Tsunagari Brasileira

Autor(a): Lich


Volume 2

Capítulo 10: Fortes pensamentos para pessoas pequenas

BOKUTSUNAGARI

Fortes pensamentos para pessoas pequenas 

Me chamo Akihiro Nishida, tenho uma rotina tranquila desde quando prometi à minha namorada que não mataria mais vampiros. Acordo, vou à escola e sigo assim por bons três meses; nesse período Morgan ficou mais presente em casa e mais próxima de Rem.

— Yo, Akihiro, acorde.

Morgan se arrasta levemente para ficar mais próxima, cutucando sua bochecha com o indicador.

— Uhmmm? Que horas são? — ele esfrega os olhos, sentindo o sol atravessar a cortina.

— São exatamente... — ela pega o celular dele, levanta-o e liga a tela. — São sete horas. O Rem já foi para a aula; você também deveria ir.

Ele sorri, levanta-se e ajeita a blusa de pijama.

— Ei, Morgan, pode sair do quarto, por favor?

— Hm? Tem algum problema?

— Quero trocar de roupa, vestir o uniforme.

— Tem problema se eu ficar aqui?

— Nunca troquei de roupa na frente de outra pessoa; mesmo sendo um casal, tenho vergonha.

Morgan faz um olhar debochado e se ajeita na cama.

— Ah, qual é, já te vi sem roupa. Não é como se eu ficasse te encarando.

— Mesmo assim, a situação é diferente... — ele revira os olhos, derrotado pelos próprios argumentos.

⌈ Não é que não seja verdade... Não tenho costume de trocar na frente da Morgan; nem mesmo na época com meus pais.⌋

Perdido nos pensamentos, ele veste o uniforme sentindo que Morgan o observa por trás dos ombros.

— Você disse que não ia olhar!

Ela volta a atenção, o rosto pálido parcialmente escondido por mechas negras.

— Desculpa, nem estava prestando atenção, pra ser sincera. — ela bufa; ele continua a se vestir.

Calça o sapato e prende parte do cabelo.

— Agora que me toquei: você não toma banho antes de se arrumar pra escola? — o tom irônico o deixa irritado.

— Ei, não é que eu esteja fedendo! Ele vira o rosto e as orelhas esquentam; Morgan tenta segurar o riso.

— Colocou desodorante, pelo menos?

— Claro que sim! Não prestou atenção?

Ela ri alto, se debatendo na cama.

— É brincadeira, relaxa. — levanta-se, pega a capa de couro e a veste. — Pronto?

Ele acena e sai do quarto; ela o segue, cobrindo-se com o capuz. Caminham de mãos dadas pela calçada. Outros estudantes seguem o mesmo trajeto; alguns têm olheiras e cara de cansados; outros se surpreendem ao ver alguém com uma capa grossa num sol de manhã.

— Acho incrível que os japoneses dessa região sempre tenham esse olhar de cansaço... Nem parece o mesmo país onde os alunos tiram notas altíssimas.

— Pra ser sincero, meu colégio é só mediano. Não é uma escola de elite com professores arrogantes e alunos sempre com nota alta...

— Isso quer dizer que sua escola e sua cidade são piores que as outras. — ela ri de leve por baixo da capa.

— Não exagera, não é tão ruim assim.

— Onde eu quero ir fica em uma das melhores regiões do Japão segundo a Kimiko 

— Oque quer dizer? Você vai viajar?

— Não exatamente... Quero voltar à minha cidade natal em Aokigahara ver se os vampiros de lá ainda existem.

— A floresta de Aokigahara não fica do outro lado do Japão? É longe..

— Espere, você falou com a Kimiko? —

— Sim, perguntei se ainda existe vampiros da linhagem de onde nasci; ela disse que sim.

⌈Me pergunto se a Kimiko está falando a verdade... Não converso com ela desde que ela me ajudou na sala de aula; não sei se ainda é confiável.⌋

A lembrança dos momentos com Kimiko pesa no peito.

