Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 64: Não Dá Para Ganhar Todas (III)

— ERMO —

 

Ermo estava com medo enquanto corria para salvar a sua vida. Aquelas criaturas que lhe perseguiam eram terríveis e assustadoras, logo, o medo era justificável. Só talvez não fosse justificável o fato do rapaz do Distrito 5, que vivia terrores piores e mais realistas, se mijar inteiro. Para chegar a esse ponto, de fato seu medo deveria ser terrível.

Com as calças ensopadas e com lágrimas nos olhos, pois não conseguia aguentar a visão dos soldados mortos no chão com seus órgãos para fora, Ermo correu sem parar, sem nenhuma direção. Sua sorte estava começando a se agitar. Ao menos ele pensava que já não tinha sorte alguma naquele momento. Mas mal sabia ele que a sua sorte voltaria a brilhar o quanto antes.

Foi quando virou um corredor e viu os gêmeos, Precioso e Maravilhoso, juntos, lutando contra as criaturas. Os gêmeos estavam sozinhos, lutando bravamente para defender a vida um do outro. Estavam cobertos de sangue e também pareciam cansados. Ainda assim, continuaram lutando como se nada pudesse lhes impedir de batalhar por sua vida.

— Vocês! — gritou Ermo enquanto se aproximava correndo, fugindo das criaturas que o perseguiam.

Os gêmeos se viraram em sua direção. 

— Você? — falaram ao mesmo tempo.

Quando eles viram o número de criaturas que perseguia Ermo, empalideceram e depois começaram a se posicionar para correr. Mesmo assim, eles esperaram que o rapaz do Distrito 5 se aproximasse deles o suficiente para que pudessem dar cobertura. E assim que Ermo se juntou ao grupo, eles correram.

Precioso corria com uma arma na mão, logo atrás de Ermo. Enquanto Maravilhoso ia na frente, limpando o caminho. 

— O-onde conseguiram essas armas? — perguntou Ermo, enquanto acompanhava o grupo, correndo.

— Dos soldados que morreram — respondeu Precioso, dando um tiro para trás e acertando uma criatura, a fazendo cair no chão, morta.

— V-vocês sabem onde tem um lugar seguro? 

— Estamos tentando achar — falou Maravilhoso, que virava corredor atrás de corredor, procurando por alguma pista de onde poderiam se encontrar os outros recrutas. — Estamos procurando um local seguro a horas, mas ainda não achamos nada. Onde você estava?

— N-na sala de computadores.

— Você viu o Clio? — perguntou Precioso.

— Ah! Sim — exclamou Maravilhoso. — O Clio era de lá. Você viu ele?

Foi enquanto que Ermo se ligou que talvez Clio não tivesse sobrevivido. Ou possivelmente estava, o que seria muito ruim para ele também. Se descobrissem que ele trancou o rapaz lá dentro, talvez isso fosse bom para ele, pois foi o responsável pela vida e segurança de uma pessoa. Mas, no entanto, existia a possibilidade de não ser o caso. Talvez Clio estivesse morto, e se estivesse, pois de fato estava, Ermo seria responsabilizado.

Contar aquela informação para os gêmeos não fora boa ideia. E por conta disso, o rapaz fez um novo plano em sua mente.

— Depois a gente conversa! Tem como vocês me darem uma arma? Para a minha segurança?

 — Só se você vier para trás enquanto eu vou para o meio — disse Precioso, ironicamente.

— Tá! Pode ser.

Ele pegou na arma de Precioso, porém o rapaz não quis dar a arma de imediato. Continuou segurando ela com força e encarando as calças molhadas de Ermo.

— Você mijou nas calças? — riu. — Cara! Você mijou nas calças e quer uma arma? Vai proteger a gente como se não tivesse muita coragem?

Sua risada era incrivelmente irritante para Ermo. Era o rapaz que gostava de fazer piadas sobre os outros, sobre a aparência das outras pessoas. Porém não tolerava quando faziam com ele. Ermo deu um soco no rosto de Precioso, depois conseguiu pegar sua arma. Maravilhoso, que estava na frente se virou bruscamente, soltando um: 

— Ei! O que você está fazendo!

No momento seguinte, Ermo lhe deu um tiro na perna que o fez cair no chão, gemendo de dor. Ermo foi até ele e pegou a sua arma também.

— Boa sorte, otários! — disse Ermo, que saiu correndo logo em seguida, agora com duas armas.

Precioso se aproximou de seu irmão e tentou ajudá-lo a levantar, porém as criaturas que lhe perseguiam eram mais rápidas e conseguiram alcançar os que foram deixados para trás. Eles estraçalharam os gêmeos. 

Isso deu mais tempo para Ermo, dando espaço para que ele pudesse pegar uma distância considerável daquelas criaturas. Foi quando virou um outro corredor que Ermo achou a sua sorte.

