Alma Imaculada
Capítulo 49: A Força Do Fraco
[Jack Hartseer]
Com um rápido Flash de luz tudo ao meu redor se desfez em flocos reluzentes.
— M-Mas que merda?!
Antes que eu pudesse me mexer o local onde eu estava já não era mais o mesmo.
O ar ainda era denso porém não haviam paredes, o solo era húmido e parecia muito com terra, ao todo um local bem espaçoso.
“Aquela provação...”, meus pensamentos se chocaram. “Zakio deve ter ativado uma nova parte da provação se for julgar pelo que o sistema disse antes dessa loucura acontecer.”
Tentando não ser tomado pelo pânico eu viajei meus olhos pelo cenário atual, foi pior do que eu pudesse imaginar.
Eu não estava mais dentro da Dungeon, pelo jeito era um tipo de floresta com diversas cabanas ao meu redor. Soube bem o que eram tais cabanas uma vez que na sala anterior demos de cara com aquele acampamento.
— Goblins. — Meus punhos serraram em receio.
Um chão de barro escuro, um oxigênio de pesar nos pulmões e as copas das arvores balançando sob tudo como um cobertor negro.
Tive certeza de sentir uma arrepio sinistro subir pelas minhas costas.
Gyaaargh!
Um grunhido urrou entre as moitas, estava começando.
“Merda!”, me desesperei tentando achar de onde veio a voz fina e destorcida.
Passos! Passos! Passos!
Meus ouvidos captaram passadas bruscas, porém muito mais velozes do que qualquer coisa.
Nyooogh!
Minha respiração pesou, meu coração acelerou. Outro grunhido perturbou minha audição enquanto um farfalho se expandiu pelos arredores.
“Porra! É mais de um? São todos Goblins?”, perguntas e perguntas giravam em minha mente, o pânico foi inevitável.
Foi então que vultos negros pularam das arvores, finalmente revelando suas aparências. Goblins esverdeados azulados e vermelhos.
A ponta de uma pequena lâmina carmesim foi direto em meu peito.
Com um pulo de desespero para trás eu vi o vazio sendo perfurado antes que minhas costas e pescoço fossem bruscamente alvejadas por pequenos braços vermelhos.
— Ah! Sai de mim! — Retorci o meu corpo em desespero na medida que o Goblin envolveu firmemente os braços na minha garganta.
Vuuush!
Tarde demais, da esquerda outro ataque sorrateiro vinha. Eu vi duas pupilas exalando um vapor assassino pelo ar na medida que uma alabarda cortou a distância.
— Skill On! Manipu Laminae! — Gritei o comando para ativar meu Vitalis no que raios carmesins estouraram.
Minha habilidade fez seu trabalho abrindo uma distorção nebulosa para no fim lançar de dentro dela uma faca negra que colidiu contra a alabarda. Era uma cópia da Moon Blade.
Faíscas iluminaram os perímetro por poucos segundos.
“Eu vi! São 5 Goblins, um deles está com uma adaga vermelha e o outro tem uma capa negra em conjunto com aquela alabarda.”, juntei os fragmentos de foco que ainda me restavam.
Eu não queria morrer aqui, não desse jeito!
— Aaaaaah! — Soltei um rugido ao arrancar pra frente, meus pulmões estavam inchando.
Minha pernas doloridas se moveram como nunca quando joguei todo o peso do meu corpo contra a silhueta anã segurando uma alabarda.
Corta! Gyooohrgh!
O sangue espirrou e junto disso um grunhido de agonia ressoou.
Consegui me livrar daquele Goblin que me agarrou pelas costas ao me lançar contra a ponta da alabarda.
Os passos e farfalhos bramindo entre os troncos e folhas.
Antes que eu pudesse me levantar fui surpreendido.
Uma distorção arqueou em meio a escuridão.
— Argh! — Meu rosto foi arranhado por garras metálicas.
Cambaleei para trás e quase voltei ao chão novamente, mas...
— Skill On! Manipu Laminae!
Eu entoei minha habilidade novamente no que os raios escarlate de antes eclodiram ao meu redor.
Uma adaga parecida com a minha Moon Blade surgiu flutuando eu meu redor como uma hélice.
Corta! Corta!
Dois jatos de sangue espirraram pra cima quando duas cabeças com orelhas pontudas foram aos ares.
[Você eliminou 2 Aers Goblin!]
[Recebeu 55 Ranking Points!]
As telas flutuantes do S.I.S subiram aos meus olhos, porém eu sequer tinha tempo pra ler.
“Droga! Não me distraia agora!”, um grito de desespero queria sair de mim.
Mais passos engoliram os arredores. Meu coração acelerando o meu corpo suando e o sangue ardente escorrendo do arranhão sob meu nariz.
Os ventos crepitaram em minha direção.
— Direita! — Tentei puxar a lâmina da Moon Blade contra o som.
