Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Alma Imaculada

Capítulo 67: Yin-Yang

 

[Jack Hartseer]

 

Meu corpo estava em um estado deplorável e não me lembro ao certo o que aconteceu pra dar nesse resultado.

De qualquer modo eu fui salvo por uma garota de cabelos curtos e olhos escuros, sua personalidade... bem...

— Então você foi trazido pra cá por que conheceu a capitã Incis, você conheceu a capitã Incis antes mesmo de mim!

— P-Por que tá falando isso com uma cara tão emburrada assim?

— Eu sou Akira! guarda-costas particular da grande senhorita Incis Katulis! Membra da primeira divisão de combate na guilda R.O.U.N.D.S, exijo que você policie suas palavras antes de falar comigo.

Akira me encarou com um biquinho e as mãos na cintura, a bainha negra da sua grande espada reluzia com a leve luz da fogueira.

— Abaixa o tom aí, isso é uma caverna não um apartamento privado, sem contar que tecnicamente e-eu também faço parte da guilda.

As pupilas escuras dela ficaram frias de repente.

— Você é só um zé ninguém que tava jogado aqui nessa Dungeon! Agora se não se importa, — Akira caminhou em direção a saída da caverna. — Eu tenho que salvar a minha capitã.

Sua voz apesar de fina e irritante tinha uma certa confiança, ainda mais com o gesto de sua mão descansada sob o punho de sua espada.

“Merda, acho que vou ter que gastar o resto de energias que sobrou só pra ter que dialogar com assa idiota.”, dei um suspiro em meio a tal pensamento.

— Escuta aqui garota... eu...

— É Akira, eu já disse.

Nossas vozes se sobrepondo ecoaram pela caverna.

— S-Sim, Akira, o simples fato de eu ter sido mandado pra mansão Blazeworth a pedido de Incis já pode provar pra você que a conheço. — Me ergui dolorosamente enquanto a luz oscilante da fogueira banhou minhas roupas ensanguentadas.

Um silêncio estranho foi a resposta imediata que tive enquanto a luz amarelada do fogo pintou as paredes e as protuberâncias das pedras lisas da caverna, alguns vagalumes adentraram-na como vários flocos reluzentes viajando pelo ar suavemente.

Akira continuou de costas para mim antes de finalmente levantar a voz dizendo: — Você é tão importante assim pra ela?

Importante, eu realmente não sei se essa era a palavra certa.

— Eu não sei, mas posso te dizer com detalhes como ela tá se sentindo agora, afinal o pai dela sumiu, assim como a guilda também está enfrentando problemas nas buscas por ele, Incis... — Senti um nó na minha garganta. — Ela me mostrou tudo, ela me disse tudo, foi a primeira garota que me tratou de forma indiferente mesmo eu sendo um puta de um esquisitão.

Por algum motivo me doeu um pouco o peito falar isso em voz alta, só que era a mais pura realidade.

Os pequeninos faróis de luz esverdeada dos vagalumes se assemelhando a cacos de esmeralda, lentamente se deslocando pelo vazio da escuridão trazendo um pouco de vida ao interior oco e solitário da caverna.

Akira se virou para mim, suas pupilas refletindo a luz cor de musgo dos vagalumes ao seu redor.

— Jack Hartseer, você é um Lost?

Tum!

Minhas veias ficaram dormentes enquanto o sangue foi bombeado de forma firme fazendo uma dor pulsar em todo meu corpo.

Um Lost, acabei me esquecendo desse detalhe tão importante. Eu não passava de um intruso nesse mundo, sequer estava acostumado com as culturas e costumes dos povos que residiam nele.

Alguém como eu nunca teria direito algum de protestar, ainda mais com o meu patético Ranking F.

Meu corpo estremeceu no que eu cai sentado.

— Eu... foi mal por isso. — Mordi meu lábio inferior em angústia.

— Entendo.

Passos. Passos. Passos.

O som de uma caminhada suave se sobrepondo sob o chiado crepitante dos galhos, a fogueira queimando.

Nada que eu pudesse dizer iria me tirar dessa situação, eu não tinha poderes incríveis como os da Incis, não tinha uma coragem inabalável como a dessa garota, eu só era um perdedor qualquer que caiu nesse mundo por pura coincidência.

Acho que somos dois então. — A voz dela ressoou.

Meus olhos se arregalando, minha face se erguendo.

Akira estava a centímetros do meu rosto, inclinada com um sorriso caloroso.

— Você também... — Minha voz saiu incrédula.

Ela acenou a cabeça em afirmação, seus cabelos negros ondulando levemente.

“Eu não estou sozinho.”, essa frase permeou o meu subconsciente como uma longínqua memória retornado.

Foi então que meus ombros foram agarrados firmemente pelas mãos de Akira, seus olhos brilharam.

Uooooh! Jack Hartseer faz parte da guilda e não só isso, é um Lost também! Que maneiro! Qual é o seu poder Jack? qual é o seu poder? me conta vai!

Ughn! Ugh.

Comecei a vomitar sangue enquanto ela me balançou sem parar e sua voz irritante repetia a mesma pergunta.

Aaaah! Jack, você tá sangrando! — Akira se desesperou me soltando no chão. — Socorro! Socorro, ajuda!

 


 

Depois desse impasse eu consegui não desmaiar e com isso expliquei a situação de uma forma que Akira pudesse compreender.

Essa garota tinha algum problema mental por que não é possível!

Hah! Já que isso é uma Quest da Dungeon então só precisamos cumprir ela. — Akira se levantou apoiando a sua espada embainhada no ombro.

