Volume 1 – Arco 1
Capítulo 10: Autonomia
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O som das grades da prisão subterrânea em meio a aqueles infinitos labirinto de túneis ecoa. Erisu está algemado com as mãos e as pernas atadas, ainda sujo de sangue.
— Ei, Oinari que ideias de gerico foi essa de se render?
— É meio evidente não? Você não tinha mais forças para lutar e em questão de números estávamos na desvantagem.
— Você não costuma a ser tão precavida assim raposa.
— Tem razão — diz Oinari, sentando-se no banco sujo feito de concreto — mas ao menos, agora eles nos levaram a algum lugar, certo?
— Então você tem um plano!
— Talvez
— Acho que já disse isso, mas não é hora de ficar fazendo esses joguinhos! — diz Erisu, com uma expressão de raiva.
— Mas veja Risu... você consegue sentir o cheiro da Himeno por aqui?
— Cheiro? — pergunta Erisu, erguendo seu queixo respirando ar fundo, como um cão farejador — Nem um sinal dela pra mim, fora esse cheiro de bosta de novo.
— Pois é, eu também não estou ouvindo nada que me lembre ela... — Oinari cruza suas pernas, fechando seus olhos — se ela não está aqui, para onde a levaram?
— Que tristeza... a garota do qual procuram... logo será solta em segurança... — diz uma voz conhecida, mergulhada em pesares.
Do lado de fora da sela, a passos lentos Yume aparece, com os cabelos cobrindo por completo seu rosto.
— Como assim será liberta? — questiona Erisu.
Yume não responde há pergunta dele, parada frente as grades, fazendo com que ele mostrasse uma expressão de tédio ao ter sido ignorado.
— E por que libertariam ela? — pergunta Oinari, mostrando atenção.
— Que dor... vocês estão aqui, então ela está segura...
— Espera, segura?! vocês a sequestram e agora dizem que ela vai estar segura?! — grita Erisu.
— Vocês são demônios! — Yume segura as grades com suas mãos — eu não sei o que queriam fazer com ela! Mas se não fosse o Avô! Ela estaria morta!
— O que? — Oinari olha intrigada para Yume.
— Vocês são as pragas mundiais... vocês são as tristezas das minhas lágrimas... a raça de vocês Numens... são verdadeiros demônios! — grita Yume, apertando as grades.
— Espera, Oi?! — Ele começa a gargalhar em voz alta, ecoando pelos corredores — O que essa doida tá falando? Hahaha!
— Não ria Risu, tenha empatia. — diz Oinari demonstrando um pequeno sorriso do canto da boca.
— Q-qual é a graça? Por que estão rindo?
— Oras não é obvio maluca chorona — Erisu aponta o dedo indicador diretamente a ela — você diz nossa raça..., mas você também é uma Numen!
— Calado demônio sujo! Eu jamais seria como vocês!
A expressão de raiva e choque de Yume é genuína, chamando atenção de Oinari que lentamente se ergue, se aproximando das grades onde ela se encontra, abrindo os olhos lentamente.
— Se não é uma Numen, o que você é?
— Como pode ter dúvidas? Que tristeza... Eu sou uma humana não é obvio?!
— Ora, ora..., uma humana? — Oinari toca na grade frente a ela, aproximando seu rosto — Acha possível que um humano consiga fazer o que você fez quando lutou com ele?
— A minha benção é uma habilidade dada a mim pelo Avô! Para lutar contra vocês demônios que tiraram tudo o que eu tinha!
— Uma benção? Como pode acreditar nisso?
Oinari estica sua mão esquerda em direção ao rosto de Yume, que paralisa com sua respiração ofegante frente a ela mais uma vez. Com cuidado ela joga com seus dedos delicadamente os cabelos do rosto dela para trás, revelando por completo pela primeira vez os olhos de Yume.
