Tsunagari Brasileira

Autor(a): Lich


Volume 1

Capítulo 2: Nishida Akihiro

HIKIKOTSUNAGARI
Nishida Akihiro
— Obrigada... por ser legal comigo. — disse Misaki com sinceridade, seus olhos brilhando sob a luz do sol. A sala estava iluminada em tons alaranjados pela luz da tarde. O garoto apenas revirou os olhos, desinteressado no agradecimento.
— Tanto faz. É o mínimo que eu deveria fazer. — Ele se virou de costas saindo da sala caminhando pelos corredores do colégio. Ainda restavam alguns alunos se preparando para ir embora.
Passando pelo portão principal, o garoto manteve o olhar fixo à frente, ignorando tudo ao seu redor. Ao caminhar pelas ruas já menos iluminadas, ele ouviu uma voz feminina familiar vinda de um beco próximo. Seu pescoço se virou rapidamente em direção ao som, e ele viu uma silhueta baixa se aproximar da luz.
— Quanto tempo, Nishida. — disse uma garota.
Ela não era muito alta, usava botas escuras, calça bege, uma camisa branca e um moletom verde-claro. Sua pele era clara, e o cabelo castanho escuro, não muito comprido, destacava seus olhos avermelhados, que chamavam ainda mais atenção.
— Kimiko? — Akihiro disse, surpreso, sem acreditar no que via.
— Estava com saudades? — Kimiko respondeu com ironia, exibindo um sorriso encantador enquanto dava passos leves em sua direção.
— O que você faz aqui? 
— Nós temos um contrato, lembra? Vou sempre te ver, mesmo que você não perceba. — Ela tirou as mãos dos bolsos do moletom, revelando um par de luvas pretas. Aproximou-se ainda mais, ficando nas pontas dos pés para alcançar o rosto de Akihiro, e encostou as mãos no peito dele.
— Quem era a garota com quem você estava conversando hoje? 
— Ninguém importante, apenas alguém com quem eu quis conversar. 
— Conversando com outra, mesmo sabendo que tem um contrato comigo? Que comportamento feio, Akihiro. Não sabia que você era tão infiel. 
— Você fala como se fôssemos namorados. 
— Ah, você é tão fofo. Não precisa esconder seus sentimentos, só porque não nos falamos há alguns meses... — Kimiko inclinou-se ainda mais e, sem aviso, encostou seus lábios nos de Akihiro. Ela fechou os olhos durante o ato, mas Akihiro permaneceu imóvel, sem reagir.
A garota misteriosa afastou-se lentamente, abrindo os olhos enquanto recuava. — É incrível como você nunca corta o nosso momento. Se eu ficasse assim por horas, você faria algo para me impedir ou me deixaria continuar? 
— Por que uma pergunta dessas? Até parece que você se importa com o que eu sinto por você. — Virando-se Akihiro caminhando para longe sem olhar para trás.
Kimiko colocou as mãos nos bolsos do moletom e começou a segui-lo. — Não seja grosso comigo. Você não parece o mesmo Akihiro Nishida que eu salvei alguns meses atrás. — Ela segurou o antebraço dele
— Por que você não me deixa em paz? É tão difícil entender isso? — O garoto afastou o braço bruscamente, fazendo-a soltar. — Não temos nada. Eu sou apenas o seu servo, e você é minha mestra. Não vou forçar uma relação romântica com você.
Kimiko arregalou os olhos, surpresa com o tom ríspido de Akihiro. Em seguida, seu olhar tornou-se sombrio e raivoso. Ela estendeu o braço, apontando para o ombro dele com o dedo indicador. Uma faca de cozinha afiada surgiu de repente em sua mão.
— Bang. — Murmurou ela, e a faca foi lançada direto no ombro de Akihiro, perfurando-o. Antes que ele pudesse gritar, Kimiko avançou rapidamente e cobriu sua boca com a mão enluvada.
— Não aja como se fosse superior a mim. Você continua sendo apenas um adolescente sem amor-próprio, e só está vivo porque eu te salvei. Entendeu? 
O garoto sentia uma dor intensa, mas logo percebeu que ela diminuía. Sua ferida cicatrizava rapidamente, graças à regeneração vampiresca. Kimiko notou o processo e soltou a boca dele, limpando o sangue da manga do moletom.
— Não se ache, Akihiro Nishida. Você ainda tem sentimentos humanos. — Ela virou-se para o beco e desapareceu na escuridão.
Akihiro ficou parado por alguns instantes, segurando o ombro, sua expressão fechada em pura raiva. — Esquisita... — murmurou ele antes de seguir para casa.
Ao chegar, notou a ausência do irmão e ouviu o som de uma notificação em seu celular. Pegou o aparelho e viu uma mensagem de sua mãe enviada duas horas antes.
— Oi, meu filho. Sei que você ainda está na escola. Não pude passar o Natal e o Ano Novo com você, mas, se tudo der certo, poderei te ver nas minhas férias de abril. Faltam menos de quatro meses. Cuide-se, ok? Aqui nos Estados Unidos as coisas são corridas, mas logo estarei aí. Te amo, meu filho! 
