pode trazê-lo, eu posso te perdoar filha! Somente me ajude. — diz a mãe dela, levando sua mão até o rosto de sua filha que está vermelho para a acariciar.

— Não mãe! Eu não vou te ajudar! Mesmo sabendo que é minha culpa! Papai jamais iria querer isso! — Yume empurra a mão de sua mãe — seja quem for esse avô! Ele está te enganando! Aproveitando do dinheiro do papai, ele é mentiroso!

— Não ouse falar mal dele sua praga! Continuamos somente vivos buscando a salvação porque ele gosta de nós!

— Não! Ele não gosta! Eu o odeio! Eu odeio o que você se tornou!

Yume segura seu irmão pela mão, correndo rapidamente para fora de casa, sem nem mesmo olhar para trás, durante a discussão o pequeno Shibo havia paralisado, não sabendo como reagir, sendo o único a olhar para a porta do qual fugiu com sua irmã.

Mesmo após toda a briga, ele tinha esperanças de que sua mãe correria atrás deles, como uma mãe faria, mas ela nem mesmo se importou com a fuga, ela voltou a se ajoelhar e rezar para um tal deus que nem ao menos sabia o nome.

Enquanto corriam em disparada sem rumo, o anoitecer os cercou e a chuva os atingiu, fazendo com que a única esperança de ambos fossem se esconder de baixo de uma ponte velha em meio ao Distrito Rural.

Yume abraçou seu irmão o mais forte que conseguia, tentando o aquecer do frio, enquanto Shibo permanecia em silencio, tentando dirigir tudo o que aconteceu.

— Mana... o que houve com a mamãe?

— A mamãe ainda está triste pelo papai.

— Você realmente a odeia?

— Não... — Yume encosta seu rosto nos ombros dele — como posso odiar a nossa mãe? Eu só sinto falta de como era... estou com medo.

— Mana está com medo do que?

— De que você se machuque... — respondeu Yume, sem nem mesmo hesitar em sua resposta.

— Eu te amo mana... — Shibo vira seu rosto, a olhando nos olhos — quando estiver com medo maninha! Shibo proteger!

Mesmo naquela situação embaixo da chuva, Shibo continuou sorrindo para sua irmã, criando curativos em seu coração machucado.

— Eu também de amo maninho.

— Mana, quando voltarmos, podemos ir para praia? Quero visitar o papai!

 

Ela intensifica o abraço com seu irmão, fazendo os ficar aquecidos por aquela noite toda. Mesmo sendo apenas crianças, ninguém parou para ajudá-los, todavia isso não importa para eles, desde que tivessem um ao outro. — Eu prometo Shibo.

Um dia após tudo isso, a mãe deles apareceu os procurando de maneira desesperada, ela jurou que iria mudar frente aos dois e que jamais repetiria o que fez. Era até mesmo estranho a maneira que ela conseguiu mudar todo um pensamento em um simples dia, mas Yume sorria para ela ao ouvir tais palavras.

Eles voltaram para sua casa, na primeira semana tudo parecia normal; incrível; ótimo e seguro, a mãe deles até mesmo voltou a cozinhar, algo que não fazia a um bom tempo.

A família voltou a ser o que um dia foi, ao menos era o que acreditavam.

Shibo acordou mais cedo no primeiro dia da segunda semana, ele precisava ir ao banheiro, por isso foi até o quarto de sua irmã para pedir ajuda, ao chegar lá um arrepio percorre em sua espinha, a porta está entreaberta e apenas a luz vermelha de uma vela era vista de dentro.

Com os olhos arregalados, cercado pelo medo, ele empurra a porta com força, tendo em sua frente um terrível choque.

Ao lado da cama de sua irmã, está sua mãe sorrindo alegremente, junto a duas pessoas de capuz branco. Na cama está sua irmã, com braços e pernas amarrados, com a boca amordaçada, com um homem sem capuz e careca em subindo no colchão com uma expressão sádica.

— M...mamãe? o que é isso? — pergunta Shibo em desespero.

Shiiu, filho alegre-se! Seu papai vai voltar! Os moços bondosos falaram que para isso, só precisavam da carne dela! — diz sua mãe, pedindo silencio com o dedo para ele.

Naquele momento, aos olhos de Shibo, tudo está em câmera lenta, a luz forte vermelha faz doer sua cabeça, ele olha para os lados tentando pensar em algo que poderia fazer para ajudar. Aquela era uma pressão gigantesca para uma pequena criança.

