Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Alma Imaculada

Capítulo 50: A Força Da Dor

 

 

Apesar de toda a dor pulsante pelo meu corpo a adrenalina só acabou quando avistei uma rota de fuga.

 A cavidade entre as rochas mal iluminadas, um tipo de caverna perto de uma pequena montanha desregulada, perfeito pro momento eu diria.

— Que merda, como isso foi acabar assim? — Murmurei em meio a suspiros antes de passar entre a mata alta.

A julgar pelo silêncio nenhum dos Goblins ainda me perseguia, isso era ótimo, mais um segundo e acho que minhas pernas iriam cair. Meu coração ainda acelerado e o silêncio, nada mais me fazia companhia.

“Eu consegui sobreviver pelo menos, mas tudo foi graças a essa adaga.”, ponderei olhando a lâmina negra da Moon Blade em minha mão.

[Moon Blade]

[Uma adaga negra capaz de causar danos críticos quando usada em uma noite de lua cheia.]

Um efeito peculiar, mas interessante.

Isso me fez pensar sobre o nome dessa adaga em si, se eu estava em outro mundo então por que um nome em inglês? Essa língua sequer deveria existir aqui?

Passos. Passos. Passos.

O som dos meus passos cansados foram ficando fracos até que eu resolvi parar diante da entrada escura pro interior dessa toca.

“Será que tem mais deles aqui?”, foi o que pensei antes de acalmar meus nervos e dar um passo adentro da caverna.

Cambaleando e com o sangue fresco escorrendo pelas feridas.

Cortes ardendo, a respiração densa e os músculos doloridos. Será que eu iria ficar bem?

Me apoiando pela parede de pedras eu me senti inquieto, inseguro. De qualquer modo eu não soltei a adaga em minha mão nem por um segundo.

“Obrigado pelo presente, Incis.”, mordi o lábio em meio a esse murmuro interno.

[Hp atual: 80/240]

[Sob efeito de: Sangramento]

O painel vermelho iluminou meu rosto enquanto a dor flamejante pulsou sob os cortes e o rasgo na carne do meu braço.

Nhgh.... — Expirei o ar de modo pesado. — está aos poucos tirando meu HP, Goblins arrombados.

No fim a caverna não era tão funda, mas o suficiente pra me dar a sensação de segurança e assim, eu me sentei recostando-me contra uma parede curvada de pedras pontudas.

Sozinho, machucado e com medo.

O som da minha respiração desregulada e a dor irrompendo pelo meu corpo era como um lembrete severo de que apesar de tudo eu ainda era o mesmo Jack de sempre.

“Um garoto, nada mais.”, minha mente se escureceu com essa frase.

Dentro desse lugar talvez a loucura e a angústia fossem ainda mais intensos do que lá fora, mas apesar de tudo ainda não havia tempo pra ficar parado.

— Esse sangramento... Tenho que me livrar dessa merda. — Rangi os dentes com o corpo tremendo.

[Hp atual: 75/240]

Tentando ignorar a janela flutuante eu apenas deixei minha adaga descansada ao meu lado e levantei meu braço esquerdo levemente.

Estava escuro demais pra tentar ver como a ferida estava, mas definitivamente era grave e eu perdia cada vez mais sangue.

O líquido fresco e quente escorria do meu tríceps.

[Hp atual: 70/240]

Meus ouvidos pareciam escorrer um ruído crepitante enquanto a dor se intensificou. Talvez o meu destino já tivesse sido decidido.

“Não!”, desviei o olhar da minha barra de HP. “Tem que ter um jeito, não quero morrer, não quero sentir dor!”

Meus pensamentos ficaram turbulentos diante de um desespero eminente. Eu fiquei a deriva dentro dessa caverna escura de merda, sozinho e todo fodido, o que diabos eu tinha feito de errado afinal?

Meus olhos percorreram os arredores em pânico, nada, o completo breu.

“Não tem nada que eu possa fazer? Tá doendo!”

Meus dentes rangendo, o corpo tremendo e os pulmões ardendo.

[Sua sanidade sofreu 10% de corrupção!]

[O modo ‘Angústia Completa’ está 50% cheio.]

De repente parecia que o próprio S.I.S queria me trazer medo, desespero e... Escuridão. Na verdade eu já estava envolto de trevas, por dentro e por fora, o sentido figurado e literal. Eu estava perdido na escuridão completa.

Grargh!

Um grunhido ecoou pela caverna.

— Huh? — Virei o olhar para a entrada da caverna, meu coração disparando.

Suor escorreu pela minha testa quando a silhueta baixinha adentrou o local.

“Um Goblin, ele deve ter me escutado entrar aqui dentro!”, mordi o lábio em receio.

Minha mão logo foi para o punho de minha adaga.

O Goblin continuou andando em frente até que pude escutar seus passos ressoarem entre as brechas das rochas. Os batimentos acelerando a um ponto em que eu podia ouvir o sangue entre minhas veias ser bombeado.

