Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Alma Imaculada

Capítulo 55: Choque De Emoções

 

Eu realmente não sei o que deu em mim depois de uma semana preso nesse mundo, mas uma certeza que eu tive é que as coisas de alguma forma estavam mudando, sejam pra pior ou pra melhor elas estavam mudando.

E uma das coisas que me fizera perceber isso foi justamente a situação em que me deparei nesse momento.

— Merda, por que diabos os cadáveres deles continuam no chão enquanto eu pego o Loot? — Retorci a cara com uma náusea.

Tentando fixar a atenção nos itens da janela flutuante diante de mim eu não pude deixar de perceber que minha falta de sensibilidade estava aos poucos aumentando, tendo em conta que quando cheguei aqui a uma semana atrás eu mal conseguia ver um monstro sangrando sem vomitar.

“Talvez seja normal, o ser humano sempre tenta se adaptar.”, murmurei internamente antes de tocar a ponta do dedo em um item específico.

[Equipamento do Set ‘Lua Carmesim’]

[Fivela Sanguis]

[Aumenta a capacidade de carga do inventário em 10 além de prover recuperação de HP por 10 segundos após sofrer 150 de dano.]

— Um cinto, hm. Bom, eu posso guardar a minha adaga nele pra naturalmente sobrar mais espaço no meu inventário normal.

Abaixo desse tal cinto com diversos Slot’s pra guardar itens haviam outras coisas como até mesmo algumas poções como aquela que Renard me entregou a algumas horas atrás.

“Eu realmente fazendo algo insano aqui, certo?”, parei pra pensar viajando meus olhos sob os corpos ensanguentados dos Goblins.

As chamas da fogueira a iluminar os arredores em conjunto ao seu chiado calmo.

Meu estômago embrulhando de imediato.

— É melhor eu sair daqui logo. — Me apressei coletando o que eu achei que iria me ajudar de uma vez.

[Fivela Sanguis equipada!]

[Você recebeu os devidos Buff’s atrelados ao equipamento atual.]

[+10 de espaço extra no inventário]

[10 Segundos de recuperação de HP após sofrer 100 de Dano]

Passos. Passos. Passos. Passos.

Senti uma brisa leve bater sob a capa rasgada por cima dos meus ombros enquanto caminhei sob a grama escura da floresta de Goblins, a solidão que esse lugar me trouxe foi inexplicável.

“Me pergunto se aquele Orc ainda estaria por perto, eu realmente não sei como vou fazer isso.”, ponderei preocupado.

Matar um monstro que fosse equivalente ao dobro dos Goblins que derrotei até agora seria realmente fora de questão, só de pensar sobre isso meu corpo já estremeceu.

Tentando sufocar o receio e a ansiedade dentro de mim, eu continuei caminhando entre as arvores e moitas sorrateiramente.

Barrancos íngremes, algumas montanhas inteiramente de rochas e cavernas eram o que preenchia esse cenário isolado. Se passaram mais ou menos 10 minutos de caminhada e nada, o silêncio total.

“Esse silêncio é tão constrangedor...”, franzi as sobrancelhas.

Foi então que finalmente percebi algo estranho perto de uma caverna em um barranco de pedras.

— D-Droga, outro acampamento. — Sussurrei agachando-me em uma mata alta ao visualizar uma base de madeira apoiada por alguns pilares de carvalho.

Não havia tanta luz ao redor da cabana de madeira, mas os pilares que a sustentavam alguns metros acima do chão com muita certeza poderiam intimidar alguém como eu.

Passei um tempo estático observando se passava alguma alma viva pela parte iluminada pelas duas tochas ao redor da cabana de madeira, mas nada. Impaciência e medo logo afloraram.

“Será mesmo que é seguro ficar aqui? Aquele Orc pode estar em qualquer lugar agora, mas eu preciso de mais equipamentos também, não posso morrer aqui dentro, não quero morrer aqui.”, mordi o lábio em desconforto.

