Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capitulo 59: O Custo Do Cuidado É Sempre Menor Que O Custo Do Reparo

Tenho que admitir, depois daquela cena sangrenta e desumana que aconteceu no torneio a alguns dias atrás, as coisas até que vêm dando muito certo ultimamente. 

Ermo não é mais um problema para mim, nem seus amigos. Eles foram completamente isolados. O que significa que não criará problemas para ninguém, pois ninguém vai querer dar ouvidos a ele. 

Inclusive, quando ele e seu grupinho chegam no refeitório, todos saem de seus lugares e nem dão margem para papear. Os gêmeos Precioso e Maravilhoso fazem piadas sobre quão idiotas eles são, porém instruo eles a não deixar que ouçam. É bem possível que só estejam querendo mais um motivo para fazer outra cena horrível. 

Solares comentou sobre o comportamento de Ermo para a comandante, mas Negra pelo visto ainda não tomou nenhuma atitude. Bom, eu não estou esperando que faça muita coisa. Acho que possivelmente vai esperar o teste final acontecer para que possa expulsá-lo. 

De qualquer forma, não vou estar aqui para ver. Sei que antes do torneio os maiorais da classe S vão sair e nos deixar a sós. O que significa que finalmente vou poder voltar para a minha casa. Tomas disse ter um plano para mim e conto com isso. 

Olho para os recrutas e já começo a sentir saudades deles. Solares está sentada próximo a mim, o que significa que finalmente começamos a nos entender. 

Vida conversa com suas amigas, principalmente Amor, uma outra garota do Distrito 4 de cabelos avermelhados. Amor foi quem organizou tudo para que eu fosse instrutor dos Recrutas. Mas agora ela não tem que se dar a esse trabalho.

Ash continua brincando como sempre, fingindo que não chorou quando viu sua amiga em um estado muito péssimo de saúde. 

Quando expliquei a ele o que fiz para ajudá-la a se recompor ele disse que iria me pagar da maneira que eu quisesse. 

Acho que sua reação não seria tão grandiosa se soubesse que tive de pegar nos peitos brancos e macios de Vida para poder realizar esse processo. Então melhor deixar os detalhes de lado.

Observo Solares por um tempo, depois por apenas um segundo noto algo de errado. É uma energia estranha. É uma emoção que mistura vergonha com… Com mais vergonha. 

Olho ao redor rapidamente e capto alguma coisa. Vejo Leona virando o olhar para a sua mesa fixa, a alguns metros de distância de nós. 

Acho que entendi. As duas não estão se dando muito bem, seja lá por qual motivo. Bem, acho que esse é um bom momento para me intrometer na vida alheia e dar conselhos gratuitos.

Quando vejo uma oportunidade de chamar Solares para conversar sem levantar suspeitas, eu faço. Não quero ninguém fazendo fofoquinha só porque fui a um canto isolado com a Chefe dos Recrutas. 

Quando saímos do refeitório, nós conversamos um pouco sobre qualquer pequena bobagem envolvendo números e logística. Ao chegar num bebedouro, decidi falar a real intenção de tê-la chamado até ali. 

— Ei, Sol… Você tá de boa com a Leona? 

— Q-quê? Claro que estamos bem. Por que não estaríamos? Alguém te falou alguma coisa?

— Você não sabe esconder mesmo — digo com um sorriso. — Me fala logo o que aconteceu. E não vem me dizer que isso não é da minha conta. Você é minha parceira agora, jogamos no mesmo time. Não quero ver você mal por causa de ninguém. 

Ela suspira. 

— Não é ela que está me fazendo mal… É só que eu tive uma discussão com ela e agora ela está me evitando. E isso foi por sua causa. 

— Ok! Me desculpe por estragar a sua boa amizade. Você me perdoa? 

Ela me olha estranho enquanto dá um leve sorriso. 