Me encolhendo contra a parede curvada de pedras eu me esgueirei.

Passos. Passos. Passos.

Escutei a criatura se aproximar e respirar de forma estranha com fungadas, espera, não eram fungadas.

“Ele está farejando.”, comecei a tremer.

Escuro demais, se eu tentasse fugir pra algum lugar eu de certo iria chamar atenção e facilmente iria me atrapalhar no escuro.

Guhnhygh!

O som do Goblin ficou mais próximo.

A caverna era espaçosa, pensando melhor movimentos mais ousados poderiam sim dar certo, porém em meu estado atual isso só iria piorar minhas feridas.

[Hp atual: 68/240]

A barra de HP cada vez mais baixa.

Foi então que me lembrei das palavras do meu Alter Ego, usar a dor como impulso.

A resposta nesse instante era óbvia e o Jack desse momento precisava entender isso, na verdade ele já havia entendido, eu já havia compreendido que algo precisava ser feito imediatamente.

— E esse algo é usar da minha dor como impulso. — Sussurrei levantando-me lentamente.

Esgueirado contra a parede eu apenas permaneci imóvel para que o Goblin se aproximasse o suficiente.

“Só um de nós pode permanecer aqui dentro, se é disso que preciso pra me livrar dessa então vou usar da dor com prazer pra sair dessa porra de situação.”, apertei o punho da Moon Blade em meio a tal pensamento.

O monstrinho finalmente passou por mim e com sucesso eu consegui fazê-lo não me perceber ao controlar minha respiração.

[Hp atual: 56/240]

Meu campo de visão era limitado e o breu dificultaria a minha investida sorrateira, mas ainda havia uma coisa a meu favor.

Passo! Vush!

Eu arranquei girando a adaga na minha mão.

O Goblin gritou em pânico e pude sentir sua intensão assassina irromper.

— Skill On! — Pulei na direção do som viajando minha adaga pelo vazio.

Sangue espirrou no que o barulho da lâmina rasgando a carne bramiu e no fim eu cessei meus passos derrapando de forma brusca.

[Dano crítico!]

Foi por um breve segundo, mas apenas isso foi capaz de causar o dano crítico, na hora perfeita!

—  Manipu Laminae! — Eu bufei ríspidamente antes de ouvir o grito de agonia do Goblin atrás de mim.

Nyaaaaaagh!

As duas lâminas que surgiram ao meu redor já haviam traçado o mesmo caminho que tracei ao atravessar meu oponente com a investida sorrateira de antes.

“A vitória é minha.”, permaneci estático com a adaga ainda levantada.

As adagas retalharam o pequenino em meio a escuridão.

[Você eliminou 1 Gran Goblin!]

[Recebeu 160 Ranking Points +10 de XP extra pelo ataque furtivo.]

No fim essas lâminas que só me traziam dor eram as mesmas que podiam me levar a vitória!

 

 

Era uma madrugada silenciosa com certeza, porém entre as estradas nevadas de Vesperia uma porção de veículos militares se manifestava.

Placas de metal negras, faróis brancos e brilhantes somados a janelas escuras de vidro temperado.

As 3 luas douradas no céu banhavam a grama coberta pelo cobertor de neve prateada.

— V-Vossa majestade, até agora não entendi muito bem uma coisa. — Disse um soldado loiro trajando um uniforme militar preto.

— E o que seria? meu querido Storlix.

A mulher de cabelos curtos e olhos carmesins no banco de trás sorria com uma face provocante após fazer tal pergunta para o soldado Storlix.

— B-Bom, nós estivemos um bom tempo em aliança com Vesperia e agora até estamos indo pessoalmente entregar o dinheiro pelos canhões de energia Vyer, mas... — Ele olhou pros olhos carmesins da mulher pelo retrovisor. — vamos mesmo ter que destruir todo o continente depois de termos literalmente comprado essa massa de armamentos inteira?

Ela sorriu ainda mais para no fim olhar pela janela escura perdendo o sorriso, as copas das arvores cobertas de neve.

É tudo uma mentira.

Storlix ficou quieto com a resposta de sua superior, o piloto que dirigia ao seu lado em contrapartida estava começando a suar de nervosismo.

“Talvez ela realmente não possa falar sobre isso até mesmo comigo, um dos capitães das divisões de combate.”, ponderou ele.

— Tudo isso é uma completa mentira, o mundo é uma mentira.

A voz provocante da mulher no banco de trás quebrou o silêncio.

— Sabe, Storlix, por mais que os fracos deem duro, por mais que eles tentem e nunca desistam sempre haverá alguém mais poderoso no topo. — Ela voltou o olhar para o homem loiro no banco da frente. — O que quero dizer aqui é que os fracos perecem e os fortes permanecem, essa sempre foi a lei natural de tudo, assim como um rei e os seus lacaios e por mais que ambos tenham uma dependência mútua os lacaios sempre podem ser substituídos, porém o rei permanece até o fim.

— La-Lacaios...