Suspirando, Akihiro guardou o celular, decidindo responder mais tarde. Ele subiu até seu quarto e ouviu barulhos vindos de dentro. Com um impulso de nervosismo, abriu a porta e encontrou seu irmão mais novo, Rem, mexendo em uma caixa. 
— Rem Nishida, por que você está mexendo nas minhas coisas?! — O garoto se aproxima do irmão, arrancando a caixa de suas mãos e fechando-a com força.
— Por que você tem tanto medo de eu mexer nas suas coisas? — questiona Rem Nishida, irmão mais novo de Akihiro. Ele tem apenas quinze anos, pele clara, cabelos cinza e olhos amarelados que brilhavam com curiosidade e teimosia.
— Você já respondeu à pergunta! São minhas coisas! — Akihiro rebate, tentando manter a paciência enquanto encara Rem, que se levanta do chão com um olhar carregado de incompreensão e fúria.
— Você só não quer guardar porque tem coisas do nosso pai, certo?! A mamãe sempre me manda mensagens dizendo que você nunca responde. Nem parece que você liga para ela. Vivemos no conforto aqui, enquanto ela está se matando em outro país! 
Akihiro abaixa a cabeça, cerrando os punhos, fazendo um esforço visível para controlar a raiva.
— Você está usando o colar do nosso pai, não está? Porque ele não está na caixa. 
 O garoto observa atentamente quando Akihiro suspira impacientemente. O mais velho puxa o colar debaixo do uniforme: um pingente de coração totalmente feito de ouro. Rem estende a mão com um olhar desconfiado.
— Me dê o colar. Você nunca superou o nosso pai, não é? 
Akihiro arregala os olhos, surpreso e abalado pela acusação direta. Ele instintivamente aperta o pingente contra o peito e dá alguns passos para trás.
— Está brincando, não é? Nem ferrando que vou entregar o colar.
 Rem solta um suspiro pesado, impaciente com a resistência de Akihiro. Ele avança, segurando o colar com força, tentando arrancá-lo à força.
— Akihiro, me dá a droga do colar! Se não, isso vai acabar pior! 
Akihiro se posiciona defensivamente, segurando o colar para evitar que ele arrebente.
— Me deixa com ele! Ele é muito importante para mim! 
Rem ignora o protesto e continua puxando, sem hesitar.
— Eu mandei você largar! — Akihiro, tomado pela raiva, grita e dá um tapa forte no rosto do irmão.
 O impacto derruba Rem no chão. Ele abre os olhos lentamente, sentindo a face queimar com a dor do golpe. Com a mão no rosto, ele ergue o olhar para Akihiro, que agora respira de forma pesada e irregular.
 Rem se levanta, mas não consegue pronunciar uma única palavra.
— Olha... Me desculpa. — Akihiro diz, a voz agora cheia de arrependimento. — Eu não quero que você tire o colar de mim. Ele... ele é muito importante... 
Antes que Akihiro pudesse terminar a frase, Rem vira as costas e sai do quarto rapidamente, indo para o cômodo ao lado, que é seu quarto.
— Rem... Rem! 
 O garoto chama pelo irmão, mas logo desiste, deixando os braços caírem ao lado do corpo. Ele fecha a porta, desliga a luz e se joga na cama. Dá um suspiro profundo, virando-se de barriga para cima enquanto encara o teto escuro do quarto.
— Sinto sua falta, pai. 
O sol nasceu, seus primeiros raios invadindo o quarto de Akihiro e pousando diretamente em seu rosto. A luz forte o despertou de imediato. Ao notar que ainda vestia o uniforme escolar, decidiu não trocá-lo. "Melhor assim, já estou arrumado", pensou.
Levantando-se da cama, foi direto até a porta do quarto de seu irmão, Rem. Deu três toques leves.
— Rem, você está aí? 
Nenhuma resposta. Sem querer incomodá-lo, Akihiro desceu as escadas até a cozinha, onde encontrou o irmão. Rem estava preparando o próprio café da manhã: algumas torradas e uma xícara de café. Ele parecia um fantasma, com o olhar vazio e sem vida, como se a presença de Akihiro não fizesse diferença.
— Você... dormiu bem, irmãozinho? — perguntou Akihiro, tentando soar amigável, mas seu nervosismo era evidente em sua voz tremula. 
Rem, no entanto, não respondeu. Pegou seu prato e sua xícara e foi até o sofá. Ele comeu uma torrada em silêncio, deixando o ambiente ainda mais tenso. Determinado a resolver a situação, Akihiro aproximou-se e pousou a mão no ombro do irmão.
— Rem, conversa comigo. Eu não queria te machucar... Só não queria devolver o colar. 
O olhar de seu irmão se ergueu lentamente, encarando-o. Não havia nada além de vazio em seus olhos.
— Por que eu deveria te perdoar? 
Akihiro sentiu o coração apertar, mas tentou argumentar:
— Porque... nós somos irmãos. E porque eu não tive a intenção de te machucar. 
— Mas machucou. 
