Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Volume 1

Capítulo 8: Ponto De Ignição

 

— Já ouviu falar no ponto de ignição? — perguntou Kaylleon com um sorriso de interesse.

— N-não, o que é isso? — indaguei de volta com meu olhar inquieto.

— Uma pequena teoria que fiz. Você é um Lost e os Lost vieram surgindo de maneira inexplicável por todo o mundo, todos da mesma forma, sem se lembrar de nada, porém existe uma coisa interessante nisso tudo. Eles cedo ou tarde despertam um Vitalis.

Passo. Passo.

Ele se aproximou do vácuo de luz distorcido. — Isso que está vendo também é como você, esses portais vieram nascendo do completo nada desde que os Lost apareceram. Apelidamos como “reencarnação de Dungeon”.

O olhar de Kaylleon ficou mais sério do que o normal, suas pupilas âmbar se estreitaram.

“Não vai me dizer que ele quer que eu me enfie aí dentro?!”, me arrepiei ao pensar sobre isso.

O portal na frente do velhote girava como um furacão, seu interior era brilhante com um azul escuro quase que imperceptível, era como o céu estrelado. Hipnotizante e misterioso.

— Como o nome já diz, a reencarnação de Dungeon só acontece dentro de uma Dungeon comum, ela leva a um local desconhecido tanto em aparência, formas de vida, linguagem e por aí vai. — explicou Kaylleon virando-se para mim, sua face foi banhada pela luz brilhante.

Ele respirou fundo antes de continuar.

— O que quero dizer aqui é que: se esses portais começaram a nascer junto com os Lost, não deve ser mera coincidência. Preciso da sua ajuda meu jovem, você que é um deles de alguma forma está conectado com esses portais, talvez possa intercalar entre o mundo dentro deles e o nosso mundo, se minha teoria estiver certa...

Antes de terminar sua explicação, Kaylleon fechou os olhos de maneira tensa.

— Você poderá ir pra casa, mas estará em dívida comigo, terá que nos ajudar a destruir o império usando a intercalação entre os mundos.

Essas palavras com certeza foram um absurdo pra mim, ele realmente desejava que eu me enfiasse no portal no final das contas, mas isso não era nada se comparado a condição que foi feita, ajudar a destruir o império? Como caralhos eu faria isso?

Só podia ser piada, eu nem sequer tinha um poder pra início de conversa.

— Desculpe senhor Kaylleon, mas... eu não sei se... eu só não entendo. — Balancei minha cabeça em negação.

Eu fiquei atordoado pelas informações, foi tudo tão... chocante e... eu só não consegui encaixar as peças.

Hm, me desculpe por isso. É realmente muita coisa pra um simples jovem né? — Ele sorriu disfarçando uma face de decepção.

— Enfim, é isso que significa o ponto de ignição, a teoria de que os Lost vieram das reencarnações de Dungeon que curiosamente só surgiram quando o fenômeno dos Lost começou, é tudo muito interligado não acha? — perguntou Kaylleon ainda sorrindo.

Eu olhei para o seu sorriso que parecia esperar por uma resposta sensata.  — Mas... o que você ganha confirmando essa teoria?

A face de Kaylleon tornou-se de surpresa com a minha pergunta, ele levantou suas sobrancelhas.

Oh... você é bem esperto garoto ha! ha! — riu o velhote como se estivesse orgulhoso de mim. — Bem, pode parecer apenas uma última e desesperada esperança, mas como eu já disse, todos os Lost despertam uma habilidade, você em contrapartida ainda não tem uma.

Franzi minhas sobrancelhas mais confuso do que nunca com essa resposta.

Passos.

Kaylleon caminho mais para perto do portal que espalhava um vapor brilhante pelo chão escuro.

O tecido negro de seu terno a se debater perante a misteriosa ventania do portal.

— Com isso nós teríamos não só nosso poder, mas talvez o poder de outro mundo, o mundo que há dentro dos portais. — Ele retirou suas mãos dos bolsos ao levar o olhar sério em minha direção. — Estou apostando tudo em você agora, toque no portal ou apenas vá embora. Cabe a você decidir isso, eu não irei contra sua escolha.

Ele terminou suas palavras sem mais nem menos.

Encostar no portal... mesmo depois de tudo o que vi eu ainda não consegui acreditar, não sabia o que fazer, estava perdido de novo.

Me encontrei num dilema altamente arriscado que me dava mais receio do que segurança em ambas as escolhas. Era andar numa corda bamba.

