Alma Imaculada
Capítulo 52: Conflitos Divergentes
[Renard Shadoky]
O som das armaduras rígidas de metal correndo, as espadas tintalhando contra a ponta reluzente da minha lança.
Eu me esquivei da ponta de uma espada curvada e dando um passo pra trás desviei de uma alabarda pra no fim rebater uma flecha ao girar minha lança.
Não havia tempo nem mesmo pra respirar e a horda de cavaleiros sem face já começava a parecer um formigueiro.
Impacto! Ventania! Vuuush!
Eu perfurei um elmo quando lancei uma torrente de ataques perfurantes contra um punhado de cavaleiros sem rosto.
“Não acaba mais?”, rangi os dentes suando frio.
A sala do trono, pelo menos era assim que o sistema se referia a esse local onde fui teletransportado. A minha provação era... bem...
[Sacrilégio: Estágio 1]
[Derrote o comandante dos cavaleiros sem face ‘Rex Equitum’ de qualquer maneira.]
Derrotar o comandante, mas onde diabos estava ele?!
Já fazia mais ou menos 2 minutos que essas armaduras vazias avançavam em minha direção lançando ataques atrás de ataques e não vi comandante algum.
— Hmph! — Saltei girando minha lança como uma hélice.
Ainda no ar eu tive poucos segundos pra tentar visualizar o perímetro, porém a tal sala do trono se mostrou bem espaçosa ao todo.
De qualquer modo entender melhor o local onde eu estava lutando não era meu único objetivo.
— Skill On! — Concentrei minha energia Vitalis no cabo de minha lança. — Geminus Lance.
Minha voz ressoou entre os grandes pilares azulados do salão e um brilho esverdeado se concentrou nas minhas duas mãos que se reuniram lado a lado ao segurar firme a Noct Lance, a lança que esteve me auxiliando nessa situação até agora.
[Uma Skill foi usada!]
[Perdeu 100 de HP!]
Segundos antes das minhas botas tocarem o chão a Noct Lance se dividiu em duas partes moldando-se em espadas afiadas com um metal cor de esmeralda.
“Preciso de mais resistência se quiser sair daqui ainda inteiro.”, foi a conclusão final que tirei ao ativar minha habilidade e voltar ao combate.
Passos! Passos! Passos! Impacto! Ventania! Impacto!
Eu arranquei girando as espadas esverdeadas como duas adagas.
A destruição causada pelas lâminas partindo e amaçando cada uma das armaduras metálicas trazia a cacofonia ao extremo, tintalhares ensurdecedores preenchendo o ambiente.
Uma estocada, um simples corte em forma de ‘x’ seguido de um giro lançando um redemoinho de cortes avassaladores para todos os lados.
“Por que não estou ganhando Ranking Points? Não estão morrendo?”, a insegurança foi me dominando no que eu balançava meus braços jogando uma correnteza de cortes em todas as direções.
Os cavaleiros continuando a surgir sabe-se lá de onde e mesmo depois de aparentemente destruir mais de 30 de uma vez, nenhuma mensagem surgia nos painéis do S.I.S.
A respiração pesando, o corpo suando e os braços cansando.
— Desapareçam de uma vez! — Rugi pulando outra vez, pra no fim soltar as espadas preparando outra Skill.
Minhas ombreiras rangendo contra meus ombros no que levantei os braços concentrando a pressão vital das minhas veias na palma direita.
“Cadê você, comandante Rex Equitum?”, minhas pupilas prateadas reviraram cada canto da sala do trono.
Vuuush!
Enquanto isso uma luz esmeralda se formou sob minha mão direita que levantada, reunia toda a pressão vital que meu corpo mantinha em seu sangue.
— Skill On: Junctio.
Senti meus olhos arderem em fulgor quando todas as peças de armaduras destruídas no chão subiram reunindo-se sob a palma da minha mão. Junctio ou como costumo chamar, junção de matéria, digamos que é um segundo modo da minha Skill chamada Arma Link que funde armas.
Um vapor eclodiu juntamente de partículas cor de jade.
[Uma Skill foi usada!]
[Perdeu 500 de HP!]
