Tsunagari Brasileira

Autor(a): Lich


Volume 1

Capítulo 8: Como Akihiro

HIKIKOTSUNAGARI

Como Akihiro

A expressão neutra de Misaki se transforma em pura surpresa. Ela não consegue acreditar no que está vendo.

— Akihiro?... — Sua voz vacila.

— Estamos sem tempo, Misaki! — Morgan a interrompe, atropelando a garota em seus passos apressados enquanto tenta localizar um quarto.

— Deixa ele no meu quarto! Segundo andar, segunda porta!

A vampira segue para o quarto e deposita Akihiro sobre a cama com cuidado. Misaki chega logo atrás, segurando alguns curativos, mas suas mãos tremem tanto que mal consegue segurá-los corretamente. Morgan percebe a hesitação e, sem perder tempo, rasga a camisa do garoto  para tratar seus ferimentos.

— Akihiro, Akihiro! Olha para mim... por favor. — Morgan segura o rosto do ex-namorado, obrigando-o a encará-la. — Vai ficar tudo bem, ok?

— Ei... vampira, por que não chamamos um hospital?

— Primeiro, meu nome é Morgan. E segundo, não podemos. Se descobrirem que o Nishida é meio-vampiro, quem vai acabar morto é ele.

— Nem a polícia?

— Óbvio que não, sua... — A vampira é interrompida pelo toque do telefone de Akihiro. Ao ver o visor, reconhece o nome do irmão dele.

Ela atende sem hesitação.

— Akihiro, seu idiota, não me diga que vai passar outra noite na casa dessa sua amiga...

— Oi, Rem, aqui é a Morgan. O Nishida e eu vamos passar a noite fora. Cuida da casa, é só por hoje, ok? — Ela desliga antes que ele possa responder.

Morgan se ajoelha ao lado da cama e começa a arranhar o próprio braço até que o sangue escorra.

— O que você está fazendo?

— Cala a boca. Eu vou tentar salvá-lo.

A vampira deixa seu sangue pingar sobre os ferimentos dele, esperando uma reação. Mas nada acontece. Seu rosto se desfigura em desespero.

— Não... não, não! Kimiko, por que meu sangue não está curando ele?!

— Morgan, por favor... me escuta! Vamos levá-lo para um hospital!

A vampira grita de frustração e arranha a cabeceira da cama, sua ansiedade se transformando em fúria. Num ímpeto, ela avança sobre Misaki, que se joga no chão a tempo de evitar o ataque.

— O que você está fazendo?! Para com isso!

— Cala a boca! Você é só mais uma que atrapalha os meus planos!

Morgan salta sobre a garota, mas a garota reage rápido, segurando suas mãos. A vampira exibe as unhas afiadas, forçando-se contra a resistência frágil de Misaki. Sentindo que está perdendo força, a garota solta uma das mãos e se esquiva no último instante. Morgan atinge o chão com força, suas unhas cravadas no piso.

— Sua desgraçada! Você tem sorte que eu estou enfraquecida por causa do Akihiro!

Ignorando as palavras de Morgan, ela se levanta e empurra seu guarda-roupa contra a vampira.

— Ei... Para com isso, você não vai me esmagar, vai? — Ela ri nervosamente.

Misaki não responde. Continua empurrando.

— Para com isso!

Ela se debate no chão tentando tirar sua mão presa. No instante em que consegue se soltar, sua visão é subitamente preenchida pelo móvel caindo sobre ela. Nenhuma palavra escapa de seus lábios quando é esmagada.

— Me desculpa... — Ela cai de joelhos, lágrimas escorrendo pelo rosto.

Sua mente entra em colapso.

— O que o Akihiro faria? O que o Akihiro faria? O que o Akihiro faria?! — Ela aperta a cabeça com força, sentindo a pressão esmagadora do desespero. Uma ânsia súbita a toma, e ela vomita no chão.