⌈Lembro dela dizendo que iria me ajudar a matar vampiros... Mas não dou tanta importância a isso.⌋

— Acabei de notar que você está com o cabelo amarrado; achei bonito.

— Sério? Acho que preciso cortar.

— Deveria amarrar mais vezes, fica bem mais bonito.

Ele acena, perdido nos pensamentos.

⌈Não sei se a conversa da Morgan é tão boa... Ela demoraria quase um ano pra voltar, se voltar.⌋

— Akihiro?

⌈Talvez... Nunca mais a veja; talvez os vampiros já estejam mortos...⌋

— Akihiro, você está bem?

⌈Lembro da Kimiko falando do massacre dos vampiros nos últimos séculos... Não quero perdê-la...⌋

— ah, desculpa, viajei um pouco. — ele volta.

— Você está bem? Tem pensado demais esses dias.

Ele suspira ao notar que chegaram ao colégio.

— Estou. Talvez eu só precise ocupar a mente com outra coisa...

— Tem certeza?

— Tenho. — ele olha para o portão, e depois para a namorada. — Bom, eu preciso ir. Se quiser, passa na minha casa depois.

Abraça-a com calor, consciente de protegê-la do sol

— Você realmente evita que eu fique em contato com o sol.

— Não quero que você se queime. — ela sorri por baixo da capa. — Eu te amo, Akihiro.

— Eu também te amo. — ele puxa o capuz com cuidado, confirma que ela está protegida e a beija rápido e doce.

— Vou indo.

— Boa aula. — ela sorri e ri baixinho.

Ele entra na escola, caminha até a sala e senta-se, suspirando.

— Me sinto tão cansado... — diz em voz alta.

⌈Talvez seja por causa das provas finais; estou estudando muito, mas parece que algo suga minha energia...⌋

O sinar toca; ele afunda o rosto na mesa, não dorme, mas tenta acompanhar a aula. Quando o intervalo chega, pega na bolsa uma vasilha com arroz, peixe e legumes e vai ao pátio. Senta-se em um banco e observa grupos de alunos conversando.

⌈Não entendi por que a Morgan cozinhou isso pra eu levar... Espero que ela saiba temperar direito.⌋

Abre a tampa com o hashi em mãos; o vapor sobe e o cheiro agrada. Leva arroz à boca; a comida desmancha, saborosa.

— Morgan... isso está perfeito. — murmura enquanto come, até ser interrompido por alguém conhecido, sua presença claramente incomoda o garoto.

— Nishida, quero conversar com você.

Ele olha; a sombra dificulta ver por causa da sombra do sol, mas ele nota que é seu colega Hikaru 

— Ah, só você, Hikaru...

⌈Faz tempo que conversamos; ele me passa uma sensação estranha... desconforto, talvez?⌋

— Podemos conversar? Não vou demorar.

Akihiro dá espaço no banco para ele sentar.

— Lembra da nossa última conversa?

— Como assim? Claro que  não lembro.

— Imaginei... — Hikaru suspira e se ajeita, desviando o olhar para os outros estudantes. — Falamos sobre você querer matar vampiros; eu não te apoiei naquela época.

— Lembro, mass não penso mais assim.

Hikaru o encara, arregalado.

— Como assim? Achei que você estava focado nisso!

— Eu também pensei, mas minha cabeça e meus objetivos mudaram.

Hikaru senente uma pontada no peito ao ouvir.

— Você acha que eu sou idiota? 

— Claro que não, eu apenas... mudei.

— Eu lutei pra não deixar a raiva me consumir. Tentei me controlar, sabe? Mas quando eu decido agir, você muda de ideia! — seu tom de voz se torna mais agressivo e alto, fazendo Akihiro se manter em modo defensivo, mas logo se ajeita.

— Aonde quer chegar? — Akihiro se mantém firme.

— Eu quero matar os vampiros! — com a voz alterada, ele parece mais instável; Akihiro tenta não se abater pela falta de paciência e noção do garoto.

— Ok. Por que você mudou de ideia?

