Alma Imaculada
Capítulo 59: Da'At
[Incis Katulis]
Quando um usuário de Magatama morre, assim como o senhor Nidrik fez, ele deixa um fragmento de seu poder para um futuro usuário e é por isso que eu confiei inteiramente na nova portadora da Magatama dele, Layaka agora era uma Codesh a portadora de um poder reservado apenas para ela.
O corpo de Layaka estremeceu.
A agulha de pedra se enterrou sob seu olho direito fazendo-a sentir uma dor com certeza incomum pra uma simples pesquisadora.
— AAAAAAAAAAGH!
A lâmina cinzenta de uma foice se lançou sob mim.
Raízes esverdeadas racharam o chão rasgando-o em alta velocidade pra no fim se envolverem ao redor das pernas de Layaka.
Dei um pulo leve pra trás enquanto vi a foice afiada reluzir e se distorcer na minha frente.
Bang! Bang! Bang!
Puxei o gatilho em alta velocidade enquanto as silhuetas distorcidas dos membros da 4º divisão se deslocaram por todas as direções.
“Preciso de mais tempo...”, lancei meus olhos sob o homem de chapéu e gravata que com seu Vitalis conjurou cartas flamejantes ao seu redor.
— Skil On! Negativo! — A voz do capitão Cryfder ecoou novamente quando pulei na frente de Layaka disparando em três cartas elementais que voaram sob ela.
Ele pretendia apodrecer meus Status pela metade também, mas pra fazer isso precisaria me acertar com o toque pútrido de sua mão pelo menos uma vez já que meu Ranking é o mesmo que o dele.
Os ventos oscilaram. Outro dos 6 inimigos surgiu atrás de mim como um fantasma.
Ele me ignorou totalmente e lançou um soco pesado na direção de Layaka, sua mão envolta por uma luva metálica poderia ter quaisquer tipos de efeito.
— Merda! — Antes de me virar para neutralizar o golpe que iria almejá-la me deparei com um rastro verde e reluzente que perfurou o vazio em minha direção, os olhos de uma garota com cabelos azulados, essa era Hoka, uma caçadora nata.
“Não vou conseguir!”, rangi os dentes em pânico.
Em um piscar de olhos a garota engravatada lançou sua mão na direção do meu abdômen, milhares de vinhas espinhentas envolveram seu braço prontas para dilacerarem minha carne como uma lança.
Booom!
Outra explosão de chamas eclodiu de Layaka jogando todos para longe dela.
O impacto ressoou pelas arvores e arbustos do jardim.
— Nhgh! — Eu cai ralando as costas contra o chão quebradiço.
O ar nos arredores pesou e meus olhos se abriram lentamente, minhas forças chegando no limite. Até mesmo meus reflexos estavam mais lentos que o normal.
Foi então que quando minhas pupilas focaram novamente, eu pude ver.
Os céus escuros da noite, as grandes luas douradas se sobrepondo acima do cubo gigante que a mansão se transformou enquanto uma aura prateada oscilou como uma chama no meio de tudo, era Layaka.
— D-Deu tempo.
Soltei palavras de alívio enquanto sofria pra me levantar.
[Um companheiro próximo despertou um fragmento de Magatama diante de uma situação difícil.]
[Recebeu 500 Mil Ranking Points pela contribuição!]
As mensagens do S.I.S não poderiam mentir, ela havia suportado a dor e, portanto, adquiriu a Magatama.
— Mas que merda, eu disse pra matarem-na! — Cryfder gritou levantando-se da grama.
Todos os outros membros da 4º divisão estavam com faces pasmas e se recompondo do impacto no que Layaka estava de cabeça baixa, seus longos cabelos pendendo para baixo escondiam sua face.
Sangue pingava do rosto dela quando a mesma o ergueu revelando uma energia misteriosa que permeou seus arredores balançando seu jaleco branco.
Eu vi números, números reluzentes emergiram na aura da jovem.
“Mas o que diabos...”, franzi as sobrancelhas vendo o amontoado de caracteres sobrepor a silhueta dela juntamente do vapor prateado, seu olho direito emanou um brilho prateado.
— E-Eu... consigo ver... eu vejo.
A pesquisadora ainda chocada com a situação soltou palavras confusas enquanto piscava seu olho sem entender nada.
