Volume 2
Capítulo 3.5: Akihiro Kyukkuykkii Pt.1
BOKUTSUNAGARI
Akihiro Kyukkuykkii Pt.1
Akihiro caminhava apressado pelas ruas até sua casa. O peso das últimas horas parecia maior do que seu próprio corpo. Ao abrir a porta, foi recebido pela voz do irmão:
— Ah, você tinha saído, não é mesmo? Achei que fosse comprar alguma coisa.
Sem responder, Akihiro apenas moveu a cabeça em negação. Subiu as escadas, sem vontade de explicar nada, e foi direto para o quarto. Passou a andar de um lado para o outro, como se parar fosse o mesmo que desmoronar.
— O que eu faço... o que eu faço... — murmurava, a voz presa na garganta. — Eu ainda nem sei controlar meus poderes...
Num impulso, suas unhas cresceram, afiadas como lâminas. Ele arranhou o próprio braço com violência. Os cortes profundos se fecharam quase instantaneamente, como se até seu corpo recusasse sua dor.
Parou. Respirou. E então, guiado por outro impulso, abriu a última gaveta do guarda-roupa e retirou uma pequena caixa de madeira. Dentro, havia fotografias antigas com o pai, o cordão dourado com pingente de coração e os anéis que ele usava quando ainda havia paz.
— Pai... — sussurrou, com a voz trêmula igual a de uma criança.
Lágrimas escorreram, mas não molharam as fotos com as lágrimas. Colocou o colar no pescoço e, por um breve instante, sentiu algo semelhante à leveza.
— Eu estou com saudades... muitas saudades...
Sentou-se no chão, abraçando os joelhos, até que a porta se abriu.
— Akihiro, você quer... — Rem parou ao vê-lo naquele estado. — O que você está fazendo?
— Não é óbvio?
Rem suspirou e se aproximou.
— Até quando vai continuar preso nisso? Nosso pai tentou nos matar.
Akihiro o encarou. A raiva escorria por trás dos olhos marejados.
— Você fala isso como se fosse simples. Nossa mãe nos abandonou. Fugiu para o Canadá com a herança e nunca mais deu sinal de vida. Ela nos enganou. E você sabe disso.
— Eu ainda confio nela. Sempre foi sincera conosco.
— Eu vi. Ela matou nosso pai. Com os meus próprios olhos.
Rem permaneceu em silêncio por um instante. Depois, virou-se.
— Acredite no que quiser.
Saiu, deixando Akihiro sozinho.
Deitou-se na cama. O frio do colchão infiltrava-se em seus ossos, refletindo o vazio que sentia por dentro. A mente não parava até que tudo se concentrou em um único desejo:
— Eu quero matar os vampiros.
A frase soou como uma sentença. Levantou-se de imediato, como se o corpo tivesse se desconectado da consciência. O mundo ao redor perdeu importância. Nada mais existia, seu irmão era inútil, escola irrelevante, sua vida era desnecessária, nem mesmo quem Akihiro Nishida era
Vestiu um moletom grosso e uma calça resistente. Cruzou a casa em silêncio e saiu, mergulhando na madrugada.
『Será que vão se mostrar tão facilmente...?』
– Eu sei que vocês estão aí! –Gritou o mesmo provocando os vizinhos curiosos observarem o garoto pelas janelas acessas, mas ele não se importa.
Andava por becos, guiado por um pressentimento. Até que uma presença surgiu: uma figura envolta em capa de couro saltou das sombras. Akihiro reagiu.
Desviou, agarrou, derrubou. Imobilizou a figura com o antebraço no pescoço e os braços presos.
— Ai! Seu idiota! — exclamou uma voz feminina.
Ele puxou o capuz da figura. Cabelos longos, pele pálida. Uma vampira.
— A primeira mulher vampira que eu encontro...
— E aí? Vai se aproveitar de alguém fraca e desarmada?
— O quê? Claro que não!
Soltou-a de imediato. Ela revidou com um golpe no peito e se colocou de pé.
— Por que me seguiu? Eu também sou um vampiro!
— Não me engane, Quimera. Seu cheiro é de vampiro, mas ainda há resquícios humanos em você.
Akihiro permaneceu em silêncio. Ela estava certa.