— Isso me atormenta. Fiquei muito mal por perder meus únicos amigos... — os olhos dele embaçam com a lembrança. — Eles nunca foram legais comigo, mas eu não queria perdê-los.

— Eu entendo...

— Não! Você não entende! — Hikaru levanta a voz; alguns olhares se voltam para eles. Ele se encolhe, como se quisesse desaparecer.

⌈É mentira dizer que eu entendo... Ele é bem diferente de mim. Me surpreende que se importe com gente que nem gostava tanto dele; é meio vazio, apesar da idade.⌋

— Qual será seu discurso agora? Vai dizer que somos iguais? Mesmo que teoricamente faça sentido?

— Não diria isso

— Ainda bem que não. Estou decepcionado com você.

— Não aja como se fôssemos algo especial. Somos duas pessoas cujas vidas se cruzaram por um incidente horrível.

Hikaru ri com sorriso forçado, olheiras marcando o rosto.

— Sabe a verdade, Nishida? Nos últimos três meses a Kimiko tem me ajudado. Conversou comigo; no fim, ela quis me ajudar a matar vampiros.

A pontada no peito de Akihiro cresce, sua voz trava soltando apenas um gaguejo leve e insignificante.

— Fica bravo com ela, ela apenas tentou ajudar.

— Tentou ajudar? — Hikaru acena. — Ela me contou bastante. Pelo visto, você já está convencido a não matar vampiros.

A cada palavra, Akihiro sente um choque no coração; o rosto fica gelado.

— Ah, qual é, não precisa ficar assim... 

 Hikaru aproxima-se e observa o rosto frio de Akihiro, enquanto o mesmo apenas encara a vasilha com o resto da comida que sobrou.

 — A Kimiko me passou a localização exata do próximo vampiro vivo. Me deu a descrição e como matá-lo... não é uma missão e tanto, Akihiro?

— Cala a boca... 

 Akihiro o agarra pela mandíbula e o afasta no banco; sua mão gelada apertando seu rosto faz o garoto soar frio.

— Não tente me manipular com esses golpes que a Kimiko domina. Você parece cada vez mais patético.

Akihiro levanta-se, larga-o no banco e o encara.

— Talvez eu tenha me assustado com suas descobertas sobre a Kimiko. Mesmo se tentar fazer esses joguinhos, você não passa de um garoto chorão que quer vingança por uns amigos escrotos.

Hikaru apenas se mantém sentado em choque por tudo que acabou de acontecer, enquanto Akihiro tampa a vasilha e volta para a sala, deitando a cabeça para tentar esquecer a conversa. O intervalo termina e o dia passa entre aulas; o sono de Akihiro só termina com a sirene que anuncia a saída.

⌈Estou cansado... perdi o resto do dia.⌋

Recolhe as coisas e sai pelo portão; vê Morgan esperando por baixo da capa.

— Oi, querido. Você parece cansado; aconteceu algo?

— Só estou cansado. Quando chegar em casa vou dormir.

— Ok. Gostou da comida que fiz?

— Sim, adorei. — ela aperta a mão dele com mais força.

Na rua oposta, Hikaru caminha com um lugar em mente, o olhar vazio; lembra de uma conversa com Kimiko.

— Toma, usa quando precisar. — ela entregou uma faca no quarto dele, parecia uma faca comum de cozinha.

— Pra que isso? Já tenho facas em casa.

— Não é uma faca comum: eu a criei. Ela impede a regeneração dos vampiros.

— Como isso possa fazer sentido?

— Se você chegar vivo até lá, eu explico melhor.

— Quando eu estiver vivo? Eu vou morrer então?

— Não faço ideia... depende das suas ações. — ela sorri docemente.

— Então você está me dando uma arma que pode matar qualquer vampiro? — Hikaru sorri junto com Kimiko.

— Sim.

Ele sorri ainda mais, olhando o reflexo na lâmina.

— Faça bom uso, Hikaru. Esse é o caminho que escolheu.

O garoto acena, pegando todos os conhecimentos que Kimiko o passou para descontar seu ódio em um vampiro usando apenas um único objeto.

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