Tsunagari Brasileira

Autor(a): Lich


Volume 1

Capítulo 9: O mais puro e lindo ódio

HIKIKOTSUNAGARI

O mais puro e lindo ódio

Akihiro encara Kimiko fixamente, tentando processar toda a situação e lembrar como chegou ali.

— Eu estou no quarto da Misaki... Onde está ela? A Morgan estava com ela também.

— Bom, a Morgan...

Antes que pudesse terminar a frase, Kimiko sente o guarda-roupa tremer sob seu peso. Ela se levanta, permitindo que Morgan, com suas últimas forças, erguesse o móvel com pura força bruta e saísse debaixo dele.

— Aquela garota irritante e irrelevante... Quem ela pensa que é?!

Sua expressão de raiva se dissolve ao ver o garoto com suas feridas curadas. Sem conter as lágrimas, ela corre para abraçá-lo.

— Nishida! Nishida! Você está bem! Eu sabia... Eu sabia que o meu sangue iria te curar!

— Na verdade, não. Quem salvou Akihiro foi a Misaki. Ela realizou o ritual, entregando-se para seus próprios traumas.

Morgan e Akihiro viram-se para ela, atônitos.

O garoto se levanta de supetão, segurando Kimiko pelo braço.

— Onde está a Misaki? Se você a fez virar sua subordinada, eu vou te...

Correntes emergem do piso, atravessando as pernas de Akihiro e forçando-o a se curvar diante dela. Ele grita de dor ao sentir o metal cortando sua pele. Seu rosto se ergue, desafiador.

— Já disse para não vir para cima de mim como se tivesse algum direito. Eu não fiz nada com ela, apenas expliquei que a única forma de livrar você da maldição era através desse ritual, e ela decidiu seguir adiante.

Morgan se mantém inerte, preferindo não provocar Kimiko.

— Ela saiu do túmulo?

Kimiko suspira, cruzando os braços.

— Não. Ela foi forte o suficiente para matar o que restava da irmã, mas não tem forças para sair do túmulo por conta própria. Se continuar assim, vai se afundar... e morrer.

O rosto de Akihiro se contorce em pura frustração. Movido pela raiva e determinação, ele quebra as correntes e dispara para fora do quarto, sua velocidade ultrapassando o som. Ele segue o cheiro da amiga até um cemitério. Seus pés descalços deixam marcas de sangue pelo asfalto.

— Misaki! Onde você está?!

Ele chega ao túmulo de Ebisu, onde rosas se movem ao sabor do vento. O cheiro de Misaki é forte ali. Sem hesitar, ele mergulha no caixão — mas antes que possa atravessar, correntes douradas emergem das flores, prendendo seus braços e pernas.

— O quê?! Que merda é essa?!

Ele se debate, mas as correntes apertam ainda mais, puxando-o para dentro. Sua consciência se vai.

Quando desperta, está amarrado a uma cadeira em meio a um campo de cravos amarelos. Kimiko o observa, séria.

— Kimiko? Onde estou? Onde está a Misaki?!

— Você está no seu subconsciente. A garota está no fundo do caixão.

— Então me tire daqui! Eu preciso salvá-la!

— Não tão rápido. Você já está participando do ritual.

— Você só pode estar brincando!

— Se estivesse, não estaríamos aqui.

Ele suspira, derrotado.

— O que eu devo fazer?

A vampira se aproxima.

— Primeiro, Akihiro... Você sente algo pela Misaki?

Ele desvia o olhar.

— Não... porque eu...

Uma faca surge nas mãos dela e se crava em seu ombro. Ele grita.

— Não minta para mim. A cada mentira, você levará uma facada.

— Eu não estou mentindo!

Outra faca se crava em seu estômago.

— Diga logo: por que bloqueia seus sentimentos?

Ele respira fundo.

— Eu... estou apaixonado pela Misaki. Sempre tentei negar. No início, confesso que me aproveitei dela.

Kimiko ergue a sobrancelha.

— Se aproveitou?

— Sim. Eu sou um vazio. Usei a situação dela e da Hana para sentir que tinha um propósito.

— Você ficou assim depois da morte do seu pai, certo?

— Sim... Ele era minha inspiração, alguém que eu admirava, alguém em quem eu queria me tornar quando crescesse. Mas... tudo isso acabou quando vi minha mãe matando ele.

Kimiko permaneceu em silêncio. Dentro da mente de Akihiro, o peso da lembrança o fazia estremecer.

— Eu queria... que ele estivesse vivo por mim!

— Mesmo se isso pudesse causar a morte da sua mãe?

— Mesmo assim!

— Mesmo se você tivesse criado uma dependência por ele?

— Mesmo assim!

— Mesmo se ele se tornasse abusivo com você conforme você crescesse?

— Mesmo assim!

— Mesmo se você deixasse de ser você para se tornar uma cópia dele?

— Mesmo assim!

Kimiko riu diante da raiva do garoto. Ela estalou os dedos e, entre as flores, seu pai surgiu. Seu olhar era neutro, sem emoção alguma. As correntes que o prendiam se arrebentaram.

— Pai?...

Ele se levantou e se aproximou do filho, estendendo um braço, mas foi surpreendido por um soco em cheio no rosto. O impacto fez Akihiro se afastar, levando a mão ao nariz, sentindo o sangue escorrer e pingar sobre as flores.

— Para sair desse estado mental, você precisa matá-lo — declarou Kimiko.

— O quê? Mas... por quê? Ele é meu pai!

— É o justo. Superando seus traumas, você poderá sair daqui... e salvar Misaki.

— Não, eu não posso! Eu jamais mataria meu pai!

