Volume 1
Capítulo 10: Eu espero que você encontre o caminho de casa
HIKIKOTSUNAGARI
Eu espero que você encontre o caminho de casa
Dia 6 de abril, às 9h14 da manhã. Uma garota peculiar batia na porta da casa de seu namorado. Essa garota era Misaki Takahashi. Quem a atende, porém, é o irmão mais novo dele.
— Bom dia, Misaki. Veio buscar meu irmão, né?
— Bom dia, Rem. Vim sim. Ele... ainda está dormindo, não é?
— Deixa eu ver.
Rem corre até o quarto do irmão, pula na cama e começa a balançá-lo.
— Akihiro! Acorda, sua namorada tá aqui!
— Hã...? O quê...? — resmunga ele, se sentando e passando a mão nos olhos.
— É a Takahashi, seu lerdo! Vocês vão passar o dia juntos, esqueceu?!
Os olhos sonolentos de Akihiro se arregalam. Ele se levanta apressado, derrubando Rem no chão, revira o guarda-roupa e corre para o banheiro.
— Já estou descendo!
Misaki ri baixinho ao ver o desespero dele. Poucos minutos depois, ele surge na porta, amarrando o cabelo ainda meio bagunçado.
— Desculpa a demora. Acabei dormindo demais.
— Não precisa se preocupar. Eu cheguei cedo também.
— Então... para onde vamos?
— Que tal o shopping? Tem muita coisa legal para fazermos lá.
— Estou meio desorganizado, mas tudo bem.
Os dois seguem pela calçada, conversando naturalmente. Akihiro entrelaça os dedos nos dela.
— Shida?
— Ah! Desculpa, esqueci que você não tem costume de andar de mãos dadas...
— Não! Está tudo bem... se você quiser.
Ela sorri e aperta levemente sua mão.
— Ei, Misaki, tem algum apelido que você gosta de me chamar?
— Hmm... gosto muito de Aki, mas prefiro Shida. E você?
— Bom... acho que nunca te chamei por um apelido — ele desvia o olhar, meio envergonhado.
Misaki ri e dá um tapinha leve no ombro dele.
— Não precisa, mas eu ia gostar se me chamasse por algum.
— Que tal... Saki?
— Saki? Até que gostei. Bem criativo.
— Você só fala isso para me agradar, né?
— Claro que não! Sempre sou sincera com você.
Ele sorri e continuam a conversa. Ao chegarem no shopping, passam por várias lojas — de roupas, decoração, e a favorita de Akihiro: a biblioteca.
— Vai comprar alguma coisa? Algum mangá?
— Nada me chamou atenção até agora. Os que eu queria, já tenho. E tô precisando organizar os que tenho. Devem estar todos empoeirados embaixo da cama.
— Se quiser, eu te ajudo depois do nosso encontro.
— Não precisa. Talvez eu arrume amanhã.
— Não me importo em ajudar, sabe que pode contar comigo.
— Eu sei... Vamos comer alguma coisa?
— Claro.
Eles seguem para a praça de alimentação, cheia de pessoas e barulho, como é comum em um shopping famoso.
— Tá com vontade de comer o quê?
— Qualquer coisa.
— Algo específico?
— Bento... será que tem?
— Tem sim, tem um restaurante que serve!
Ela segura sua mão e o guia até um restaurante discreto no canto.
— Kimiko Resutoran? Mudaram o nome?
— Não era esse antes?
— Não que eu me lembre... Vamos entrar.
Lá dentro, todas as pessoas — clientes e funcionários — eram... Kimiko. Um arrepio percorre Akihiro. O ambiente tem um ar familiar e estranho ao mesmo tempo. A náusea começa a surgir.
— O que está acontecendo...? Por que todo mundo aqui é Kimiko?
— O motivo não importa.
Ele se vira e vê que Misaki desapareceu — em seu lugar, estava Kimiko.
— Por que não come alguma coisa?
Ela o leva até uma mesa vazia. Uma garçonete, também Kimiko se aproxima.
— O que vai querer, Nishida?
— Eh... Ikizukuri.
— Peixe cru? Já vem!
Ela desaparece na cozinha, enquanto a vampira se aproxima.
— Por que você está entrando nos meus sonhos?
— Faço coisas que não convém explicar agora.
— Sempre tão misteriosa, minha dona.
— Aos poucos, vai entender tudo. Vai saber quem eu sou.
A garçonete retorna com um peixe inteiro. Era tão grande que mal cabia na mesa.
— Um peixe inteiro...?
— Aqui servimos diferente. Bom apetite.
Ela vai embora. Akihiro pega garfo e faca.
— Notou isso, Akihiro?
— O quê?
Ela aponta para o peixe.
— É um atum-rabilho. Raro no Japão, caríssimo. Uma sorte e tanto, não acha?
— Não entendo muito disso, mas acredito em você.
— Seria bom se soubesse mais do seu próprio país...
Ele não responde. Corta um pedaço e leva à boca. A textura é firme, o sabor delicado — lembra carne e sushi ao mesmo tempo.
— E aí?
— Muito bom, para ser sincero.