— Chega disso!
A voz forte de Cryfder atravessou o vazio juntamente de seu corpo que criou um rastro púrpuro das suas pupilas sedentas por morte.
— Droga, Layaka! — Gritei me erguendo em desespero.
A mão com unhas podres caiu sob Layaka como um meteoro.
Mesmo que ela agora fosse portadora de uma Magatama o toque pútrido do capitão da 4º divisão era praticamente mortal.
Vush!
Em um piscar de olhos o sobretudo branco e rasgado da pesquisadora dançou para o lado ao acompanhar seu corpo inteiro que se esquivou precisamente do ataque.
Meus olhos se arregalando, o coração palpitando e o desespero no limite. Ela não era mais a mesma Layaka de sempre.
[Layaka]
Um calor estranho fluiu por cada veia do meu corpo.
Foi como se eu fosse envolvida por um abraço caloroso de alguma entidade, então essa era a sensação de portar uma habilidade?
Fiquei confusa com meu movimento que não expressou dificuldade alguma pra ser feito mesmo que eu ainda estivesse com muito medo.
No fim a coisa que mais me deixara assustada foram milhares de informações fluindo diante dos meus olhos, como a análise de um robô ou coisa assim.
Rotas e cálculos foram feitos diante de cada movimento feito na minha frente e por causa disso consegui esquivar do ataque desse homem.
— Sua vadia! — Ele fechou seu punho em fúria.
Zush! Vush! Vupt!
Minha visão se redirecionou para cada uma das figuras engravatadas que tentaram me atacar.
Seus corpos se distorceram em vultos negros enquanto viajaram por todos os cantos lançando seus respectivos ataques sob mim.
F(n + 2) = F(n + 1) + F(n)
≥ 1
F(1) = F(2) = 1
— Isso é, rotação!
Minhas pupilas se movendo em alta velocidade de um lado pro outro.
Cálculos de rotação se reuniram por cima dos movimentos que meus olhos capturaram e um impulso de energia foi mandado para meu cérebro.
“Direita, esquerda, direita, contra-ataque!”, minha mente quebrando as barreiras de meus próprios reflexos.
Meu jaleco ondulou bruscamente em meio aos meus movimentos.
Me esquivei para direita com um passo leve no que vi uma foice pontuda envolta de energia rasgar em direção a minha garganta.
No fim eu pulei para a direita e com minha mão dei um tapa no pulso do homem de luvas metálicas, seu soco se redirecionou pra cima acertando uma grande raiz de espinhos que emergiu atrás de mim pronta para me esmagar.
Uma vibração percorreu pelo ar quando o punho metálico do homem engravatado mal acertou a raiz que se distorceu quebrando-se em meros pedaços de vinhas e folhas.
Isso era uma arte marcial pelo que eu lembre.
“Como eu tô fazendo isso?!”, pisquei meus olhos em pânico, mas era tarde demais, mais cálculos se juntaram por cima da minha visão.
b > 90º
a < 90º
c = 180º
Dessa vez eu me deparei com um ataque feroz de uma garota com cabelos azulados.
A gravata dela a balançar em meio ao seu movimento brusco, as pernas da jovem se movendo em alto fervor quando ela arrancou em minha direção.
“180º Graus? Então isso quer dizer que ela vai...”, minha mente não esperou.
Os reflexos se afiando o corpo se movendo e os ventos oscilando.
Das costas da garota emergiram cinco raízes de arvore e semelhantes a vários tentáculos gigantes elas se balançaram de forma grotesca lançando-se em minha direção sem piedade.
Em um piscar de olhos eu compreendi tudo.
Todos os tentáculos de madeira se retorceram no ar inclinando-se em 180º graus na esperança de enganar Incis que vinha correndo em minha direção.
— Layaka!
Ventania!
Minhas pernas se flexionaram em meio ao pulo ágil que dei.
Dando um mortal no ar meus sapatos pousaram sob uma das gigantes raízes que se estenderam como um braço gigante até o chão.
— Peguem ela! Matem Incis se for preciso!
Medo, frustração, angústia, tudo se misturou dentro de mim como uma tempestade enquanto comecei a entender quem eu era de verdade, o real motivo da minha existência nesse mundo.