“Se eu não aceitar... o que pode acontecer depois? Kaylleon disse que os Lost despertam um Vitalis depois de um tempo, mas Incis disse que um Vitalis só é despertado a partir de um trauma, porra... os riscos são muitos.”

Minha mente se dividia entre escolhas e contradições.

Foi nesse momento que percebi uma coisa, eu não conseguiria nada se não tomasse a decisão por mim mesmo, me assemelhei a uma criancinha assumindo as responsabilidades de um adulto, totalmente desamparado e com medo da minha responsabilidade, patético.

Eu suspirei em tensão enquanto meu corpo tremeu levemente.

— Droga... tudo bem, eu acho que eu posso fazer isso. — Minha voz saiu meio atrofiada e de certa forma hesitante.

— Ótimo, agora toque sobre o portal, eu estarei aqui caso algo ruim aconteça, confie em mim. Eu sou bem poderoso acredite ou não.

Quando o senhor de preto e olhos dourados fez essa afirmação, um vapor dourado exalou dos seus olhos me dando um leve calafrio, seu sorriso era confiante.

Mas suas palavras não foram tão convincentes pra mim. Se nem ele sabia o que viria depois de tocar no portal, como eu saberia?

Sinceramente, não sei como tive culhão pra aceitar algo do tipo, talvez foi por que me senti como um merda por ter tanto medo assim de me arriscar.

Kaylleon saiu da frente do portal calmamente e eu iniciei uma caminhada insegura na direção da anomalia destorcida.

Passos. Passos.

A cada passo que era dado o medo aumentava. Foi como se eu pudesse sentir que, a qualquer momento essa cor obsidiana totalmente vazia poderia me engolir.

Eu ergui meu braço e uma ventania adentrou por baixo das mangas da minha camisa.

“Eu não sei, não sei o que estou fazendo, eu sou um idiota.”, foi o que eu disse internamente com a ponta do meu dedo chegando cada vez mais perto do vácuo reluzente.

Meu coração acelerando, o brilho que me cegou em instantes e o meu corpo sendo consumido pelo vazio brilhante.

Eu fui envolto do vapor azulado ao cair num abismo em branco como se estivesse afundando no mar.

“Apesar de tudo... você ainda tentou me salvar, que idiota.”

“Você nunca foi nosso filho, Jack.”

“Eu irei te proteger, não importa onde, nós estaremos juntos sempre.”

Um turbilhão de vozes ecoava sem parar pela minha mente, todas seguidas de imagens que se formavam diante dos meus olhos e logo em seguida sumiam como fumaça.

A dor de cabeça estridente, minha pele queimando, meus ossos se rachando, todas as dores que um ser vivo pudesse sentir caíram sobre mim em poucos instantes.

“Você sempre vai estar sofrendo, esse é o peso de ser fraco.”

Vozes irritantes, vozes idiotas, vozes de merda!

Eu não queria ouvir isso, não queria ver, não queria sentir... eu só queria voltar pra casa. Meu corpo foi devorado por um furacão de memórias desconhecidas, um mundo ilusório talvez? Não, a dor que eu sentia era de fato real.

A-AAAAAAAAAARGH! — Meu rugido de dor e agonia ressoou pelo abismo de luzes, vozes e imagens.

Vultos de luz semelhantes a faróis de carros passavam por mim sem parar, meus olhos mal conseguiam saber para onde olhar e a sensação de tudo se revirando dentro do meu corpo me fez querer vomitar.

Meu cérebro estava sendo preenchido por uma enxurrada de informações bizarras e sem sentido, quase a ponto de explodir desligando todo o meu corpo junto.

“Eu sou... fraco.”, uma última voz se espalhou em minha mente.

Brrrrrrrrr!

Vibrações percorreram meu corpo enquanto linhas brilhantes se expandiram sobre minha pele como raízes, todas padronizadas em circuitos reluzentes.

— Gh! Porra!!!

Uma explosão cintilante tomou minha consciência e tudo se escureceu. Eu... me machuquei, doeu, doeu pra caralho.

Seria essa dor um sinal de que eu precisaria mudar pra prosseguir? De que eu precisava deixar o meu passado fragmentado de lado?

Não, talvez as respostas que eu tanto buscava não se encontravam no meu mundo, mas sim na estranha jornada que estava se iniciando a partir desse dia nesse novo mundo.

A última jornada.

[O caminho da angústia foi iniciado com sucesso!]

 



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