No fim cada uma das peças de armadura se juntou, formando quatro peças de uma armadura cromática meio verde-camaleão, que por ventura giraram ao meu redor pra no fim acoplarem-se sob meu corpo.
Diferente do Arma Link que faz uma fusão entre qualquer arma que eu tenha tocado uma vez a cada 20 minutos, o Junctio pode manipular a matéria de qualquer equipamento e arma que eu tenha tocado ou feito algum tipo de dano, assim posso manipular o material e moldá-lo ao meu bel prazer gastando 500 pontos de vida.
Voltando para o solo novamente, toquei a sola de minhas botas no concreto rígido e só isso fez os cavaleiros que estavam prestes a me cobrir desmontarem por completo.
[Você recebeu Buff’s temporários atrelados ao equipamento atual.]
[+20 de agilidade]
[+8 de força]
“Essa armadura me deu mais agilidade do que qualquer coisa, não faz sentido.”
Minhas dúvidas logo foram respondidas pelo brilho crepitante que emergiu diante de mim, a janela flutuante de cor dourada abriu e iluminou meu rosto.
[Objetivo atualizado com sucesso!]
[O comandante dos cavaleiros sem face admira sua bravura ao derrotar diversos oponentes.]
[Ele ordena que um oponente a sua altura seja sua primeira provação do estágio 1.]
Franzi as sobrancelhas. — O que é isso, uma brincadeirinha de criança?
Foi quando os arredores se tornaram abruptamente quietos e frívolos. O que restou dos cavaleiros de aço desmontados no chão começou a dissolver em um vapor escuro.
Uma por uma, grandes chamas se ascenderam em cada uma das tochas que os pilares continham.
— Mas que porra é aquela?
Suor desceu pela minha testa enquanto meus olhos se arregalaram.
No fim do trajeto iluminado pelas tochas gigantes havia uma figura sentada sob o trono, ele não vestia armadura alguma, apenas um único elmo de metal negro que se parecia a cabeça de um dragão com olhos vazios, além disso suas vestes eram apenas uma longa capa escura que ocultava todo o seu corpo.
Um arrepio subindo pela minha espinha.
A coroa de chifres pontudos nos lados de seu elmo se inclinou levemente quando o mesmo cruzou as pernas e desceu sua face oculta em minha direção.
[Drako]
[Ranking: C]
[Raça: Desconhecida]
Eu já havia feito missões de reconhecimento em algumas Dungeons pra guilda, mas nunca havia visto nada como isso antes.
“Isso... não é uma Dungeon normal.”, engoli a saliva murmurando internamente.
Seja lá o que era esse “monstro”, eu senti uma pressão cair sob meu corpo, a intensão assassina que todo usuário de Vitalis emanava quando estava prestes a atacar um oponente.
Meus olhos podiam ver e meu corpo sentir.
Cada molécula ao redor dessa coisa se diluindo em um vapor de energia púrpura e se expandindo a cada segundo pelos arredores.
Com um nó na garganta eu me prontifiquei em postura defensiva ao conjurar minha lança de volta.
Um pé pra trás, outro na frente, braços erguidos e a ponta de minha lança para frente. O silêncio permaneceu enquanto nossos olhares se cruzavam, ambos imóveis.
A qualquer instante, qualquer momento... um ataque poderia cair sob mim ou eu poderia ataca-lo, iria depender de quem puxar seu gatilho primeiro.
Tentei regular minha respiração enquanto meu coração batia firme.
Tencionei meus músculos estreitando os olhos.
Nada, Drako continuou sentado me encarando em meio ao completo silêncio, esse maldito provavelmente sabia que eu estava tenso.
Vupt!
Ele sumiu do trono.
Empurrei minha lança para cima rasgando o vazio.
Em um piscar de olhos um vulto negro voou em minha direção com um soco certeiro. Faíscas eclodiram.
Uma luva rígida de metal escuro e espinhos que colidiu em cheio contra a ponta metálica da lança, meus braços vibraram com o impacto.
“É rápido!”, rangi os dentes.