Os cálculos que emanavam ao redor do meu corpo, os resultados que meus olhos viam... tudo isso só era possível por causa do senhor Nidrik.
x⊕y
Uma das raízes gigantes girou em espiral na minha direção, fazendo assim uma forte ligação com a rotação de Fibonnaci que eu havia visto nos cálculos de antes.
Tudo fez sentido, tudo pareceu ter uma solução clara pra mim.
Vupt!
Meu corpo girou em outro pulo.
Não importa o que acontecesse eu conseguiria desviar, eu entendi tudo!
[Cryfder]
Os números se distorceram pelo ar enquanto o sobretudo branco da maldita pesquisadora balançou com seus movimentos ágeis.
Suas duas mechas dançaram quando seu corpo girou entre as duas raízes colossais que destruíram o vazio caindo direto na grande fonte de água no centro do jardim.
Destroços e poeira foram aos ares.
— Porra! — Praguejei em fúria com meu terno sendo encharcado pelo esguicho de água que subiu da fonte destruída.
Não só eu fui banhado pela chuva artificial como todos os meus 6 melhores soldados também.
A vadia chamada Layaka aterrissou com suas costas viradas pra mim ao derrapar um pouco, minha chance!
— Te peguei!
Com essa vitória eminente eu lancei a palma de minha mão diretamente nas costas do jaleco branco que ela trajava.
Os ventos se afunilaram ao redor do meu braço no que a garota virou seu olhar por cima do ombro abruptamente.
— Acabou. — Declarou ela com um vapor prateado emanando de seu olho.
Meu corpo pesou, minha mente se perdeu em um vão de dúvidas quando vi um número negro dentro da pupila carmesim dela.
Era o número 13.
Meu corpo congelou enquanto os arredores se distorceram moldando-se em milhares de informações bizarras, cálculos e possibilidades se mostraram diante de mim que apenas fiquei paralisado.
Brooom!
Um som estrondoso tomou conta de todo o jardim pra no fim um clarão rápido iluminar tudo.
A foice elétrica de Zion girou no ar partindo as raízes que Hoka havia feito e com isso uma grande descarga percorreu pela água da fonte que banhou todos, exceto na garota parada na minha frente.
A eletricidade percorreu meus músculos e veias como milhares de parasitas corroendo minha pele, uma ardência aguda.
Como se não bastasse, eu vi as cartas elementais de Gohrfried, o meu melhor soldado, causarem uma grande combustão ao colidirem com os pedaços de vinhas e raízes que Hoka havia deixado.
O fogo e eletricidade se misturando.
“Uma junção de energias, quem diabos é essa garota afinal?”, meu nariz sangrou enquanto meu corpo apenas caiu de joelhos.
Foi como se meu cérebro começasse a escorrer pelas orelhas numa tentativa de fugir de toda a massa pesada de informações sendo injetadas nele.
— Q-Quem diabos é você? — Perguntei com sangue saindo da minha garganta.
O fogo se expandindo entre as arvores e arbustos, cada um dos meus lacaios caídos no chão de forma patética enquanto uma simples mulher com duas mechas e olhos carmesins, trajando um jaleco branco se virou pra mim com um olhar frio.
Como se não bastasse ela mexeu os lábios que tremiam um pouco.
— E-Esse... é o olho de Da’At, eu posso fazer a análise completa de tudo, assim consigo calcular resultados e rotas pra sair de qualquer situação, a análise perfeita. — Suor desceu da testa dela antes de continuar dizendo: — Acho que o conhecimento que obtive estudando pra ser uma pesquisadora pode ter se fundido com a energia do fragmento de Magatama, portanto, o olho que podia prever alguns segundos no futuro se tornou o olho que pode fazer a análise perfeita, o olho de Da’At.
Seu tom era inseguro, mas sua face somada ao número reluzindo em sua pupila direita me deu um calafrio bizarro.
— Haha-ahaha! Que bizarro. — Minha risada saiu encharcada por sangue. — Por que tá me dizendo tudo isso sua piranha?
Passos. Passos. Passos.
No fim duas botas de couro escuro pisaram na grama, Incis Katulis se aproximou de forma dolorida e com uma respiração pesada levantou sua voz.
— Porque agora você vai ver a verdade com os próprios olhos, traidor.
Minha única reação foi abrir um sorriso molhado de sangue, ainda haviam 4 dos meus lacaios.