Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Alma Imaculada

Capítulo 51: Sempre Pode Piorar

 

 

Abafado, minha respiração foi se tornando mais calma quando caí no sono, porém depois de sabe-se lá quanto tempo comecei a sentir um calor desconfortável enquanto um silêncio perturbador permeava pelo interior oco da caverna.

Ugh... — Abri os olhos lentamente.

Foi como quando abri meus olhos pela primeira vez nesse mundo, acordando dentro de um lugar escuro e abafado. Quem diria que uma memória como essa viria à tona.

“Eu dormi?”, uma dúvida rápida surgiu no que comecei a retomar a consciência.

Ao tentar me levantar senti uma tontura e tanto os músculos das minhas costas quanto dos braços e pernas contraíram dolorosamente.

Ngh! Que porra, — Me recostei sob a parede de pedras novamente. — a cama da mansão era muito melhor que essa caverna.

No fim eu viajei meus olhos sob o terreno baldio e as pontas das rochas banhadas pela escuridão até tentar enxergar uma luz na saída desregulada da caverna.

A julgar pela sensação que tive ao acordar eu poderia ter dormido algumas horas.

De qualquer modo eu finalmente me levantei tirando minhas costas da parede para no fim um pequeno painel reluzente surgir.

[Quest Atual: Sacrilégio]

[Objetivo: Pague seus pecados contra a deusa, lute pela sua vida]

[Estágio inicial da provação.]

— De novo isso? Nem pra me dar um objetivo claro. — Murmurei antes de seguir para a saída da caverna.

Passos. Passos. Passos.

Meu caminhar a ressoar pelas frestas mais escuras e isoladas da toca gigante.

“Não quero morrer..., mesmo que eu tenha que aguentar toda essa dor eu não quero morrer.”, ponderei dando um suspiro denso.

Antes de dar um passo sequer pra fora desse lugar eu me certifiquei de pelo menos ter pegado alguns equipamentos ou qualquer coisa que fosse útil, a capa rasgada era um bom exemplo disso.

“De acordo com o S.I.S eu possuo 20 de agilidade e 17 em Vitalis por causa dos Buff’s dessa capa, não sei ao certo o que o atributo de Vitalis pode fazer, o mais óbvio seria fortalecer a minha habilidade de manipulação e conjuração de lâminas, o Manipu Laminae.”

Insegurança, tensão, medo, tudo se misturou dentro de mim e continuou a residir em meu interior assim como eu havia feito nessa caverna até o atual momento.

— Droga, eu tenho que sair daqui de qualquer modo.

Com essa afirmação desagradável eu dei um passo afrente pra sair da caverna.

Ventania.

Uma brisa leve batia sob as folhas das arvores e as moitas balançavam com suaves farfalhos.

Cauteloso, eu comecei a caminhar com passos lentos e cuidadosos enquanto minha mão onde era empunhada a minha única arma a Moon Blade, tremia.

Minha respiração pesando diante da tensão de caminhar pela floresta mal iluminada.

“A qualquer instante...”, murmurei internamente no que meus olhos se reviravam de um lado para o outro.

A grama seca onde a sola dos meus sapatos tocava soltava leves farfalhos como sussurros fantasmagóricos. Eu engoli minha saliva.

Algo além das moitas, além das arvores e de algumas rochas estava formando uma estrutura grande que arranhava as alturas.

— Mas o que? — Me agachei perto de uma das rochas negras que rasgava o solo e grama como um espinho.

Esgueirado eu ergui um pouco a cabeça para no fim visualizar uma alta estrutura que no topo tinha um teto pontudo e uma luz oscilante.

“Uma torre.”, suor desceu da minha testa.

Provavelmente isso era obra dos malditos Goblins, mas isso nem era o ponto mais importante no momento, meu pânico aumentou quando percebi mais torres ao redor.

Tum! Tum! Tum!