— Olha só! Era o que eu esperava — diz Oinari abrindo um sorriso doce — dois belos olhos azuis como o céu, com a adorável marca de flor de lotus em sua íris.
Ela recupera o controle sobre si, afastando alguns passos para trás, mantendo distância de Oinari, com uma expressão assustada.
— Qual o problema disso?! Me deixe em paz por favor!
— Problema algum, apenas essa é uma prova que você é uma de nós também.
— Não! O Avô jamais permitiria um demônio andar a seu lado!
— Não só permitiria, como também ele é um.
— O...o que?
— Haha, bobinha, você nunca questionou nada?
— Não... isso é impossível!
— Então por que você acha que estamos aqui? Por que seu líder estava tão desesperados para nos prender?
— Vocês queriam matar aquela garota ruiva! Certo?! É isso né? — diz Yume, com a voz tremula.
— Essa garota é minha amiga, seu líder e sua seita sequestraram ela para que nos devolvêssemos algo que pegamos dele.
— Pegaram dele? O que vocês pegaram?
—Roubamos dele o que fez você se transformar em um Numen.
— Não, não, não...
O corpo de Yume começa a tremer frente a situação, algo constante junto a uma terrível pontada em sua cabeça, como se uma agulha quente estivesse perfurando seu cérebro. Ela leva suas mãos até sua cabeça, como se estivesse em uma luta com sua própria mente, a ponto de seu nariz voltar a sangrar.
— Cão Divino da Tristeza! Senhorita Yume! Me apresentando para lhe apresentar um recado! — diz um homem, correndo em direção a ela, prestando continência.
A dor em sua cabeça some, ao se deparar com um dos membros da SEIDAI, assim de maneira formal, ela estufa seu peito, tentando recobrar sua postura.
— Ah... sim... que tristeza... diga-me a mensagem!
— Haverá uma reunião do conselho dos cães divinos diretamente com o Avô! Sua presença é necessária! Sendo chamada pelo próprio apostolo do conselho!
— Sim, entendo, estou a caminho já
— Mais uma coisa senhorita! Seu nariz está sangrando! Precisa de ajuda?!
— Não, eu estou bem, pode ir a frente — Yume limpa o sangue em seu nariz
O jovem soldado presta mais uma continência, correndo o caminho de volta que tinha feito, enquanto ela se aproxima pela última vez das grades, cobrindo seus olhos com os cabelos.
— Não irei acreditar em nenhuma palavra do que disseram, mas irei dar um aviso — Yume aponta o dedo indicador como se fosse uma arma — não falem nada disso com Shibo, se não eu mesmo irei matar vocês!
Ela se encaminha a seu compromisso, deixando-os sozinhos em sua prisão. Oinari volta a se sentar pensativa com tudo o que ouviu.
— Garota estranha, eu ein! — Erisu se deita no concreto, alongando suas costas — Mas e agora, o que vamos fazer?
— Eu não sei.
— Como assim você não sabe? Você não tem um plano?!
— Eu tinha um plano.
— Como assim tinha um plano?! O que houve com ele?
— A nossa conversa com a garota chorona não foi de tudo em vão, afinal graças a ela, percebi algo importante. — diz Oinari, fechando seus olhos, respirando fundo.
— E o que seria?
— Provavelmente existe um Numen entre eles que tem um Bakemono com habilidades mentais, pode até mesmo ser o tal Avô.
— Tá porra, mas qual o problema disso? — diz Erisu, se erguendo, encarando-a.
— Você não consegue lidar muito com suas memórias Risu.
Erisu muda sua expressão de tédio para uma mais calma, voltando a se deitar outra vez, fechando um olho, tentando cochilar.
— Agora entendo o que está tentando dizer, provavelmente seu plano era eu sair por ai atacando todos que vejo pela frente de dentro para fora né?
— Exatamente!!! — Diz Oinari mostrando um sorriso alegre.
— Raposa safada! Quer deixar tudo nas minhas costas é?!