— Me desculpa, Akihiro... me desculpa, Morgan... me desculpa, mãe... Eu sou uma inútil! — sua voz é engolida pelo pranto.

Mas então, um nome vem à sua mente. Uma última esperança.

— Kimiko! Por favor, me ajuda! Eu sei que não te conheço como o Akihiro, mas por favor, me ajuda!

O silêncio engole o quarto.

A porta range ao se abrir.

— Seu pedido foi atendido. — Um sorriso surge nos lábios de Kimiko.

Misaki hesita, mas então estende o pescoço.

— Morde. Eu sei que você vai pedir. Você pediu da última vez com o Akihiro.

Kimiko balança a cabeça.

— Não precisa. Quero que você ajude o Nishida porque ele é meu subordinado.

— Você pode curá-lo?

— Não. A maldição de Ebisu não pode ser curada com sangue ou medicina. Só um ritual pode salvá-lo.

O coração de Misaki aperta. Mas ela não hesita.

— Que ritual?

Ela sorri e pressiona um dedo contra a testa de Misaki. Antes que possa reagir, a consciência da garota se apaga.

Ela desperta em um cemitério. Kimiko está diante de um túmulo aberto, segurando uma pá.

— O que você está fazendo? — Misaki se levanta, limpando a poeira das roupas.

— Preparando o ritual.

Misaki se aproxima e vê o caixão dentro da cova. Preto, com detalhes em prata. Um nome familiar gravado na tampa.

— Ebisu?...

— Sim. O caixão onde ela deveria estar há séculos. — Kimiko abre a tampa, revelando um interior forrado de rosas vivas.

A garota se surpreende com o que está dentro do caixão, não passava de rosas vivas e vermelhas. Mas o clima pesado a faz sentir uma forte ânsia.

— Se sente bem para o ritual?

— S-Sim... — responde, engolindo seco.

— Você promete que, independentemente de tudo, vai ajudar o Nishida?

— Eu... Eu prometo.

Mãos espectrais emergem do caixão e agarram seus braços e pernas. A pele é gélida, mas o toque é surpreendentemente leve. Elas a puxam para dentro.

— Fique calma, faz parte do plano.

Misaki assente e permite que as mãos a envolvam, a puxando para se afundar nas rosas perdendo a consciência novamente.

Ela acorda em uma praia escura, águas rasas lambendo seus pés. O céu está coberto por nuvens densas.

— Onde estou?

— Em sua mente. — Kimiko aparece ao seu lado. — Agora, Misaki Takahashi, uma pergunta...

A garota a encara.

— Você sente algo a mais pelo Akihiro?

— Bem... — Misaki olha para baixo, sentindo um forte arrepio percorrer seu corpo.

— Sim, eu sinto.

Kimiko sorri, mas Misaki continua.

— Depois que meu pai saiu de casa, meus problemas só pioraram. Sempre vi coisas estranhas... essas mãos sempre me tocavam antes mesmo de meu pai partir. Eu enxergava vultos, e escutava a voz dele em meus sonhos. Isso se repetiu

até eu conhecer Akihiro. Ele... Ele me ajudou apenas com a presença dele. Senti uma conexão com sua simpatia, por isso nem me importei quando ele disse que era um vampiro. Eu só queria que minhas desgraças acabassem.

Ela abre um pequeno sorriso antes de continuar.

— Depois de uma vida inteira de sofrimento, sendo abusada pela minha mãe, finalmente encontrei alguém que me entendia. Foi essa sensação que tive ao conhecer Akihiro. Ao longo dos dias, notei que éramos muito parecidos e... acabei me apaixonando por ele.

— Isso é tão fofo da sua parte. Mas você sabe quem seu pai era? Um vampiro.

— Vampiro?

— Sim, e não um qualquer. Ele era Shuten Doji, um vampiro lendário da antiguidade. Os moradores o viam como um demônio... na verdade, vampiros são frequentemente confundidos com demônios.

