Volume 1
Capítulo 58: Lute Pela Vida
Tem uma arma apontada na minha cara. É a ponta da espingarda do Capitão Vega. Nós dois estamos em cima da arena. Eu com o braço esticado para cima, pois acabei de usar um relâmpago para arremessar Ermo a alguns metros de distância.
Fiz isso porque tive de ajudar a minha amiga, Vida, a não ser morta por aquele imbecil. Ela havia acabo de pedir desistência, porém ia sendo massacrada mesmo assim. Mas Vega parece não se importar. Continua me encarando com aquele charuto na boca, o olhar enfurecido e a arma ainda apontada para mim.
— O que pensa estar fazendo? — pergunta.
Por um momento resolvo não falar nada. Mantenho a calma. Estou acelerado, e impressionantemente, quando estou assim, eletrizado, acabo pensando mais rápido que o normal. Sei que ele está irritado comigo, pois não era para eu ter feito isso e sim ele. Só que… eu não consigo me segurar:
— Impedindo que acontecesse uma morte.
— Não acha que estava tudo sob controle?
— Não, senhor. Tive que agir antes que danos irreversíveis pudessem acontecer.
Ele olha para trás, em direção ao alto onde está Ermo, enfiado na parede, uma pequena cratera ao seu redor.
— Tem certeza que agiu para que não houvessem danos irreversíveis, Recruta? — fala ele enquanto volta seu olhar para mim, me fitando com seriedade.
— Sim, senhor. Usei apenas o necessário para que essa atitude não fosse repetida.
Ele ri.
— Bom trabalho. — E abaixa a sua arma. — Agora leve os dois para a curandeira. Os dois.
Penso em dizer que não estou afim, porém, tenho que obedecer. Fui eu que joguei Ermo a alguns metros de distância do chão e possivelmente acabei com as suas costas, o mínimo que posso fazer é impedir que morra, embora não fosse uma má ideia que ele morresse de verdade.
Grito para todos, pedindo ajuda para que tragam uma maca. Aqueles que já tiveram a sua luta e não iam mais participar do torneio se aproximam e pegam Vida. Eles a levam até a curandeira. Digo que vou logo atrás, porém ainda tenho de pegar Ermo.
Como ele está bem no alto, tenho de escalar a parede até chegar lá, o que não é tão complicado, já que uso os meus poderes para pegar velocidade e pular a parede. Consigo agarrar ele e desgrudá-lo da parede. Caio no chão com tudo, me machucando um pouco. Porém uso a eletricidade armazenada do meu corpo para curar o pouco estrago.
Nem acredito que estou carregando esse monte de merda nos braços. Preferia largá-lo aqui mesmo e deixar para os seus próprios amigos levarem. Porém, Parca e Saibro ainda não começaram a lutar.
Ninguém pede para levar Ermo no meu lugar. E eu também não peço para ninguém isso. Sei que estão todos muito enojados de até mesmo tocar nele. Então vou poupá-los de carregar esse poço de bosta por aí. Eu o machuquei ao ponto de deixá-lo inconsciente, eu ajudo ele.
Quando finalmente chego até a curandeira, vejo que ela está muito preocupada com o estado de Vida. Usa tudo o que tem de início e diz que vai fazer ainda mais exames nelas e que vai usar coisas ainda mais poderosas nela. São remédios de nomes complicados e com reações que não entendo. Prefiro apenas ficar calado e balançar a cabeça.
Não me preocupo com Ermo. Não quero saber dele. Sua situação não é tão grave quanto a de Vida, embora vá precisar de um tempo para se recuperar do que quer que tenha acontecido com ele.
Fico com Vida por um longo tempo, só nós dois, já que os outros Recrutas acabam por ir embora. Eles não foram totalmente dispensados de seus deveres, pois tinham amigos e conhecidos para assistir às lutas.
Quando vai anoitecendo, outros amigos vão surgindo para ver como ficou o estrago. Até Solares chega para perguntar como as coisas vão. Na verdade, chega tanta pessoa para ver como Vida está, que essa é a primeira vez que vejo a curandeira irritada. Ela pede que grupos de duas pessoas entrem para ver ela por um tempo, apenas.
Então contando comigo, que fico ao seu lado o tempo todo, apenas três pessoas por vez podem vê-la.
Vida está em uma maca com um monte de fios conectados ao braço. Está respirando com ajuda de um respirador. Sua perna está enfaixada e alguns de seus dedos também. A curandeira diz que ela vai se regenerar em questão de semanas.
Entretanto, ninguém, absolutamente ninguém, vem visitar Ermo. Os únicos que vem ficar com ele é Saibro e Parca, seus colegas. Eles não têm coragem de chegar na maca de Vida, ao menos não depois do que todos estão falando a respeito daquele grupo.
Na verdade, todos estão falando o quão monstruoso é Ermo. Até Solares concorda que aquela atitude não era uma atitude correta de um Recruta normal. Eu concordo.
Ash e Bia chegam e os dois quase choram. Quem chora é Ash, Bia até choraria, porém como tem Ash para chorar por ela, não vê motivo para tal. O bom é que no fim, Vida ficará bem. E todos voltarão a sua rotina normal. Ou mais ou menos isso.
Eles vão embora e eu finalmente fico a sós com a Vida. Sentado em uma cadeira de frente para sua maca, vendo ela respirar, seus batimentos cardíacos e a energia do seu corpo. Está fraca, porém se fortalecendo com o tempo.