— Claro que sim, afinal um guardião serve para isso não?
— Tá, tá... — Erisu vira seu torço ficando deitado de lado de frente para parede — de todo modo, agora é minha vez de agradecer.
— Por que seria?
— Eu estou te atrasando, eu sei disso, contra aqueles gangsters de merda que nos renderam, você ficou preocupada em alguém me atacar por trás — Erisu suspira, com uma voz frustrada — agora mais uma vez, está desistindo de um plano seu porquê sabe que eu iria me dar mal se realmente tiver um Numen assim aqui.
— Você pensou tudo nisso sozinho? — pergunta ela, com uma voz tímida.
— Acho que esses três anos ao seu lado serviram de alguma coisa. Obrigado, eu já irei estar recuperado, só me deixe descansar um pouco.
Oinari assente com a cabeça, olhando para seu amigo deitado, procurando um jeito de ter um plano em meio a todo esse caos.
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Enquanto isso, distante da prisão dos labirintos, Yume caminha com o som de seus saltos altos tornando sua chegada algo muito característico dela. Chegando a um gigantesco portão pintado a vermelho, tendo em média seis metros de altura de ferro maciço, ao lado do portão alguém parece a esperar.
— Shibo! Yume! Está bem? — diz ele, com sua máscara trocada, com alguns ferimentos pelo corpo já cicatrizados.
— Ei! Você não deveria estar descansando? — diz ela, se aproximando.
— Shibo! Bem! Shibo reunião e preocupado com você Yume.
— Não precisava se preocupar comigo, estou bem! Está vendo? — Ela sorri, com todas suas lágrimas secando em suas bochechas.
— Shibo! Alegre! — Ele começa dar pequenos pulinhos animados.
— Ei... escute... — Yume leva a sua mão até o rosto dele, com cuidado — me perdoe Shibo... por não ter conseguido te defender.
Shibo sente o toque em seu rosto, estendendo seus braços abraçando-a, a erguendo do chão, enquanto gira.
— Shibo! Está feliz! Família fez bem! Irmã fez bem!
Yume se alegra ainda mais, retribuindo o abraço forte dele, até ser devolvida ao chão.
— Muito bem! Não deixarei que mais nada aconteça com você Shibo! Eu prometo!
— Shibo! Promete!
— Agora! Não vamos deixar nossa família esperando! Vamos entrar!
Ele concorda, mostrando seu polegar com um joinha, empurrando aquela porta extremamente pesada com facilidade, revelando assim uma grande luz branca vindo da sala.
Sendo um lugar amplo e espaçoso, tem uma imensa mesa de reunião ao centro da sala, com um tapete vermelho felpudo da entrada até o centro, não há janelas, a principal luz é somente uma imensa luminária de cristais com uma intensa luz branca que ilumina todo o ambiente trazendo uma sensação de estar em algum templo ou igreja.
Em volta a mesa tem sete figuras, sendo a principal que chama atenção, sentado em um trono dourado está uma silhueta coberta por completo por um véu branco.
Yume e Shibo vão até seus lugares na grandiosa mesa, para finalmente iniciar a reunião do qual todos foram chamados.
— Que alegria! Todos estão aqui! Finalmente podemos começar! — diz um pequeno garoto de cabelos brancos com um rosto bondoso. Frente ao seu lugar tem uma placa escrito; Cão Divino da Bondade, Yudi.
— Já não aguentava mais esperar..., se bem que eu não me importaria de esperar as sós com você Kenzo. — diz uma linda mulher de cabelos amarrados, vestindo uma roupa preta apertada. Em sua placa está escrito; Cão Divino da Luxuria, Lisandra.
— Não enche o saco! — diz um homem musculoso com cabelos longos e barba grande. Em sua placa está escrito; Cão Divino do Ódio, Kenzo
— Acredito que deveriam ter mais respeito frente ao nosso grandioso líder. — diz um homem de cabelos lambidos loiros, com óculos de grau em seu rosto. Em sua placa está escrito; Cão Divino da Razão, Jun.
