Tsunagari Brasileira

Autor(a): Lich


Volume 1

Capítulo 6.5: Eu e ela

HIKIKOTSUNAGARI

Eu e ela

A madrugada avançava silenciosa na casa de Akihiro quando ele sentiu leves toques em sua bochecha. Meio grogue, virou-se para o lado, encontrando Morgan com um pequeno sorriso brincando nos lábios.

— Você me acordou... — murmurou, com a voz arrastada de sono.

— Essa era a intenção. Já são três e meia da manhã.

Ele piscou algumas vezes, tentando processar as palavras.

— "Já são" como se fosse um horário normal para estar acordado? Eu durmo, diferente de você.

Ela riu baixinho e se sentou na cama.

— Você sempre foi dorminhoco, Aki. Agora, levanta. Quero que me acompanhe.

Suspirando, ele coçou os olhos.

— Tá bom, tá bom... Mas para onde exatamente?

— Segredo.

Morgan saltou da cama com leveza enquanto Akihiro se levantava de maneira preguiçosa.

— Podia ter um pouco mais de ânimo, seu chato.

— O problema é esse...

Depois de fazerem o básico da rotina matinal, os dois saíram para a rua ainda sob a penumbra da noite.

— Agora que percebi... — Ele franziu o cenho. — Você dormiu e saiu com o mesmo uniforme de ontem. Pelo menos toma banho antes de sair?

— Claro, eu sou cuidadoso com minha higiene, sabia?

Ela parou no meio da rua e o olhou de cima a baixo.

— Não parece. Você está meio fedido.

Ele bufou.

— Ah, cala a boca! Você nem toma banho direito.

— Uma vez por semana é o suficiente, e mesmo assim não cheiro tão mal quanto você.

— Ah, é? Então…

Sem aviso, ele avançou, fazendo menção de segurá-la, mas Morgan se virou rápido e, com um movimento ágil, pousou os dedos nos lábios dele, interrompendo sua provocação.

— Pare de ser tão implicante — disse suavemente, seu olhar cravado no dele.

Ele sentiu o rosto esquentar.

— E-espere, o que você—

Ela deu um meio sorriso.

— Fique bem, Aki. Nos vemos por aí.

Antes que ele pudesse responder, Morgan sumiu num beco, desaparecendo nas sombras.

O resto da manhã foi uma bagunça na mente dele. Na escola, não conseguia me concentrar. A cena ainda rodava em sua cabeça, como um filme preso em repetição.

— Akihiro? — A voz de Misaki o trouxe de volta à realidade. — Você está bem? Parece meio cansado de novo… é por causa da sua mãe?

Ele hesitou antes de responder.

— É uma situação complicada. Prefiro não falar dessa vez.

Ela franziu o cenho, preocupada.

— Você nunca esconde as coisas de mim. Tem certeza de que está—

 

— Sim, estou bem! Perfeitamente bem!

Antes que ela pudesse insistir, ele pegou suas coisas e saiu da sala, os passos apressados ecoando pelo corredor.

— Ei! Espera!

Misaki foi atrás dele, agarrando a manga do uniforme antes que escapasse.

— Me solta, Misaki.

— O que você está fazendo? — a voz dela vacilou.

— Indo embora. Eu já falei que estou bem, para de insistir nisso!

Ela apertou o tecido do uniforme com mais força, baixando a cabeça.

— Por favor, não me deixe... — A voz dela quase sumiu, trêmula. — Não pare de ser meu amigo...

Akihiro virou-se para reclamar, mas parou ao ver o rosto dela. Os olhos brilhavam de insegurança, as lágrimas escorrendo e borrando o delineador.

O aperto no peito veio instantâneo.

Por um segundo, ele pensou em dizer algo, mas nenhuma palavra parecia suficiente. Apenas a envolveu num abraço apertado, sentindo o corpo dela tremer contra o seu.

— Misaki... Você entendeu tudo errado. Eu não vou te deixar.

