Trauma Longínquo
Capítulo 83: Conhecimento Perverso
[Jack Hartseer]
Já haviam se passado alguns minutos desde que Akira adormeceu, tentei ao máximo manter a minha calma só que a turbulência de acontecimentos que nos levou até esse momento simplesmente atravessou as lacunas da minha mente.
“Droga, preciso arranjar um jeito de sairmos daqui.”, ponderei comprimindo os lábios ao observar a pequena estrutura ao nosso redor.
Esse lugar aparentemente parecia um tipo de sala isolada, mas ainda fazia parte da Dungeon e percebi isso pela cor cinzenta das paredes e obviamente pelas linhas em padrões de circuito que brilhavam pela superfície de tudo ao nosso redor.
— Droga, me pergunto se os outros estão bem, esse lugar é como um pesadelo. — Murmurei viajando os olhos pelo telhado acima de nós que com quatro pequenos pilares de sustentação em seus cantos parecia mais uma daquelas estruturas chinesas antigas.
Voltando a atenção para Akira o seu sangramento parecia ter parado já que amarrei pedaços da minha jaqueta em seu braço cortado.
O problema seria como essa garota viveria depois disso, depois de se tocar que havia perdido um dos braços e que poderia muito bem ter vivido uma vida normal sem ter que se preocupar com a sua própria vida em meio a uma situação de vida ou morte como essa.
“Pra falar a verdade acho que ela seria cabeça dura demais pra pensar sobre isso.”, concluí internamente.
Foi então que me desencostei do pilar atrás de mim ao perceber algo estranho no piso abaixo dos meus sapatos.
— Hm, tem um círculo esculpido no chão. — Meus olhos se arregalaram levemente enquanto minhas pupilas negras acompanharam o circulo entalhado no chão quado finalmente pararan sob um estranho símbolo no meio do piso.
— Isso é... a-algum tipo de círculo mágico?
Minha voz era a única coisa presente em meio a solitária sala quadrada com um templo no centro.
O sangue de Akira havia coberto um pouco do símbolo no centro do chão, mas ainda era bem visível aos olhos e se parecia com um tipo de estrela com quatro pontas mais semelhante aquela que se encontram dentro de bússolas.
— Espera, talvez... — Virei meu pescoço olhando por cima do ombro em direção a gigantesca porta atrás do templo.
Talvez esse símbolo fosse alguma pista pra abrir essa porta gigante de metal ou coisa assim, sim, eu me lembro de ver coisas parecidas como essas em Dungeons de JRPG!
— Tudo bem então talvez se eu acionar algum interruptor ou qualquer tipo de gatilho.
Comecei a revirar os arredores procurando alguma alavanca, botão ou símbolo parecido com essa estrela no chão, porém sem sucesso.
“Droga, droga, droga!”, um leve pânico começou a me consumir pouco a pouco quando...
— J-Jack, você está pálido.
— Huh?
Levantei meu rosto na direção da voz de Akira apenas para vela ali, recostada contra o pilar de metal gelado com o que restava do seu antigo braço enrolado em um pano sujo de sangue.
— Parece que está se esforçando bastante, Jack, e-eu posso ajudar se quiser.
Ela tinha uma face calma, entretanto dolorosa de se ver, as írises de seus olhos escuros sem emoção alguma enquanto seu peito subia e descia em uma respiração cautelosa.
Meus punhos se selaram em culpa.
“Provavelmente acordei ela com toda essa barulheira.”
Ignorando minha mente eu a respondi dizendo: — Apenas descanse, não é como se você pudesse fazer algo agora, n-não precisa se preocupar.
Os lábios sujos de sangue dela se curvaram novamente naquele estranho e calmo sorriso. — Hehe acho que nunca ouvi nenhum garoto me dizer isso na vida, queria ouvir isso da capitã Incis ao invés, mas já foi maneiro.
— E-Eu já disse pra descansar!
Senti meu rosto esquentar levemente em um constrangimento sutil.
Pra falar a verdade já fazia um bom tempo que eu realmente me sentia na obrigação de ajudar alguém assim, principalmente uma garota... no fim minha memória ainda estava embaçada, me recordei de já ter tido uma pessoa por quem eu queria resolver todos os problemas, ser como um verdadeiro herói pra tal pessoa.
“Que besteira, eu um herói? Corta essa, nesse mundo eu já até mesmo matei uma pessoa.”, meus olhos se estreitaram desviando-se de Akira enquanto meu peito doeu com esse pensamento angustiante.
Plic. Ploc.
O silêncio pairou enquanto um único som ressoou pelo vazio.
— U-Unh. — Akira rangeu os dentes com um som de desconforto.
O sangue de seu braço decapitado encharcando o tecido amarrado começou a pingar e pingar.
— Viu? Você já fez esforço demais, está sangrando de novo. Me deixa dar uma olhada. — Me levantei indo na direção da garota de cabelos curtos recostada sob o pilar.
Plic. Ploc.
O som repetitivo do sangue pingando, pingando e pingando.
Dando um passo adiante essa sequência de sons consecutivos me fez dar atenção a algo inesperado.
“Espera!”, meu corpo congelou.
No meio do pequeno percurso até Akira eu percebi uma coisa.
O líquido carmesim pingando do braço dela estava preenchendo o círculo entalhado no piso aos poucos.
Minhas pupilas acompanharam lentamente o sangue escorrendo de pouco em pouco pelo círculo, o líquido suave e escuro se curvando para passar e fazer uma curva perfeita preenchendo por completo o círculo com sua cor escarlate. Foi estranhamente rápido na verdade.