— Fico feliz que gostou. Agora... sobre a Ebisu. Quem você acha que ela é?
— Uma vampira má.
— Por quê?
— Tudo o que ela fez trouxe sofrimento. Akagawa, Akira...
— Eles fizeram trocas.
— Trocas?
— Reiji foi julgado pelos humanos. Em troca da sobrevivência, julgaria outros. Akira se sentiu trocado quando Morgan voltou a falar com você. Em troca de conquistar o coração dela, deveria te matar. Até você e Misaki passaram por isso. Um queria salvar o outro, mas precisavam se salvar primeiro.
— Faz sentido...
— Ebisu tira pessoas da miséria e as leva à fortuna. Mas só se elas merecerem.
— E você acha que eu sou uma dessas pessoas?
— Você nunca perdeu nada de verdade, além do seu pai.
— Perdi minha humanidade.
— Como assim?
— Deixei de ser quem eu era. Quando perdi minha inspiração... minha parte humana.
— E quem é Akihiro Nishida? Um garoto dependente de uma figura paterna, mesmo que ela estivesse viva?
— Eu sou egoísta. Ajudei os outros tentando me encontrar. Se meu pai estivesse vivo, talvez eu nem tivesse ajudado ninguém.
— Já pensou que a morte dele te afundou e te elevou ao mesmo tempo? Você reprimiu sentimentos, mas fez amigos. Conseguiu uma namorada. Você é fortunado por ter problemas... e ainda assim conquistar coisas boas com seu egoísmo.
— Você não mentiu...
— Eu sei.
O lugar começa a se esvaziar. As Kimikos desaparecem. Só restam os dois.
— Espero que encontre o caminho de casa, afinal... você é Akihiro Nishida.
Antes que ele responda, desperta. É madrugada. Ele olha em volta e vê um par de olhos brilhando no escuro.
— Morgan...?
— Não esperava te ver acordado. Eu poderia te desmaiar e você nem lembraria que eu estive aqui.
— O que você quer? Já faz semanas que não te vejo.
— Me afastei... por causa da Misaki.
— Não precisa disso. Ela sabe quem são minhas amigas.
Morgan morde o lábio, tentando segurar o choro. Vira-se para ir embora, mas Akihiro segura seu pulso.
— O que houve? Eu sabia que era você que deixava seu cheiro aqui. E agora... vai chorar, não vai?
Ela o arranha com as unhas afiadas, se afastando. As lágrimas escorrem.
— Eu ainda gostava de você, Akihiro! Sempre te amei, desde que fui embora!
— Morgan...
— Cala a boca! Ainda não terminei!
Ela vira o rosto.
— Fui idiota por não te ouvir. Mas eu queria me reencontrar com outros vampiros. Ver você com outra garota foi insuportável... Me desculpa. Eu só não quero que você me esqueça.
— Morgan...
Ele a abraça. Era um abraço quente, verdadeiro.
— Eu tentei te esquecer porque te amava demais. Tinha medo de me machucar de novo...
— Me desculpa...
— Tudo bem. Eu entendo. Nós... podemos ser bons amigos.
— Acha mesmo?
— Tenho certeza. Você foi uma das poucas que me fez sentir verdadeiramente amado.
Ela chora em seu ombro, com as unhas cravadas em suas costas.
— Você vai ficar bem, eu sei.
Depois de alguns minutos, ela se afasta, secando os olhos.
— Tá melhor?
— Estou sim...
Ela ri baixinho e olha fundo nos olhos dele.
— Obrigada, Akihiro.
Então o golpeia tão rápido que ele nem percebe. Deita-o na cama, e antes de sair pela janela, diz:
— Espero que seja feliz, Akihiro.
Na manhã seguinte, Rem o acorda novamente, balançando a coberta.
— Acorda! A Misaki está te chamando!
— O quê...? — Akihiro se senta, esfregando os olhos.
— Vocês vão sair! Esqueceu?
Ele arregala os olhos e pula da cama, se arrumando o mais rápido que consegue.
— Já estou descendo!
Vai até a porta, ajustando o cabelo.
— Bom dia, Shida. Dormiu bem?
— Acho que sim... desculpa não acordar mais cedo.
— Tudo bem. Você precisava descansar. Vamos?
— Que tal o shopping? Tem um famoso por aqui.
— Claro, por que não?
Enquanto andam, Akihiro segura o pingente do colar.
— Tá tudo bem? Pensando em algo?
— Sim... quer dizer, estou bem. Só meio sem assunto.
— Tudo bem. Mas se quiser falar, pode me contar, viu?
— Claro! Aliás, olha isso.
Ele abre o pingente: duas fotos, uma de Misaki e outra de Rem. A garota para na calçada, emocionada, e o abraça com força.
— Que coisa mais linda, Aki... eu amo quando você demonstra sentimentos assim. Obrigada.
— É o mínimo que posso fazer. Eu te amo muito.
— Eu também te amo. Muito.
Ele sorri e se afasta um pouco.
— Vamos?
— Vamos.
Entrelaçam as mãos e seguem. Ela sorri e aperta a dele com firmeza — sem a menor intenção de soltar.
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