Volume 1
Capítulo 7: Que Cruel
[Jack Hartseer]
— Jack, você é um jovem interessante, bem interessante. Bom, me desculpe se te dei esperanças atoa, mas tudo tem um preço.
O velhote de terno sorriu gentilmente após fazer essa afirmação e levantou-se da cadeira. — Pode me acompanhar por favor? — perguntou ele.
Eu olhei para Incis que apenas continuou sentada de maneira despreocupada. Ela limpava o peitoral de metal negro que cobria seu busto com leves tapinhas.
“Hm... acho que agora estou por mim mesmo então. Tudo tem um preço ele disse, esse velhote não tá querendo me passar a perna não né?”, indaguei em pensamentos antes de me levantar da cadeira.
— Tudo bem, contanto que eu consiga voltar pro meu lar e... talvez achar algumas respostas está de bom tamanho. — Afirmei com um balanço de cabeça inseguro.
— Ótimo, siga-me.
Kaylleon calmamente empurrou seu acento para perto da mesa e então caminhou até o balcão junto comigo.
— Bom dia senhor Kaylleon, o que deseja? — perguntou a mulher loira atrás do balcão.
— Libere a passagem para o subsolo, se não for demais é claro.
Diante das palavras simples acompanhadas de um tom simpático a recepcionista balançou sua cabeça e virou suas costas indo até uma prateleira.
A indecisão me tomou por um momento.
Eu realmente deveria ter dito que queria ir pra casa?
As circunstâncias até tal momento estavam estranhas, eu até que tinha ficado bem empolgado com toda a coisa do sistema e dos poderes chamados de Vitalis, mas... o receio era maior.
Eu só queria segurança, me encontrar, encontrar respostas e assim voltar para minha casa. Se sair daquele estranho mundo fosse a alternativa pra tudo isso acontecer, eu iria cair de cabeça nisso não importa o que acontecesse.
— Aqui. — A recepcionista entregou um cartão azulado para Kaylleon que apenas sorriu ao pegá-lo.
— Obrigado senhorita Ilka, estarei lhe dando um bônus pelo bom trabalho. — disse ele no que a senhorita do outro lado do balcão apenas acenou sua cabeça com uma expressão feliz.
— Subsolo? O que vamos fazer lá? — indaguei olhando para Kaylleon que apenas sorriu pra mim e brincou: — Não esquenta, vai ser bem empolgante pra um garoto como você, pode confiar.
— Sem mais enrolações, vamos indo. Aconteça o que acontecer fique atrás de mim. — Completou ele ao caminhar até uma porta de metal no canto do salão cheio de mesas.
— Tomem cuidado! — Incis gritou pra nós de sua mesa. Ela deliciava-se com uma estranha comida. Parecia bem animada.
“Merda, por que sinto que estou me metendo numa fria?”, minha mente nunca pensava positivo.
Passos. Passos. Passos.
Eu e Kaylleon caminhamos lado a lado. Olhares desconfiados pairavam sobre nós.
Mais uma vez eu era o centro das atenções, mas agora tinha uma razão mais clara, eu estava acompanhando do mestre da tal guilda que residia nos territórios, se destacar era quase que inevitável.
Kaylleon aproximou o cartão azulado da porta e eu fiz um rosto confuso por um momento. Um brilho azulado saiu da porta.
Ding~
[Acesso permitido!]
[Subsolo da guilda R.O.U.N.D.S!]
[Você descobriu um cômodo exclusivo!]
Um cômodo exclusivo, eu não sei se essa informação me deixou mais relaxado ou mais apreensivo. A porta de metal cinzento se abriu no meio, dando acesso a uma pequena cabine com paredes também cinzentas e metálicas.
O homem de terno ao meu lado deu um passo à frente entrando na cabine, eu apenas segui seus movimentos meio desconfiado.
Shhhh!
Um som parecido com vapor sendo expelido soou e a porta de metal se selou. Silencio, esse foi o único elemento presente dentro do local.
— Agora estaremos descendo para o subterrâneo de Leycrid, pode demorar um pouco já que o elevador está com a energia meio escassa, mas é o suficiente para chegarmos lá. Tem mais algumas perguntas enquanto descemos? — indagou Kaylleon operando um painel transparente.
— Perguntas... são várias, mas não consigo pensar por onde começar.
— Ha! Ha! Eu te entendo, vou te falar o básico então.
Logo após suas palavras terminarem as paredes metálicas do elevador começaram a se abrir. Em poucos segundos estávamos rodeados por grades que separavam o elevador do grande cenário ao nosso redor.
Engrenagens, ganhões robotizados, placas de metal, faíscas de solda e máquinas semelhantes a guindastes.
Haviam gigantescas pontes e cabines de controle também, faíscas de solda voavam pelos ares enquanto pessoas andavam de um lado pro outro, eu poderia dizer que era semelhante a um QG de alguma força militar fodona.
