Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 60: Nunca Fuja De Problemas. Enfrente-os

Acordo pela manhã mais motivado. Sei que chegou o dia de ir embora daqui. Ontem Vega avisou que ele iria sair junto com alguns outros Classe S de grande patente, nos deixando sozinhos. Ele colocou Solares como a responsável pelos treinos enquanto fosse passar alguns dias fora. 

É claro que algumas pessoas ficaram felizes com a notícia, a maioria concordou em fazer uma grande festa. Obviamente que se isso chegasse aos ouvidos de Solares, as coisas ficariam muito ruins. 

Passo o resto do dia com meus amigos. Falo com todas as pessoas que consigo como se fosse a última vez, pois sinceramente já não sei quanto tempo tenho com elas.

Vou falar com Solares e fico surpreso, ela está conversando novamente com Leona, aquela garota do D3 que é alta, parruda e parece que vai me quebrar em dois com uma mão só. Eu converso com as duas por um tempo, jogando papo fora. 

Leona está de tão bom humor que ela deixa até eu fazer algumas brincadeiras com ela, como perguntar como faz para ficar tão grande quanto ela. Solares e sua nova amiga, quer dizer, velha amiga, riem e zombam da minha cara juntas.

As duas falam mais algumas coisas, sobre o fato de agora estarem dispostas a colocar ainda mais empenho nos treinamentos. 

Essa responsabilidade ficava por minha conta até tempo atrás, porém quando o número de alunos ultrapassou a minha capacidade humana de atender todos da mesma forma, acabou que Solares entrou na jogada para ajudar. 

E agora ela até que dá um bom jeito nas coisas, diferente da velha Chefe dos Recrutas de antes. Por conseguinte, fica evidente que Leona também vai querer participar dos treinamentos.

Noto que fiz uma grande bagunça para todo mundo. Antes havia ordem, existia a Chefe e também os Auxiliares. Agora todos estão dispersos em seus próprios deveres e todo mundo pode ajudar todo mundo da maneira que bem entender. Claro, isso só funcionará se os outros aceitarem.

Falando em antigos Auxiliares, me lembro de um em específico que já está me fazendo falta a um tempo: Clio. Foi ele que vendeu a própria vitória para Ash. O motivo era a coisa mais estranha que já ouvi falar: Ele receberia o acesso a uma sala repleta de computadores.

Depois que finalmente recebeu a autorização para ir até a sala, passa o resto dos dias confinado naquele lugar. 

Uma vez fui visitá-lo e ele, por pura educação, até tentou me apresentar o que andava fazendo. Entretanto, eram tantos números e letras estranhas passando na tela, que resolvi nunca mais ir perturbá-lo. É um trabalho bem dureza e o local nem é lá tão grande assim.

Fico feliz por Clio, diz estar programando algo que possa vir a ajudar todo mundo. Não entendi nada. Mas estou feliz por ele fazer algo que gosta nesse lugar.

Depois de conversar um pouco com Ash e Vida, sou chamado para uma outra mesa de recrutas que quer muito falar comigo. Eles me pedem para treiná-los. Ah! Sim. Ainda sou o instrutor mais requisitado, porém também sou o que tem menos tempo para me ajudar atualmente.

Digo que sinto muito e dou a desculpa de que terei de ir treinar sozinho hoje. A realidade é que vou passar o resto do dia procurando por Tomas, pois é ele quem sabe como vamos embora. Ele prometeu que faria isso. Pode não ser hoje, mas com toda certeza ele estava falando sério quando disse que iria me tirar daqui. Eu senti a energia dele.

Antes que eu me retire para treinar no meu canto, o almoxarifado, vejo Amor conversando de maneira suspeita com suas amigas. Ela está desconfiada. Eu vejo isso nela. Está tramando alguma coisa, aposto que deve ser alguma festa surpresa que possivelmente vai acabar resultando em um problema para ela.

Me aproximo de sua mesa e começamos a conversar. Ela leva um susto quando me vê, da mesma maneira que eu tomava quando minha mãe me pegava fazendo algo errado. Chega até a ser cômico. Mas seguro a risada, do mesmo jeito que a minha mãe fazia.

— O que estão aprontando? — pergunto.

