Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 67: Quando A Dor Não Cabe No Peito, Transborda

Quando toda a cena acaba, somos todos enviados para nossos dormitórios. Os "adultos" estão cuidando de tudo. É basicamente o que estão nos dizendo.

Estamos todos arrasados. Vimos coisas horríveis e simplesmente estamos sem saber o que fazer agora. Sabemos as baixas, muitas pessoas morreram, amigos que faziam parte da gente. 

Sei que Amor se sacrificou para salvar o seu grupo. Sophia agora, pelo visto, é a que tem de cuidar das outras meninas. Ela é a mais forte. Era a mais forte antes de Amor. 

Ash está triste por ter perdido seu amigo, Clio. Vida é quem tem de consolar ele. Ela e Bia estão juntas com o loiro, dizendo palavras de conforto. 

Engraçado, eu sei que Vida está sofrendo muito com todas as mortes. Ela encara cada perda como se fosse a perca de um familiar. Sei disso, pois consigo ver dentro dela, a sua energia. E ela está arrasada. Porém se mantém forte para Ash. Para nós.

Solares não está feliz também, porém parece sofrer por parcela. Eu sou do tipo que gosta de sofrer logo. Acho que ela ainda vai demorar para cair a ficha de que sua amiga morreu. Ou então vai para algum lugar isolado, ficar triste lá.

Mesmo assim a Chefe não para. Vai de um lado a outro querendo saber sobre as pessoas, se estão bem, se estão mal. Se estão precisando de alguma coisa. Tento fazer o mesmo, mas estou começando a ficar cansado, mesmo que meu cansaço vá embora com uma simples drenagem de energia. 

E no canto, mais afastado de todos, tem o Ermo. Ele ganhou uma medalha e agora está conseguindo pessoas para admirar ele. Sem dúvida o que ele fez foi admirável, porém tenho certeza que se pudesse teria deixado todos nós morrermos.

Ao menos ele está feliz, diferente de todos os outros. Ele e seus amigos idiotas estão muito bem.

Um dia se passa e eu e Solares somos chamados para aquela sala de reunião. O chamado parece ser algo sério. Assim que chegamos, nos assustamos. Ao menos eu me assusto. A Comandante Negra está na minha frente, altiva e séria, como sempre. Acho que ela vai querer conversar com a gente, uma conversa séria.

— As baixas foram: Amor, Clio, Precioso, Maravilhoso e Leona — diz ela com simplicidade. — Essas baixas conferem com as suas?

— Sim senhora — responde Solares.

— O horário, a causa e os feridos também estão corretos? 

— Sim, senhora. 

— Os damos na instalação, juntamente com seus prejuízos também estão certos com base na sua avaliação?

Essa Solares demora para responder. 

— Não fiz o cálculo disso — diz ela, parecendo nervosa. 

— E com relação ao infiltrado em nossa instalação, o conhecimento de que ele estava sendo usado por um grupo terrorista sob ameaça de sua família é de seu conhecimento?

— Eu… Eu soube disso recente, senhora. 

Solares olha para mim e eu automaticamente vejo que está na minha hora de falar. 

— Desculpe interromper, Comandante, mas eu tenho informações a respeito do infiltrado. Seu nome era Tomas, ele disse que conhecia meu pai. Acreditei nele e acabei fazendo algumas coisas para ele.

— Sabemos disso — diz Negra sem nenhuma alteração em sua voz. — Conseguimos captar as mensagens criptografadas em seu computador pessoal. Lá haviam informações suas, de como se aproximar de você.

Eu dou um passo para trás. Não sei se entendi. 

— Como… Como assim? — pergunto. — Ele não era do Distrito 2 e conhecia meu pai? 

— Não. Tomas era do Distrito 1 junto com a sua falecida família. 

— Falecida família? Então mataram eles? 

Agora ela me olha de um jeito diferente. Finalmente saiu da posição séria. Está mais atenta. 