— Acho que sim… — diz ela. — Quer dizer… Foi culpa minha. Você não tem porque me pedir desculpas… 

— Pode até ser, mas meu pai me dizia que a primeira coisa que nós temos de fazer ao magoar alguém é pedir desculpas, independente de qual lado está certo. Eu até posso estar certo, mas não quero você chateada comigo. 

— Então foi por isso que você me pediu desculpas do nada naquele dia na sala do saneamento? — pergunta cruzando os braços. 

— Claro que sim. E olha só onde nós já chegamos? Conversando numa boa, juntinhos. 

Ela morde a bochecha interna para não rir e me encara com o olhar semi-cerrado. 

— Você é inacreditável.

— Eu estou bem na sua frente — digo. — Mas falando sério. Por que não pensa em ir falar com ela sobre esse assunto? De verdade. 

— Eu penso… Só não sei o que fazer. 

— Faz que nem eu: Você chama para para um bebedouro, depois pede desculpas. Nem precisa dizer o motivo das desculpas. Daí vê o que dá. 

— Fácil assim? 

Ela me olha com certo deboche. 

— Fácil assim — murmuro.

Então ficamos nos olhando por um tempo. É meio constrangedor para ela ficar parada, sendo encarada por um Condutor. Mas eu não vou desviar o olhar tão cedo. 

Sei que nosso tempo é curto até que ela tenha um surto de irritação por estar a observando demais e de um jeito estranho. Então reparo em cada detalhe do seu rosto o mais rápido possível. 

Acho que estou com um sorriso maníaco no rosto, pois ela olha para o lado me evitando. Que gracinha, está mesmo sem jeito perto de mim. 

Não posso culpá-la. Já me aconteceu de ficar parado em um corredor na escola com uma menina duas vezes maior que eu me encarando sem parar. 

Ela era brava e parecia uma geladeira. Não deixou sair dali de jeito nenhum até que se desse por satisfeita e fosse embora. Ela não fez nada, só ficou me encarando por uns minutos. 

Hoje em dia eu tenho a leve impressão de que ela gostava de mim, porém não teve a coragem suficiente para dizer. Bom, ela não tinha coragem e nem um sorriso lá muito sexy.

— Mais e aí — digo, fazendo o clima voltar ao normal. — Quando você vai falar com a sua amiga?

Solares mexe a cabeça e parece perceber só agora que tinha de ir falar com Leona. Ela se despede de mim rapidamente e vai em direção ao refeitório. Eu fico encostado na parede observando ela andar. 

A maneira como ela caminha é curioso. Não é nada provocante ou sexy. Diria que é bastante rítmico e até meio duro. Não é desajeitado, mas parece estar pisando com força no chão. Seu temperamento é refletido no caminhar, dá para perceber. 

Ela olha para trás e vê que estou observando ela. Solares faz uma cara confusa e enquanto se distância começa a checar se tem algo em suas calças, na parte de trás. Provavelmente deve estar achando que estou zoando ela de longe. Não estou. Só estava mesmo olhando para a bunda dela. 

Quando vira a esquina, da uma última encarada em minha direção. Por fim, desaparece. 

Ela não sabe disso, mas eu sinto a energia das pessoas. E se não me engano, a energia dela me dizia que estava nervosa. No bom sentido, no bom sentido. 



ϟ SALA DE TREINAMENTO ϟ

 

Amor estava protagonizando poucas aparições desde que Solares e Kaike lutaram e finalmente se resolveram. Agora ela só tinha que se preocupar com as suas amigas e não havia mais nenhum movimento revolucionário a fazer na instalação.

Até pensou em fazer um protesto que pudesse ajudar Vida, a amiga de Kaike que também era de seu distrito, a conseguir acessos mais especiais para a sala hospitalar. 

Só deixou a ideia de lado quando Kaike pediu para que a ruiva não se metesse em mais nenhuma encrenca. Já estava tudo bem, por qual motivo deveriam mexer no que estava quieto? Quando tentou contra argumentar com o Condutor, recebeu uma resposta:

— Meu pai costumava dizer: Em time que está ganhando, não se mexe. 

