Tsunagari Brasileira

Autor(a): Lich


Volume 2

Capítulo 9: Verdades

BOKUTSUNAGAR

Verdades

O garoto, sem reagir muito ao chamado da mãe, caminha na direção dela sentindo os raios do sol ficarem mais presentes no topo de sua cabeça.

— Você acabou dormindo depois de se divertir bastante, não é meu filho?

O garoto sorri ao ver o pai, acelera os passos e o agarra pela cintura.

— Me diverti sim! Consegui provar para o Rem que sou melhor que ele no pega-pega. — O pequeno Akihiro olha diretamente para o irmão mais novo, claramente provocador.

— Não é justo! Você é mais velho, claro que vai ganhar de mim!

— Sem brigas, vocês dois. Vocês foram muito bem como pegador e corredor. — Rem abre um grande sorriso.

— Obrigado, mãe! Dei o meu máximo.

Com a família reunida, voltam para casa. As longas escadarias são mais fáceis na descida; o caminho até as partes movimentadas, de carro, fica menor por ser fim de tarde — um dia perfeito em família, como se nada pudesse estragar aquele momento. Chegando em casa, os garotos se vestem com roupas coloridas, mais adequadas à idade.

— Akihiro! Quer jogar videogame? Podemos jogar um jogo de luta.

— Claro, por que não?

Os irmãos ficam na frente da TV se divertindo, enquanto os pais organizam o quarto em silêncio… até que a mãe resolve falar.

— Sabe, Makito, ando com a cabeça cheia estes últimos dias. — O homem se vira para a esposa.

— Aconteceu alguma coisa? Quer conversar, querida?

— É aquele mesmo pensamento de sempre…

— Sobre o nosso casamento? — Ele pergunta, e ela acena.

— Eu fico me perguntando se sou uma boa mãe para as crianças. Não quero te dar trabalho, sabe?

— Akidori… — ele diz o nome, aproxima-se e a abraça. Ela deixa as lágrimas rolarem.

— Por que você tem que ser assim? Eu nunca fui uma boa esposa pra você! E você ainda fica do meu lado de todas as formas!

— Isso é ruim? Eu te amo. Você é tudo pra mim e fico com você pelas crianças também.

— Não… isso não é justo!

Ela o empurra, cruza os braços e se afasta como numa defesa.

— Eu… eu quero terminar.

A face de Makito muda: trágica, como se o mundo desabasse.

— Não brinca com isso, Akidori. Você sabe o quão sensível eu sou.

— Não estou brincando. Você devia procurar alguém que preste para a sua vida, não uma mulher como eu.

Ele suspira, impaciente com a repetição dos argumentos.

— Você fala isso desde os primeiros anos de namoro. Culpa seus traumas e a baixa autoestima. Isso é ridículo, Akidori — você já é adulta, tem dois filhos, e ainda age como adolescente!

— Está me chamando de imatura? Acha que eu sou uma adolescente?

— Suas atitudes são assim desde que completamos três anos de namoro. Claro que acho!

A raiva ferve nela. Ela se vira e sai do quarto.

— Querida? Ei, Akidori, volta aqui… — Makito chama, tenta segurar, mas ela reage rápido, dá um tapa no pulso dele e grita no corredor:

— Não encosta um dedo em mim!

O grito interrompe a diversão dos meninos; eles param, atentos.

— Para com isso, Akidori. Pensa nas crianças!

— Eu fiquei nesse relacionamento por causa das crianças, mas não quero mais.

Ela desce as escadas e sai pela porta da frente. Os meninos olham para a porta fechada, sentindo um peso no peito. Rem e Akihiro veem Makito descendo, segurando o choro.

— Pai… você está bem? — pergunta Akihiro, olhos fixos no homem.

— Sim, estou bem.

Makito suspira, lembrando das escolhas que o trouxeram até ali. Ele sobe as escadas; o último som que as crianças escutam é a batida forte da porta.

— Acha que devemos conversar com ele, Rem?

— Não.

Akihiro dirige o olhar ao irmão mais novo.

— Está brincando? Você não ouviu a conversa?

— Ouvi, mas acredito na nossa mãe.

— O que quer dizer com acreditar na nossa mãe?

— Ela já me contou coisas. Viu nosso pai traindo com várias mulheres.

— Você acha que é verdade?

— Acredito que sim.

Pensando naquela possibilidade, Akihiro decide agir. Desce do sofá e sobe as escadas. Para em frente ao quarto dos pais e bate na porta.

— Pode entrar, Akihiro.

Ele entra e encontra o pai sentado na cama, pensativo.

— Como soube que era eu?

— Sua mãe e seu irmão não costumam bater antes de entrar. Você é o único que faz isso.

O garoto sorri e senta ao lado do pai.

— Por que minha mãe sempre discute com você, pai?

— Eu penso em muita coisa. Mas ela terminou comigo.

— Vocês sempre foram assim?

— Nem sempre. Sinceramente, não me importo mais tanto. Nem eu sou santo.

— O que quer dizer?

— Já traí, já fiz de tudo pra me sentir bem — pensa em si mesmo. — Talvez seja um péssimo pai, talvez um péssimo marido, mas tento ser o melhor.

Akihiro o interrompe:

— Claro que não! Você é um bom pai e marido!

Makito sorri surpreso, ri de forma estranhamente alegre.

— Você pegou a aparência da sua mãe e a personalidade do pai.

— Acho que pareço com minha mãe?

— Claro: rosto, cabelo, o formato. O Rem puxou a aparência do lado da mãe… e a personalidade é dela.

Makito suspira, cansado, e não consegue mais segurar a máscara.

— Akihiro, promete uma coisa?

— Que promessa?

Makito põe a mão no ombro do filho, olhar perfurante.