Crack!

Um som quebradiço veio das minhas costas.

O meu coração a acelerar de imediato enquanto meu corpo congelou por completo.

Isso foi um galho, apenas um galho, mas até um simples galho quebrando poderia significar muita coisa.

“Tinha alguém atrás de mim esse tempo todo ou foi só agora? Não, não deve ser nada, sim, deve ser só o vento.”, me virei lentamente enquanto pensamentos receosos me acompanharam.

Foi então que um borrão carmesim se dispersou entre os troncos altos das arvores.

Direita, esquerda, cima, baixo, direita.

Ele se distorceu pulando de galho em galho, esgueirando-se de tronco em tronco.

— Puta merda!

Um impacto ensurdeceu meus tímpanos logo no instante em que puxei a lâmina da Moon Blade pra frente do meu rosto.

As faíscas eclodiram iluminando a mata por meros segundos no que o Goblin de pele azulada girou no ar afastando-se de mim com sua adaga cor de sangue.

Eu pulei em desespero pra fora da mata quando o fio metálico passou cortando os matos como uma navalha.

Ungh! — Rangi os dentes ao rolar e bater contra um tronco.

Chamas nasceram da mata que agora havia sido fatiada pela metade, provavelmente por causa das faíscas de antes.

“Esse Goblin de adaga vermelha, ele me atacou antes e quase me matou, foi ele!”, me ergui recordando-me dos olhos ardentes em vontade assassina do Goblin de adaga carmesim.

De pés eu me deparei com o inimigo totalmente ereto a alguns metros de distância, seus olhos exalavam o mesmo vapor assassino daquela vez, tive total certeza de sua identidade.

As chamas ao lado do Goblin esguio com longas orelhas começaram a se expandir engolindo as moitas e grama em sua luz ardente, seu rosto enrugado e olhos sendo banhados pela claridade.

— E-Entendo, então foi realmente você. — Pensei em voz alta entrando em postura de defesa ou sei lá o que fosse essa pose.

Zuuush!

A luz vermelha nas pupilas do Goblin se distorceu pelo caminho que ele traçou em minha direção.

Seus passos rápidos passando entre as arvores.

[Um combate perigoso se aproxima!]

“Tinha como ser menos óbvio que isso? sistema de merda!”

 

[Incis Katulis]

 

Depois de algumas horas andando mais adentro na caverna juntamos diversas pistas sobre antigas pesquisas realizadas no laboratório da mansão Blazeworth, uma delas era a que meu pai estava envolvido.

O nome era estranho, se chamava Ascenção Ex Makina e estudava a capacidade total de um usuário de Vitalis em suportar a influência externa de outras energias como a energia Aether.

— Eu não sei... onde diabos isso quer chegar? — Me perguntei lendo um dos papeis sujos em minha mão.

— S-Senhorita Incis, poderia carregar a senhorita Akira agora?

A voz de Layaka ressoou atrás de mim quando me virei para a pesquisadora de cabelos castanhos segurando a minha jovem companheira de forma desajeitada.

A-Ah! Foi mal! — Corri até as duas cedendo meus braços ao trabalho. — Ela é pequena, mas é bem pesadinha né?

— Sim.

Levantei uma sobrancelha com a resposta seca de Layaka.

Por que que ela estaria agindo de forma tão fechada comigo? Talvez ela...

Senti um arrepio súbito quando percebi.

— E-Escuta Layaka, eu... me desculpa por toda essa confusão.

Passos. Passos. Passos.

Nós continuamos caminhando pelo imenso corredor baldio de pedras no que a luz azulada dos cristais nos guiava.

— O Senhor Nidrik, os meus amigos, — Ela pausou respirando de forma ríspida. — senhorita Incis, tem certeza que vamos conseguir sair daqui? D-Digo, todos que eu conhecia foram mortos e nós ainda mal sabemos o motivo.

Meus dedos inconscientemente cravaram na pele de Akira que eu segurava em meus braços.

