Volume 1
Capítulo 68: Um Homem Só Precisa De Tainha, Vinho e MUITO SEXO (I)
Se passaram dias desde a morte daquelas pessoas. Pode-se dizer que foram poucas baixas. Mas eles perderam mais um além daqueles, perderam a mim.
Estou a dias apenas vivendo no automático, como um robô imundo. Remi já tentou falar comigo, porém o ignorei tanto que ele simplesmente desistiu e agora só fica em silêncio em meu pulso.
Nada nesse mundo consegue levantar meu astral novamente, pelo menos não depois daquelas imagens que vi: A família de Tomas brutalmente assassinada.
Queria tanto gritar, mas já gritei tanto que já não existe nada em mim. Dreno energia e não parece que estou bem. Sofro e apenas sofro.
Seria mais fácil para mim bancar o frio e calculista, mas não sou assim. Não é todo dia que você tem de lidar com a morte, principalmente a morte barbara de alguém.
Fui enganado, sim, eu fui, mas não é isso que me entristece. Pelo visto o grupo terrorista que Tomas tinha contato sabia de muita coisa, coisas sobre a minha família.
Tudo bem, não seria difícil conseguir informações. Meu pai era conhecido. Mas mesmo assim, o jeito que Tomas fingiu conhecer meu pai… Isso simplesmente acaba comigo.
Do dormitório, vou ate o almoxarifado e passo os dias lá. Quando tentam falar comigo ou me visitar eu simplesmente saio de cena. Consigo sentir suas energias se aproximando de longe. Ao menos assim eu consigo um pouco de paz.
O problema da solidão é que quanto mais sozinho você fica, mais você vai se acostumando e se viciando nisso. O que significa que é como uma droga que te deixa mal toda vez que você usa. É bom, mas é ruim. Me distancia do real problema.
Não tenho de fazer nenhuma tarefa atualmente. Decidiram dar folga aos recrutas depois do que aconteceu. Nada de treinamentos, nada de tarefas. Estão todos de folga. Quem trabalha agora são apenas os soldados já formados.
Hoje acontece um pronunciamento que é espalhados nos auto-falantes espalhados pela instalação.
— Todos, se reúnam no pátio. Todos, se reúnam no pátio. Haverá uma celebração. Repetindo, haverá uma celebração.
Celebração? Celebração do quê? Vai exaltar o quão fracassado fomos em não conseguir proteger as pessoas que morreram?
Para a minha surpresa, conforme o tempo passa, as pessoas de fato vão até esse tal pátio. E eu fico sozinho, mais uma vez. Todos foram, o que significa que tenho o dormitório inteiro só para mim.
Volto para meu canto, o meu acolchoado beliche. Sento-me aqui e abraço meus joelhos, pensando na merda que aconteceu nos últimos dias.
Conforme as horas passam, ouço as pessoas de longe, muito longe, conversando animadamente. Sinto um fluxo de energia vinda dali. Estão animadas, sinto isso.
Que bom que estão se sentindo bem. Mas isso me irrita. Como podem estar felizes em uma hora dessas? Quem foi que autorizou algo assim?
Então alguém entra no dormitório. Droga, eu queria ficar sozinho. Vou ter que compartilhar esse lugar enorme com outra pessoa. Tomara que ela não chegue perto de mim.
Minhas esperanças se vão assim que eu noto que a pessoa está vindo em minha direção. Me mantenho fechado igual uma criança que acabou de fazer uma birra enorme.
A pessoa para do meu lado e então sinto a sua energia. É Solares. E isso me deixa mais relaxado, por algum motivo. Sua energia é quente e reconfortante, às vezes. Outras vezes pode machucar.
— Você não vai? — ela pergunta. — A Comandante Negra irá fazer um discurso importante. É importante que todos estejam presentes.
— Não sei se quero comemorar a morte das pessoas, Sol…
Ela pela na minha mão e me puxa em sua direção. Eu tenho de me segurar no beliche para não cair. Olho para ela. Seus olhos vermelhos. Está determinada.
— Não é comemorar a morte de ninguém. Acha que a Classe S se alegra com a morte dos outros, Kaike? Vamos lá para comemorar o seu sacrifício. O que a morte dessas pessoas representam. Elas não morreram em vão. A menos eu penso que não. Eles morreram honrosamente!
Fico sem palavras por um momento. Mas então a razão me volta. Ela tem razão. Hoje é dia de comemorar o que a morte dessas pessoas significa. Significa que… Significa o quê? Significa que morreram igual todo mundo morre. Mas… Morreram tentando ajudar alguém.
Leona e Amor morreram se sacrificando. Tomas morreu e fez tudo que queria que fizesse na esperança de salvar sua família. Não sei quanto a Clio, nem quanto a Preciso e Maravilhoso, mas não quero acreditar que morreram em vão.
Meu pai morreu ajudando as pessoas. E não houve comemoração nenhuma por isso. Ninguém achou bonito. Eu não achei bonito. Mas sinceramente, encaro como a atitude mais linda que possa existir.
Desço do beliche, ainda segurando a mão de Solares.
— Então… Sol. O que tem para comer lá?
Ela sorri brevemente. Depois me encara de um jeito gostoso, como se ela quisesse… Ah! Enfim, melhor deixar isso quieto por enquanto.
Ela me leva, segurando minha mão, em direção ao pátio. Mas solta assim que um soldado passa por nós. É, ela não quer que pensem que a gente tem alguma coisa andando de mãos dadas por aí.