Em uma fração de segundos fui almejado por um empurrão, o punho que deslizou sob a ponta da minha Noct Lance fazendo-me derrapar para trás quando vi os ventos afunilado ao redor de outro soco.
“Rápido demais!”, tentei jogar a Noct Lance para a direita.
No mesmo instante percebi o golpe do meu oponente mudando a trajetória ao deixar um rastro de sombras pelo ar, o soco curvando-se como um dragão pelo vazio.
Zuuush! Bam!
Minhas braçadeiras vibraram no que meus antebraços arderam com o impacto avassalador do golpe.
Meu corpo voou para trás, mas por um fio fui capaz de soltar a lança e bloquear com os dois braços.
Quase caindo ainda pude ver uma capa negra ondulando entre os pilares antes de agarrar o punho pesado que veio em direção ao meu rosto.
— Aqui não! — Serrei os dentes agarrando seu outro punho com a mão esquerda, prendendo nós dois em um combate de pura força física, era como lutar algum tipo de arte marcial baseada em resistência.
Cara a cara com meu inimigo eu apertei ainda mais firme as duas luvas de aço que ele carregava consigo, pude sentir alguns dos espinhos que se estendiam pra fora da luva raspando contra minhas palmas.
Meu coração acelerando, a respiração pesando.
Na face oculta pelo elmo de dragão só haviam dois pontos brancos, duas pequenas pupilas prateadas reluzindo um vapor assassino.
— Q-Quem é você afinal?
Ele não me respondeu, por outro lado empurrou ambos os punhos para trás bruscamente.
“Merda!”
Meu corpo inteiro foi puxado de uma só vez e lançado as alturas, assim me soltei dos punhos dele como reflexo, péssima escolha.
— Nhgh! Ugh!
Ainda no ar não tive tempo nem mesmo de tentar cair de costas já que fui acertado por um chute que se igualava a um meteoro direto em minha costela.
Senti a placa de metal esverdeada amaçar contra meus ossos que não se quebraram por um milagre antes do meu corpo colidir contra o chão rígido de concreto. A poeira levantou.
Minha visão embaçando pra no fim meu corpo apenas se erguer antes que outro ataque viesse.
Um chute passou pelo vazio no mesmo instante que me esquivei pra trás com um ágil pulo, eu estreitei meus olhos.
— Uma abertura! — Gritei em reflexo ao conjurar minha lança novamente e lançar uma estocada que perfurou em direção ao olho do inimigo.
Ele jogou sua mão direita na direção da lança no objetivo de agarrá-la, porém no mesmo instante ela sumiu como fumaça.
“Pensou que eu iria mesmo atacar de novo usando a lança? Imbecil! Eu posso conjura-la e manda-la embora a hora que eu quiser!”
Em um movimento rápido joguei meu braço esquerdo para trás e com todas as forças viajei meu punho contra a face de Drako.
Impacto! Ventania! Suuuuush!
Raios crepitantes de cor carmesim estalaram do meu golpe que acertou em cheio fazendo o cavaleiro de capa negra ser jogado levemente para trás com um impacto.
[Dano crítico!]
A pressão do ataque distorceu os arredores de tão poderoso.
Sem perder tempo algum chamei a Noct Lance novamente pra dar um golpe letal de uma vez nessa coisa.
Ou pelo menos era o que eu queria.
A capa negra balançou com um movimento suave e ao mesmo tempo veloz da esquiva que Drako fez ao balançar-se para o lado, como um verdadeiro mestre em artes marciais.
Um pulo giratório, o chute certeiro.
Vi a ponta da bota de aço dele traçar um rastro de distorção pelo ar antes de colidir contra o lado direito do meu trapézio e a ombreira da armadura.
[Sofreu um dano crítico!]
Um chute giratório perfeito que estremeceu meus ossos do ombro enquanto meu pescoço estalou com o impacto.
— AAAARGH! — Um grito de agonia fugindo da minha garganta juntamente do sangue fresco.
“Essa coisa... não pode ser de Ranking C, é rápido demais.”, ponderei em meio a dor.
Se não fosse por essa armadura que fiz com minha Skill Junction eu provavelmente seria rasgado pelo golpe e de quebra nem conseguiria bloquear alguns dos ataques.