Como instinto, mesmo sobre essa situação, Shibo alcança uma pequena tesoura de cima de escrivaninha de sua irmã, correndo em direção ao homem que subia em sua cama.

Com um pequeno pulo, o homem vira seu rosto surpreso para ver o que estava lhe atrapalhando, nesse momento Shibo sem hesitar, perfura profundamente o olho do homem com a tesoura, fazendo espirrar sangue por toda a volta.

O homem grita, fazendo sua mãe entrar em desespero junto ao último suspiro de vida dele, até morrer nas mãos do pequeno garoto.

Shibo fica ofegante de forma desgovernada, quase hiperventilando enquanto solta a tesoura de sua mão.

Sua mãe tentando partir para cima do próprio filho, no entanto é parada por um daqueles homens, retirando seu capuz revelando uma imensa cicatriz em seu rosto.

— Senhorita Shitto, não se preocupe com isso, o que seu filho fez foi um ato belo! Muito melhor do que esperava, alegre-se! Irá ter seu marido de volta.

 Ela sorri abertamente para o homem da cicatriz, se curvando enquanto agradece constantemente a ele.

— Yude, o resto é com você, traga o marido dela de volta. — Conclui o homem da cicatriz enquanto se aproxima de Shibo.

Assustado, ele aponta a tesoura para o homem, recuando em nenhum momento a pessoa que é duas vezes maior do que si mesmo.

— Ninguém vai machucar a Yume!

— Eu não pretendo machucar garoto, não se preocupe, apenas quero lhe perguntar algo... — O homem da cicatriz sorri, sentando-se ao lado da cama — faria de tudo para proteger sua irmã?

Shibo se aproxima de Yume, acenando positivamente com a cabeça para a pergunta do homem.

— Ficaria até mesmo mais forte para a protegê-la?

— Tudo o que for preciso para mana!

— Muito bem! Eu prometo pelo Avô que irei cuidar de sua irmã! Para todo o sempre! Vou fazê-la esquecer de sua horrível mãe e ainda mais... vou te tornar mais forte para protegê-la!

Shibo ouve atentamente a proposta do homem, não tendo para onde correr, ele precisava confiar em seu último resquício de esperança.

O homem segurou sua irmã no colo, pedindo para que ele o seguisse para fora da casa. Enquanto a sua última visão de sua mãe, foi ela ao lado do outro homem, abraçando o nada, com lagrimas no rosto, até sua cabeça sair de seu pescoço, junto a um jato de sangue.

Uma visão terrível, mas que Shibo não teve chance para chorar.

Os dias seguintes, Shibo ficou preso em uma sala em uma espécie de esconderijo subterrâneo junto a outras crianças, durante meses ele não viu sua irmã.

Mesmo aliviado e acreditando que ela esteja viva, o seu inferno pessoal se iniciou dentro daquela sala, amarrado por cintas de couro em uma mesa de operação, ao lado das outras crianças.

Shibo viu um homem de óculos ao lado do mesmo homem que matou sua mãe, perfurando o braço de cada um, com uma injeção preta e gosmenta, quando chegou sua vez, o assassino de sua mãe sorriu, injetando de uma vez só toda aquela substância.

Nos primeiros minutos nada ocorreu, porém ao ouvir o grito de seus colegas amarrados, começou sentir um formigamento em seu braço, de pouco a pouco o formigamento se tornou uma queimação, em seguida parecia que alguém estava tentando arrancar seu braço.

Sua pele inchou e inflamou, enquanto vomitava uma gosma preta. Shibo não conseguia respirar, ele sentiu durante várias vezes que estava morrendo, mas sua força e vontade em querer ver sua irmã o obrigou a continuar vivo naquele sofrimento.

Algumas horas depois, não era somente seu braço que havia inchado, mas sim todo seu corpo, seja o que for que foi injetado nele, estava o rejeitando. Os gritos de seus companheiros não podiam mais ser ouvidos.

O homem de óculos se aproxima dele novamente, junto a um cerrote de cirurgia e um bisturi.

Ele ouve seus ossos e carne sendo cortados, mas não conseguia sentir mais nada, sua mente entra em um breu, onde somente algumas palavras inconscientemente saíram de sua boca.

— Maninha... eu quero visitar a praia...,maninha... eu fui um bom irmão?”

Naquele instante, um som de ossos quebrados em seu corpo mais uma vez foi ouvido por Shibo.

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