Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Alma Imaculada

Capítulo 57: Sem Saída

 

 

[Jack Hartseer] 

 

Depois de todo esse impasse pra derrotar o Goblin com sua adaga camuflada eu finalmente pude respirar um pouco, parecia cada vez mais difícil sobreviver nessa tal provação.  

Com muito receio eu entrei na cabana de madeira que encontrei antes e pra minha surpresa não havia nada demais dentro dela, apenas as quatro paredes de madeira escura e algumas prateleiras vazias.  

— Ou talvez nem tão vazias assim. — Murmurei avistando alguns livros e itens em uma prateleira velha no canto. 

Ao me aproximar percebi que havia um tipo de lâmpada portátil envolvida em um metal escuro como também havia algumas ataduras e frutas estranhas.  

“Salvo pelo gongo.”, foi o que pensei coletando os itens.  

Antes de tudo eu enrolei a atadura ao redor da ferida em minha mão esquerda que estava constantemente ardendo e escorrendo sangue.

[Status ‘Sangramento’ foi retirado.] 

[Recebeu 10% de recuperação de HP por 30 segundos.] 

Uma onda de calmaria me atingiu junto de algumas partículas reluzentes que envolveram a atadura em minha mão, a luz esverdeada era reconfortante e me senti naquelas salas de Save em algum jogo ou coisa assim.  

Dando um longo suspiro eu viajei os olhos pelos arredores. 

— Até que é bem espaçoso aqui.  

Eu ainda precisaria falar baixo e provavelmente não poderia usar a luz portátil pra não chamar tanta atenção, porém a sensação de serenidade dentro dessa casinha de madeira era única e com certeza um dos poucos momentos que consegui realmente me sentir pelo menos um pouco seguro.  

Observando melhor o local percebi uma lareira apagada, os Goblins realmente fizeram isso sozinhos? 

“Que pergunta idiota, óbvio que não. Provavelmente foi tudo arquitetado pelo sistema, digo, S.I.S. Ainda não me acostumei com esse nome.”, dialoguei com meu eu interno.  

Me recostando contra a parede e escorregando até ficar sentado no chão eu só encarei a lareira que infelizmente teria que continuar apagada. 

A dor no meu braço esquerdo a pulsar enquanto a atadura continuou firme ao redor de minha mão.  

— Preciso me apressar, não posso ficar vegetando aqui. — Alertei pra mim mesmo antes de abrir o inventário.  

O interior da pequena cabana de madeira foi iluminado pela luz azulada da Pop-up flutuante.  

[Inventário] 

[Sanguis Blade] 

[Lu’x Fragment] 

[DNA Repair] 

[Akahot fresca] 

Antes de analisar os poucos itens a minha disposição minha mente congelou em alguns questionamentos abruptos. 

“Esses nomes dos itens, das habilidades... muitos são em alguma língua que eu desconheço, mas também tem palavras em inglês como o próprio nome da minha adaga e da que peguei recentemente.” 

Poderia esse mundo estar ligado com a terra?  

Bom, considerando todas as maluquices presentes até o momento não seria de se esperar menos.  

De qualquer modo eu só equipei a Sanguis Blade pra no fim ler o que o resto dos itens fazia.  

[Lu’x fragment] 

[Lendas dizem que essa pequena lâmpada portátil possui a energia Aether presente aos arredores do portal para o reino dos Mythra, pode ser equipada em qualquer peça de roupa ou armadura emitindo uma pequena luz aos arredores.] 

[DNA Repair] 

[Uma atadura comum capaz de recuperar os dados perdidos do seu DNA provendo uma cura de 50 pontos e regeneração em 10% por 30 segundos.] 

— Esses nomes estão realmente me deixando incomodado. — pensei em voz alta ao me levantar. — enfim, acho que já tô um pouco melhor. Aquele Goblin era realmente barra pesada.  

O leve ardor na minha mão esquerda fez meu braço esquerdo tremer um pouco quando chamei minha nova adaga. 

Sanguis Blade. 

Zuuush! 

Em questão de segundos o brilho oscilante se formou moldando-se na minha nova arma. 

A lâmina carmesim fina e levemente curvada tinha uma ponta bem afiada quase como a de uma Katana. 

Por fim os pixels reluzentes materializaram sua guarda, um cabo firme envolvido em várias faixas negras provavelmente pra dar mais aderência ao toque. 

No lado superior da lâmina haviam pequenas pontas separadas como se fossem espinhos, dentinhos mortais, um lado pra cortar e o outro pra rasgar. 

— Caraca. — Meus olhos reluziram diante da adaga tão leve quanto a Moon Blade. 

“Acho que posso usar as duas, isso seria dahora.”, um pensamento imediato me tomou fazendo-me chamar a Moon Blade para a mão direita. 