— I-Isso só pode ser...
Foi então que um brilho emergiu do estranho símbolo de estrela no meio do piso e irradiou sob meus sapatos e calças com uma cor azulada.
— Ghn! Akira! — Fui até Akira sem pensar duas vezes e a levantei sob meus braços de forma apressada e desajeitada.
— Jack, espera, olha. — Ela me afastou com uma mão e a face meio abismada.
Quando voltei a atenção para a luz emergindo do símbolo de estrela no círculo tive total certeza de que essa era a resposta, era um círculo mágico sem sombras de dúvidas, mas o que realmente me impressionara não foi isso e sim o que começou a surgiu no centro desse tal círculo.
Partículas azuladas tingiram as superfícies metálicas dos pilares do templo enquanto todo esse brilho se reuniu projetando aos poucos uma silhueta sob o chão.
Ventania!
Ventos violentos se afunilando no centro do círculo mágico enquanto a silhueta era gerada parecendo até mais um modelo 3D renderizando.
Com um estouro final de luz e um som de chiado com ruídos quebradiços nos fechamos os olhos tentando não ser cegados.
— Aquele é...
A voz de Akira se segurando ao meu lado em meu ombro era de uma total incerteza receio e confusão.
Quando abri meus olhos percebi o motivo por trás de sua entonação, havia um homem deitado no meio do círculo mágico, um penteado espetado e a coloração ruiva de seus cabelos em conjunto ao padrão de cores vermelhas com preto em suas armaduras não mentia, era ele.
— Z-Zakio!
— Seus problemas nunca irão definir sua alma, uma bela frase realmente, porém Katulis Incis, alguém como você não tem mais alma! — Exclamou Grim avançando em direção de Incis com todas as suas forças.
O cabelo castanho preso ao rabo de cavalo atrás de sua cabeça fez parecer que o espadachim carregava uma grande faixa atrás de si.
Os olhos de Incis ambos com suas cores distingas vermelho e preto acompanharam a investida de Grim que derrapou ao seu lado apanhando a sua Katana sob o chão tão rápido quanto um raio.
— Vamos acabar de uma vez com isso! — Ele chutou o chão deixando um som estrondoso em conjunto a uma vibração no piso ao se lançar sob os ares acima de Incis.
Em um piscar de olhos o rastro metálico da espada na mão de Grim rasgou cada centímetro das partículas de ar ao seu redor.
“O que ele pretende?”, Incis analisou olhando para cima antes de ser respondida pelo grito de seu oponente.
— SAAAAAAVE!
Ela se alertou arregalando os olhos. — Huh?! Outra vez?
Em um breve segundo a ponta da Katana negra estava a centímetros de perfurar o nariz dela.
Vush!
Um passo para trás.
O impacto vibrante percorrendo pelo braço direito de Incis e as faíscas da Katana sendo desviada pelo seu antebraço.
Grim não recuou, ao invés disso deu um passo adiante e abruptamente lançou sua espada para longe.
Ainda mais surpresa pelo movimento inesperado de seu oponente Incis não viu escolha a não ser desferir um golpe certeiro contra o abdômen desprotegido dele.
Quando o punho da jovem de cabelos negros se fechou seu golpe já havia rasgado a pequena distância curvando-se em direção ao estômago de Grim como uma cobra faminta.
Um som de ossos estalando seguido do impacto pesado.
O soco que acertou o abdômen de Grim o fez vomitar uma grande quantidade de sangue enquanto o som de suas costelas quebrando o fez grunhir, mas...
Vupt!
Os braços do inimigo passaram por baixo dos de Incis antes de se agarrarem ao redor do torso dela firmemente.
— Me largaaa! — Incis urrou em pura fúria com a sede de sangue do seu modo vampírico no ápice.
A jovem mal se moveu diante da agarrada e continuou firme como um pilar de pedra.
“Acha que pode bater de frente com a força do modo Viris Sanguinum?! Que imbecil.”, zombou ela internamente antes de levantar ambos os braços, preparada para descer os punhos sob os ombros de Grim quebrando-os por completo até que...
— L-Load.
O sussurro dolorido de Grim.
Um impacto tilintante acertou o ombro de Incis.
A força foi tão grande que seu corpo foi atirado para cima como um trapo velho.
O longo cabelo negro de Incis ondulou sob as alturas enquanto ela sentiu tudo dentro de si revirar com a força que girou toda a sua massa pelo vazio.
— G-Grim, seu filho da puta! — Gritou ela, porém sua voz já havia sido abafada.
Corta! Corta! Corta! Corta! Corta! Corta! CORTA!
Foi abafada pela chuva de cortes caindo sob sua pele que tão rígida quanto metal fazia faíscas voarem pelo ar enquanto seus braços e pernas balançavam como se ela fosse uma marionete sendo retaliada.
Abaixo da cena Grim sorria perversamente olhando para cima.
“Eu venci, a resistência de Incis em sua forma vampírica está pela metade ativada já que apenas um dos olhos dela ficou vermelho. Se eu levar toda essa resistência vampírica ao seu limite ela simplesmente irá...”
— Quebrar.
Os olhos de Grim verdes como duas esmeraldas brilharam em uma satisfação perversa observando o corpo de Incis ser banhado pela fervorosa torrente de cortes no ar.
Ele sabia mais do que qualquer um como funcionava o modo Viris Sanguinum de Incis, isso devido ao seu obscuro passado a 8 anos atrás.
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