— Quero que você foque em si mesmo. Quero que seja forte e supere as dores da vida.

O garoto sente o peso das palavras; os olhos amarelados brilham ao ouvir o pai.

— Eu prometo.

O pai sorri, orgulhoso, e tira do pescoço um colar — corrente de ouro com pingente de coração — colocando-o no filho.

— Enquanto usar esse colar, nossa promessa se mantém. Se quiser quebrar, pare de usá-lo.

— Nunca vou quebrar a promessa! — ele responde, e o pai dá um leve tapa no ombro.

— Volta a jogar com o seu irmão. Eu vou tentar esfriar a cabeça.

Akihiro acena e sai do quarto mais leve. Enquanto isso, a mãe caminha pelas ruas num domingo. Passos leves, sem chamar atenção, até chegar a uma casa grande cujo letreiro anuncia o morador: Residência dos Masuya. Ela toca a campainha; um homem alto, cabelo castanho e corpo forte atende com um copo na mão. Ao fundo, amigas já um pouco embriagadas se divertem.

— Akidori Nishida! Que bom que veio, pensei que não viria.

— Tomei a decisão de acabar o relacionamento. Talvez fique a noite aqui. — Ela responde, firme. O homem sorri, mas o brilho no olhar se torna aproveitador.

— Que bom! Entre e relaxe.

Ele tenta puxá-la pela mão; ela segura o pulso.

— Não quero engravidar de você ou de qualquer homem tarado desta festa.

— Relaxa, compramos preservativos.

Ela respira fundo antes de entrar.

— Faça-me esquecer do meu ex-marido, dos meus filhos e dos meus erros.

— Claro, querida.

Ele a segura pela cintura e a puxa pra dentro, fecha a porta. Todos aplaudem. Ela sente o mundo girar: mãos grossas a tocam; homens se aproximam com olhares predatórios; ela é empurrada contra o sofá, sente que está lidando com um pesadelo real.

— Hoje você vai esquecer todos os problemas.

Ela vê amigas sendo tratadas como animais. Em pânico, acena como se aceitasse.

Horas passam como uma eternidade. Quando a festa termina, Akidori sai com marcas pelo corpo e roupas bagunçadas. Caminha pela rua escura, cabeça turva. Ao chegar em casa, ouve o chuveiro — Makito está lá. Ela pega uma faca afiada, esconde debaixo do colchão e senta-se na cama, exausta e à beira do desespero.

— Akidori? — Makito entra, a vê pensativa.

— Eu não aguento mais. Não aguento mais essa vida.

Akihiro, lembrando do maior trauma, começa a contar, como se aliviar no peso da memória.

— Depois da morte do pai, comecei a desconfiar da mãe. Não tínhamos a melhor relação, mas quando eu fiz quinze anos, ela saiu, deixou eu e o Rem sozinhos. Acho que ela queria desaparecer um pouco, para depois voltar com a herança do meu pai e ir embora.

Ele observa Morgan, que sente o peso e fica abalada.

— O que foi, Morgan? Está tudo bem?

— Eu me coloquei no seu lugar. Sinto muito por tudo que aconteceu com você.

— Relaxa, já estou melhor.

Ele sorri e vira-se para ela.

— E você, Morgan? Qual é a sua origem?

— Nada de tão interessante.

— Sério? Deve ter algo interessante pra me contar.

Ela cora, envergonhada.

— Não… não. Não tenho nada de interessante.

— Ao menos diga como foi mais ou menos.

Ela suspira, olha os joelhos:

— Cresci entre vampiros escondidos do sol e das pessoas. Tive poucos amigos, não lembro muito da família. Minha infância foi simples.

Ele a olha atento; ela se afasta, incomodada.

— Para de me olhar assim! Já disse tudo!

— Só isso? Mesmo?

— Sim… — ela abaixa o rosto. — Não lembro quase nada, por isso foi desinteressante.

Silêncio breve, eles olham o telhado do templo sagrado.

— Morgan, posso te perguntar uma coisa?

— Claro. — Ela vira o rosto para manter contato com ele.

— Quantos anos você tem?

Ela fica envergonhada.

— Por que quer saber? Não tenho uma idade interessante.

— Como assim idade interessante?

Ela cora de novo.

— Não tenho três mil anos, tá?

— Então? Quantos?

— Setenta e um.

— Ah. É uma idade.

— É tão sem graça! Seria impressionante ter quatro mil anos!

Ele ri e a envolve em abraço.

— Relaxa, não precisa se preocupar. Ainda é uma idade interessante.

— Você acha?

— Claro — ele sorri e dá um selinho.

— Obrigada, Akihiro.

— De nada.

Conversam sobre outras coisas. O dia escurece, o ar fica frio.

— Quer ir pra casa? Está ficando tarde.

— Talvez seja bom, já estou com fome.

Descem e caminham de volta. O sol está fraco; ela segura a mão dele — um momento perfeito.

— Akihiro, posso te pedir uma coisa?

— Claro.

— Promete que nunca mais matará vampiros?

Ele surpreende-se.

— Por que esse pedido?

— Porque, mesmo tendo te feito mal, eles têm sentimentos, dor. São do meu tipo.

— Eu não sei… Ainda quero sentir o gosto de alguns na minha mão.

— Akihiro…

Ela para e o encara.

— Sei o que você sente, mas por favor… entenda que eles vivem como humanos. Não quero vê-los mortos pela mão do meu namorado.

Ele desvia o olhar, fita os pés.

— Akihiro… — ela segura o rosto dele. — Por favor, por mim.

Ele suspira, sentindo o peso da decisão em seu peito 

— Eu prometo.

Ela sorri fraco e o beija, agradecida.

— Obrigada.

Ele sorri. Seguem caminhando para casa. A promessa pesa na mente de Akihiro — uma farpa que não some.

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