Volume 2
Capítulo 3: Desejos
BOKUTSUNAGARI
Desejos
Kimiko se levantou da cama com suavidade e se aproximou de Akihiro. Com um gesto delicado, acariciou o peito do garoto.
— Estava com saudades de você, meu querido.
— Você me viu hoje de manhã... Como já estava com saudade?
— Não seja cruel com sua mestra — disse ela, mantendo o sorriso, agora com um ar brincalhão e carinhoso.
— Tá, tá... Não tenho muita escolha mesmo. Mas por que me chamou?
Kimiko se ajeitou com elegância, como se fosse anunciar algo grandioso.
— Eu queria saber como vocês se sentem... depois do ataque.
— Eu não sinto nada. E se sentisse, provavelmente não contaria pra você...
Antes que Akihiro pudesse terminar a frase, uma faca foi disparada e se cravou em seu estômago. A lâmina atravessou o tecido e penetrou fundo, rasgando carne e vísceras. A dor foi tão intensa e repentina que ele caiu no chão, grunhindo e levando as mãos ao ferimento.
— Akihiro! Aguenta firme! — exclamou Hikaru, ajoelhando-se ao lado dele, desesperado.
— Não banque o adulto só porque o Hikaru está aqui, Akihiro Nishida. Sua arrogância não combina com a situação.
— Por que você liga tanto pro que eu penso?! Você já sabe de tudo, não sabe!?
Kimiko fez um gesto com os dedos em forma de pistola. Outra faca foi disparada, atingindo a coxa de Akihiro. Ele soltou um grito falhado, carregado de dor e frustração.
— Peça desculpas
— Ok! Me desculpa! — rosnou ele, com os olhos marejados de dor e raiva.
Kimiko relaxou, satisfeita. Estalou os dedos. As facas saíram sozinhas do corpo de Akihiro e, em seguida, suas feridas começaram a emitir um vapor quente e esbranquiçado. Em poucos segundos, estavam completamente cicatrizadas.
— Suas feridas... estão sumindo!
Akihiro se ergueu devagar, ainda ofegante, olhando para as partes rasgadas da roupa.
— Pelo visto, sim... — murmurou, analisando os locais onde havia sido ferido.
Kimiko, então, voltou sua atenção para Hikaru.
— E você, Shimabukuro? Como se sente depois do ataque?
O garoto arregalou os olhos com o susto de ser chamado diretamente.
— Foi... bizarro.
Kimiko sorriu com ternura e sinalizou para ele se sentar ao seu lado. Mesmo hesitante, Hikaru obedeceu. O medo estava claro em seu olhar.
— Pode me contar tudo — disse ela, passando os dedos gentilmente por seu cabelo, tentando acalmá-lo.
— Foi horrível... Mesmo com todos os defeitos, meus amigos não eram pessoas ruins. Longe disso.
— É mesmo? E como eles eram?
— A Hinata, por exemplo... Ela sempre se oferecia pros outros, mas só fazia isso porque... porque era a única forma de esquecer os próprios problemas.
— Luxúria como fuga, hein? E que tipo de problemas ela tinha?
Hikaru apertou com força o tecido da calça, tremendo. Havia tristeza em sua expressão... e medo.
— Eu não posso dizer. Prometi pra ela que não contaria pra ninguém.
— Mas ela está morta, Hikaru. Morta com o estômago aberto, devorada por vampiros...
As lágrimas escorreram de seu rosto igual o seu nariz que começou a escorrer também, mas ele tentou ainda sim dizer alguma coisa.
— Ainda sim... uma promessa é uma promessa... Eu não vou contar.
A dor da perda e o medo se misturaram num estado quase de transe. Kimiko, então, o puxou para um abraço silencioso. Com um sussurro suave, falou:
— Está tudo bem, Hikaru. Eu não vou te forçar a nada. Só estou tentando ajudar.
Ele não hesitou. Se entregou ao abraço e chorou como uma criança. Akihiro, assistindo à cena, ficou paralisado. Ver Kimiko tão acolhedora com Hikaru o incomodou. Ele se lembrava bem do que havia recebido: apenas facadas.
— Está se sentindo melhor?
— Sim... — respondeu, se afastando. — Vou tomar um banho e esfriar a cabeça.