Storlix, um capitão da primeira divisão de combate das forças militares de Zykron, um homem sem coração treinado desde criança para ser uma máquina mortífera sentiu algo como medo.

Medo... As pupilas azuladas de Storlix tremiam em insegurança e receio sobre o que a rainha de Zykron planejava nesse momento.

“Ela realmente pode ser capaz de tudo, mas as suas ações os últimos tempos tem sido totalmente sem sentido pra mim.”, murmurou internamente o capitão loiro.

Enquanto esse clima tenso se intensificava a mulher relaxada no acento de trás, a responsável por tudo isso, apenas continuou com seu sorrisinho de deboche.

Essa era a rainha de Zykron, a responsável por toda a desgraça nos continentes mal desenvolvidos e a escravidão de raças como os Daemon.

Se ela pudesse priorizar alguma coisa em sua vida seria apenas uma.

— Nesse mundo só existe um rei, um messias. Irei governar sob tudo e todos, sob os céus e a terra pra então no fim transcender diante da ascensão.

Poder, ela buscava o poder absoluto.

 

[Jack Hartseer]

 

Meu braço ainda ardia muito, mas consegui estancar o sangramento enrolando uma parte que rasguei da minha jaqueta.

Só isso já foi o suficiente pra anular o efeito de sangramento do S.I.S, mas não era só isso.

“Que bosta de Drop.”, franzi as sobrancelhas enquanto comia um pedaço velho de pão.

[Itens do inimigo]

[Tampinha enferrujada]

[Garrafa desgastada]

[Punhal enferrujado]

[Capa Noctia rasgada]

Não era de tanta surpresa assim se for parar pra pensar, mas pelo menos ele tinha um pão até que macio no inventário.

Goblins eram mesmo um pé no saco.

No fim o meu instinto de jogador aflorou novamente, meus olhos fixando no item do último Slot.

— Uma capa rasgada.

Com um olhar de interesse eu apenas toquei o dedo indicador sob o ícone da capa velha.

[Capa Rasgada do conjunto Noctia]

[Uma capa negra e rasgada capaz de aumentar 10 de agilidade, 5 de força e 10 em Vitalis ou Aether.]

— Bingo. — Sem nem me questionar eu coletei a capa.

Me acalmando melhor depois de comer esse pão de merda eu apenas me recostei na parede fria de pedras da caverna novamente.

Status.

Meu sussurro se distorceu para no fim um painel azulado e reluzente surgir diante dos meus olhos.

[Status]

[Força: 6]

[Vitalis: 7]

[Agilidade: 10]

[Destreza: 8]

[Inteligência: 5]

Pensativo eu analisei a aba de status antes de dar de cara com um último atributo.

[Aether: Impossível de ser usado.]

“Aether? Então isso da minha habilidade ser um Vitalis também se diferencia no menu.”, cocei meu queixo.

O lugar onde deveria ter a vitalidade também havia sido alterado, Vitalis. Encarando essas características incomuns dos meus status eu tentei martelar na minha mente se tinha escutado sobre isso antes.

— Sim. Incis tinha me dito sobre essa parada, acho que o Vitalis consome meu HP enquanto o Aether consome um tipo de mana, algo assim.

Enfim, eu podia finalmente equipar essa nova peça de armadura.

[Capa Noctia rasgada equipada!]

O tecido negro e desgastado tinha rasgos em suas pontas ao se materializar por cima dos meus ombros com falhas visuais e distorções para no fim cair perfeitamente por cima de mim.

[Você recebeu os devidos Buffs atrelados ao equipamento atual.]

[+10 de Agilidade]

[+5 de força]

[+10 de Vitalis]

Eu desejei muito por luz e um espelho pra poder ver como eu estava nesse momento, mas algo me dizia que a aparência estava legal.

Agilidade com certeza casaria bem com um estilo de combate usando uma adaga como eu estava fazendo, entretanto esses status extra realmente poderiam dar uma ajuda também.

Pra poder suportar a dor eu precisaria jogar o jogo da forma certa, não havia escolhas. Por algum motivo esse tal Ranking ainda era complicado pra mim, assim como a sensação de estar sendo usado por esse sistema esquisito.

“Não é como se eu estivesse em algum Mangá ou coisa assim, mas isso é conveniente e complicado demais ao mesmo tempo.”

— De qualquer modo, preciso acabar com isso logo. — Soltei um suspiro.

Essa provação certamente ainda iria ser longa e eu só esperava que os outros estivessem bem.

[Status]

[Força: 11]

[Vitalis: 17]

[Agilidade: 20]

[Destreza: 8]

[Inteligência: 5]

 


Nota do autor

Chegamos a marca dos primeiros 50 capítulos e a história ainda só está começando, agradeço aos leitores que chegaram aqui do fundo de meu coração. Estarei entrando em um leve hiato de 1 semana para reformular algumas ideias sobre o roteiro dos arcos futuros e dos capítulos próximos também, espero que entendam.



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