 

ϟ KAIKE ϟ

 

Estou perto de Solares. Não sei bem como falar com ela agora, já que literalmente lhe impedi de tentar se matar para salvar a amiga dela, a pessoa que se matou para nos salvar. É meio cômico e trágico parar para pensar nesse clichê.

De qualquer forma, por mais que eu valorize o sacrifício de Leona por nós, não sei como confortar Solares nesse momento. 

Sinceramente, estou com um pouco de raiva dela agora. Enquanto estão todos batalhando para conseguir se manter vivos, ela está aqui, chateada por ter perdido uma amiga.

Então como chegar nela e dizer para se manter firme e forte? Não seria hipocrisia da minha parte fazer isso já que se eu perdesse uma pessoa querida é bem provável que eu ficaria assim também?

Acho que o melhor a se fazer agora é deixar ela em paz e tentar elaborar um plano com os outros. 

Saio de perto dela e vou ver como meus amigos estão. Vida está ocupada cuidando dos feridos. Bia a auxilia. Eu tenho de usar meu desfibrilador em alguns para que eles se recuperem.

Depois de falar com Vida, vou até Ash. Ele está empenhado em analisar todas as rotas de fuga com algumas pessoas. Pelo incrível que pareça, ele se mantém relativamente calmo em uma situação assim. 

Na verdade, quando chego perto dele a primeira coisa que me diz é o número de pessoas que estão faltando ali dentro e o número de pessoas que está conosco.

Há baixas. Clio, os gêmeos Precioso e Maravilhoso, Ermo, Leona e Amor. Até agora só se sabe que morreu realmente Amor e Leona. Os outros só estão desaparecidos. 

Quando descobri que Amor morreu, fico devastado. Tenho de me sentar em um canto e ficar pensando ali por um tempo.

Vejo ao longe o grupo de amigas dela. Elas me contaram que tinham ido para o Porão quando aquilo aconteceu.

Então ela estava me escondendo. Ela ia mostrar para suas amigas o Porão… Está explicado o seu comportamento suspeito.

Sophia chora muito junto de suas outras companheiras. Pelo visto ela teve de salvar a maioria delas, já que, segundo elas, foi a única que queria voltar para casa.

Me encosto em um canto e fico ali, pensativo. Amor morreu, Leona também. Os amigos de Ermo estão conosco, cooperando. Mas ele próprio não está. Já os gêmeos e Clio não fazem ideia do que pode ter acontecido. 

Não eram de ficar em grupos. Sempre que os gêmeos estavam presentes, acontecia uma pequena confusão. Eles gostavam de causar. Que merda. Se eu tivesse incentivado eles a ficar perto de nós, talvez isso não tivesse acontecido.

Mas chega de lamentação. Está na hora de agir. Temos de procurar uma saída e elaborar um plano, antes que seja tarde demais.

Quando me levanto, vou até o meio do dormitório e chamo a atenção de todos. Eles me encaram e se silenciam, esperando por algo. 

Vejo eles com meus olhos especiais, vendo o tipo de energia que flui nos corpos de cada um deles. Estão com medo. Medo. Bom, acho que meu pai já me falou algo relacionado a medo antes. 

Hora de brilhar, pai.

—Acho que alguns de vocês estão muito assustados com o que pode acontecer daqui para frente. Mas garanto a todos que se seguirem nosso plano, nada de ruim vai acontecer. Não precisam ficar com vergonha do medo que talvez alguns de vocês estejam sentindo. O medo é algo que faz parte da vida. Mas são vocês que decidem o quanto ele vai aparecer. É impossível não fracassar em algumas coisas. Não dá para ganhar todas. Mas vamos continuar tentando e nunca vamos desistir.

Vejo novamente a energia deles. Estão começando a se motivar novamente. Isso é muito bom. As palavras do meu pai sempre funcionando.

— Peguem as suas armas e se preparem. Vamos lutar contra essas coisas e vencer. Não se preocupem, nada de ruim vai acontecer com vocês enquanto eu estiver aqui.

De repente, para contrariar a mim, alguém bate na porta de entrada com tanta força que a arranca. 

É um monstro. Um Estertor. Ele tem a foram de um humano normal, porém não tem rosto. Está sozinho.

Eu vejo a sua energia. Ele é forte.

Seguro meu bastão com toda a força que posso e me posiciono na frente dela. A criatura está com a cabeça inclinada em minha direção. Não consigo entender direito suas intenções, mas sei que ele não está aqui para brincadeira.

Quando jogo um raio nele, parece que não surte efeito. 

No instante seguinte uma fenda se abre em sua barriga e um ácido é jogado em minha direção. Me defendo com o bastão, porém uma parte pega em minha pele. Dou um urro de dor. 

Tenho de drenar a pouca eletricidade dentro do dormitório para conseguir voltar a ficar em pé.

Então Remi apresenta uma tela holográfica na minha frente que não me deixa nem um pouco feliz.



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