Meus batimentos se agitando por um leve momento ao viajar os olhos por cada uma das torres, 3 ao todo.

Me abaixando eu escorreguei lentamente pela pedra até cair sentado enquanto bufava em desespero.

— Merda! Goblins arqueiros. — Eu ergui a adaga negra em minha mão que tremia sem parar.

Eu podia lidar com 1 Goblin pelo menos, mas essas torres já diziam muito por si só, flechas que iriam perfurar impiedosamente qualquer coisa que se movesse entre as moitas.

Pelo menos eu tinha uma boa ideia disso por causa de minha experiência com Video-Games ou será que qualquer um iria deduzir o mesmo?

“Se acalma cara, sem pânico, sem pânico.”, me encorajei mentalmente ao segurar o pulso da minha mão onde a adaga estava sendo empunhada.

Eu me inclinei um pouco pra direita pra poder analisar melhor uma das torres, foi quando tive a certeza da minha conclusão.

Um grunhido irritante e nojento veio da estrutura, um pequenino com uma aljava nas costas descia o que pareciam ser escadas. Meus olhos se arregalando, o nervosismo e a tensão aumentando.

— Ele desceu, duvido que tenha me visto nesse escuro.

Parecia até que eu tinha certeza do que estava sussurrando, mas não sabia de porra nenhuma. O Goblin desceu até a base da sua torre e começou a rodeá-la com o arco em suas mãos.

Meu campo de visão estava bem amplo e essa primeira torre não ficava tão longe de mim, a sorte também poderia ser meu azar já que o Goblin começou a se aproximar e sumiu entre as moitas.

“Está vindo.”, me esgueirei ocultando minha cabeça e corpo enquanto apertei o cabo da minha adaga firmemente.

Perto.

Nyagh!

O grunhido se aproximou.

— Apenas um Goblin... — Fechei meus olhos respirando fundo.

No mesmo instante em que a silhueta do Goblin passou ao lado do meu esconderijo eu me prontifiquei.

Zuuush!

Girando a adaga rapidamente eu a segurei ao contrário e lancei a ponta metálica contra a cabeça do monstrinho.

Nenhum som de dor saiu da criatura apenas um rápido jato de sangue que banhou meu pulso e punho juntos.

[Você eliminou 1 Tarius Goblin!]

[Recebeu 190 Ranking Points +10 de XP extra pelo ataque furtivo.]

Os textos reluzentes da vitória acalmaram qualquer insegurança em meu coração.

Puxando a adaga do olho do Goblin seu cadáver caiu como um trapo velho, eu poderia vomitar fácil se não estivesse tão escuro

— Tudo bem, já foi um.

Quando sai de trás da pedra avancei agachado até um amontoado de arvores e moitas que estavam próximas a primeira torre.

Como em um jogo, eu só precisava pensar que era como nos jogos em que eu costumava jogar e pra falar a verdade esse sistema ajudava e muito a cravar esse pensamento em minha mente.

A adrenalina, a dor, o sofrimento... essas janelas flutuantes eram como uma máscara que ocultava tudo isso, mas por algum motivo uma motivação estranha brotava em mim.

“Talvez eu realmente consiga me virar assim, com esses pontos que eu ganho também posso ficar um pouco mais forte... será que posso me tornar poderoso como Zakio ou Incis?”, pensei me encostando em uma arvore.

Um pensamento avulso e ingênuo, eu sabia disso, só que era impossível não me questionar essas coisas sabe?

Passos. Passos.

Meus passos eram medrosos, mas a minha vontade continuava a guia-los enquanto meu punho permanecia selado ao redor do cabo da adaga que pingava sangue.

Me aproximando furtivamente pelas arvores e moitas eu consegui chegar perto o suficiente da torre de onde aquele Goblin veio, assim pude ver melhor como era a estrutura.

A torre quadrada era toda sustentada de uma espécie de madeira escura e desgastada enquanto uma pequena cerca rodeava sua base onde havia a escada pra subir até o topo, bem simples na verdade.