Ele saiu do quarto, e seus passos ecoaram pela casa até sumirem.
— Por que com ele? Por que com o Hikaru você foi doce e carinhosa?
— Flores frágeis precisam de luz para crescer. As velhas e amarguradas apodrecem com o mesmo sol.
— "Amargurado"?
— Exato. Na verdade, você está mais para inseguro.
O garoto soltou um suspiro, sem responder permitindo que sua mestra continue a dizer
— Você quer que as pessoas vejam você como forte, maduro. Mas não passa de alguém que teve o sol tampado pelas próprias nuvens.
— Isso é pra ser poesia ou metáfora?
— Talvez. Mas se você afastasse as nuvens que criou, tudo ficaria mais claro.
— Quer dizer que eu me saboto?
— Excelente dedução. Você força uma personalidade que não é sua... tudo pra esconder quem realmente é.
— E isso não é da sua conta.
— Exatamente. Eu não me importo. Mas me pergunto: por que você é assim?
— Eu... não sei.
— Eu diria que é por causa da morte do seu pai.
As palavras bateram fundo. Akihiro começou a arranhar os próprios dedos. O sangue escorreu lentamente, manchando o tapete.
— Você quer provar pra todos e pra si mesmo que não tem trauma. Mas tudo que fez foi se esconder atrás dessas nuvens, certo?
— ... Sim. Está certa.
Sua mestra se aproximou, segurou seu queixo com delicadeza e o fez encarar seus olhos.
— Eu posso te mostrar a verdade, Akihiro. Posso te ajudar a alcançar seus objetivos. Então me diga... o que você realmente quer?
O meio vampiro revivia os sons das criaturas devorando seu corpo, as mordidas rasgando sua carne. Aquela sensação de ser tratado como lixo, como carne crua em meio a feras.
— Eu quero matar os vampiros que me devoraram.
A vampira sorriu, satisfeita com a resposta.
— Quer vingança contra os que tiraram sua humanidade? Vai ser difícil... mas se é isso que deseja, vou ajudá-lo.
Eles se olharam intensamente, em silêncio. Mas foram interrompidos por Hikaru, que reapareceu na porta.
— Voltei... Kimiko, tem mais algo que queira falar com a gente?
— Não. Só queria saber como estavam. — Ela então olhou para seu subordinado— Mais tarde, conversamos melhor. Mas antes de eu ir, quero que vocês dois conversem sobre seus objetivos.
Ela se levantou, deu um beijo rápido nos lábios de Nishida e saiu do quarto.
— Ela te beijou...? Vocês têm alguma coisa?
— Eu acho que... não.
O garoto arqueou uma sobrancelha, desconfiado, mas não insistiu. Sentou-se na cama e olhou diretamente para Akihiro.
— E então... o que você quer fazer agora?
— Quero matar os vampiros que quase me mataram.
— Espera, você tá brincando, né?
— Por que estaria?
— Akihiro, aquelas coisas mataram todos os meus amigos em segundos. A gente devia avisar a polícia, provar que os vampiros existem.
— Ninguém vai acreditar. Nosso único problema seria se os amigos deles tivessem família que desconfiasse do desaparecimento. Isso sim complicaria.
— Eles eram maiores de idade. Não tinham contato próximo com familiares.
— Ótimo. Menos com o que me preocupar.
Akihiro caminhou até a porta, mas sentiu a mão de Hikaru agarrar seu ombro com força.
— O que você quer dizer com "ótimo"?
— Que não precisamos nos preocupar se a polícia aparecer na sua ou na minha casa.
— Tá falando sério...? Meus amigos morreram, e você tá... pouco se lixando?
— Eles não eram meus amigos. Eu só quero me vingar... e proteger meu irmão.
O olhar de Hikaru se encheu de desprezo.
— Você é um dos caras mais escrotos que eu já conheci.
— E você acha que isso me afeta? Não me importo com o que você pensa de mim.
— Então é isso. Você realmente perdeu a sua humanidade.
Hikaru virou o rosto, desgostoso. Akihiro sentiu as palavras baterem como um soco. Seu maxilar se contraiu. Ele fechou a porta com força ao sair.
Seu coração pesava. A única coisa que dominava seus pensamentos... era vingança.
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