Ela soluçou contra o peito dele, agarrando seu uniforme como se ele fosse desaparecer a qualquer momento.

— Quer que eu te acompanhe até sua casa?

Ela assentiu em silêncio.

A caminhada foi tranquila, o único som sendo os passos deles no asfalto. Quando chegaram, ele olhou para a porta.

— Sua mãe está em casa?

Misaki balançou a cabeça, negando.

— Onde está a chave?

Ela apontou para a mochila, e Akihiro revirou o conteúdo até encontrá-la no fundo. Assim que abriu a porta, um cheiro forte de mofo e comida velha o atingiu. Ele optou por não comentar.

Ela o levou direto para seu quarto, um espaço escuro, com a porta cheia de fechaduras.

— Por que me trouxe para cá?

Misaki abaixou a cabeça, encarando o colchão.

— Você pode passar a noite comigo?

O rosto dele ficou levemente avermelhado.

— Se quiser tomar banho, o banheiro fica no corredor. Tem roupas do meu pai no guarda-roupa.

Ele hesitou, mas acabou pegando uma toalha e indo para o banho. Enquanto a água fria caía sobre ele, Akihiro encarou o ralo, os pensamentos pesados em sua mente.

— Eu sou uma pessoa horrível...

Quando terminou, vestiu uma roupa do pai de Misaki e voltou para o quarto. Ela já estava pronta, vestindo uma calça larga de pijama e uma regata branca.

— Sua mãe chega, que horas?

— Talvez só amanhã à tarde. Por quê?

— Nada…

Ela deitou na cama e esperou. Ele entendeu o convite, deitando-se ao lado dela, virando-se de frente.

— Por que me pediu para dormir aqui?

— Eu queria sua companhia… Me desculpa se eu te irritei.

— Não me irritou. Eu só… estou confuso.

Ela virou-se para encará-lo.

— Quer conversar?

Ele desviou o olhar para o teto, soltando um longo suspiro.

— Não é nada.

— Akihiro…

— Eu só estou cansado, Misaki.

— Cansado do quê?

O silêncio se arrastou por alguns instantes. Ele fechou os olhos, passou a mão no rosto e virou-se de costas para ela.

— Eu não quero falar sobre isso.

Misaki suspirou, mas não recuou. Aproximou-se um pouco mais, sua voz mais suave.

— Você sempre me ajudou quando precisei. Agora sou eu quem quer te ajudar.

Ele franziu a testa.

— Eu não pedi ajuda.

— Mas precisa.

O peito dele subiu e desceu com um suspiro pesado.

Ele suspirou fundo antes de responder.

— Ontem… encontrei minha ex. Foi estranho. Ela estava com a camisa que dei pra ela… Me chamando de "Aki", agindo como antes.

— Akihiro...

— Eu não gosto mais dela. Mas a forma como voltou, como se nada tivesse mudado... Eu não queria ter esbarrado nela de novo!

As palavras saíram carregadas, e Misaki percebeu a respiração dele falhar. Sem pensar, o abraçou por trás, os braços envolvendo seu corpo com firmeza.

— Escuta… O fato de ela estar carinhosa não significa que te quer de volta. Às vezes, as pessoas só voltam porque se sentem solitárias, não porque realmente desejam alguém.

Ele permaneceu em silêncio.

— Me desculpa por ser grosseiro com você mais cedo

— Tá tudo bem. Só não quero ficar longe de você.

Um riso fraco escapou dos lábios dele. Mas então, um detalhe lhe chamou atenção.

— Misaki… você tá sem sutiã?

Ela congelou e, num pulo, afastou-se para o outro lado do colchão.

— E-eu não costumo dormir usando um, tá?!

Akihiro começou a rir, e logo Misaki se juntou, rindo junto. Mas o momento foi interrompido por uma voz vindo da janela.

— Não sabia que você já estava namorando, Akihiro.

Os dois se viraram em choque.

Morgan estava sentada na janela, com as pernas cruzadas e um olhar totalmente neutro.

 

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