— Não é da sua conta — diz Amor, de forma provocante. — Mas que bom que chegou. Sophia estava doida para falar com você.

— Amor! Que vulgaridade — reclama falsamente Sophia.

Sophia é uma garota do Distrito 7, o mesmo de Ash. Ela é bronzeada, loira, alta e tem curvas que fazem quase todos os outros garotos ficarem de boca aberta. Quase. Ash jura de pé junto que ela não é tudo isso. Acho que deve ser algum fetiche especial dele gostar especificamente de garotas pálidas e de cabelo rosa.

Desde que começamos a nos falar, Sophia vem apresentando um grande interesse em mim. Ela me olha como se quisesse me comer vivo. E até aí tudo bem, mas acontece que na frente dos outros eu posso acabar passando a visão errada.

Entretanto, hoje estou bastante tentado a ceder aos seus olhares. Estou afim apenas de me divertir junto com meus amigos, e mais uma pessoa na minha lista não vai fazer tanta diferença. 

— Sério? — pergunto enquanto ajeito a minha coluna. Olho para ela com os olhos semicerrados. — Eu também queria muito falar com você.

O sorriso que ela faz é tão grande que chega a contorcer um pouco seu rosto. Isso é mais engraçado do que qualquer outra coisa. Suas amigas ao redor começam a rir dela. Ou de mim. Bom, são meninas, nunca fui bom em entender a cabeça delas.

— E o que você quer conversar com ela, seu safado? — pergunta Amor.

— Safado? Eu? Jamais. Mas se bem me lembro, já faz um tempo que essa menina não treina comigo. Já está escapando aos treinamentos a tempos.

— Isso é porque ela não quer treinar, bobão.

— Bobagem — digo, de forma esnobe e exagerada. — Ela estava toda animada para treinar comigo até um tempo atrás. Uma pessoa tão motivada quanto ela não pode perder isso dá noite para o dia. Como foi que esse desinteresse aconteceu?

— É que ela não estava interessada exatamente no seu treino, sabe? 

— Amor! — reclama Sophia. Todas as meninas ao redor riem. — Para com isso.

— Mas o que foi? — fala Amor. — É verdade. Se você quer algo além de um treino, é só dizer.

A conversa segue por mais um tempo nesse rumo. Onde Amor e Sophia brigam. Amor está falando demais e Sophia está falando de menos. 

É mais ou menos esse o motivo da briga. Sinceramente, eu só estou aqui de pé por ser uma pessoa bastante paciente. Infelizmente toda essa lenga, lenga está me deixando mais desinteressado de continuar com a conversa do que qualquer outra coisa. Se as duas forem continuar com esses joguinhos, que continuem bem longe de mim.

Mas existe algo de errado e eu sinto isso. Amor está transmitindo uma energia diferente. Não é de uma pessoa que está verdadeiramente feliz. É de alguém que está aliviado. Aliviado por eu ter mudado de assunto. Ou seja, o motivo de sua atitude suspeita não tinha nada a ver com Sophia ser caída por mim.

— E então — começo, interrompendo as duas. — Que tal uma aula especial, só para vocês hoje?

Fiz todo o possível para tentarem entender que há uma segunda intenção com “aula especial”. Mas o clima ficou relativamente tenso depois disso.

— Hoje não rola, Trovão — diz Amor. — Hoje nós vamos estar ocupadas.

As garotas olham para ela com desconfiança, incluindo Sophia. Entendi, elas sabem de alguma coisa.

— Posso saber do que se trata? 

— Não! Coisa de menina.

“Coisa de menina”. Olho para Amor com menos empolgação que antes. Ela está mentindo para mim e claramente está desconfortável com a situação. Quer que eu não insista. Quer que eu vá embora.

— Ah! Que pena — lamento. — Pois eu vou ter que passar o resto do dia treinando sozinho. — Olho para Sophia com uma cara fingida de pena. — Nada de treinamento especial para você hoje.

O clima tenso é quebrado e as garotas dão risinhos. Eu começo a ir embora, mas antes pego de leve no ombro de Sophia. Sinto a sua energia rapidamente e então vou saindo. 