Ela achou aquilo um ditado estranho, porém resolveu não fazer nenhuma contestação. Continuou com a sua vida normal se figurante na vida de um protagonista. Aceitava esse destino, embora quisesse brilhar também. 

Ela não recebeu muitos créditos por fazer Kaike ser o porta-voz de quem estava chateado com as instruções porcas da Chefe e seus Auxiliares. Então tinha que fazer mais alguma coisa para ficar marcada. Tinha que ser a protagonista ao menos uma vez. 

Foi depois de Vida ter sido torturada durante o torneio, que ela decidiu que iria acabar com a raça de Ermo de uma vez por todas. 

Pegou diversas assinaturas, autorizações e outras papeladas que não valiam de nada apenas para tentar expulsar ele e seu grupo de amigos da instalação. 

Obviamente a coisa não foi muito bem sucedida, já que os papéis delas não eram oficiais em nada e a Comandante Negra não os aceitou. 

Irritada com o sistema, Amor resolveu confrontar Ermo. Se ele fizesse mais alguma coisa com ela, pensou, poderia usar aquilo para expulsá-lo de vez. Era um bom plano, embora tivesse que usar seu corpo para isso. 

Para evitar que mais alguém se machucasse, ela foi sozinha até onde Ermo ficava na sala de treinamento e resolveu conversar com o grupo deles.

— Como é que é? — perguntou Ermo ao ouvir as barbaridades de Amor. 

— Pois é — disse ela com a mão na cintura. Estava procurando um problema. — Todos já estão de acordo que você é extremamente desagradável! Então pode já ir embora!

Por um tempo os dois ficaram discutindo o quanto o outro era desagradável. Entretanto, Ermo não perdeu a paciência com ela, a grosso modo. Na verdade, ele fez o que sabia fazer de melhor: Provocar. 

— Sua hipocritasinha de merda — falou ele. — Quer que eu saia daqui, dizendo que ninguém confia em mim. Mas eu sou um livro aberto, bebê! Eu nunca escondi minhas intenções. Vocês que eram burros demais para não ver quem eu sou. Mas e você? Será que você merece confiança? 

— Do que você está falando? 

— Acha que eu esqueci da vez em que te perguntei o que você estava planejando e você ficou com uma super cara de assustada? — zombou ele com a voz afinada. — Faça-me o favor, sua traficante de merda. Você está escondendo algo junto com o Condutor e eu sei disso. Você sabe disso. Desde aquele dia. E até hoje você nunca contou para ninguém, não é?

Aquilo era verdade. Embora nunca tenha contado para ninguém, sabia que Ermo tinha razão. Ela se lembrou do Porão e da informação que recebeu de Kaike. Aquilo era a única coisa da qual não contou às suas amigas. 

Não tinha motivos para contar. Era segredo e Kaike havia a feito prometer que jamais a faria contar. Porém ela também prometeu que contaria tudo as suas amigas. 

— E então — falou Ermo, a chamando de volta à realidade. — Quem é a pessoa que não merece confiança aqui? 

Amor deu um tapa em seu rosto e saiu dali bufando de raiva, frustrada com todas as coisas que havia ouvido. 

Ela foi para próximo de suas amigas e as abraçou, tentando se convencer de que não era nenhuma traidora. Apenas estava mantendo um segredo que não poderia se espalhado. 

Mas afinal de contas o que de ruim poderia acontecer se ela contasse as suas amigas sobre aquilo? 

Não, não. Seria muito arriscado. Possivelmente alguém já formado da classe S pudesse pegar eles bem no ato. 

Acontece que sua opinião mudou muito rapidamente. 

Quando Vega subiu na arena e começou a falar, chamou a atenção de todos com a primeira coisa que disse:

— Eu, junto com todos os outros com estrela superior a 4, vamos interromper as nossas atividades. Iremos para uma missão. O que significa que ficarão sozinhos, sem nenhuma supervisão, exceto a da sua Chefe, Solares.

Amor sorriu. Aquela era a oportunidade perfeita para mostrar as suas amigas sobre o Porão.


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