Eu errei.
Zuuush!
A manga da minha jaqueta vermelha sofreu um rasgo quando a mesma adaga carmesim de antes passou pela abertura que deixei ao errar o ataque.
A ponta afiada refletiu uma luz estranha que não vinha de lugar algum, ou pelo menos foi isso que pensei.
Eu vi o detentor de tal arma se aproximar de mim em meio ao ataque, o Goblin de pele azulada tinha olhos vermelhos que exalavam um brilho da mesma cor.
— Argh! — Empurrei meu corpo para a direita pouco antes da adaga acertar meu rosto.
Mesmo assim isso ainda abriu um corte em minha face, o canto esquerdo dos meus lábios ardeu quando a ponta da lâmina raspou nele.
[Sofreu um dano crítico!]
[Hp atual: 150/240]
Rápido demais, ferozes e argilosos demais!
Se mais Goblins viessem eu estaria acabado com certeza.
Perfurando o vazio entre as arvores o Goblin da alabarda gritou, em um piscar de olhos o maldito a jogou de sua mão.
Os ventos foram partidos pela alabarda que viajou pelo ar em minha direção como uma bala.
Ainda caído no chão eu torci meus joelhos tentando me erguer.
Minha mandíbula estremeceu com uma pancada pesada.
“Merda, as garras de metal de novo.”, sangue respingou dos meus lábios. Eu não tinha nem um segundo de paz?!
Uma dor estridente percorreu pelos ossos da minha mandíbula para no fim meu braço esquerdo ser parcialmente rasgado pela ponta de metal da alabarda que me atingiu.
— Aaaaanhgh! Porra! — Praguejei todos em meio a onda de dor sangrenta.
[Sofreu um dano crítico!]
[Hp atual: 90/240]
O corpo cansado, os ferimentos ardendo em uma dor compulsiva.
[Você está sob o Status negativo ‘Sangramento’.]
No fim eu continuava fraco como sempre, mesmo tendo esse sistema ao meu favor nada tinha realmente mudado. E então, eu pensei ter visto em meio aos troncos das arvores um espectro de olhos dourados.
A silhueta de olhos âmbar se destorcia em sombras consumindo qualquer esperança que eu pudesse ter de sobreviver, na verdade elas já tinham se esvaído.
— Você ainda é fraco demais... Jack. — Sussurrou a silhueta antes de eclodir em escuridão pelo meio da floresta.
“Abyssus?”, meus olhos se arregalaram, mas não havia tempo!
Meu coração a bater firme no que eu lancei a Moon Blade pra frente em um ímpeto assassino.
A lâmina negra da minha adaga atravessou o escuro em direção as garras metálicas que a segundos atrás me golpearam.
Corta! Splash!
O sangue fresco esguichou banhando meu rosto e cabelo.
“Sim, eu sou fraco em todos os sentidos possíveis, mas...”
[Você eliminou 1 Gran Goblin!]
[Recebeu 80 Ranking Points!]
Meus olhos foram banhados pela luz do painel diante de mim. — EU QUERO VIVER! — Exclamei um rugido de angústia que estremeceu minhas cordas vocais.
Mais lâminas, Goblins e golpes se lançaram sob mim. A morte era eminente.
— Skill On! Manipu Laminae!
“Uma ultima vez, eu só preciso dessa última vez!”, minha voz se fragmentava dentro de mim
Os mesmos raios vermelhos de antes se ascenderam ao meu redor, porém dessa vez alternando a coloração para obsidiana.
[As lâminas que entraram em contato com sua carne recentemente foram copiadas!]
Uma explosão de vapor purpuro se dissipou do meu corpo como um furacão e uma nova adaga flutuante foi conjurada, ela me envolveu girando juntamente com a cópia da Moon Blade.
Impacto! Katchink!
As duas adagas rodaram no ar retalhando os ataques.
O brilho das faíscas reluziu um após o outro, pareciam fogos de artifício. O tintalho estridente a rugir pela floresta.
— Agora.
Com essa abertura eu sem hesitar arranquei com todas as minha forças, as feridas espirrando sangue não eram nada se comparadas a minha morte.
Passos! Passos! Passos!
Meus sapatos batendo firmemente contra a grama húmida no que minhas pernas se dobravam repetidamente.
Minha visão estava ficando turva enquanto meus pulmões doíam a cada brusca respirada.
No fim eu ainda era fraco demais, assim como o meu Alter Ego disse no meio dessa batalha, não havia chances de conseguir sair dessa vivo, contudo mesmo assim eu tentei derrubar até o último que eu conseguia.
Eu odiava concordar com o que essa sombra maldita pensava, mas ao mesmo tempo sabia que era verdade.
— Mnhph! Merda. — Mordi o lábio em frustração.
Assim eu não parei de correr, em nenhum momento.