— Eu sei... Mas você precisa entender que... Eu sinto saudades do nosso pai. 
O garoto largou o prato no sofá e se levantou de repente. Sua expressão transformou-se em algo furioso.
— Ele tentou matar a nossa mãe! Quando você vai entender isso? Ou será que você simplesmente não consegue aceitar o que aconteceu? 
Akihiro cerrou os punhos, o sangue fervendo nas veias.
— Ele estava nos defendendo! Nossa mãe queria nos matar! 
— E você acredita nisso? — Rem gritou, cortando-o como uma lâmina. — Ele só disse isso para sobreviver! 
Percebendo que a conversa não avançaria, Akihiro deixou a sala. Arrumou-se para a escola rapidamente: penteou o cabelo, escovou os dentes e calçou os tênis. Antes de sair, olhou para Rem uma última vez, agora com um olhar firme e sério.
— Se continuarmos assim, não podemos ser irmãos. 
Rem nem sequer ergueu os olhos para responder, e isso só aumentou a frustração de Akihiro, que saiu batendo a porta com força.
As aulas daquela manhã passaram como um borrão para Akihiro. No intervalo, decidiu ficar na sala, distraído com seus próprios pensamentos. Foi então que notou Misaki, sua colega de classe, com a cabeça apoiada na mesa, o rosto escondido pelos braços.
— Talvez ela esteja dormindo... ou só queira ficar sozinha — ponderou. Depois de hesitar, decidiu se aproximar. Sentou-se na cadeira à frente dela e tocou levemente em seu ombro.
— Misaki, está tudo bem? 
Ela ergueu o rosto lentamente, os olhos cansados e um semblante desanimado.
— Você acabou de acordar? Akihiro perguntou, forçando um sorriso constrangido.
— Sim... Estou com um pouco de sono. — Sua voz era baixa, quase um sussurro.
— Me desculpe por te acordar. Se quiser, pode voltar a dormir... 
A garota balançou a cabeça, interrompendo-o.
— Não precisa se desculpar. Eu já dormi por dois períodos inteiros. Mas, se pudesse, dormiria ainda mais. 
Akihiro franziu o cenho, preocupado.
— Por que você dormiu tão tarde? Algum motivo específico? 
Misaki hesitou, mas acabou respondendo:
— Minha mãe... Bom, ela é meio... obsessiva comigo. 
Akihiro arregalou os olhos, surpreso.
— Obsessiva? Por quê? 
Ela respirou fundo, engolindo em seco antes de continuar:
— Eu tinha uma irmã. Ela era mais nova, tinha quatro anos na época, e eu, sete. Éramos felizes... ou quase. Nosso pai era o problema. Ele era abusivo, batia na minha mãe, em mim, e na minha irmã. Um dia, ele saiu de casa e levou minha irmã com ele. Desde então, minha mãe vive com medo de me perder também. 
A voz da pobre garota enfraqueceu, mas ela prosseguiu, mesmo visivelmente desgastada:
— Será que minha família era mesmo feliz? Mesmo com os problemas, eu me sentia feliz. É tão difícil ter uma vida normal? 
Akihiro ouviu tudo em silêncio, tentando absorver as palavras.
— Eu seria feliz de novo se minha irmã voltasse? — Misaki murmurou, com lágrimas escorrendo pelo rosto. — Eu só quero ser feliz novamente... 
Sem saber exatamente o que dizer, Akihiro engoliu seco e tentou ser racional:
— Misaki, talvez você não consiga resolver esses problemas, mas pode superá-los. 
Misaki levantou os olhos, surpresa com a resposta.
— Superá-los? 
— Sim. — Ele usou o polegar para enxugar suas lágrimas. — Converse com sua mãe. Quanto à sua irmã... 
Akihiro hesitou, sentindo o peso de suas palavras.
— Talvez ela esteja bem. E, se não estiver... Se ela tiver partido, ela está em um lugar melhor agora. 
Misaki encarou o garoto por um momento, depois sorriu, um sorriso sincero.
— Só de você querer me ajudar, já me deixa feliz. Obrigada, Akihiro. Podemos ser amigos?
Akihiro sorriu, surpreso.
— Claro. Mesmo eu não sendo exatamente o tipo de pessoa amigável. 
— Por quê? As pessoas não gostam de você? 
— Não é isso. Eu sou reservado. Prefiro manter distância. 
Antes que a conversa pudesse continuar, um grito feminino ecoou pelo lado de fora. Akihiro correu até a janela e viu algo assustador: uma garota estava em chamas no pátio da escola.
— O que está acontecendo? 
— Tem uma garota pegando fogo! 
Akihiro saiu correndo, pegou um extintor no corredor e voltou para a sala, onde Misaki olhava pela janela, paralisada.
— Com licença. Akihiro abriu a janela e saltou para o pátio, torcendo o tornozelo na queda. Apesar da dor, ignorou-a, já sabendo que iria se curar em questão de segundos, e correu até a garota. Ligou o extintor e apagou as chamas. Quando a fumaça se dissipou, ele pôde vê-la claramente: uma jovem de pele clara, cabelos longos e ruivos, e olhos verdes que brilhavam em meio ao caos.

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