A diferença de peso é realmente considerável, mas me deparando com essas duas armas brancas em ambas as mãos eu me senti um real assassino ágil e estiloso. 

— M-maneiro. — Olhei para as duas adagas em minhas mãos. 

A ansiedade subindo, o interior solitário e silencioso da cabana de madeira sendo preenchido pela minha mais nova conquista.  

Mas eu não poderia vacilar, não agora, havia uma pessoa que com certeza era responsável por tudo isso e também havia uma pessoa que eu precisava reencontrar.  

— Incis, eu não morri ainda. vou sair daqui e fazer Misa Hordrik pagar, o trabalho que eu dei pra guilda não foi em vão. 

E lá vou eu de novo falando coisas estranhas pra mim mesmo, sem contar que o nome da senhorita Hordrik nem era Hordrik pra início de conversa... ela mentiu, mentiu pra mim e pra todos da mansão Blazeworth, uma assassina suja que sem dúvidas esteve maquinando tudo isso desde o início.  

“Sim, mas antes eu preciso de mais força, essa é a resposta.” 

Mais poder.  

Imerso em meus pensamentos eu encarei minhas duas adagas prontas para uma nova batalha.  

Use a dor como impulso. 

Essas palavras saíram dos meus lábios enquanto meus olhos emanavam o fulgor inexplicável de sede por mais poder, mesmo que isso significasse sofrer mais. Era hora de fazer algo de útil. 

 

[Incis Katulis] 

 

— E no fim a mansão inteira acabou sofrendo uma transmutação de Dungeon, portanto se trata de um caso mais delicado se comparado a uma reencarnação de Dungeon. — Terminei minha longa explicação enquanto sentia o suor descer pelos meus trajes negros. 

O capitão Cryfder deu um passo adiante aproximando-se do gigantesco cubo com circuitos reluzentes.  

— Entendo, mas se metade das pessoas que trabalhavam na mansão sofreram com essa tal agressividade incontrolável antes da Dungeon surgir, então nós tínhamos mais alguém agindo por trás de tudo. — Respondeu ele olhando-nos por cima do ombro.  

Layaka se escondeu atrás de mim enquanto seu corpo tremia.  

O resto da quarta divisão estava em total silêncio, cada um deles prestando continência, talvez não pela minha presença, mas pela presença de seu capitão.  

— E-Eu compreendo que o Jack com certeza é um suspeito em potencial pra tudo isso, mas... e-ele é só um garoto de Ranking F. 

Passo. 

Cryfder se virou, seus fios loiros balançando com os ventos. Ele me encarou com os olhos estreitos. 

— Um Lost de Ranking F, sabe bem o que os Lost tem feito os últimos meses pelas capitais dos grandes reinos, não é capitã Incis?  

Minha saliva desceu pela garganta em puro nervosismo. A mão direita de Cryfder estava fora de seu bolso, suas unhas podres reluzindo em um tom púrpuro eram o sinal do perigo eminente. 

“Com apenas um toque ele pode apodrecer qualquer coisa e com seu olhar de inveja ele pode desgastar qualquer ser... eu não duvidaria que Cryfder pudesse matar Layaka e eu aqui mesmo.”, mordi o lábio em ansiedade.  

O Vitalis da inveja ou melhor, podridão, me pergunto que tipo de trauma Cryfder sofreu pra ganhar tal poder.  

— Eu fiz uma pergunta, capitã Incis Katulis.  

A voz dele se tornou mais frívola.  

— Sim! Eu sei muito bem que os Lost estão causando problemas pra todos, — dei um passo medroso adiante, eu era a capitã da primeira divisão afinal. — mas diferente de outros Lost eu conheço Jack, ele é fraco e... s-seria incapaz de fazer mal a alguém mesmo se quisesse. 

Uma leve dor no peito me aflorou ao dizer isso, mas era a pura verdade. Foi então que uma mão trêmula apertou meu braço por trás, era Layaka, a pesquisadora suava frio e segurou meu braço ainda mais firme quando olhei para ela. 

— S-Senhorita Incis... 

— Não se preocupe, eu não vou fazer nada perigoso. — Tentei acalmá-la com um sorriso falso, mas fui interrompida pela voz de Cryfder. 

— Parece que essa civil está amolecendo você capitã Incis, ou melhor, esse Lost chamado Jack.  

Merda, eu estava sendo pressionada ao limite aqui e mesmo se eu tivesse pura razão nada estava ao meu favor. Eu precisaria provar para Cryfder que Jack era inocente e também não tinha envolvimento algum com o incidente em Leycrid.  

Minhas unhas afundaram sob minhas palmas quando cerrei os punhos em tensão.  

— Não tem mais nada a dizer capitã Incis?  

— ... — Abaixei minha face em silêncio. 

Mesmo se eu pudesse fazer algo nesse momento nada estava ao meu alcance, o corpo desgastado, a mente falhando e a confiança em falta.



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