Tsunagari Brasileira

Autor(a): Lich


Volume 2

Capítulo 6: Diferenças

BOKUTSUNAGARI

Diferenças

O garoto sai de sua escola, a boca ainda tomada pelo gosto amargo do sangue recente de Kenichi. Ele pula o portão, agarrando-se às grades e atravessando-o sem parar um segundo. Corre como se sua vida dependesse disso, sem olhar para trás.

— Eu me exaltei… eu me exaltei demais! Não deveria ter comido aquele vampiro!

Seus pensamentos giravam em turbilhão, cegando-o para o que havia à frente. Foi então que uma figura surgiu de forma rápida, o derrubando e puxando-o para dentro de uma casa aparentemente vazia. Uma mão tampou-lhe a boca enquanto ele se debatia desesperado, tentando gritar, até ser arrastado para um quarto escuro.

— Fica quieto, seu cretino.

A voz fria e cortante o silenciou. Ela o pressionou contra a parede, tirando o capuz e revelando o rosto: era a mesma vampira de antes.

— Se gritar, eu juro que te mato. — Ela retirou a mão da boca de Akihiro e lambeu o sangue que havia escorrido para a palma.

— Eu… eu não queria ter feito aquilo… eu não queria…

— Está desesperado por quê? Matou alguém, por acaso?

A vergonha queimou o rosto de Akihiro. Sua respiração se acelerava, a ansiedade apertando-lhe o peito.

— Ei, calma… você fez algo errado, não fez? Está estampado na sua cara.

Ele não respondeu, apenas tremia, arranhando os próprios braços até a carne rasgar, curando-se logo em seguida.

— Você matou um vampiro, não é?

— Como sabe?...

— Pelo gosto. O sangue humano é doce, o dos vampiros é amargo e gelado. Então me diga: você matou e devorou um, certo?

— …Sim. Eu devorei um vampiro.

— Onde jogou a carcaça?

— No forno. Deixei o corpo queimando lá.

— No do colégio, certo?

O garoto se espantou com a precisão da resposta.

「Merda… entreguei tudo…」

— Eu estava com Kenichi algumas horas atrás. Sabia que ele tinha saído para caçar. Não pensei que um vampiro de mais de cinquenta anos cairia para uma recém-quimera.

— …Então você se lembra de mim.

— Claro que lembro, idiota. A gente se viu há poucos dias.

Ela ajeitou a capa, levantando-se com calma.

— Que curioso… Você é a primeira quimera que conheço. E a primeira que decide matar alguém da própria raça.

— Eu não sou um vampiro.

— Seu sangue é metade humano, metade vampiro. Você é as duas coisas.

Akihiro limpou a boca com o antebraço, ainda com gosto metálico.

— Quer me matar também? — perguntou ela, desviando o olhar para a janela aberta.

— Que pergunta é essa? Eu não quero te matar.

— Então por que matou Kenichi?

— Porque ele foi um dos que quase me mataram.

— E se fossem humanos? Você não os mataria?

「O que ela quer dizer com isso? É um teste?...」

— Não… você não mataria. Humanos têm regras, leis, consequências. Vampiros não. Eles são fortes, não temem punição. É diferente.

–Como tem tanta certeza disso?

Ela soltou uma risada sarcástica, inclinando a cabeça.

— Engraçado isso vindo de você. Eu é que tive que te arrastar feito uma criança pra dentro desta casa. E agora está tremendo de ansiedade por causa da sua própria escolha.

Akihiro suspirou, sentindo a verdade esmagar-lhe o peito.

— Vem aqui.

Ela o puxou para perto, braços em volta do pescoço, apoiando-se contra a janela aberta. A luz da lua desenhava sua pele pálida. Ele mal conseguiu processar a atitude, apenas reparou na beleza dela tão próxima.

— Se eu estou errada… me prove.

A vampira retirou a capa e ergueu a blusa até a barriga exposta brilhar à meia-luz. Segurou a mão de Akihiro, guiando suas garras até o abdômen liso.

— Se você mataria humanos como matou um vampiro, prove agora. Crave as unhas no meu estômago.

Akihiro encarou suas próprias mãos, depois os olhos dela. O sorriso calmo, quase provocador, o paralisava. No fim, não teve coragem. Apenas afastou-se.

— Você é fraco.

— Eu sei. Sou fraco… e perdido. Só me agarro nessa vingança.

Ela abaixou a blusa, cobrindo-se de novo com a capa.

— Eu entendo. Também vivo assim.

Ela puxou-o levemente, apontando pela janela.

— O que vai fazer? Vai me carregar nos braços enquanto voa?

Ela riu com suavidade, zombando.

— Não, idiota. Só quero sair desta casa.

Ele suspirou, aceitando. Juntos, saltaram pela janela e se sentaram no telhado simples.

— Achei que vampiros voassem, como nos contos.

— Isso é fantasia. O que temos são sentidos aguçados, força, salto. Mas voar, não.

— Então vocês são como super-humanos.

— Quase isso. Mas com fome constante. É por isso que caçamos humanos e animais. É nossa natureza.

— Não é certo. Humanos sentem medo, dor, tristeza, igual a vocês.

— Animais também sentem. E ainda assim, vocês os caçam e devoram. Nós apenas repetimos o ciclo.

Akihiro se calou, engolindo a resposta.

— Me desculpe… sou teimoso.

— Não precisa. Eu mesma faria o que você quer, movida por raiva e ódio.

Ele abaixou os olhos. Ela esperou um instante antes de quebrar o silêncio.

— Por que decidiu me ajudar? Antes você foi grossa, até me perseguiu.

— Você cheirava diferente. E foi estranho comigo.

— Você estava me perseguindo, como queria que eu agisse?

Ela piscou surpresa e depois riu, desajeitada.

— Engraçado você…

Akihiro sorriu, levantando-se e estendendo a mão.

— Me chamo Akihiro Nishida. E você?

Ela encarou a mão dele, hesitando.

「Droga… ela vai me deixar no vácuo? Eu fiz algo de estranho?」

— Me chamo Morgan. Só Morgan. — apertou a mão dele, firme.

— Prazer em te conhecer.

— Tem certeza que é um prazer mesmo?

— Claro. Eu te achei legal.

Ela desviou o olhar, um leve sorriso escapando.

— Bom… se você diz. Também gostei de conhecer você. Podemos conversar mais vezes… nas próximas noites.

Ela saltou pelo telhado, desaparecendo nas sombras.

「Espera… ela quer me ver de novo?...」

Um sorriso bobo tomou o rosto dele. Aos poucos, voltou para casa. Entrou em silêncio, subiu até o quarto e dormiu.

Na manhã seguinte, acordou cedo e se arrumou para a aula. O dia estava estranho, bom demais.

「Ontem… Kimiko, Morgan… parece que as coisas mudaram um pouco.」

Mas a sensação durou pouco. Uma mão firme pousou em seu ombro enquanto o mesmo  caminhava em direção ao colégio.

— Akihiro.

Ele se virou. Era Hikaru.

— Eu preciso conversar com você.

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