[HP atual:1250/2800]
Só que esse nem era o maior dos problemas
[Os Buff’s atrelados aos equipamentos feitos com a Skill ‘Junction’ serão cancelados em 1 minuto.]
“Não pode ser.”, cerrei meus punhos em desespero.
— Então finalmente estamos cara a cara, é uma honra senhorita Lumakina. — O homem de terno com cabelos brancos se curvou levemente.
— O prazer é todo meu. — A mulher de cabelos negros e olhos carmesins sorriu maliciosamente. — Vocês realmente são detentores de uma hospitalidade calorosa se comparada as temperaturas que o povo daqui em Vesperia costuma suportar.
Dentro da sala no prédio do comitê administrativo de Vesperia um ar calmo e ao mesmo tempo denso permeava.
Os guarda-costas de Lumakina, a mulher que esteve contrabandeando armas em troca da aliança do seu país com Vesperia tinham olhos vazios e faces igualmente frívolas.
O homem de cabelos brancos e estatura esguia do outro lado da pequena mesa de mármore se sentou no sofá, ele gentilmente levou a mão ao bolso antes de sacar um maço de cigarros.
— Você fuma? — Ofereceu ele.
— Não, obrigado. — Lumakina sorriu passando a mão suavemente entre o seu cabelo curto. — Na verdade eu prefiro bebidas entende?
— Oh, sim, Haha.
Já eram mais de 5 da manhã e essas duas figuras de grande patamar social e democrático se encontravam dentro de uma sala falando sobre negócios? Não, era mais do que isso, muito mais.
Os olhos cor de sangue de Lumakina examinaram o homem lentamente.
A gravata desbotada e o bigode prateado como o cabelo, talvez teria uns 50 anos?
“No fim aqueles fodidos nem sequer estão realmente presente em pessoa, quem eles pensam que são pra mandar um representante de terceira?”, pensou ela mordendo o lábio levemente.
Storlix, um dos fiéis soldados de Lumakina estava presente logo ao lado do sofá com um grande rifle Vyer automático, sua pulsação ficou pesada enquanto o mesmo percebeu a inquietação de sua superior
— Algum problema, vossa alteza?
— Hm? Não, nenhum, de qualquer modo vamos aos negócios. — Respondeu ela cruzando as pernas com os lábios curvados em um sorriso.
A luz amarelada das lâmpadas banhava as ombreiras douradas e que Storlix e o outro guarda-costas vestia.
— Sim, como já foi dito nós temos todo o armamento que foi requisitado, a senhorita realmente fez bem em querer unificar forças com Vesperia. — O velhote de terno ascendeu um cigarro antes de continuar. — O preço é bem modesto, mas temos nossas medidas de segurança entende?
A mulher sentada no sofá do outro lado estreitou seus olhos.
— Entendo. — Ela sorriu de forma maligna ao perceber um Laser vermelho sob seu peito.
Storlix e o segundo soldado viajaram seus olhares rapidamente em direção a grande janela de vidro, logo atrás do homem de terno.
Estavam em um edifício alto e longe demais pra saber, mas de fato havia três Snipers, logo cada um deles estavam em miras diferentes.
Qualquer deslize e suas vidas teriam um ponto final por uma bala ultra sônica que com certeza iria perfurar qualquer parte de seus corpos.
— Vossa majestade, pretende continuar com isso? — Storlix tomou a frente sem dar um passo, suas luvas de couro pretas segurando o fuzil firmemente.
Lumakina levantou as mãos pra cima como um gesto de redenção, sua face era fria com um sorriso estranho.
— Não se mecham, sou eu que cuido dos negócios aqui. — Respondeu ela com um tom sério e um olhar penetrante para o homem de terno.
A fumaça cinzenta do cigarro do negociante relaxado no sofá subia levemente, ele cruzou as pernas recostando-se de modo desleixado.
— Ótimo, senhorita Lumakina, eu sou Hyvad da V.y.d.r.a, — ele sacou um distintivo do bolso de seu terno. — e a partir de agora você e seus lacaios estão sob minha custódia.