— Isso é coisa da Kimiko, não é?
— Você a conhece?
— Todos conhecem. Aquela vampira é... estranha.
『Ela está certa. Ninguém atira uma faca daquele jeito...』
— Me conta mais?
— Por que quer saber?
— Curiosidade.
Ela vestiu o capuz novamente e escalou a parede com facilidade.
— Espera!
Tentou insta-la mas caiu ao tentar o segundo pulo. A cabeça bateu com força. Gritou, e logo o machucado desapareceu. Ficou ali, deitado, encarando o céu.
— Vampira estranha... Desorganizada, mas bonita.
Suspirou e voltou para casa.
Dessa vez, dormiu sem pensar demais.
— Ei, Nishida... acorde.
Dedos frios tocaram seu rosto. Ele abriu os olhos devagar e viu Kimiko.
— Kimiko...?
— Segunda-feira. Aula. Já são seis e meia.
Ele se ergueu, assustado.
— O quê?! — tentou gritar, mas ela tapou sua boca.
— Fale baixo. Ninguém quer ser acordado com seus surtos matinais.
Vestiu o uniforme às pressas, se arrumou no banheiro e saiu correndo. Tropicou na calçada, esbarrou em estranhos. Chegou à sala ofegante.
— Professora!
— Bom dia, Akihiro Nishida. Está atrasado.
— Eu sei... — disse, tentando recuperar o fôlego.
Akihiro então se senta até a sua mesa, sentindo uma sensação estranha em seu corpo, é novamente sente a irrelevância do mundo, como se o mundo parecia desajustado.
O suor em sua nuca escorria frio, como se seu corpo estivesse tentando avisar algo que a mente ainda não compreendia. Os músculos tremiam sutilmente, e sua respiração tornava-se irregular — como se cada inspiração custasse mais esforço do que a anterior.
『O que está acontecendo comigo...?』
A visão escureceu nas bordas, como se sombras estivessem fechando uma cortina ao redor de seus olhos. As vozes ao redor se desfaziam em murmúrios abafados, como se ele estivesse submerso em água. A professora continuava falando, mas era como ouvir uma televisão sintonizada em um canal errado.
A sala girava devagar, como uma roda enferrujada prestes a desabar.
Os dedos de Akihiro se agarraram à carteira com força. O coração disparava num ritmo irregular, como se estivesse tentando fugir do próprio peito. Sua cabeça latejava. Um zumbido baixo, quase inaudível, parecia pulsar dentro de seus ouvidos.
『Estou doente...? Não. Isso é... diferente.』
As veias queimavam por dentro. O calor subia, não como febre, mas como uma ebulição interna, uma energia descontrolada. Algo estava despertando. Algo que ele não queria, mas também não conseguia conter.
E então, seus olhos encontraram os de Kimiko.
Ela o observava em silêncio, como se soubesse exatamente o que estava acontecendo — como se estivesse esperando por aquele momento.
Com um estalar de dedos, o tempo congelou.
O ar parou. Os movimentos cessaram. Todos ficaram imóveis, como estátuas presas em uma fotografia.
— O que você fez...? — a voz de Akihiro mal saiu, como um sussurro arranhado.
— Pausei tudo. Vi que você não estava bem — respondeu ela, se aproximando e sentando-se sobre sua mesa com calma.
— Eu... não estou mal...
— Está. E não precisa esconder de mim.
Ele baixou o olhar. Suas mãos tremiam levemente. Os pés balançavam como se quisessem fugir dali.
— Talvez eu devesse perguntar por que você quer me ajudar... mas eu já sei. Você não vai me dar uma resposta real.
— Talvez não. Mas isso não significa que estou mentindo quando digo que me importo.
— Ninguém se importa por nada. Ainda mais uma vampira.
Kimiko sorriu com suavidade.
— Ser vampira não anula minha vontade de impedir que você se destrua.
Akihiro a encarou por alguns segundos. Seus olhos estavam pesados, mas havia um lampejo de lucidez ali.
— Se eu aceitar sua ajuda... você me dá respostas?
Ela estendeu a mão, como um pacto silencioso. Ele a fitou por mais um instante, depois a apertou com firmeza.
— Eu aceito.
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