— Aí, que soninho..., falaram algo? — diz uma pequena criança de cabelos pretos e olheiras gigantes. Em sua placa está escrito; Cão Divino do Sono, Mineto.
— Silencio todos! Vamos iniciar o nosso conselho! — diz um homem de cabelos arrepiados e uma imensa cicatriz no meio de seu rosto, que se ergue de sua cadeira, ficando ao lado da figura coberta pelo véu. Em sua placa está escrito; Apostolo Cão Divino da Justiça, Yoshiaki.
Yume engole a seco, voltando a lacrimejar seus olhos, vendo todos da mesa em silêncio de uma hora para outra.
— Muito bem, venho informar o óbvio! Nosso senhor! O Avô está extremamente descontente com situações que ocorreram em nossos domínios. — diz Yoshiaki, que vira sua atenção para Shibo e Yume — Querem começando a explicar o que aconteceu?
— A caminho da patrulha, dois invasores entraram pelas docas, assim nós...
Antes que pudesse continuar, Yume é interrompida por um soco contra a mesa, a fazendo dar um pequeno salto em sua cadeira.
— Não é sobre isso que quero que diga! Sei a situação! Mas explique a todos como vocês dois perderam para um mero adversário?! — conclui Yoshiaki.
— Nós talvez tenhamos subestimado o nosso adversário! Me perdoe nunca mais irá acontecer! — diz Yume, curvando sua cabeça, com suor percorrendo sua testa.
— Yume, Yume, não precisa se curvar, está tudo bem ok? — diz Yudi, sorrindo de maneira doce — Nós sabemos que você é a mais inútil de todos aqui querida! Somente ficamos surpresos pelo Shibo perder também, será que levou o título Cão Divino da Dor a sério demais?
— Sem dúvidas! Foi uma gigantesca vergonha aos cães divinos e principalmente ao Avô essa derrota! — diz Jun, ajeitando seus óculos com desprezo.
— Pessoal! Por favor! O Shibo fez o que pode! A gente promete não repetir esse erro! — diz Yume, se levantando da cadeira.
— Que precioso, a inútil tentando defender o gorducho após um grande erro! Vocês são dois fracassados mesmo! — diz Yudi, erguendo ainda mais o sorriso de seus lábios.
— Yudi querido, sinto muito em dizer isso, mas você não está em posição de falar nada, afinal você também fracassou em localizar o filho perdido do qual foi roubado, você também fez papel de trouxa. — diz Lisandra, mordendo levemente a ponta de seus dedos.
— Errr, droga! — reclama Yudi, tombando a cabeça para o lado, envergonhado — desculpe Yume e gorducho... digo Shibo!
— Atenção! Não vamos desviar do assunto! Três dos oito cães divinos desonraram nosso senhor! — grita Yoshiaki.
Yume cerra seus punhos abaixando a cabeça, não encontrando palavras para poder respondê-lo. Se sentindo inútil, volta a se sentar, frustrada, aumentando ainda mais a intensidade de suas lagrimas.
— Shibo! Quer falar! — ele ergue seu braço para o alto.
Todos olham para Shibo, com surpresa em seus olhares, fazendo Yoshiaki acenar com a cabeça dando a palavra para ele.
— Shibo falhou, Oponente forte, Shibo subestimar! Shibo recompensar! Shibo perdoar! — fala de maneira confiante.
— Hahaha! Ainda acho icônico a maneira tosca que você fala Shibo! — gargalha Yudi, ao ouvir ele.
— Calado Yudi! Vamos deixar nosso Avô decidir o destino dos três que nos envergonharam! Caso tenha alguma punição a dizer... diga, oh meu líder! — diz Yoshiaki, olhando para a figura de branco.
Todos esperam a resposta do Avô em pleno silencio, até finalmente a decisão estar tomada.
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