Assim que chegamos, tenho uma surpresa: O tal pátio é extremamente grande e espaçoso. É uma enorme, enorme sala. Tem um jardim no meio dele com alguns bancos de praça em volta.
Ao redor do jardim tem uma praça e ao redor da praça tem alguns quiosques onde você pode pegar comida de graça, só tendo de enfrentar uma fila. E ao redor dos quiosques tem ainda mais espaço, caminhos que vão e vêm, passam por árvores, pedras de formato engraçado, estátuas e outras coisas.
Não sei como nunca ouvi falar desse lugar na minha vida. Não sei como nunca vim nesse lugar. Existem tantos lugares para ir aqui que estou perdido.
De qualquer forma, eu e Solares chegamos no centro, onde vai acontecer o discurso da Comandante Negra. Ela está só um pouquinho mais elevada, em um pequeno palco improvisado.
Os recrutas e soldados estão em volta, a observando. Ela tem de andar de um lado a outro para poder falar e se expressar. Negra anda de um lado a outro com as mãos para trás, mantendo fixo o seu olhar sobre o público.
— Essa semana turbulenta foi uma semana de baixas — ela começa a dizer. — E todos nós sofremos com essas baixas de um jeito ou de outros, pois eram pessoas. Mas seus nomes não serão esquecidos. Graças a essas pessoas, nós poderemos construir um futuro melhor. Um futuro que…
E enquanto Negra continua falando sobre futuro, sobre o quão corajosos foram os que se sacrificaram por nós, Vida e Ash se aproximam atrás de mim. Eu me surpreendo em ve-los aqui, de mãos dadas ainda por cima.
Meu sorriso de safado transparece em meu rosto assim que vejo a cena. Nenhum deles parece notar o que estou pensando.
— Kaike! Que bom que você veio — diz Ash. — A gente pensou que você nunca viria aqui… Por conta daquele seu… Ah! Você sabe, daquele jeito…
— Daquele jeito merda? — pergunto. — Eu também achei. Mas a Sol veio falar comigo e disse para tomar vergonha na cara.
— Não disse nada disso! — fala ela, meio pertubada. — É mentira dele.
Todos dão risadas. E continuamos a conversa, com Solares inclusa em nosso grupo.
— Estou sentindo falta da Bia, onde ela está? — pergunto.
— Ela está de luto — fala Vida. — É uma coisa diferente. No Distrito 3, quando uma pessoa morre, eles fazem um ritual em específico. Ela não me deu muitos detalhes, só disse que tinha de ficar longe por um tempo. E a propósito, vocês sabiam que o capitão também é do Distrito 3? Ele também está fazendo esse ritual, por isso não veio.
— Eu sabia — diz Sol. — Mas espero que eles fiquem bem emocionalmente…
Alguém me dá um abraço por trás com tanta intensidade que quase caio no chão. Quando me viro, vejo que é Sophia, a menina bronzeada, loura e com curvas perfeitas.
Que droga, Kaike! Para de pensar no corpo dela. Você tem que ver ela pela personalidade. Ela é forte. É isso… Ela tem peitos e… Que porra é que eu tô pensando? Se controla.
Me viro e dou um abraço nela. Sua cabeça no meu peito. Ela está feliz. Sei disso, pois sinto a sua energia.
— Oi, Sophia — digo animado. — Tudo bem com você? Faz tempo que não te vejo.
Ela não me responde na mesma intensidade. Na verdade, só sussurra para mim:
— Kaike, eu quero falar contigo. — Ela fala ainda mais baixo: — A sós.
Minhas sobrancelhas saltam e meu rosto empalidece. Isso é problemático. Não sei se vou conseguir ficar sozinho com essa garota sem roubar ao menos um beijo na bochecha. E pelo que estou sentindo de sua energia, ela vai querer mais do que um beijo na bochecha.
— Aaaaaaaahm…. — Fico sem palavras. Olho para meus amigos. Eles não ouviram o que ela disse, pois só eu pude escutar sua voz abafada em meu peito. — Gente, eu vou ter que sair aqui, rapidinho, tá? Volto já.
E vou levando Sophia para algum lugar mais tranquilo, além da praça. Por algum motivo, Solares me olhou com um tipo de raiva diferente. Por algum motivo isso me dá vontade de dar uma risada.
Enquanto procuro algum lugar onde ela se sinta confortável, vou tentando puxar assunto. Mas ela continua em silêncio e só me responde com sim ou não. Está concentrada em me abraçar.
É, parece que ela não vai me deixar escapar dessa vez. Mas eu tenho de ser forte e dizer que aqui não é momento para isso. Principalmente quando estamos em uma celebração da morte de pessoas queridas. Isso seria, de certa forma, até desrespeitoso.
Quando já estamos distantes, atrás de uma árvore, ela se sente confortável, respiro fundo e abro a boca para falar tudo que venho pensando. Mas ela me cala com um beijo. Um bom beijo, diga-se de passagem. Intenso, forte e até meio desesperado.
Isso não é bom. Não sei como vou me controlar desse jeito.
Ela me empurra contra o tronco de árvore e fica ainda mais intensa em seu beijo. E quanto mais beijo ela, mas sinto vontade de continuar.
A coisa fica séria quando ela pega a minha mão e posiciona em seu seio. Eu sei o que ela quer que eu faça. E isso me deixa enfurecido.
— Ah, vem cá! — digo, pegando ela pelos braços e mudando de posição. Agora é ela quem está de costas na árvore.
E a partir daqui as coisas começam a sair do meu controle.