O homem avançou contra Akihiro e o atingiu com uma sequência de socos e chutes no estômago e no rosto.

— Que decepção... Nem ao menos tenta revidar?

Kimiko soltou uma gargalhada carregada de desprezo enquanto assistia seu subordinado apanhar.

— Lembre-se de uma coisa, Nishida: se você simplesmente deixar seu pai vencer, Takahashi nunca sairá do caixão. Você perderá o único propósito e amor que tem... e será por sua culpa.

Akihiro continuou suportando os golpes, enquanto Kimiko perdia a paciência. Com um gesto rápido, ela conjurou uma faca e a lançou na perna do pai do garoto. Ele se ajoelhou com a dor, mas seu rosto permaneceu inexpressivo.

— Akihiro, se você veio até aqui apenas para apanhar, era melhor nem ter dito que queria ajudá-la. Se continuar assim, vai se afundar no caixão e ficará preso para sempre. Pode até morrer... e eu não quero perder meu único subordinado.

— O que você quer dizer?

— Que se não fizer por você, faça por Misaki. Ou por mim. Ou será que você só pensa em si mesmo?

Ele não respondeu, apenas observou as flores manchadas de sangue secando lentamente.

— Você vai mesmo deixá-la presa aqui para sempre?

O garoto suspirou. Foi então que notou o soco rápido de seu pai vindo em sua direção. Ele desviou no último instante e revidou com um golpe poderoso no rosto dele. Sem hesitar, começou a desferir uma sequência de socos, cada um mais forte que o outro.

— Você morreu! Eu... eu não vou permitir que quem eu amo sofra nas suas mãos!

Seu rosto se contorcia em fúria e desespero. Enquanto golpeava o pai, lágrimas se misturavam ao sangue que escorria de seus punhos.

— Isso é lindo... Seu ódio, Akihiro — murmurou Kimiko, encantada.

O som dos socos e os gemidos de dor dos dois preenchiam o ambiente. O último golpe fez o pai de Akihiro cair sobre as flores. No entanto, em um movimento rápido, ele agarrou o cordão do filho, tentando arrancá-lo. Mesmo com o rosto inchado, roxo e coberto de sangue, ele sorriu.

— Por quê?... Por que está rindo? — diz o garoto ofegante.

— Estou orgulhoso de você, meu filho... Acha que eu apanhei calado apenas para parecer o mais artificial possível?

O colar se arrebentou, revelando um pingente. Dentro dele, duas fotos dos filhos.

— Salve a garota, meu filho...

As palavras ficaram presas na garganta de Akihiro. O sangue derramado sobre as flores fez com que elas começassem a queimar como um isqueiro aceso. Sua mente se iluminou... e ele despertou.

Ele se viu dentro de um mar de rosas. As correntes douradas se desmanchavam. Mas, à sua frente, Misaki afundava lentamente, puxada por mãos espectrais.

Sem hesitar, ele mergulhou entre os espinhos e pétalas, nadando até ela. Quando a alcançou, agarrou as mãos espectrais e as torceu, afastando-as. Em seguida, envolveu Misaki em seus braços e nadou de volta à superfície do caixão.

Assim que emergiu, a deitou no chão e a segurou nos braços.

— Misaki?

Nenhuma resposta.

— Misaki, por favor, acorde!

Ele a abraçou, incapaz de conter as lágrimas que caíam sobre o rosto dela. Seu abraço era quente, apertado e delicado.

— Eu te amo... Eu te amo tanto... Me desculpe por nunca ter dito isso antes. Por favor, acorde...

Os minutos de desespero pareciam séculos, e então ele sentiu um leve movimento. Ela se mexeu, abrindo os olhos lentamente como se despertasse de um sono profundo.

— Você me ama... como eu amo você?

— Misaki?!

Ele se afastou um pouco, segurando seu rosto e olhando diretamente em seus olhos.

— Sim, eu amo! Eu amo muito!

Ela sorriu e rodeou os braços ao redor do pescoço dele, aproximando-se. Seus rostos se tocaram suavemente antes que seus lábios se unissem em um beijo. Ele segurava seu rosto com ternura, enquanto ela se aconchegava em seus braços.

— Eu te amo, Akihiro... — sussurrou ela, entre o beijo.

— Eu também te amo, Misaki.

O momento foi interrompido pelo som de passos. Kimiko se aproximou, abrindo um pequeno sorriso.

— Que cena fofa... Pelo visto, vocês conseguiram sair do caixão.

Os dois se afastaram, levantando-se e sacudindo a poeira das roupas.

— Nishida!

Morgan correu até Akihiro e o abraçou apertado.

— Que bom que você está bem! Eu fiquei tão preocupada com você!

— Melhor dar um espaço para ele, Morgan. Ele já está comprometido — comentou Kimiko.

Morgan se afastou, alternando o olhar entre Akihiro e Kimiko.

— Bom, vamos dizer que eu e Misaki começamos a namorar... — disse ele, coçando a nuca.

Misaki, tímida, segurou a manga da blusa e se escondeu atrás dele.

— O quê?! Como assim?! Desde quando?!

— Hm... Agora.

O choque no rosto de Morgan logo se transformou em uma gargalhada alta e espontânea. Ela levou a mão à barriga e depois deu um tapinha no ombro de Akihiro.

— Você está bem?

— Sim, sim... Só achei engraçado o jeito como você disse isso!

Misaki também riu levemente, o que fez Akihiro sorrir de maneira sincera.

— Só fui sincero, não vejo problema nisso.

As risadas e sorrisos se espalharam entre o grupo. Finalmente, em meio ao caos, todos podiam respirar aliviados.

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