“Goblins podem ser bons na arte de matar, mas ainda são Goblins.”, zombei internamente ao finalmente passar pelas cercas de madeira ao redor da torre.

Erguer meus olhos lentamente pela escada velha deu um frio na barriga que no fim me fez respirar fundo e guardar minha adaga.

— Obrigado pela ajuda Moon Blade.

Afundei a lâmina no painel do inventário com esse sussurro tenso, a janela brilhante oscilando com pequenas ondas antes de engolir o item por completo.

No fim eu comecei a subir, que loucura.

Como eu cheguei a esse ponto? Acho que não adiantava nem mais pensar demais sobre isso, eu precisava fugir.

A brisa gentil de antes começou a se intensificar na medida que meus braços e pernas se moviam para escalar a escada de madeira que rangia levemente.

A capa rasgada sob meus ombros a balançar entre os ventos.

A visão dessa floresta negra foi ficando cada vez mais ampla e esférica até que cheguei em um ponto tão alto que... pude ver os céus.

Um vazio escuro com uma única estrela gigante no topo, um círculo mágico carmesim. De dentro do círculo escarlate, linhas padronizadas em circuitos se espalhavam como raízes.

“Dungeons... são assustadoras.”, minha saliva desceu pela garganta no que eu abaixei a cabeça.

Não havia lógica alguma por trás dessas masmorras colossais, não havia lógica alguma nesse mundo! Uma fantasia doentia como essas era assustadora.

Mordendo meus lábios em pânico por causa da altitude e do brilho colossal nos céus.

No fim eu alcancei o topo da torre que era revestido por quatro paredes finas e uma tocha, janelas também acompanhavam o centro das paredes dando uma visão satisfatória de todo o perímetro.

Ainda tinha mais duas torres então eu me escondi no canto de uma das janelas antes de tentar espiar pela brecha.

— Uma fogueira.

Minhas sobrancelhas arquearam quando meus olhos visualizaram as chamas oscilantes dançando lá em baixo.

Ao redor das brasas e fumaça havia um grupo de Goblins dançando como verdadeiros loucos.

Eu me abaixei recostando-me contra a parede. “Entendo, então aqui é algum tipo de acampamento também, mas há poucos deles se comparado ao acampamento que vi antes. Será que...”

Levei a mão ao queixo, um pensamento avulso, mas interessante.

— Talvez todos aqueles Goblins nas cabanas foram separados pelo teletransporte, assim como aconteceu comigo e os outros.

Poderia estar viajando demais, porém era uma boa dedução.

Impacto! Ventania! Bam!

Um som abrupto de pancadas rígidas ecoou lá de baixo fazendo-me levantar em um susto. Eu sorrateiramente espiei pela brecha da janela ao me erguer, no fim vi mais uma coisa perturbadora.

Meus olhos se arregalando, o suor descendo pela pele e a ansiedade voltando.

Todos os pequenos Goblins ao redor da fogueira estavam destruídos sob o solo, desfigurados e cobertos por sangue enquanto uma única criatura estava de pés no meio dos cadáveres.

Ela parecia inquieta e bufava diante das chamas com seu corpo alto e parrudo banhado por sangue.

— T-Tá de sacanagem que tem a porra de um Orc aqui?

Senti meu corpo vacilar por um instante, mas o suposto Orc deu de costas para as chamas e simplesmente foi embora com seus passos pesados que vibraram as paredes da torre.

“Que furada.”, pensei apertando os punhos.

Foi então que uma distorção de Pixels coloridos subiu diante dos meus olhos e aos poucos crepitou em uma tela reluzente de cor dourada.

[Objetivo atualizado com sucesso!]

[Sacrilégio: Estágio 1]

[Lute pela sua vida derrotando o ‘Vehementi Orc’ de qualquer maneira.]

O pior aconteceu.



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