Ouço elas dizendo que eu olhei para ela de forma estranha e que até peguei em seu ombro. Falam isso como se fosse uma grande coisa. Bom, de fato peguei em seu ombro e lhe dei muita atenção. Porém foi para constatar uma coisa: Elas estão mentindo para mim. E isso provavelmente significa problemas.

Mas se não querem que eu me meta, tudo bem. Não vou me meter. Agora. Isso é problema para depois.

Passo o resto do dia procurando por Tomas, porém não o acho. Decido então ir para o almoxarifado. Sinceramente, quase esqueci que Amor e suas amigas estão planejando algo suspeito.

— Remi. Iniciar simulação.

 

PORÃO

 

Já havia anoitecido aquela hora, quando Tomas finalizou todos os preparativos para o seu plano. Ele iria matar todos os recrutas naquele dia, naquele momento. Já estava esquematizado e pronto para a ação. 

Entretanto, estava se sentindo tão culpado por tudo que fez até ali, que jurou que tiraria a própria vida logo após aquilo. Era óbvio que não faria isso. Ele sabia que era covarde demais para se sacrificar em prol dos outros.

No fim das contas, viveria o resto da vida com aquele peso na consciência e saberia disso. Provavelmente iria passar impune graças aos dados que a organização terrorista Quatro Ventos era capaz de manipular.

Seu plano era o seguinte: Tomas iria abrir todas as comportas do Porão e liberar os Estertores e suas variantes para dentro da instalação. Ele sabia que havia mecanismos de defesas que impediam isso, por isso fez questão de desativar todos. 

E como os seus superiores haviam ido embora, ninguém teria acesso às chaves de segurança. E mesmo que tivessem, não saberiam como usá-la a tempo. Ninguém espera que um ataque aconteça, até que acontece.

Para dificultar a vida de qualquer pessoa que possa querer acionar os protocolos de emergência, Tomas acabou por colocar um vírus no sistema que dificultaria todo o processo por alguns minutos, tempo suficiente para haver estragos irreparáveis dentro da instalação.

Ele estava no Porão, olhando pelas câmeras de todas as entradas que iria abrir. Bastava apertar um botão e as portas se abririram, um som atrairia os Estertores e os outros mutantes para fora e o caos aconteceria.

Foi quando Tomas viu uma porta se abrir. De início ele sentiu medo, pois não fora ele quem abrira. Depois, sentiu pena. 

Era Amor, a recruta do Distrito 4 junto de suas amigas. Amor havia prometido que mostraria para elas um local secreto, estranho e completamente novo. E que era segredo, não era para falar para ninguém.

Sophia estava chateada por estar ali, pois sabia que se era uma passagem secreta, significava que era um segredo.

— Para de ser chata, mulher — disse Amor. — Vamos, já estamos bem pertinho. Se não me engano é só continuar por esse caminho que vai dar no Porão. A gente combinou!

— Pelo amor do Rei, esse lugar é perigoso — falou Sophia, andando para trás, com medo do caminho escuro a frente. — Não vou entrar aí com vocês. Desculpem.

A garota do Distrito 7 foi tomando cada vez mais distância de suas companheiras. Estava realmente assustada. Ela era de um distrito que tinha uma grande paixão pela liberdade. Era natural que tivesse medo de lugares escuros e apertados.

— Vem logo, Sophia! — ordenou Amor.

— Vão vocês. — E ela começou a andar para trás.

Porém, assim que ela começou a andar, um barulho estranho vindo do lado de dentro da instalação lhes assustou. Não era um sinal de alarme, nem de alerta, nem de nada. Era só um barulho. Sabiam disso, pois aprenderam o que significava cada sinal. E aquele não era um sinal de nenhuma ordem que já chegaram a ouvir antes.

De repente, começaram a sentir uma vibração no chão. Depois gritos horríveis. A porta que elas haviam fechado agora estava aberto. Sophia sentia que algo de ruim estava para acontecer. Queria correr, mas não podia deixar ninguém para trás.

— Gente! Vamos correr…!

Mas disse tarde demais. No meio da escuridão um Estertor saltou em direção as suas amigas. Amor foi a primeira a reagir, se colocando na frente. Todas ficaram em choque quando perceberam que a amiga delas, Amor, fora atravessada ao meio.

— Co…rram… — Foram as últimas palavras da ruiva, antes do resto do seu corpo ser completamente devorado.



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