— Não é tão simples assim, precisamos encontrar o Boss.

Meus lábios tremeram levemente com o estranhamento que senti falando essa frase, foi como se eu já tivesse feito isso antes.

“Espera, encontrar o Boss... é verdade, eu tinha lutado contra ele antes de perder a consciência.”, pensei com as sobrancelhas arqueadas em uma face confusa.

— Parece bem cansado Jack, eu posso derrotar o Boss enquanto você descansa aqui se quiser. — Sugeriu ela com um sorriso orgulhoso.

— Parece ser algo impossível, mas considerando o que você fez com aquele grupo de Goblins ao me encontrar... — Meus olhos serpentearam a garota dos pés a cabeça. — por que não tira a Katana da bainha inclusive?

— A-Ah~ isso é... só um probleminha técnico, as Magatama precisam de Aether externo em abundância pra funcionar. — Ela acariciou a bainha.

“Magatama? Incis me disse que todos os Lost despertam um Vitalis cedo ou tarde, mas essa tal Magatama pra mim é nova.”

Ela ataca os inimigos com uma espada que não pode sair da bainha, diz usar uma tal Magatama que se alimenta de Aether externo, essa história toda ficou cada vez mais confusa e até cheguei a cogitar se era realmente o certo confiar nessa tal de Akira.

Balancei minha cabeça expulsando a hesitação pra no fim dizer: — O-Ok. Acho que seria bom apenas descansarmos aqui e nos planejarmos melhor pra sairmos depois.

Outra sensação estranha preencheu meu coração ao dizer isso, poderia ser que... o progresso da Dungeon retrocedeu?

Não, era improvável já que os danos que sofri nas últimas batalhas estavam cravados por todo o meu corpo e até mesmo minha nova adaga estava guardada também.

Levando a mão ao queixo de forma pensativa meus olhos se fixaram na chama dançante da fogueira quase se esvaindo.

O som do fogo queimando os galhos lentamente.

— Jack Hartseer, eu não tenho tempo pra isso.

Akira me puxou do mar de pensamentos agachando-se diante da fogueira com as mãos em volta dos joelhos.

— Não precisa me chamar pelo nome inteiro.

— Sou uma heroína defensora da justiça e dos fracos, preciso imediatamente completar essa Quest, a capitã Incis deve estar passando por um perrengue nesse momento.

— De acordo com o que você falou eu não acho que ela esteja tão em apuros assim, não faz sentido toda essa obsessão em ajuda-la quando nós que estamos na merda.

Minha paciência estava começando a se esgotar.

Os cabelos curtos ondularam no que Akira inclinou sua cabeça na minha direção estreitando seus olhos.

— Ela é tudo pra mim, não ligo pra você.

Ugh! Tá virando uma criancinha agora? Quantos anos você tem?!

— 15.

Um silêncio constrangedor tomou a caverna espaçosa.

“Mas que roubada de merda que eu fui me meter!”, murmurei no fundo da minha alma.

Respirar fundo, se concentrar na forma mais pacífica e racional do que fazer.

Levantei minha voz mais uma vez, porém de forma mais calma.

— Tudo bem, acho que não temos escolha a não ser tentar trabalhar juntos aqui, sacou? Já que somos ambos Lost’s então só precisamos entender melhor o nosso objetivo atual abrindo o S.I.S

Akira levantou as sobrancelhas com uma face desentendida.

— O que é S.I.S?

Meus punhos se selaram no mais puro ódio.

— Eu sabia, você não é Lost coisa nenhuma!

 

 

Corta! Ventania! Vuuush!

Um vulto prateado se distorcia para todas as direções enquanto Melize Hozarik atacava sem parar com seus fios afiados.

— Só pode ser o destino, esse portal se abriu aqui dentro na hora certa. — Exclamou ela erguendo sua mão que foi envolta por um vapor azulado.

Os fios brancos tão duros quanto o aço se reunindo ao redor da mão direita de Melize Hozarik e se afunilando até o fim de seu cotovelo, uma broca de fios.

Os ventos vibraram. A furadeira afiada e rígida girando no braço direito da assassina.

A figura desviando dos golpes finalmente parou de se mover ao aterrissar em cima de um dos pilares destruídos, seu grande jaleco branco ondulou levemente no que sua face suava sem parar.

— S-Senhorita Misa Hordrik, então você derrotou o Boss da Dungeon.

Layaka suava não por cansaço de se esquivar dos golpes, mas sim de choque.

A figura autodenominada de Boss era uma das pessoas de mais importância em toda a mansão Blazeworth até a noite daquele dia e ela respirava rispidamente enquanto seu corpo estava coberto de sangue seco, a discrepância de informações diante dos olhos da pesquisadora era como a luz e a escuridão.

— De todas as pessoas que poderiam despertar uma Magatama logo uma pesquisadora mesquinha como você tomou posse de tal poder, realmente uma lástima, porém esse não é o maior problema aqui, sugiro que pare de se referir a mim por esse pseudônimo bobo.

Os longos fios de cabelo de Melize Hozarik dançando levemente no que o vapor azulado ao seu redor se intensificou, milhares de fios emergindo de suas costas como pequenos tentáculos.

— Eu n-não quero lutar, pelo menos me dê uma explicação clara! — Rugiu Layaka.

Os olhos azuis de Melize estavam vazios quando ela sentiu a presença de um segundo intruso na sala, por trás de suas costas a voz dele ressoou de forma abrupta enquanto sua silhueta era oculta em sombras.

— Parece que a deusa Afradia me abençoou com essa nova reviravolta.



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