Kimiko se aproxima de Misaki, com um sorriso enigmático.

— Seu pai usou uma de suas habilidades especiais para assumir a aparência de um homem belo e, assim, amaldiçoar sua família, alimentando-se dessa maldição para se fortalecer.

— Por que ele fez isso?

— Vampiros não precisam de um motivo para fazer o mal aos humanos. Eles simplesmente querem. Assim como muitos humanos fazem o mal sem razão, certo? Humanos mataram milhares de vampiros que não representavam ameaça alguma, quase levando minha raça à extinção. Já imaginou se fosse o contrário?

— Você... tem razão... Mas isso não importa agora. Eu quero salvar o Akihiro.

— Querendo ou não, isso faz parte do problema.

Das águas rasas, uma mão surge, se erguendo lentamente. O que emerge é a própria irmã de Misaki — mas uma versão muito mais velha do que a última vez em que a viu. Seu rosto não exibe expressão alguma, seus olhos são completamente negros.

— Riko?...

— Quando seu pai saiu de casa, ele usava você como alvo da maldição, sempre, por isso as mãos e vozes. Já sua irmã se tornou o receptáculo da maldição dele, possivelmente porque ele foi consumido por ela e morreu.

— O que... eu devo fazer, então?

— Simples: mate sua irmã. Assim, Akihiro será curado, e ela finalmente poderá descansar.

— Você está brincando, não é?

— Se estivesse, não teria lhe contado tudo isso. E acho melhor você agir rápido.

Ela se vira para sua irmã, mas não tem tempo de reagir. Riko avança, rápida demais para que Misaki possa prever seu movimento. Ela a empurra para dentro da água, segurando um de seus pulsos com força e usando a outra mão para afogá-la.

Em desespero, Misaki finca os pés na barriga da irmã e a empurra para trás, conseguindo se levantar. Sua irmã faz o mesmo. As duas correm uma contra a outra e

iniciam um combate feroz. Misaki ergue o antebraço para se proteger e empurra a irmã para trás com a mão livre.

— Riko, por favor, eu sei que você se lembra! — Sua voz é trêmula.

Riko reage rapidamente, agarrando seus pulsos.

— Maninha, por favor, eu sei que você ainda está aí dentro. Eu não quero te machucar...

Antes que possa dizer mais, Riko lhe acerta uma joelhada na barriga e um soco no rosto. Misaki cambaleia, passando a mão na bochecha já quente. Agora mais alerta, desvia de um novo golpe e contra-ataca com um soco na face da irmã. Sem hesitar, desfere um tapa seguido de um arranhão no rosto dela.

Nenhuma das duas diz uma palavra. Apenas os sons dos golpes, os gritos e os gemidos de dor ecoam no ar. Misaki está exausta. Riko aproveita e a derruba facilmente, afundando-a no mar em uma nova tentativa de afogá-la. Mas Misaki reage: morde o antebraço da irmã e a empurra para trás, fazendo-a cair na água.

Sem perder tempo, sobe em cima de Riko e aperta seu pescoço debaixo d’água.

— Misaki... Por que você está fazendo isso comigo?...

A garota vê apenas um borrão de sua irmã, mas consegue enxergar seu medo e desespero. No entanto, não hesita. Aperta até Riko parar de se debater. Até ela finalmente morrer.

— Meus parabéns, você conseguiu.

Ela não responde. Apenas desaba em lágrimas, chorando de maneira crua e intensa.

No mundo real, no quarto de Misaki, Nishida desperta em puro desespero. Ele leva a mão ao estômago... não sente mais a perfuração. Seu ferimento desapareceu.

— Eu... estou curado?

Ele olha ao redor. A única coisa que nota é o guarda-roupa caído e Kimiko sentada sobre ele, pernas cruzadas e um sorriso simpático no rosto.

— Boa noite, Akihiro. Teve bons sonhos?

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