Volume 2
Capítulo 4: Akihiro Kyukkuykkii Pt.2
BOKUTSUNAGARI
Akihiro Kyukkyukkii Pt.2
Após aceitar a oferta, Kimiko se mantém em silêncio por alguns minutos, sem sequer dizer uma palavra. O silêncio total da sala provoca um desconforto crescente, e Akihiro começa a bater o pé, inquieto.
— Vai ficar assim por quanto tempo?
— Assim como, Akihiro?
— Não se faça de desentendida...
— Estou apenas esperando você iniciar o nosso jogo.
— “Nosso jogo?”
— Exatamente. Ele se chama Quimedrez.
『Quimedrez? Pelo visto é uma combinação de xadrez com...』 — Ele se lembra da garota vampira que encontrou naquela madrugada. — 『Quimera?』
— A primeira regra do Quimedrez é: está proibido pensar até o jogo acabar oficialmente.
— E como vou saber se você está pensando ou não?
— Eu nunca ajo com base nos meus pensamentos. Sempre ajo de forma direta, porque sei que estou certa no final das contas.
O garoto permanece calado, sem dizer uma palavra.
— A segunda regra é: se por acaso você ganhar de mim no Quimedrez, você sairá da sala — mas ainda sem rumo ou objetivo claro. Mas se eu ganhar, você sairá da sala com propósito e direção.
— Como essa regra faz sentido?
— Eu sempre estou certa, Akihiro. Se você ganhasse, seria apenas por negação e orgulho.
O garoto suspira, tentando se acomodar melhor em seu assento.
— A terceira e última regra: todos os nossos ataques e defesas devem ser respondidos com pura sinceridade. Entendeu?
— Entendi. Mas... e se eu quebrar uma dessas regras?
Ela não responde por alguns segundos, mantendo o sorriso sem expressão.
— Você morre.
O garoto engole seco, enquanto a vampira continua aguardando uma resposta.
— Não tente me trapacear. Eu sei perfeitamente como você pensa. Agora me diga... o que está pensando neste momento?
— Em nada.
Ela ri, descontraída.
— Boa resposta. Mas eu me refiro de forma platônica, Akihiro Nishida.
— Tem algum motivo pra dizer meu nome completo? Você nunca me chama assim.
— Não estou falando com a sua personalidade orgulhosa e amarga... — Ela sorri, caminhando até as costas do garoto. Rodeia os braços em volta de seu pescoço. — Estou falando com o verdadeiro Akihiro Nishida. A alma ferida, que tudo que queria era alguém que a entendesse. — Ela toca levemente a cabeça dele com o dedo indicador.
— Não existe isso de “verdadeiro Akihiro Nishida”.
— Por quê?
— Porque só existe um. Eu sou o único Akihiro Nishida. Não é como se eu tivesse um alter ego.
— O verdadeiro Akihiro Nishida seria sincero com suas palavras. Seria uma pessoa gentil, que se importaria com os sentimentos dos outros.
Ele permanece em silêncio.
— É a verdade, não é?
— ...Sim.
Ela sorri. Em um movimento repentino, o puxa agressivamente pela gola do uniforme. Antes que ele consiga reagir, Kimiko fecha o punho e acerta sua face com precisão. Akihiro é arremessado até o quadro. Sentindo as pernas bambearem, ele se senta no chão.
— Por que fez isso?... — Seu tom agressivo é interrompido ao notar o que Kimiko segura em mãos. Algo sem cor, feito de pura luz, com uma forma circular perfeita — como se fosse uma superfície vinda de outra dimensão.
— Kimiko?... — Sua voz sai duvidosa, confusa, e de certa forma... encantada. Aquilo o atraía, como se fosse parte dele.
— Isso aqui é nada mais, nada menos que a sua própria existência, Akihiro Nishida. Agora eu quero que você deixe seu orgulho de lado e me diga: o que se passa na sua cabeça?
Ele hesita por um momento.
— Não está jogando limpo... O que pretende fazer com isso?
— O que eu bem entender, Akihiro.
Ele suspira, antes de finalmente se abrir.
— Por que estou sofrendo com efeitos colaterais?
— Boa pergunta...
Ela apoia os cotovelos sobre a mesa, ainda segurando a essência dele em mãos.
— Acredito que seja uma luta interna.
— Luta interna?
— Resumidamente: sua parte humana está brigando com a parte vampira. Talvez fique assim até que ambas se equilibrem.
Akihiro se levanta, massageando a área atingida, e se senta em frente a Kimiko.
— E se uma das partes vencer?
— Isso é biologicamente impossível. Eu quis que você se tornasse meio humano, meio vampiro.
— Por que não me curou? Ou me transformou completamente em vampiro?
— Porque eu sabia que você iria buscar vingança contra os vampiros.