A sua energia… Está fraca. Eu consigo ver a sua energia usando os meus olhos. Sinto a energia dela quando a toco. Isso significa que… A resposta estava bem diante de mim esse tempo todo e não vi.
Levanto da cadeira. Olho para um lado, depois olho para outro. Sei que não tem ninguém por aqui, então é hora de testar. Ao menos isso tenho que fazer, tenho que conseguir. Basta usar a minha visão para ver se estou fazendo certo ou não.
Me aproximo de sua maca e vou afastando um pouco de sua roupa para que seus peitos fiquem a amostra.
— O que está fazendo? — pergunta Remi. — Molestar paciente é crime.
— Cala a boca! — digo. — Eu quero testar o pulso eletromagnético nela!
— Ah! Vai fazer um experimento em cobaia real? Que excitante!
— Sim, sim. Agora vê se fica quieto para eu me concentrar.
E assim faço, tentando não prestar atenção no quão branca Vida pode ser.
Aperto meus dois punhos e esfrego um no outro, como se esse tivesse mesmo segurando um desfibrilador. Me concentro na energia que é acumulada entre um punho e outro. Ele tem que ser da mesma proporção da de Vida.
Aos poucos vou aproximando minhas duas mãos no peito de Vida. Tenho que me concentrar mais ainda para que a descarga não seja diferente da que estou vendo. A energia tem de ser a mesma que o seu corpo precisa e produz. Nem mais e nem menos.
Finalmente encosto os meus punhos em seu tórax e seu corpo dá um pequeno salto para cima. Eu levo um susto, porém só me afasto quando vejo que já é o suficiente. Claro, antes disso eu abaixo a sua camisa o mais rápido que posso.
Ela acorda e dá um grande suspiro, como se tivesse sentindo fôlego pela primeira vez naquele momento. Ela olha para mim confusa e eu dou um grande sorriso.
ϟ [NOVA HABILIDADE: Desfibrilador] ϟ
[O efeito parece o de estar curando feridos-através de um choque elétrico, em um estilo semelhante aos curandeiros que usam desfibriladores para reiniciar os batimentos cardíacos de uma pessoa.]
[Pode ser usado em ferimentos graves para minimizar sintomas ou até curar alguém. Essa energia consegue ser transformada em diferentes formas para curar alguém. Entretanto, se alguém estiver com a saúde no nível vermelho ou preto é impossível que o procedimento surta efeito.]
— Você usou seus poderes em mim? — diz ela em tom de incredulidade.
— Sim! E foi um máximo! Você acordou e parece bem!
Ela olha para os lados e vê os batimentos cardíacos dela a mil.
— Você me deu uma descarga elétrica com aparelhos ligados no meu corpo???
Ok, isso realmente não parecia uma boa ideia agora. Mas funcionou e isso que importa.
Tento convencê-la que está tudo bem, e de fato está. De que nenhum mal aconteceu e que nada poderia realmente acontecer, já que eu estava no controle, embora não estivesse de fato.
Quando a adrenalina passa e ela se acalma, dá uma risada tímida e balança a cabeça. Ela faz pequenas checagens nos aparelhos que ainda estão conectados a ela e diz que está tudo bem. Ainda verifica se sente dor em seus ossos, porém também está tudo bem.
Vida fica tão maravilhada com os exames que começa a falar coisas sem sentido. Do tipo de reação que o corpo dela deve estar tendo para a fazer se curar tão rápido daquele jeito.
Ela fica repetindo que os ossos delas foram curados por mim e que isso significava um grande avanço. Não sabia que podia curar quebradura de ossos, apenas tinha a hipótese de que pudesse restruturar as células, provocar mitose e outros nomes bizarros.
Por fim me abraça e diz que eu fui incrível. Eu fico sem jeito, porém aliviado de que ela está mais maravilhada com o fato de estar bem do que traumatizada com a questão de ter sido torturada por quase meia hora.
Só que no final, quando a chamo para irmos de volta ao dormitório, ela vê que Ermo está na mesma situação. Vida olha para ele com um olhar que não consigo decifrar a primeiro momento.
— Vamos embora — digo.
Porém ela não vem de imediato. Continua olhando para Ermo com aquele olhar. Só depois de um curto período de tempo eu noto: Ela está sentindo pena.
Mesmo tendo sido torturada por ele, Vida não sente raiva por ele. Isso é algo que nunca poderia imaginar. Ela me olha e como se estivesse implorando com o olhar, tenho de dar meu braço a torcer.
Ela é boa demais, até para mim, que odiaria ajudar um cara como ele. Na verdade, não quero que morra, só não quero de fato ajudá-lo. Porém, lá vou eu.
Quando todos finalmente chegam no dormitório e me vêm entrando com Vida completamente saudável, começam a comemorar e a perguntar o que aconteceu. Porém, quando veem Ermo, agindo como se nada tivesse acontecido, com seus dois colegas ao lado, param imediatamente de festejar.
Os garotos do Distrito 5 meramente dão de ombros e vão para o seu lugar. Ninguém gosta de saber que Ermo está bem, porém ficam felizes com Vida.
Solares chega para dar um basta em conversas e pede para todos irem dormir. Entretanto, ela me olha como minha mãe me olhava quando tinha um assunto sério a tratar comigo.
Bom, vou ter de conversar com Solares amanhã, isso eu já vi.
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