“Eu entendo, realmente deve ser difícil pra ela, mas pra mim também é, todos nós estamos em um momento difícil agora. Não há muito o que fazer a não ser sacrificar-se por um bem maior ou coisa assim. Parece cruel pensar dessa forma, mas é o jeito.”

Essa enxurrada de pensamentos tomou minhas palavras fazendo um nó em minha garganta.

— Senhorita Incis?

— Sim.

— S-Sim o que?

Eu parei meus passos e permaneci de costas para Layaka quando respondi: — Não importa quantos danos eu tenha sofrido, a partir de agora eu sempre vou proteger vocês, independente do que aconteça, então não se preocupe. A dor pode ficar pra mim.

Mesmo depois de falar algo tão horrível eu não podia deixar de pensar que tínhamos que sair daqui ou então eu não era a verdadeira filha do mestre da guilda.

“Na verdade, eu sinto que não sou merecedora desse título, só que... preciso continuar, não quero ver mais pessoas morrendo.”, mordi o lábio em angústia.

Huh! Senhorita Incis, veja! — Layaka passou na minha frente apontando em direção a uma luz fraca no fundo do corredor destorcido por pedras.

— Talvez seja realmente uma saída.

Não pude evitar de sorrir um pouco e abaixar minha face até o rosto sereno de Akira desmaiada sob meus braços.

“Sim, nós vamos conseguir.”, sussurrei em pensamentos pra no fim viajar meus olhos lentamente pelos cabelos escuros e perfeitamente curtos de Akira.

Uma verdadeira guerreira de fato, eu me lembraria de agradecê-la por tudo depois que ela acordar. Quando finalmente conseguimos confirmar que era uma saída eu e Layaka nos auxiliamos erguendo o corpo de Akira uma pra outra na subida entre algumas rochas até a superfície.

No fim os ventos caíram sob nós juntamente do ar fresco do grande jardim da mansão.

Oh não. — Layaka suou frio com uma voz tremida.

— Mas o que... — Desviei a atenção para onde ela olhava, a mansão.

O que deveria ser um sofisticado casebre de dois andares era um colossal cubo metálico com diversas linhas reluzentes em padrões de circuito espalhadas sob a superfície.

“Então é assim que é uma reencarnação de Dungeon é por fora.”, minhas pupilas tremendo com o vislumbre assustador.

Passos! Passos! Passos!

E então um som abrupto engoliu a ventania e todos os sentimentos que ainda preenchiam nossos corações, pra nos bombardear com a visão de 7 pessoas com trajes negros abrindo os portões do jardim a força.

Ombreiras negras de metal, sobretudos escuros ladeados com runas Aether, ternos com longas gravatas.

Meus olhos se arregalando, as figuras bem vestidas se aproximando em passos sincronizados. Tive total certeza de que eram membros da guilda.

— É a... quarta divisão. — Murmurei embasbacada.

— Capitã Incis, permissão pra falar!

A voz forte que veio em minha direção parou os passos de todas as outras 6 pessoas, era de um único homem que vestindo seu elegante terno de cor escarlate descansou as mãos nos bolsos.

— Permissão concedida. — Respondi confusa no que o homem bem vestido com um cabelo liso de cor dourada se aproximou.

A tatuagem de dragão em seu pescoço não mentia, era ele, Cryfder Ehrdre o capitão mais cruel da guilda.

— A equipe de limpeza esteve trabalhando duro no resgate dos poucos sobreviventes que sobraram no incidente em Leycrid de uma semana atrás. — Ele ergueu a mão fazendo um painel reluzente surgir diante dela. — No fim coletamos dados de extrema petulância pra esse caso, descobrimos uma amostra de DNA se manifestando de forma estranha e ela pertence a esse garoto.

Quando as palavras do capitão da quarta divisão cessaram, meu rosto era apenas de choque.

— J-Jack?!

No painel flutuante o rosto de Jack era exibido.



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