— A guilda R.O.U.N.D.S foi criada por mim. Ela tem um único objetivo em potencial, destruir o império de Zykron, mas pra isso precisamos de muito armamento e um bom plano.
O senhor olhou para a paisagem gigante repleta de fios, placas de ferro e colossos robóticos.
— Por quais motivos querem destruir esse tal império?
Kaylleon fez um rosto menos vívido quando fiz essa pergunta, seus olhos âmbar tornaram-se vazios.
— O império... só pensa no império. Apesar de você ver tudo o que temos aqui em Leycrid, isso é raro. Existem muitas raças e nações a beira de serem extinguidas pelas máquinas e ganância de Zykron.
O velhote pausou suas palavras erguendo os olhos dourados e profundos perante a paisagem da oficina colossal ao nosso redor.
— Eles extraem a energia vital do planeta com suas industrias que são construídas em cima de cidades pobres, onde os moradores são obrigados a trabalhar lá até morrerem.
Minha mente se chocou quando escutei tais palavras.
“Quê? Trabalhar até... morrerem?!”, ponderei em tensão.
— M-mas não seria mais fácil eles usarem seus próprios funcionários pra trabalharem? — Eu argumentei para Kaylleon que apenas negou com sua cabeça.
— Não, meu jovem. A energia vital do planeta, o Vyer, não pode ser extraída e transportada tão facilmente. Ela contém uma toxina mortal pra todos que tentam afaná-la, então os moradores são usados como sacrifício. Eles trabalham por um certo período coletando as pedras fragmentadas que provém essa energia, e assim morrem por intoxicação depois de um tempo. — Ele parou de falar dando um suspiro.
Eu pude ver uma expressão triste no rosto de Kaylleon, ele abaixou sua face e sua franja prateada ocultou seus olhos.
Foi como se uma péssima lembrança fosse revivida por ele. Me senti mal por um momento e sinceramente, talvez minhas dúvidas não importassem tanto agora que ele estava tão deprimido.
— Só depois de reunirem toda a energia Vyer, os próprios encarregados do império usam um purificador capaz de tirar as toxinas. Tal ato só pode ser feito em um local seguro já que a toxina se espalha pelo ar. O purificador não pode ser movido também, é por isso que eles sacrificam as pessoas inocentes pela energia que alimenta todas as armas e máquinas deles.
Meu coração bateu mais firme de repente.
Todas essas informações sendo jogadas em cima de mim de uma forma brusca e pesada, muito pesada.
Eu não sabia como reagir, não sabia o que dizer, apenas... que cruel.
Calado eu olhei para o horizonte cheio de máquinas faíscas. O elevador estava cada vez mais fundo e não parecia ter fim.
“O que diabos é esse mundo onde fui parar afinal? que loucura.”, senti um arrepio enquanto pensava.
— O império de Zykron tem aliança com outros 5 impérios enquanto o resto do mundo nem tem reinos pra início de conversa, são só povoados com energia Vyer em abundância já que são terras saudáveis sem nenhuma máquina industrial.
O velhote parou abruptamente de falar quando viu minha feição cabisbaixa. — De-desculpe, estou te deixando cada vez mais apreensivo certo? Estamos quase lá, não se preocupe Jack.
O elevador finalmente parou quando os nossos arredores escureceram. Meu coração ficou apertado.
Shhh!
A porta se abriu novamente.
O que havia depois dela era apenas um chão sujo com musgo, não havia mais nenhum tipo de resquício da oficina gigante que vimos a alguns segundos atrás.
Um breu desconfortável somado do som de uma caverna oca. Foi como quando eu acordei pela primeira vez.
[Subsolo de Leycrid]
[Nova área acessada, você recebeu 5 Ranking Points!]
— Fique sempre atrás de mim, lembre-se. — alertou o senhor de terno dando um passo pra fora do elevador.
Eu tentei o acompanhar, mas no mesmo instante que o fiz senti um arrepio subir pela minha espinha.
O silêncio somado de uma escuridão completa. O que raios poderia ter nesse lugar?
À medida que eu escutava nossos passos ecoando pelas trevas uma ansiedade e medo cresciam mais e mais. Era possível escutar minha respiração agitada com o receio. Tive a impressão de que algo estava nos observando, uma sensação perturbadora.
“Eu quero sair dessa porra.”, foi o que pensei com as mãos tremendo levemente.
— É aqui. — Kaylleon quebrou o silêncio parando de andar. Eu mal conseguia vê-lo no breu.
— T-tem o quê? — minha pergunta foi respondia pelo brilho que engoliu a escuridão.
Uma fumaça brilhante e azulada girou como um furacão moldando-se numa estranha distorção. Um portal.
Poeira reluzente exalava e ele era assustadoramente grande, se parecia com o olho de uma besta colossal no meio das trevas.
— Já ouviu falar no ponto de ignição? — perguntou Kaylleon com sorriso de interesse.