— Eliminaram a família de Tomas a 3 meses atrás, recruta. Fizemos uma investigação e coletamos essas evidências logo ontem. Não sabíamos sobre a morte da família de Tomas, pois ele nos garantia que entrava em contato com ela regularmente…

A Comandante mostra a cena em uma tela holográfica. Aparecem fotos de uma mulher e uma criança. Os dois estão lado a lado, sentados em uma cadeira, amarrados. Eles não tem mais rostos. Estão com a cabeça baixa, um buraco enorme que começa no peito e desce até a virilha. Os órgãos estão todos no chão de madeira, pintado de sangue.

Demora um pouco para entender. Eu tenho de analisar mais de uma vez. Sim, é uma foto da cena de um crime. Mas que crime? A Comandante acabou de falar sobre a família do Tomas… Ela morreu… Morreram assim?

Impossível. Penso que é impossível que isso tenha acontecido. E pelo visto isso aconteceu a mais de três meses, porém só encontraram seus corpos agora. Sim, acho que é isso que a Comandante quis dizer. Mas não acredito nela de inicio.

Sei que não estou imaginando coisas quando Solares dá um gemido e tampa a boca, disfarçando o choro. Só quando ela faz isso eu entendo. Essa é a mulher do Tomas e do lado dela o seu filho, caçula. Essa é a mulher do Tomas… E do lado dela…

Perto a sensação das minhas pernas por um instante, como se estivesse flutuando. Uma sensação que era para ser boa, mas só me faz sentir em perigo. Respiro fundo e parece que tem alguma coisa dificultando a passagem de ar, pois tenho de me esforçar para conseguir respirar.

Balanço a cabeça positivamente, aceitando a realidade. Sim, essa é a realidade. O mundo é assim. É para isso que nós trabalhamos, para enfrentar esse tipo de barbaridade. Dou um passo para trás.

Sei que estão me encarando, mas não posso olhar para eles diretamente agora. Sei que se eu olhar para eles, não vou aguentar. Passo a mão no rosto e engulo minha saliva. Me sinto um pouco melhor, mais dormente.

— Kaike… — diz Solares, se aproximando de mim. Não aguento a tentação e acabo olhando para ela. Seus olhos vermelhos marejados, nesse momento. — Você está pálido.

Pisco. E só por mais um segundo eu olho para a tela. Esse segundo é o suficiente para me assustar como eu nunca me assustei antes. Sangue, orgãos, brutalidade e violência. Uma barbaridade.

Começo a ofegar, a balançar a cabeça de um lado para o outro tentando me acalmar. Começo a andar para trás, em direção a saída. Não ouço nada inteligível, mas sei que estão me chamando. Pouco importa agora, só quero sair daqui.

Caminho rápido para longe, virando de corredor em corredor, procurando algum canto vazio. Está tudo vazio. Só quero me manter o mais longe possível. Começo a pensar na cena que vi, ela não sai da minha cabeça.

Meu peito doi tanto que sinto vontade de arrancar ele. Dou um soco poderoso na parede, fazendo alguns cabos de eletricidade saltarem para fora. Eu dreno o máximo que posso, porém isso não me ajuda em nada. Só piora a situação, pois começo a pensar mais rápido.

O grupo terrorista estava usando Tomas contra mim. Estavam usando ele e sua família contra mim. E no fim nem deixaram sua família viva. São podres. E isso me perturba demais. 

Libero toda a energia que posso ao corredor. Estou enfurecido, porém pertubado. Quando já não resta mais nada dentro de mim, caio de joelhos no chão e vômito, ofegante. Estou suando igual um animal de fazenda.

Chega uma hora que eu só não consigo aguentar mais a dor que sinto e deixo as lágrimas escaparem. Mordo meu braço para que ninguém me ouça. Me mordo tão forte que sinto o gosto ferroso na minha boca.

Mas não consigo ficar assim para sempre. Deixo meu braço cair, meu corpo relaxar. Tombo deitado, encostado em uma parede. E, no chão branco da instalação, sofro até não conseguir aguentar.

E quando já não tenho mais energia nenhuma, simplesmente deixo o cansaço vencer. O mundo escurece e eu vou para um lugar onde a realidade não pode me fazer mal. 

— Kaike? Kaike! Kaike! Acorda! Kaike!

Mas parece que a realidade não quer me deixar descansar.

 


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