Ele suspira, aceitando a verdade.
— Se fosse totalmente humano, morreria. Se fosse completamente vampiro, perderia sua vida social. Como eu te expliquei, ao facilitar sua vida, você agora é meu subordinado.
Ele assente, tentando se acalmar apesar da dor de cabeça.
— Hoje você encontrou outra vampira, certo?
— Como sabe?
— Tenho meus segredos como sua mestra...
— Parece que você sabe até quantos passos eu dou. Isso... é normal? Ainda assim, me incomoda o quanto você sabe tudo sobre mim.
— Aos poucos, você também saberá tudo sobre mim.
Ele solta outro suspiro, desanimado.
— Sim, me encontrei com uma vampira hoje. Mesmo que não seja aquela que eu quero caçar.
— Interessante, Akihiro. É bom saber que conheceu outra garota além da sua mestra amante.
— “Mestra amante?”
Ela sorri largo e solta uma risada divertida.
— Brincadeira. Você não é meu amante... mesmo que eu tenha te beijado.
A atenção dele se volta para outra coisa: ele nota que a forma plana cresce um pouco, tornando-se mais difusa e menos circular.
— Por que isso cresceu? Ficou menos perfeito.
Ela sorri, satisfeita.
— Já querendo o xeque-mate antes de todas as peças se moverem? Muito apressado, Akihiro.
— Eu tento, mas você nunca responde diretamente.
— Vamos mudar o jogo então. Quero jogar uma charada com você. Se adivinhar por que sua existência está mudando, eu te dou todas as respostas sobre sua vida.
— Dessa vez posso pensar na resposta?
— Sim. Está permitido.
Ela se levanta do assento e começa a caminhar pela sala.
— Charada um: a morte do seu pai.
— O que isso tem a ver com o plano? — Ela o corta automaticamente, sem nem escutar.
— Charada dois: você está produzindo mais pelos.
— Isso é uma piada?
— Charada três: sua estabilidade emocional.
— Estou sofrendo em silêncio sem nem perceber?
— Charada quatro: sua mãe se mudou para outro país.
— Talvez eu tenha que encarar meu passado?
— Charada cinco: conhecer quem está ao seu redor.
『Essas perguntas... todas têm algo em comum.』
— Charada seis... sete... oito... nove... dez...
『Talvez sobre eu me encontrar?』
— Charada vinte e quatro... vinte e cinco... vinte e sete...
『Essas dicas estão me destruindo, mas... acho que já tenho a resposta.』
— Charada trinta e—
— Chega! — Sua voz ecoa forte, fazendo Kimiko parar e finalmente escutar.
— O plano está mudando porque ele se transforma conforme eu descubro quem eu sou — e também quem você é. Para sair daqui, preciso entender você, pois compartilhamos o mesmo sangue vampírico!
Ela apenas bate palmas de forma neutra.
— Meus parabéns, Akihiro. Você conseguiu desvendar a charada.
— Então me diga... me conte sobre seu passado.
— Nasci por volta dos anos trinta antes de Cristo. Vivi mudando de casa em casa até encontrar um lugar fixo. Meus pais morreram na era sangrenta dos vampiros. Quando estava prestes a morrer, uma vampira me salvou e pediu que eu ajudasse outros que também não tinham rumo.
— Qual era o nome dessa vampira?
— Não me lembro ao certo. Tinha algo com “su” no final.
Ele suspira, um pouco decepcionado.
— Kimiko, já que você é tão velha... posso fazer uma pergunta?
— Qual seria?
— Jesus Cristo realmente existiu?
— Sim, existiu. Mas não sei se ele realmente ressuscitou ou algo assim.
Ele observa a forma, agora quase cobrindo toda a mesa.
— Como mato um vampiro? — pergunta, olhando nos olhos dela.
Ela sorri, soltando a essência dele, e responde com doçura.
— Você deve se encontrar.
Ele abre um sorriso calmo. A forma começa a se expandir até se tornar circular e rotatória, do chão ao teto da sala.
— Isso é um xeque, Akihiro.
— O que quer dizer?
— Se você sair por essa existência, sairá da sala — e eu ganho. Mas se persistir no seu ego achando que está certo... então você ganha.
Ele olha para a forma, depois para Kimiko.
— Mas era para eu ter vencido. Consegui todas as respostas.
— Eu menti boa parte do jogo.
Seu rosto muda bruscamente.
— Menti nas regras, nas consequências, até na minha história. Mas ainda assim... você pode tentar vencer de novo.
Ele suspira, encarando a forma indefinida.
— Talvez seja hora de aceitar a derrota.
Ela sorri, segura a mão dele, e ambos entram na essência. Akihiro não enxerga mais a sala, nem nada ao redor. Apenas flutua com Kimiko, rumo às luzes intensas.
— Xeque-mate.
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